terça-feira, 30 de outubro de 2018

Medindo o tamanho do campo democrático

O processo de apuração eletrônica, confiável, nos permitiu participar da festa da democracia de forma exemplar. Pelo menos neste aspecto. Mas não se pode deixar de registrar que vivemos em um país dividido. 

A massa crítica da explosão está constituída. Milhões de democratas votaram em Haddad ou Bolsonaro sem que realmente gostem, conheçam ou confiem em seus projetos. Uns, por temerem mais aos valores representados pelo bolsonarismo; outros, por não suportarem mais as práticas antiéticas do lulopetismo. Os que se opõem a esses "projetos" precisam entrar em cena. Qual o seu peso junto ao eleitorado?

Na natureza física, o acúmulo da massa crítica radioativa produz a explosão nuclear; na sociedade, o acúmulo de irracionalidade nascido do confronto radical entre anti-projetos produz a escalada da violência e a explosão social.

Paradoxalmente, Haddad recebeu muitos votos antipetistas, mas que eram, mais ainda, antibolsonaristas. Bolsonaro recebeu muitos votos antibolsonaristas, mas que eram, mais ainda, antipetistas. Este fenômeno é ilustrado na figura abaixo: 


Os votos de Bolsonaro, Haddad, Abstenções e os Votos Nulos e Brancos são representados por áreas e cores proporcionais ao seu peso percentual. A figura foi construída com os dados oficiais divulgados pelo TSE na tarde do dia 29/10/18 (ver quadro anexo). 

Observe: a área azul, dos votos de Bolsonaro, possui uma sub-área hachurada, que representa os que votaram em Bolsonaro, sem gostar dele, para afastar o risco do PT voltar; a área laranja, dos votos de Haddad, possui uma sub-área hachurada, que representa os que votaram em Haddad, sem gostar dele, na expectativa de impedir a vitória do “bolsonarismo”. Qual o tamanho dessas áreas hachuradas? Alguns a representariam bem maior. Importante registrar, entretanto, que essas áreas hachuradas azul e laranja não são de eleitores, respectivamente, "de raiz", de Bolsonaro ou de Haddad.

Um estranho tipo de voto esses hachuradas! Por serem, simultaneamente, contrários ao bolsonarismo e ao lulopetismo, eles deveriam fazer parte dos votos nulos e brancos (5,84% + 1,69% = 7,53%), que têm exatamente este conteúdo, o dos eleitores que repudiaram a ambos os candidatos. Infelizmente, está perdida essa informação que seria extremamente útil estatisticamente para a conformação do quadro partidário não lulopetista que fará oposição a Bolsonaro. Admitamos, por baixo, que sejam cerca de 5% esses votos hachuradas, e que, dentre as abstenções, aproximadamente 10% (a metade de 21,30%) serão, doravante, oposição. Portanto, o campo não lulopetista que fará oposição a bolsonaro terá o tamanho de aproximadamente 22,53% (7,53% + 5% + 10%) do eleitorado, o que corresponderá a aproximadamente 33 milhões de eleitores. Nada mal para começar!

É extremamente importante Bolsonaro ter clareza de que esses 33 milhões de eleitores que não apoiam nem ao seu projeto nem ao do lulopetismo, somados aos votos dos que apoiam (de raiz) ao lulopetismo são potencialmente de oposição ao seu governo, e superam, de muito, a soma de votos de seus apoiadores. E esses mesmos 33 milhões de eleitores somados aos votos dos que apoiam (de raiz) ao bolsonarismo superam, de muito e em pelo menos mais 10 milhões de eleitores, aos apoiadores do lulopetismo. Esta é como uma fotografia instantânea tirada no dia 28/11/18. Mas todos sabem que a política, como as nuvens, é dinâmica e move-se, apresentando-se cada vez de uma forma diferente!

Alguns chegariam a estimar que a expressão política deste posicionamento - simultaneamente anti-bolsonarista e antilulopetista - superaria à própria votação obtida por Bolsonaro. A conferir.

Os resultados extraídos das urnas mostram que foi o antipetismo que preponderou na sociedade. Exatamente por isso Bolsonaro venceu! Mas foi, também, uma eleição dominada pelos anti-projetos! Teremos quatro anos para fazer gestar, com uma clareza ainda não alcançada, o projeto do centro democrático e reformista!

É necessário, portanto, fazer baixar essa bola, particularmente a do vencedor, que passará a exercer o poder político e que será obrigado a fazer o difícil exercício (para ele) de ser o presidente de todos os brasileiros, sem querer impor as suas atrasadas concepções ideológicas. Existem sérias dúvidas de que ele vá conseguir ser o estadista que o Brasil precisa. Mas foi eleito democraticamente e os cidadãos esperam isso dele. É necessário, também, acabar com essa história do “prendo e arrebento” e tentar ganhar a confiança de um Brasil que saiu dividido da eleição. Sobretudo, porque, além da boa vontade cívica e democrática, e o desejo de todos de que superemos a grave crise, Bolsonaro não está recebendo um cheque em branco da sociedade brasileira, particularmente para realizar os seus mais perigosos propósitos declarados! 

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Votação no 2º Turno da Eleição Presidencial:


Votação no 1º Turno das Eleição Presidencial:


Variação dos Votos entre o 1º e o 2º Turnos da Eleição Presidencial:

quarta-feira, 3 de outubro de 2018

Rumo à batalha dos falsos projetos

Penso que análises as mais respeitáveis podem, com base nas últimas pesquisas, apontar para um inevitável 2º turno com Bolsonaro e Haddad.


Mas eu não me dei por vencido, pois esta é uma lamentável configuração entre dois falsos projetos para a sociedade brasileira, entre o lulopetismo - do qual a sociedade está cansada - e o bolsonarismo, que expressa fundamentalmente, o anti-lulopetismo. São, ambos variações de visões populistas e autoritárias, e rotas alternativas para a Venezuela embora por caminhos diferentes!

O “anti-lulopetismo”, que deveria estar reduzido apenas ao que é, uma estratégia de combate e posicionamento eleitoral para claramente identificar o adversário a ser batido, converteu-se no próprio projeto, como se neste conceito militar pudessem estar os conteúdos das políticas públicas necessárias para tirar o país da crise!

Por que alguns projetos democráticos consistentes estão em vias de serem derrotados? Porque não se desvincularam de um dos componentes fundamentais do lulopetismo, o da “corrupção estratégica”, de assalto ao Estado, para financiar a conquista e manutenção do poder político!

O anti-lulopetismo, como um “não-projeto”, está derrotando, também, o que é ótimo, a “santa aliança” suprapartidária e supra-ideológica dos que temem e combatem a Lava-Jato-Jato. Entretanto, o que trágico, para muitos brasileiros Bolsonaro passou a simboliza-lo! Nisto, é preciso que se diga, as candidaturas do campo democrático estão fracassando!

Mas precisamos ser francos, Bolsonaro não disse o que propõe para o Brasil! O que ele nos promete é, sobretudo, uma fórmula geral de usar de mais violência para acabar com inimigos violentos. E, sinceramente, está à frente das pesquisas porque a facada do louco radical definiu o contexto da disputa eleitoral!

O que podemos fazer então, agora, até o dia 7/10, e até o último debate e a última pesquisa? Não esmorecermos, pois sempