sexta-feira, 30 de dezembro de 2022

Pelé, o Rei

Não podemos negá-lo, temos orgulho de sermos a pátria do Rei Pelé! Um brasileiro vindo de família pobre, preto, mas sem dúvida o mais admirado e conhecido em todo o mundo por seu mérito e genialidade como jogador de futebol. Os seus feitos esportivos são tão extraordinários que o seu nome virou adjetivo para expressar as melhores qualidades e a própria excelência em qualquer atividade humana.


Eu, 77 anos, tive o privilégio de assistir a todas as copas de que participou. Primeiro, no rádio, como em 1958 (na Suécia) e 1962 (Chile), quando pela primeira e única vez uma seleção foi bicampeã em duas copas sucessivas, e a de 1966 (Inglaterra). Depois, a última de que participou, a primeira com cobertura de TV, em 1970, no México, quando o Brasil consagrou-se tricampeão. Estava instaurada uma hegemonia futebolística que levou o Brasil ao pentacampeonato em 2002 (Coreia do Sul e Japão), depois de conquistar o tetracampeonato na copa de 1994 (EUA).

Foi um tempo em que uma seleção que entrasse em campo contra o Brasil sentia, simultaneamente, o orgulho dessa oportunidade, e o sabor amargo de que eram poucas as chances de que saísse vitorioso! Pois, se é verdade que no futebol, como em todo jogo,  reina a incerteza, a seleção brasileira acabara de impor um novo componente objetivo e subjetivo de racionalidade determinística: a sua indiscutível superioridade técnica.

Pelé foi o único jogador de futebol, em campo, a conquistar a taça de campeão do mundo por três vezes. 


Para o nosso orgulho, foi, também, um outro brasileiro, o Zagallo, um ícone de nossa história futebolística, o único a conquistar essa honra por três vezes. Duas como jogador, em 1958 e 1962, e uma terceira como treinador, em 1970, no México. 

Fato importante a ser registrado em nossa historiografia político-futebolística, entretanto, é que Zagallo entrou como treinador de última hora, em substituição a João Saldanha, quando a seleção já estava convocada e treinando. Isto não retira o mérito de Zagallo; mas não pode passar em branco, pois a CBF foi obrigada a substituir a João Saldanha, ligado ao Partido Comunista Brasileiro (PCB), por uma imposição do então ditador militar de plantão, o General Emilio Garrastazu Médici.

Mas a melhor forma de homenagear ao Rei Pelé é passar a palavra para quem o conhece bem: o Dr. Tostão, campeão do mundo, um outro gênio da bola, e seu súdito como todos nós.


“Antes de a bola chegar, pelo olhar, Pelé já me dizia o que pretendia fazer”

TOSTÃO 

Quando quero me sentir orgulhoso e importante, falo que joguei com Pelé. A primeira vez que o vi em campo, pelo Santos, foi no estádio Independência, em Belo Horizonte, antes da Copa de 1958. Ele devia ter 17 anos, e eu, dez. Fiquei encantado com suas tabelas com Coutinho.


Em 1966, na Copa do Mundo da Inglaterra, eu fui o reserva dele. No dia da apresentação, em Lambari, no sul de Minas, o encontrei pela primeira vez fora dos gramados. Ele me recebeu com alegria e com um largo sorriso. O Cruzeiro fez um jogo-treino contra a Seleção, em Caxambu, e eu atuei pela Seleção, no lugar de Pelé, que não entrou na partida. Depois do jogo, meu pai, que estava presente, me pediu para conhecer o Rei. Pelé conversou e brincou com ele. Meu pai, emocionado, chorou, como um súdito apaixonado pela realeza.

Pelé estava sempre alegre, sorridente. Atendia a todos com gentileza. Na época, não havia a distância que há hoje entre os grandes craques, a imprensa e o público. Pelé me passava a impressão que o gênio e o ser humano eram um só. Não parecia ter o conflito frequente que há nas celebridades, entre o ser humano e a personagem, o criador e a criatura.

Pelé foi o melhor de todos os tempos porque tinha, no mais alto nível, todas as qualidades de um supercraque. Depois, como analista, procurei em minhas lembranças alguma deficiência de Pelé e não encontrei. O que mais eu estranhava é que Pelé tinha uma condição física magistral, uma velocidade e uma impulsão maior que todos os outros, mesmo sendo um menino pobre, que nunca frequentou uma boa academia, que nunca teve acesso à moderna tecnologia nutricional e que treinou pouquíssimo, porque, desde muito jovem, jogava pelo Santos três vezes por semana, pelo Brasil e pelo mundo.

Emocionalmente, Pelé era também muito forte, consciente de que era superior a todos e que dependia do conjunto para brilhar. Quando o jogo estava difícil e ele era muito bem marcado, ficava inquieto, possesso. Às vezes, ia jogar de centroavante, entre os zagueiros. Pedia a bola e, com velocidade e força física, tirava os zagueiros da jogada para finalizar e fazer o gol.

Antes da Copa de 1970, falava-se muito que ele estava decadente, mais lento e e que não tinha a mesma regularidade de antes. Pelé se preparou muito para o Mundial, para encerrar a carreira como o maior de todos os tempos

Logo que comecei a jogar ao lado dele, percebi que, antes de a bola chegar, ele ficava agitado e me olhava com os olhos salientes, como se dissesse o que pretendia. Eu tentava acompanhá-lo, pelos movimentos do corpo. É a comunicação analógica. Se eu tivesse jogado no Santos ou ele no Cruzeiro, faríamos uma dupla muito melhor. Além disso, na época, a Seleção atuava muito menos que hoje.

É impressionante como Pelé, mesmo tendo encerrado a carreira há 50 anos, manteve o prestígio mundial de um Rei. Continuou a ser uma estrela, um garoto-propaganda, uma celebridade em todo o mundo. Depois que morrerem todas as pessoas que viram Pelé jogar ao vivo, no gramado e pela televisão, como Pelé será visto pelas novas e futuras gerações?

Os reis também morrem. É a finitude da vida, a única certeza absoluta. Já estou com saudade de Pelé, de vê-lo nos gramados, na concentração, com seu jeito alegre e simples de ser Rei. Parafraseando João Guimarães Rosa, Pelé não morreu, ficou encantado.”

quarta-feira, 28 de dezembro de 2022

Tebet ministra do Planejamento

Tebet decidiu aceitar a pasta de Planejamento.

Todos os que votamos e acreditamos nela lhe desejamos sucesso porque lhe queremos bem e torcemos pelo Brasil.


Mas, ao tomar essa decisão assume o compromisso tácito de não ser candidata a Presidente em 2026. A razão é simples: por um lado, Lula tem o direito constitucional à reeleição; e, caso não o queira, dificilmente o PT abrirá mão de lançar candidato próprio, como, p.ex., Fernando Haddad ou Wellington Dias.

Registro, entretanto, que este é o delineamento mais provável. A política gosta de nos pregar surpresas, e, claro, ainda manterei a esperança de que o Brasil moderno, que anseia por nascer, tenha em Simone uma de suas principais protagonistas.
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Por que julgo mais provável que Simone não vá ser candidata em 2026?

1. Porque a ida para o ministério corresponde a um empenho pelo sucesso do governo Lula; não cabe a hipótese de ela ser uma estranha no ninho e o de percorrer um caminho autônomo que lhe permita, ao mesmo tempo, participar do governo e apresentar-se como candidata a Presidente em oposição ao candidato que, CERTAMENTE, o PT apresentará;

2. As diferenças de opinião terão que ser arbitradas e resolvidas harmoniosa e organicamente, particularmente as com Haddad, que é o ministro forte; caso contrário ela será fritada sem dó nem piedade;

3. Simone não é “Maria vai com as outras”; aí está um potencial de conflito; tudo irá depender de se Lula a apoiará e de se o MDB a bancará;

4. Estão errados, com todo o respeito, os que pensem que será fácil para ela romper, mais adiante, para sair candidata; isso somente seria possível se ela sair do governo, ao mesmo tempo, como vencedora de um debate público e como injustiçada e perseguida; isso poderá acontecer, mas julgo pouco provável; se houver conflito insanável, o mais provável é que ela seja expelida em meio a um processo de fritura para marca-la como incompetente ou traidora; já conhecemos este filme.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2022

A ENCRUZILHADA DE SIMONE TEBET

Se Simone Tebet está decidida a ser candidata a Presidente em 2026 não deve assumir um ministério; caso contrário, deve aceitar o convite de Lula.

A razão é simples: ao aceitar o convite para participar do governo lhe pesará o compromisso tácito de participar de um projeto em que o PT não abrirá mão de indicar o sucessor de Lula. Em primeiro lugar, porque o próprio Lula tem direito à reeleição; em segundo, porque se Lula não concorrer o PT já tem os seus candidatos preferenciais, como, p.ex., o Fernando Haddad ou o Wellington Dias. E não se pode atribuir à Simone ingenuidade quanto a isto.


Diriam: - “mas é muito cedo para afirmar isso!”. De fato esta questão não está no prelo dos debates públicos, mas está na lógica de como opera na realidade o poder político! E de como opera o PT.

Lembremo-nos de que Ciro, que fora candidato a presidente em 1998 e 2002, porque aceitou ser ministro de Lula no seu primeiro governo, não pôde ser candidato em 1996, em 2000 e em 2014. E somente sentiu-se descompromissado para voltar a sê-lo em 2018 e 2022.

Decididamente, esta é uma difícil decisão para Simone, que ficará sem mandato até 2026, pois terminou os seus oito anos como senadora. Conservadoramente, diante disso, muitos a aconselhariam a ir para o governo e fazer um excelente trabalho para aumentar ainda mais o seu grau de conhecimento pela população e servir ao país após o desastre bolsonarista.

Se ela aceitar compor o governo deve descartar liminarmente o Ministério do Planejamento, que ela tanto defendeu em sua campanha. Ela tinha razão nisso, pois o país precisa de uma visão estratégica do seu desenvolvimento; mas, neste cargo, sem poder operativo, apenas normativo, ela ficará reduzida, sem visibilidade, às prateleiras e gavetas em que, por tradição, vão parar os planos necessários.

Lhe restaria a alternativa de um ministério como o do Meio Ambiente, que terá imensa importância, desde que se sinta em condições de fazer uma parceria com Marina devido à indiscutível legitimidade desta na defesa das causas ambientais.

Mas as coisas para Simone não serão realmente fáceis se persistir, com a dignidade que a caracteriza, em seu projeto de candidatar-se a presidente em 2026. Simplesmente, terá que nos próximos quatro anos construir sua candidatura, embora sem mandato e com a resistência de alguns dos principais caciques do seu partido, o MDB. Tudo é possível, embora difícil.

Se escolher a candidatura, teremos um fato novo. Será a mulher corajosa e preparada que, sem medo das dificuldades, saiu, em 2022, apresentando uma candidatura moderna do campo democrático. Todos sabem que sua presença no 2º turno das eleições garantiu a Lula os votos de que precisou para eleger-se, e, com isso, ajudou a afastar os perigosos riscos de retrocesso democrático ligados à reeleição de Bolsonaro. Muitos se prontificariam a apoiá-la, pois o Brasil precisa disso.

Claro, respeitaremos qualquer que seja a sua decisão, que deverá sair a qualquer instante!

quarta-feira, 7 de dezembro de 2022

QUAL PROJETO DA DEMOCRACIA PREPONDERARÁ? O DA ESQUERDA, O DO CENTRO, OU O DA DIREITA?

A questão colocada na ilustração abaixo parece ser um problema apenas da direita.


Mas esta é uma questão de interesse de todos os democratas, sintam-se eles de esquerda, de centro ou de direita. 

É importante abrir esta discussão, pois tudo o que se pode dizer do resultado das eleições presidenciais é que a vitória de Lula foi a vitória do desejo majoritário dos brasileiros de viver em uma democracia.

Mas milhões de democratas não votaram em Lula. Simplesmente, votaram também em Bolsonaro, nulo ou branco; ou se abstiveram. Pode-se dizer que milhões desses eleitores sejam conservadores ou de direita; mas são democratas, porque não apoiam ditaduras e têm apreço por viver em um Estado Democrático de Direito.

Quem derrotou Bolsonaro não foi o lulopetismo; ele foi derrotado por si mesmo. Em síntese, as suas ações, posicionamentos, declarações e ameaças, denotando até mesmo a intenção de não aceitar um resultado desfavorável das urnas (*), sob a alegação prévia de que seriam fraudadas, levaram a que muitos democratas críticos ao próprio lulopetismo votassem em Lula.

Imagine, simplesmente, que ele tivesse colocado uma tarja preta na lapela demonstrando verdadeira empatia com a dor das famílias vitimadas pela COVID. Mas não, a par do seu descompromisso com a democracia, pelo seu negacionismo, reacionarismo e terror ao conhecimento, à ciência e à cultura conseguiu ser o primeiro presidente a não ser reeleito! 

Para arrematar, resolveu colocar-se contra o mundo e tornou-se o maior pária global da causa ambiental.

Conseguiu o feito de, ao final do seu mandato, nem sequer receber o apoio dos militares, ou do que proclamava ser “o seu Exército”, para o seu objetivo golpista de desrespeitar o resultado das urnas. E os militares foram firmes nisto, em que pese as manifestações extremistas nas portas dos quartéis e o fato de terem votado majoritariamente nele em 2018. 

Bolsonaro termina melancolicamente o seu mandato cuja marca foi a destruição das instituições do Estado. Por seu descompromisso com o Estado Democrático de Direito, os militares não puderam mais deixar de lembrar-se, embora respeitosamente, daquele tenente que no passado tiveram que expulsar do Exército.

Óbvio, somente fanáticos de extrema-direita ainda o apoiarão. Mas provavelmente ele não conseguirá sair do seu buraco e dificilmente superará a choradeira. Bolsonaro foi um acidente. Acabou, e a direita sabe disso.

Por que é importante tratar disso? Nesses próximos quatro anos passaremos a presenciar um debate político aceso que colocará em contraposição aos que se poderia denominar, respectivamente, de “democratas-radicais” e de “democratas-conservadores”. O importante é que este debate se dará no campo dos democratas, envolvendo todo o espectro de posições políticas, desde a esquerda, passando pelo centro até  a direita.

Na tipificação de democratas que faço acima, estão excluídas as correntes políticas de extrema-esquerda e de extrema-direita, que defendem ditaduras e não têm apreço pelo Estado Democrático de Direito (**).

Qual projeto preponderará? Difícil saber, mas já existe uma tendência: o bolsonarismo e o lulopetismo, já derrotados em 2022, embora de formas diferentes, não serão mais as referências políticas hegemônicas em 2026.

Um Brasil moderno anseia por nascer!

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segunda-feira, 28 de novembro de 2022

Os Falsos Inimigos

Acho que estamos caindo em uma armadilha ao estarmos alimentando esta disjuntiva entre Richarlison e Neymar.

O nosso encantamento com o belo gol do Richarlison e, depois, ao sabermos dos fatos positivos de sua atuação cidadã foram momentos que eu, pessoalmente, e penso, todos nós, curtimos bastante pelas melhores razões.


Mas temos que reconhecer que 99% de nós sequer o conhecíamos antes.

Em seguida, uma sociedade dividida politicamente como a nossa, que vive a patologia social do “nós contra eles”, está passando, irresponsavelmente, à demonização do Neymar e à igualmente errada mitificação do Richarlison.

Isto prejudicará a nossa seleção.

Além de essa ser uma disjuntiva artificial, estão levando a divisão política e o “nós contra eles” para dentro da seleção.

Ou paramos isso imediatamente ou estaremos criando o adversário mais poderoso para o Brasil nesta copa: a desarmonia interna e a exacerbação das vaidades.

Precisamos fazer um esforço coletivo, talvez difícil, sem lado bom ou mau, para SEPARARMOS, em nossas mentes, a Copa da disputa política polarizada, que nos dividiu e nos desuniu durante as eleições presidenciais.

Neste momento, a nossa única seleção de futebol nos une. Todos sabemos que os jogadores convocados são os nossos maiores valores. E Neymar está lá pelos seus méritos reconhecidos pelos que mais entendem de futebol.

É hora de estarmos unidos sob as mesmas cores. As eleições já passaram. E será com esta única seleção que disputaremos. E, óbvio, para tentar ganhar!

quinta-feira, 17 de novembro de 2022

O debate sobre como conduzir a economia na perspectiva da democracia

Está instaurado o debate sobre a economia brasileira.

Armínio Fraga, Pedro Malan e Edmar Bacha assinam, em conjunto, carta aberta a Lula em resposta às suas recentes declarações, mormente à que fez no Egito no dia 17/11/22. Sua íntegra está abaixo.

São homens sérios, e muito respeitados pelas contribuições que já prestaram ao Brasil.

Enfrentam as declarações mais recentes de Lula que parecem ver o “mercado” como um indivíduo a serviço de agentes inteligentes, que, consciente e maliciosamente, atuam contra a superação da desigualdade e da pobreza.

É um bom debate, mas não trata apenas de questões econômicas e sociais. Trata de questões políticas, que estão aparentemente invisíveis, pois, dependendo de como Lula desenhe a sua política econômica, verá aumentar (ou diminuir) o apoio político de que precisa para o sucesso do seu governo.


Veja a íntegra do texto com a resposta dos economistas:

O Globo, 17 de novembro de 2022 (*)

Caro presidente eleito Lula, 

Assistimos a sua fala nesta quinta (17) cedo na COP27, no Egito. Acredite que compartilhamos de suas preocupações sociais e civilizatórias, a sua razão de viver. Não dá para conviver com tanta pobreza, desigualdade e fome aqui no Brasil. 

O desafio é tomar providências que não criem problemas maiores do que os que queremos resolver. 

A alta do dólar e a queda da Bolsa não são produto da ação de um grupo de especuladores mal-intencionados. A responsabilidade fiscal não é um obstáculo ao nobre anseio de responsabilidade social, para já ou o quanto antes. 

O teto de gastos não tira dinheiro da educação, da saúde, da cultura, para pagar juros a banqueiros gananciosos. Não é uma conspiração para desmontar a área social. 

Vejamos por quê. 

Uma economia depende de crédito para funcionar. O maior tomador de crédito na maioria dos países é o governo. No Brasil o governo paga taxas de juros altíssimas. Por quê? Porque não é percebido como um bom devedor. Seja pela via de um eventual calote direto, seja através da inflação, como ocorreu recentemente. 

O mesmo receio que afeta as taxas de juros afeta também o dólar. Imagino que seja motivo de grande frustração ver isso tudo. Será que o seu histórico de disciplina fiscal basta? A verdade é que os discursos e nomeações recentes e a PEC (proposta de emenda à Constituição) ora em discussão sugerem que não basta. Desculpe-nos a franqueza. 

Como o senhor sabe, apoiamos a sua eleição e torcemos por um Brasil melhor e mais justo. 

É preciso que se entenda que os juros, o dólar e a Bolsa são o produto das ações de todos na economia, dentro e fora do Brasil, sobretudo do próprio governo. Muita gente séria e trabalhadora, presidente. 

É preciso que não nos esqueçamos que dólar alto significa certo arrocho salarial, causado pela inflação que vem a reboque. Sabemos disso há décadas. Os sindicatos sabem. 

E também não custa lembrar que a Bolsa é hoje uma fonte relevante de capital para investimento real, canal esse que anda entupido. 

São todos sintomas da perda de confiança na moeda nacional, cuja manifestação mais extrema é a escalada da inflação. Quando o governo perde o seu crédito, a economia se arrebenta. Quando isso acontece, quem perde mais? Os pobres! 

O setor financeiro recebe juros, sim, mas presta serviços e repassa boa parte dos juros para o resto da economia, que lá deposita seus recursos. 

O teto, hoje a caminho de passar de furado a buraco aberto, foi uma tentativa de forçar uma organização de prioridades. Por que isso? Porque não dá para fazer tudo ao mesmo tempo sem pressionar os preços e os juros. O mundo aí fora está repleto de exemplos disso.

Então por que falta dinheiro para áreas de crucial impacto social? Porque, implícita ou explicitamente, não se dá prioridade a elas. Essa é a realidade, que precisa ser encarada com transparência e coragem. 

O crédito público no Brasil está evaporando. Hora de tomar providências, sob pena de o povo outra vez tomar na cabeça. 

Respeitosamente, 

Arminio Fraga, Edmar Bacha e Pedro Malan 


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sexta-feira, 11 de novembro de 2022

Nota dos ministros militares: a pá de cal no golpe que Bolsonaro quer dar

No dia 11 de novembro de 2022 os três ministros militares, comandantes de suas forças, o Exército a Marinha e a Aeronáutica, deram fim às especulações de que poderiam apoiar, por um ato de força, uma rebelião contra o resultado eleitoral que elegeu Lula Presidente da República em 30 de outubro de 2022.


Bolsonaro desde o início do governo chantageou a nação com a ameaça de que chamaria o “seu exército”, para dar o golpe que queria dar. Na verdade, valendo-se da condição constitucional de “Comandante em Chefe das Forças Armadas”, a ameaça implícita era de que chamaria as FA para dar o golpe.

Na verdade blefava com este apoio que nunca teve! Valia-se de sua autoridade hierárquica para fazer suas ameaças e dizer o que bem entendia sabendo que os comandantes militares não poderiam desmenti-lo.

Isso mantinha os seus radicais mobilizados, inclusive nas ruas, em apoio indubitável aos seus intentos. Algumas de suas manifestações em Brasília, na Av. Paulista, etc., foram incrivelmente massivas.

Por isso, milhões de democratas brasileiros, que somente querem viver em um Estado Democrático de Direito, levaram a sério essas ameaças, até mesmo porque Bolsonaro cercou-se de generais reformados de quatro estrelas rezando pela mesma cartilha golpista; se não fosse pouco, colocou-os como os seus ministros palacianos mais próximos.

A consequência foi uma eleição presidencial polarizada entre os que defendiam a democracia e os que se alinharam ao projeto bolsonarista, o que criou o ambiente trágico para um 2º turno entre Lula e Bolsonaro, exatamente os dois piores candidatos.

Espertamente, Lula foi o beneficiário da ameaça golpista de Bolsonaro, pois recebeu já no 1º turno os votos da maioria dos eleitores que, sabidamente, são democratas. E, em nome da democracia, Lula recebeu milhões de votos críticos ao próprio lulopetismo.

As Forças Armadas ficaram onde sempre estiveram desde a promulgação da Constituição de 1988: fiéis e leais à sua missão constitucional.

Outro fosse o vencedor da eleição presidencial em 2022 a postura das FA teria sido a mesma.


A ÍNTEGRA DA NOTA (*):

Às Instituições e ao Povo Brasileiro

Acerca das manifestações populares que vêm ocorrendo em inúmeros locais do País, a Marinha do Brasil, o Exército Brasileiro e a Força Aérea Brasileira reafirmam seu compromisso irrestrito e inabalável com o Povo Brasileiro, com a democracia e com a harmonia política e social do Brasil, ratificado pelos valores e pelas tradições das Forças Armadas, sempre presentes e moderadoras nos mais importantes momentos de nossa história.

A Constituição Federal estabelece os deveres e os direitos a serem observados por todos os brasileiros e que devem ser assegurados pelas Instituições, especialmente no que tange à livre manifestação do pensamento; à liberdade de reunião, pacificamente; e à liberdade de locomoção no território nacional.

Nesse aspecto, ao regulamentar disposições do texto constitucional, por meio da Lei nº 14.197, de 1º de setembro de 2021, o Parlamento Brasileiro foi bastante claro ao estabelecer que: "Não constitui crime [...] a manifestação crítica aos poderes constitucionais nem a atividade jornalística ou a reivindicação de direitos e garantias constitucionais, por meio de passeatas, de reuniões, de greves, de aglomerações ou de qualquer outra forma de manifestação política com propósitos sociais".

Assim, são condenáveis tanto eventuais restrições a direitos, por parte de agentes públicos, quanto eventuais excessos cometidos em manifestações que possam restringir os direitos individuais e coletivos ou colocar em risco a segurança pública; bem como quaisquer ações, de indivíduos ou de entidades, públicas ou privadas, que alimentem a desarmonia na sociedade.

A solução a possíveis controvérsias no seio da sociedade deve valer-se dos instrumentos legais do estado democrático de direito. Como forma essencial para o restabelecimento e a manutenção da paz social, cabe às autoridades da República, instituídas pelo Povo, o exercício do poder que "Dele" emana, a imediata atenção a todas as demandas legais e legítimas da população, bem como a estrita observância das atribuições e dos limites de suas competências, nos termos da Constituição Federal e da legislação.

Da mesma forma, reiteramos a crença na importância da independência dos Poderes, em particular do Legislativo, Casa do Povo, destinatário natural dos anseios e pleitos da população, em nome da qual legisla e atua, sempre na busca de corrigir possíveis arbitrariedades ou descaminhos autocráticos que possam colocar em risco o bem maior de nossa sociedade, qual seja, a sua Liberdade.

A construção da verdadeira Democracia pressupõe o culto à tolerância, à ordem e à paz social. As Forças Armadas permanecem vigilantes, atentas e focadas em seu papel constitucional na garantia de nossa Soberania, da Ordem e do Progresso, sempre em defesa de nosso Povo.

Assim, temos primado pela Legalidade, Legitimidade e Estabilidade, transmitindo a nossos subordinados serenidade, confiança na cadeia de comando, coesão e patriotismo. O foco continuará a ser mantido no incansável cumprimento das nobres missões de Soldados Brasileiros, tendo como pilares de nossas convicções a Fé no Brasil e em seu pacífico e admirável Povo.

Brasília/DF, 11 de novembro de 2022.

Almirante de Esquadra ALMIR GARNIER SANTOSComandante da Marinha

General de Exército MARCO ANTÔNIO FREIRE GOMESComandante do Exército

Tenente-Brigadeiro do Ar CARLOS DE ALMEIDA BAPTISTA JUNIORComandante da Aeronáutica

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sexta-feira, 4 de novembro de 2022

O MAIOR RISCO DE BOLSONARO NOS PRÓXIMOS ANOS: FICAR DESEMPREGADO!

Bolsonaro saiu do 2º turno com mais de 58 milhões de votos. O PL, o seu partido, já disse que vai lhe arranjar um emprego, com um bom salário, para que ele se dedique nos próximos 4 anos a organizar a oposição ao governo Lula e articular a sua volta gloriosa em 2026.

Nada mais lógico este impulso inicial. Qual partido não desejaria manter e consolidar tal patrimônio eleitoral? Afinal, não é ele a voz mais forte dessa corrente conservadora e de direita que emergiu com imensa força representando 49,10% dos votos válidos?


Mas, passado o primeiro impulso, algumas questões começam a surgir com a mesma espontaneidade:
  • Logo se lembram, os mais próximos ao presidente do PL, o Valdemar Costa Neto, que o partido, mais do que uma corrente político-ideológica, é um grande empreendimento empresarial que descobriu o grande negócio político-partidário que tem como premissa estar sempre o mais próximo possível do poder existente, seja ele qual for. E nisso, reconheçamos, são profissionais: o PL saiu das eleições de 2022 como o maior partido nas duas casas: na Câmara, 99 deputados federais; no Senado, 14 senadores;
  • Conhecem bem a Bolsonaro, que já circulou por muitos partidos. O PL é o nono. Teria ele o perfil de ser um quadro partidário e organizador meticuloso de um projeto programático, o que exige muito esforço, paciência e trabalho em equipe junto às várias instâncias de decisão típicas de uma organização partidária com múltiplos interesses regionais espalhada por todo o território nacional? Parece que não!
  • Se há algo que o caracteriza é que ele é um líder ideológico de extrema-direita, nostálgico da ditadura militar e que os seus valores políticos explicitamente auto-declarados o identificam com o fascismo; pessoalmente, já deixou transparecer o seu desejo de governar ditatorialmente e o seu descompromisso com a democracia; cabe, então, perguntar: a maioria dos seus eleitores possui o seu perfil?; ou desejariam mais um “bolsonarismo sem Bolsonaro”, com um líder da direita democrática, como o Tarcisio de Freitas, governador de São Paulo, que estaria mais apto a representar este papel?
  • O conservadorismo, que emergiu com imensa força na sociedade brasileira, desejaria ou buscaria uma liderança como Bolsonaro que, embora tenha surgido como um furacão, ainda assim foi derrotado, mesmo com todos os meios disponíveis para favorecer a reeleição do Presidente? Até a Dilma foi reeleita! Ou, ao contrário, historicamente, anseia e precisa algo diferente?
  • Sendo, ainda, Bolsonaro, sinônimo de obscurantismo civilizacional, negacionismo cientifico, intolerância cultural, religiosa e comportamental e idolatria às armas e à violência? Esta seria a face de uma direita capaz de ter um papel progressista no desenvolvimento da democracia brasileira? Ouso, antecipadamente, responder que não! O debate se impõe e está aberto.
  • Finalmente, Bolsonaro com sua personalidade, próxima à psicopatia, e incapaz de demonstrar empatia com as famílias enlutadas com suas perdas durante a pandemia, conseguirá construir-se como um líder moderno de oposição à Lula? Ouso, também, responder que é pouco provável!
Mais provável é que em menos de dois anos ele perca o emprego que o PL agora está a lhe oferecer. Causará mais confusão do que ganhos para o partido que estará, como sempre, buscando uma convivência com Lula e com o poder de plantão, e de olho nas eleições de 2024 e de 2026. 

Vamos convir, dificilmente o Valdemar deixará que o Bozo atrapalhe os seus negócios, assim como o Bivar já não permitiu no antigo PSL!

segunda-feira, 31 de outubro de 2022

A BOA NOVA: FORAM DERROTADOS, SIMULTANEAMENTE, O BOLSONARISMO E O LULOPETISMO

Correntes de pensamento que habitavam o mundo concretamente na primeira metade do Séc. XX chegaram até nós, em pleno 2022, como espectros ameaçadores.

Como fantasmas ideológicos eles ainda nos assombram e dividem.


Pior ainda, suas concepções estiveram até agora a nos empurrar para uma luta fratricida. Os fantasmas do fascismo e do comunismo movem fanáticos mas não são reais.

Mas, mesmo ireais, muitos se mobilizam fanaticamente para combatê-los! Enquanto isso, o comunismo e o fascismo são insignificantes na sociedade brasileira como forças políticas reais!

A nossa luta não é sequer entre a esquerda e a direita, mas muitos acreditam nisso! O lulopetismo e o bolsonarismo, que nos convocam a lutar contra fantasmas, são os representantes deste mundo fantasmagórico do passado, mas muitos acreditam neles!

O que nos divide, realmente, é a luta entre o desenvolvimento da democracia e as forças do atraso que o bloqueiam. Nossa luta é para erradicar a pobreza e a miséria, e para liberar as forças da prosperidade e do progresso, baseadas no conhecimento e na ciência. O nosso inimigo é o populismo, o patrimonialismo e as forças que cultuam o assalto ao Estado, não importa a sua cor ideológica!

Precisamos restabelecer a confiança nos políticos, na política e na democracia.

O resultado das eleições presidenciais de 2022, cujo 2º turno terminou no dia 30 de outubro, nos trouxe duas boas novas. Sobretudo, são oportunidades para o Brasil, pois, observem: o bolsonarismo e o lulopetismo, ambos, foram derrotados eleitoralmente, cada um à sua maneira.

Em 30/10 Lula venceu Bolsonaro por apenas 2.139.645 votos, uma pequena margem, a menor, percentualmente, de todas as eleições presidenciais desde 1989. É certo que o bolsonarismo foi derrotado! Mas essa não foi uma vitória do lulopetismo. Ao contrário, dezenas de milhões de democratas votaram em Lula desde o 1º turno não por saudades do PT, mas para se livrarem de Bolsonaro, de sua incompetência, de seu negacionismo, de sua psicopatia e, principalmente, de suas ameaças à democracia!

Embora os seus fantasmas, renitentemente, continuarão a querer nos assombrar, historicamente, eles estão derrotados!

domingo, 30 de outubro de 2022

ÍNTEGRA DO DISCURSO LIDO POR LULA APÓS A PROCLAMAÇÃO DE SUA VITÓRIA PELO TSE

Íntegra do discurso histórico lido por Lula (*) no dia 30 de outubro de 2022, logo após ter tido a sua vitória eleitoral nas urnas proclamada pelo Ministro Alexandre de Moraes, membro do STF e Presidente do TSE.

É um discurso de valores programáticos e de compromisssos, proferido no calor exato do momento da vitória; permanecerá como referência para todos os que pretendam avaliar futuramente o seu governo.


Meus amigos e minhas amigas.

Chegamos ao final de uma das mais importantes eleições da nossa história. Uma eleição que colocou frente a frente dois projetos opostos de país, e que hoje tem um único e grande vencedor: o povo brasileiro.

Esta não é uma vitória minha, nem do PT, nem dos partidos que me apoiaram nessa campanha. É a vitória de um imenso movimento democrático que se formou, acima dos partidos políticos, dos interesses pessoais e das ideologias, para que a democracia saísse vencedora.

Neste 30 de outubro histórico, a maioria do povo brasileiro deixou bem claro que deseja mais – e não menos democracia.

Deseja mais – e não menos inclusão social e oportunidades para todos. Deseja mais – e não menos respeito e entendimento entre os brasileiros. Em suma, deseja mais – e não menos liberdade, igualdade e fraternidade em nosso país.

O povo brasileiro mostrou hoje que deseja mais do que exercer o direito sagrado de escolher quem vai governar a sua vida. Ele quer participar ativamente das decisões do governo.

O povo brasileiro mostrou hoje que deseja mais do que o direito de apenas protestar que está com fome, que não há emprego, que o seu salário é insuficiente para viver com dignidade, que não tem acesso a saúde e educação, que lhe falta um teto para viver e criar seus filhos em segurança, que não há nenhuma perspectiva de futuro.
O povo brasileiro quer viver bem, comer bem, morar bem. Quer um bom emprego, um salário reajustado sempre acima da inflação, quer ter saúde e educação públicas de qualidade.

Quer liberdade religiosa. Quer livros em vez de armas. Quer ir ao teatro, ver cinema, ter acesso a todos os bens culturais, porque a cultura alimenta nossa alma.

O povo brasileiro quer ter de volta a esperança.
É assim que eu entendo a democracia. Não apenas como uma palavra bonita inscrita na Lei, mas como algo palpável, que sentimos na pele, e que podemos construir no dia-dia.

Foi essa democracia, no sentido mais amplo do termo, que o povo brasileiro escolheu hoje nas urnas. Foi com essa democracia – real, concreta – que nós assumimos o compromisso ao longo de toda a nossa campanha.

E é essa democracia que nós vamos buscar construir a cada dia do nosso governo. Com crescimento econômico repartido entre toda a população, porque é assim que a economia deve funcionar – como instrumento para melhorar a vida de todos, e não para perpetuar desigualdades.

A roda da economia vai voltar a girar, com geração de empregos, valorização dos salários e renegociação das dívidas das famílias que perderam seu poder de compra.

A roda da economia vai voltar a girar com os pobres fazendo parte do orçamento. Com apoio aos pequenos e médios produtores rurais, responsáveis por 70% dos alimentos que chegam às nossas mesas.

Com todos os incentivos possíveis aos micros e pequenos empreendedores, para que eles possam colocar seu extraordinário potencial criativo a serviço do desenvolvimento do país.

É preciso ir além. Fortalecer as políticas de combate à violência contra as mulheres, e garantir que elas ganhem o mesmo salários que os homens no exercício de igual função.

Enfrentar sem tréguas o racismo, o preconceito e a discriminação, para que brancos, negros e indígenas tenham os mesmos direitos e oportunidades.

Só assim seremos capazes de construir um país de todos. Um Brasil igualitário, cuja prioridade sejam as pessoas que mais precisam.

Um Brasil com paz, democracia e oportunidades.

Minhas amigas e meus amigos.

A partir de 1º de janeiro de 2023 vou governar para 215 milhões de brasileiros, e não apenas para aqueles que votaram em mim. Não existem dois Brasis. Somos um único país, um único povo, uma grande nação.
Não interessa a ninguém viver numa família onde reina a discórdia. É hora de reunir de novo as famílias, refazer os laços de amizade rompidos pela propagação criminosa do ódio.

A ninguém interessa viver num país dividido, em permanente estado de guerra.

Este país precisa de paz e de união. Esse povo não quer mais brigar. Esse povo está cansado de enxergar no outro um inimigo a ser temido ou destruído.

É hora de baixar as armas, que jamais deveriam ter sido empunhadas. Armas matam. E nós escolhemos a vida.
O desafio é imenso. É preciso reconstruir este país em todas as suas dimensões. Na política, na economia, na gestão pública, na harmonia institucional, nas relações internacionais e, sobretudo, no cuidado com os mais necessitados.

É preciso reconstruir a própria alma deste país. Recuperar a generosidade, a solidariedade, o respeito às diferenças e o amor ao próximo.

Trazer de volta a alegria de sermos brasileiros, e o orgulho que sempre tivemos do verde-amarelo e da bandeira do nosso país. Esse verde-amarelo e essa bandeira que não pertencem a ninguém, a não ser ao povo brasileiro.


Nosso compromisso mais urgente é acabar outra vez com a fome. Não podemos aceitar como normal que milhões de homens, mulheres e crianças neste país não tenham o que comer, ou que consumam menos calorias e proteínas do que o necessário.

Se somos o terceiro maior produtor mundial de alimentos e o primeiro de proteína animal, se temos tecnologia e uma imensidão de terras agricultáveis, se somos capazes de exportar para o mundo inteiro, temos o dever de garantir que todo brasileiro possa tomar café da manhã, almoçar e jantar todos os dias.

Este será, novamente, o compromisso número 1 do nosso governo.

Não podemos aceitar como normal que famílias inteiras sejam obrigadas a dormir nas ruas, expostas ao frio, à chuva e à violência.

Por isso, vamos retomar o Minha Casa Minha Vida, com prioridade para as famílias de baixa renda, e trazer de volta os programas de inclusão que tiraram 36 milhões de brasileiros da extrema pobreza.

O Brasil não pode mais conviver com esse imenso fosso sem fundo, esse muro de concreto e desigualdade que separa o Brasil em partes desiguais que não se reconhecem. Este país precisa se reconhecer. Precisa se reencontrar consigo mesmo.

Para além de combater a extrema pobreza e a fome, vamos restabelecer o diálogo neste país.

É preciso retomar o diálogo com o Legislativo e Judiciário. Sem tentativas de exorbitar, intervir, controlar, cooptar, mas buscando reconstruir a convivência harmoniosa e republicana entre os três poderes.

A normalidade democrática está consagrada na Constituição. É ela que estabelece os direitos e obrigações de cada poder, de cada instituição, das Forças Armadas e de cada um de nós.

A Constituição rege a nossa existência coletiva, e ninguém, absolutamente ninguém, está acima dela, ninguém tem o direito de ignorá-la ou de afrontá-la.

Também é mais do que urgente retomar o diálogo entre o povo e o governo.

Por isso vamos trazer de volta as conferências nacionais. Para que os interessados elejam suas prioridades, e apresentem ao governo sugestões de políticas públicas para cada área: educação, saúde, segurança, direitos da mulher, igualdade racial, juventude, habitação e tantas outras.

Vamos retomar o diálogo com os governadores e os prefeitos, para definirmos juntos as obras prioritárias para cada população.

Não interessa o partido ao qual pertençam o governador e o prefeito. Nosso compromisso será sempre com melhoria de vida da população de cada estado, de cada município deste país.

Vamos também reestabelecer o diálogo entre governo, empresários, trabalhadores e sociedade civil organizada, com a volta do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social.

Ou seja, as grandes decisões políticas que impactem as vidas de 215 milhões de brasileiros não serão tomadas em sigilo, na calada da noite, mas após um amplo diálogo com a sociedade.

Acredito que os principais problemas do Brasil, do mundo, do ser humano, possam ser resolvidos com diálogo, e não com força bruta.

Que ninguém duvide da força da palavra, quando se trata de buscar o entendimento e o bem comum.

Meus amigos e minhas amigas.

Nas minhas viagens internacionais, e nos contatos que tenho mantido com líderes de diversos países, o que mais escuto é que o mundo sente saudade do Brasil.
Saudade daquele Brasil soberano, que falava de igual para igual com os países mais ricos e poderosos. E que ao mesmo tempo contribuía para o desenvolvimento dos países mais pobres.

Brasil que apoiou o desenvolvimento dos países africanos, por meio de cooperação, investimento e transferência de tecnologia.

Que trabalhou pela integração da América do Sul, da América Latina e do Caribe, que fortaleceu o Mercosul, e ajudou a criar o G-20, a UnaSul, a Celac e os BRICS.

Hoje nós estamos dizendo ao mundo que o Brasil está de volta. Que o Brasil é grande demais para ser relegado a esse triste papel de pária do mundo.

Vamos reconquistar a credibilidade, a previsibilidade e a estabilidade do país, para que os investidores – nacionais e estrangeiros – retomem a confiança no Brasil. Para que deixem de enxergar nosso país como fonte de lucro imediato e predatório, e passem a ser nossos parceiros na retomada do crescimento econômico com inclusão social e sustentabilidade ambiental.
Queremos um comércio internacional mais justo. Retomar nossas parcerias com os Estados Unidos e a União Europeia em novas bases. Não nos interessam acordos comerciais que condenem nosso país ao eterno papel de exportador de commodities e matéria prima.

Vamos re-industrializar o Brasil, investir na economia verde e digital, apoiar a criatividade dos nossos empresários e empreendedores. Queremos exportar também conhecimento.

Vamos lutar novamente por uma nova governança global, com a inclusão de mais países no Conselho de Segurança da ONU e com o fim do direito a veto, que prejudica o equilíbrio entre as nações.

Estamos prontos para nos engajar outra vez no combate à fome e à desigualdade no mundo, e nos esforços para a promoção da paz entre os povos.

O Brasil está pronto para retomar o seu protagonismo na luta contra a crise climática, protegendo todos os nossos biomas, sobretudo a Floresta Amazônica.
Em nosso governo, fomos capazes de reduzir em 80% o desmatamento na Amazônia, diminuindo de forma considerável a emissão de gases que provocam o aquecimento global.

Agora, vamos lutar pelo desmatamento zero da Amazônia.

O Brasil e o planeta precisam de uma Amazônia viva. Uma árvore em pé vale mais do que toneladas de madeira extraídas ilegalmente por aqueles que pensam apenas no lucro fácil, às custas da deterioração da vida na Terra.

Um rio de águas límpidas vale muito mais do que todo o ouro extraído às custas do mercúrio que mata a fauna e coloca em risco a vida humana.
Quando uma criança indígena morre assassinada pela ganância dos predadores do meio ambiente, uma parte da humanidade morre junto com ela.

Por isso, vamos retomar o monitoramento e a vigilância da Amazônia, e combater toda e qualquer atividade ilegal – seja garimpo, mineração, extração de madeira ou ocupação agropecuária indevida.

Ao mesmo tempo, vamos promover o desenvolvimento sustentável das comunidades que vivem na região amazônica. Vamos provar mais uma vez que é possível gerar riqueza sem destruir o meio ambiente.

Estamos abertos à cooperação internacional para preservar a Amazônia, seja em forma de investimento ou pesquisa científica. Mas sempre sob a liderança do Brasil, sem jamais renunciarmos à nossa soberania.

Temos compromisso com os povos indígenas, com os demais povos da floresta e com a biodiversidade. Queremos a pacificação ambiental.

Não nos interessa uma guerra pelo meio ambiente, mas estamos prontos para defendê-lo de qualquer ameaça.
Meus amigos e minhas amigas.

O novo Brasil que iremos construir a partir de 1º de janeiro não interessa apenas ao povo brasileiro, mas a todas as pessoas que trabalham pela paz, a solidariedade e a fraternidade, em qualquer parte do mundo.

Na última quarta-feira, o Papa Francisco enviou uma importante mensagem ao Brasil, orando para que o povo brasileiro fique livre do ódio, da intolerância e da violência.

Quero dizer que desejamos o mesmo, e vamos trabalhar sem descanso por um Brasil onde o amor prevaleça sobre o ódio, a verdade vença a mentira, e a esperança seja maior que o medo.

Todos os dias da minha vida eu me lembro do maior ensinamento de Jesus Cristo, que é o amor ao próximo. Por isso, acredito que a mais importante virtude de um bom governante será sempre o amor – pelo seu país e pelo seu povo.

No que depender de nós, não faltará amor neste país. Vamos cuidar com muito carinho do Brasil e do povo brasileiro. Viveremos um novo tempo. De paz, de amor e de esperança.

Um tempo em que o povo brasileiro tenha de novo o direito de sonhar. E as oportunidades para realizar aquilo que sonha.

Para isso, convido a cada brasileiro e cada brasileira, independentemente em que candidato votou nessa eleição. Mais do que nunca, vamos juntos pelo Brasil, olhando mais para aquilo que nos une, do que para nossas diferenças.

Sei a magnitude da missão que a história me reservou, e sei que não poderei cumpri-la sozinho. Vou precisar de todos – partidos políticos, trabalhadores, empresários, parlamentares, govenadores, prefeitos, gente de todas as religiões. Brasileiros e brasileiras que sonham com um Brasil mais desenvolvido, mais justo e mais fraterno.

Volto a dizer aquilo que disse durante toda a campanha. Aquilo que nunca foi uma simples promessa de candidato, mas sim uma profissão de fé, um compromisso de vida:
O Brasil tem jeito. Todos juntos seremos capazes de consertar este país, e construir um Brasil do tamanho dos nossos sonhos – com oportunidades para transformá-los em realidade.
Mais uma vez, renovo minha eterna gratidão ao povo brasileiro. Um grande abraço, e que Deus abençoe nossa jornada. 

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terça-feira, 25 de outubro de 2022

Domingo a gente faz um país

Este texto do jornalista Antônio Prata, por suas qualidades, foi adotado como o manifesto oficial de todos os que defendem a democracia. Com o seu texto brilhante ele capta a essência do momento em que democratas de todo o espectro político se movem para defender a democracia e derrotar a Bolsonaro, sejam eles: liberais ou conservadores; de esquerda, de direita ou de centro.

Eleições presidenciais são momentos políticos de virada histórica. Mas o que estamos vivendo reveste-se de importância especial. Ele significa menos uma opção por Lula ou pelo petismo, mas, sobretudo, um momento em que a nação clamará, com o seu voto, a sua opção pela democracia.




A íntegra do manifesto:

Domingo a gente faz um país (clique sobre o link)

Daqui a dez, trinta, cinquenta anos, os que ainda estivermos vivos poderemos contar com orgulho pros nossos filhos, netos e bisnetos: naquele domingo, 30 de outubro de 2022, eu estava do lado certo.

Não era um lado homogêneo, o dos que votaram pra salvar o país da catástrofe bolsonarista. Pelo contrário, éramos gente de todos os cantos do espectro político, mas que passamos por cima das nossas diferenças por concordarmos com alguns pontos inegociáveis.
  • Que só poderíamos ter uma vida digna na democracia.
  • Que, numa Terra redonda, a ciência é quem decide que remédio funciona e qual é charlatanice. 
  • Que quando centenas de milhares de brasileiros morrem, prestamos as nossas condolências e solidariedade, não os imitamos, às gargalhadas, morrendo por asfixia. 
  • Ao decidirmos votar em Lula e Alckmin naquele 30 de outubro não escolhemos uma chapa ou um partido político: participamos de um plebiscito entre ditadura e democracia.
Naquele domingo tão perigoso havia a chance real de um sanguinário se reeleger. Havia a chance real de que, num segundo mandato, ele aparelhasse o STF, mudasse a constituição, silenciasse a mídia, expulsasse, prendesse, torturasse e matasse adversários, como acontece na Venezuela, em Cuba, na Arábia Saudita, na Hungria, no Irã, na Rússia.

O que muitos de nós não percebemos à época, no entanto, é que havia ali também uma chance grandiosa. A chance de, pela primeira vez desde a redemocratização, unirmos os melhores quadros do país no mesmo lado. Por décadas, PT e PSDB preferiram buscar o apoio de bandidos do que se aliarem. Agora Lula está com Alckmin. Armínio Fraga e Emicida estão no mesmo barco. Boulos e Simone Tebet também. Quem já imaginou João Amoedo e Mano Brown declarando voto no mesmo candidato? Esse bando de gente tão diferente se uniu justamente para garantir o direito de continuar discordando.

Nos unimos por sermos conservadores: queríamos conservar a Amazônia. Queríamos conservar o SUS. Queríamos conservar as instituições e o estado de direito. Nos unimos porque éramos liberais. Acreditávamos que os brasileiros só seriam livres se tivessem, todos eles, pretos e brancos, ricos e pobres, educação de qualidade. Acreditávamos na liberdade de crença em todas as religiões. Acreditávamos que cada um deveria viver como quisesse, sem um Estado reacionário metendo o bedelho em assuntos privados. Nos unimos porque éramos revolucionários: acreditávamos que o Brasil não estava fadado ao fracasso, que ele podia muito mais do que aquela desgraça torpe que nos engolia, dia após dia.

* * * 

Neste domingo, dia 30, vamos fazer história. Vamos votar no Lula e no Alckmin, vamos tirar o Bolsonaro da frente e começar a construir um Brasil do tamanho dos nossos sonhos e possibilidades. Para poder dizer aos nossos filhos, netos e bisnetos, algum dia, lá na frente, que o Brasil em que eles vivem, um Brasil justo, sem ódio, plural, diverso, próspero e generoso, foi fruto da nossa luta, fruto da nossa união.

Roda Democrática

Forum do Amanhã

Movimento Ética e Democracia

Direitos Já 

Prerrogativas

Derrubando Muros

República do Amanhã *

Imazon

Centro de Estudos Budistas Bodisatva (CEBB), 

Instituto de Estudos da Religião (ISER) 

Iniciativa Fé no Clima 

Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Empresarial.

Aliança Nacional Lgbti+

Associação Brasileira de Famílias homotransAfetivas, 

Rede Gaylatino

Grupo Dignidade Horario de mosmann crashaw

Ação Democrática Ampla - ADA

Escola Comum



*ORIENTAÇÃO:

A gente quer falar agora e dar uma chance para que todos repensem o seu papel nesse momento dramático. Nós podemos mudar nosso destino!

Para isso ser tangível, é importante que o texto generoso criado pelo Antonio Prata, ganhe rostos e vozes. Leia, grave o texto todo ou a parte com a qual vc se identifica, e solte nas redes. Peça aos seus amigos que façam o mesmo. Vamos inundar o Brasileiro de fé no futuro. Vamos virar essa página de escuridão e dor. A hora é de apostar no amor e no vida. Solte a sua voz!*

domingo, 16 de outubro de 2022

Em teste: a racionalidade e a sabedoria do eleitor brasileiro

Hoje, dia 16/10, o debate entre Lula e Bolsonaro na BAND, às 20:00, terá um papel fundamental na definição de quem receberá mais votos no 2º turno.


A pequena diferença entre os concorrentes, embora com Lula provavelmente à frente, não permite ter certeza sobre o que será revelado pelas urnas no dia 30/10. Tudo poderá acontecer.

Entretanto, o eleitor já não pode usar o critério da ética (ou da falta de ética) para escolher entre Lula e Bolsonaro. Simplesmente, porque neste critério estão empatados! Diz-se, portanto, que este critério é irrelevante para a escolha, pois, sobre ambos pesam vastas evidências de graves crimes de corrupção e de assalto aos recursos públicos.

Portanto, somente outros critérios servirão para compará-los!

Suponho que os critérios abaixo, dentre outros, poderão ser importantes para o eleitor racional:
  1. Quem tem real compromisso com a democracia?
  2. Quem tem o melhor projeto para a economia? Quem trará maior esperança de geração de emprego e renda? Quem saberá atrair e incentivar os investimentos estratégicos para garantir o crescimento econômico? Quem saberá melhor incentivar e apoiar o desenvolvimento do agro-negócio? Quem melhor favorecerá o desenvolvimento da indústria, do comércio e dos serviços? Quem saberá melhor combater a inflação e garantir o equilíbrio fiscal?
  3. Quem tem o compromisso mais confiável com a preservação do meio ambiente?
  4. Quem tem o melhor projeto para o desenvolvimento científico e tecnológico indispensável para o desenvolvimento sustentável?
  5. Quem tem o melhor projeto para os serviços de saúde, educação e segurança públicas?
  6. Quem oferece as melhores propostas para o apoio ao empreendedor privado nos marcos do capitalismo?
  7. Quem oferece aos empreendedores e investidores privados, internos e externos, o maior clima de confiança?
  8. Quem oferece às famílias o maior clima de paz e segurança para criar os seus filhos?
  9. Quem oferece aos brasileiros a melhor proposta para exercer, em liberdade, a sua fé religiosa?
  10. Quem trará ao país a maior expectativa de futuro melhor, capaz de restaurar o otimismo indispensável para enfrentar, coletivamente, com o trabalho e o esforço de todos, a construção, em paz, do sonho de um Brasil mais próspero e mais justo?
Quem vencerá o debate? O mais preparado? O mais sincero? O mais honesto? O mais mentiroso? O mais cínico? Ou o mais “esperto” e manipulador?

Pesará mais, na hora de votar, a racionalidade e a sabedoria de milhões de eleitores ou meramente uma polarização ideológica irracional que nos leva a uma luta fratricida contra fantasmas?

Dou a minha opinião sincera: somente o conhecimento, a ciência e o trabalho motivado, e inevitáveis sacrifícios, permitirão que este momento de crise seja superado em benefício de todos!

segunda-feira, 10 de outubro de 2022

Pela democracia, a volta do Lula do 1º mandato; claro, sem “mensalão”

A emergência do Brasil profundo:
“Em resumo, a direita civilizada acha que Bolsonaro pode até tentar, mas não conseguirá dar o golpe. O centro e o centro-esquerda esperam a volta do Lula do primeiro mandato”.
A realidade é apenas uma, e existe apenas uma medida perfeita do pensamento do eleitor: o voto apurado nas urnas, que conta, um por um, o voto de toda a população de eleitores. Essa medida perfeita foi feita no dia 2/10/22.

E, para isso, os brasileiros têm o privilégio de contar com o sistema de votação e apuração de votos mais avançado do mundo! E, além disso, esse sistema é confiável e auditável.

As pesquisas eleitorais idôneas são formas de medir, por amostragem, essa realidade sem precisar contar o voto de toda a população. Elas são necessárias, e são infinitamente mais rápidas, baratas e usadas em toda a ciência.

Mas se pesquisas idôneas necessárias divergem tanto do pensamento do eleitor, existem problemas metodológicos a serem corrigidos.

Por isso, se a pesquisa IPEC, divulgada dia 5/10/22,  depois de 3 dias da eleição do 1º turno difere tanto do que parece provável, no mínimo, se somos responsáveis, temos que clamar: - “Por favor, parem!”. Pois não queremos ser enganados por pesquisas erradas, mesmo que tenham sido feitas de boa fé!

E, pior, pesquisas metodologicamente erradas podem comprometer a credibilidade de todas as pesquisas misturando pesquisas idôneas com as intencionalmente falseavas.

O artigo abaixo de Carlos Alberto Sardenberg trata com imensa acuidade, equilíbrio e felicidade os erros cometidos pelas pesquisas às vésperas da eleição do 1º turno. E nos mostra a realidade de um eleitor conservador ou de direita. Mas, embora isto não seja ainda bem compreendido, nos mostra que estão errados os que concluam que ele não tenha compromisso com a democracia; e mais errados, ainda, se o identificarem com o reacionário Bolsonaro, este sim, de extrema de direita, que tem como sonho dourado governar como ditador.

Carlos Alberto Sardenberg (*)

Voto em Bolsonaro ou Lula não é necessariamente de radicais

(Movimento da direita é muito maior do que o presidente extremista. E ex-presidente é maior do que o petismo)

O Globo 08/10/2022 00h10


Em termos técnicos, pode-se dizer que todos os institutos de pesquisa estão certos, cada um a sua maneira. Quer dizer, conforme os métodos e critérios que utilizam. Mas, se todos estão corretos ao mesmo tempo e mostram resultados diferentes, pode-se dizer também que todos estão errados.

Não é por aí que se vai entender o que se passa no país. E o que se passa? Há um momento ou, se quiserem, uma onda de direita, conservadora, pró-capitalista, muito maior que o bolsonarismo raiz, este sendo a extrema direita.

No caso da eleição presidencial, os maiores institutos e a maior parte dos analistas enxergaram uma onda de voto útil pró-Lula, um forte sentimento para acabar com a coisa no primeiro turno.

Houve esse voto útil, mas não na escala antecipada. O movimento não saiu das elites partidárias e intelectuais.

E houve uma espécie de contravoto útil, em Bolsonaro. Isso não foi captado. O presidente teve um resultado melhor que o indicado nas pesquisas.

Pode-se resumir assim: o voto à esquerda foi superestimado. Inversamente, o voto à direita foi subestimado.

Não foi a primeira vez. Há um padrão aí. Nas duas eleições que venceu, Lula teve no primeiro turno menos votos do que indicavam as pesquisas. Idem para Dilma e para Haddad, este em 2018.

Neste ano, esse padrão foi claramente registrado nos estados, nas eleições para governador e senador. Em quase todos os lugares, a direita foi subestimada.

Considerem São Paulo. Tarcísio de Freitas, a direita, parecia disputar a segunda vaga com Rodrigo Garcia, Haddad liderando fácil. Nas urnas: Tarcísio com folgada liderança, Haddad decepcionado. E ninguém acreditava que o astronauta se elegeria, muito menos com tanta facilidade. Considerem o Rio Grande do Sul. O bolsonarista Onyx parecia disputar a segunda vaga. Pois chegou bem na frente. Eduardo Leite, suposto favorito, passou raspando para o segundo turno e está bem atrás. No Rio, Castro estava na frente, mas chegou com muito mais folga. Idem para Romeu Zema em Minas. O que aconteceu?

Uma resposta: é o antipetismo. Outra, paralela: pesaram muito dois tipos de voto, o evangélico e o de costumes, de conservadores contra a agenda progressista. Não pode ser só isso. No interior de estados como São Paulo, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, o voto evangélico não tem peso significativo. Podem ser conservadores, mas não radicais.

Em São Paulo, Tarcísio teve mais de 9 milhões de votos. Seria tudo antipetista? Tudo fascista? Tem de ser também a favor de alguma coisa. Basta olhar os temas fortes da campanha vencedora: obras, privatização, concessões, liberdade de empreender, garantias ao ambiente de negócios. Vale também, e muito especialmente, para Romeu Zema em Minas, desde já um importante quadro da direita. Ele teve mais votos que Bolsonaro no estado.

Bolsonaro teve 51 milhões de votos. De novo, não é possível que sejam todos extremistas reacionários. Bolsonaro ganhou no Sul, Sudeste e Centro-Oeste, regiões com uma característica em comum: são as mais desenvolvidas, pelo modelo capitalista. É o setor privado que comanda. Esse pessoal se incomoda com o intervencionismo estatal do PT.

Lula ganhou no Nordeste e no Norte, onde as populações e a economia são mais dependentes de ações dos governos.

Tudo considerado, esse movimento da direita é muito maior que o Bolsonaro extremista. Inversamente, como já se viu noutras eleições, Lula é maior que o petismo.

Não é por acaso que políticos em torno de Bolsonaro procuram “moderar” o presidente e afastar os bolsonaristas raiz, aquela turma de 2018.

Lula se move para o centro. Os votos dos pais do Real e de Simone Tebet vão nessa direção. Além disso, esses votos se baseiam na convicção de que Bolsonaro é ameaça à democracia — pelo que já fez e pelo que pode tentar, dado o peso conservador no novo Congresso.

Em resumo, a direita civilizada acha que Bolsonaro pode até tentar, mas não conseguirá dar o golpe. O centro e o centro-esquerda esperam a volta do Lula do primeiro mandato.

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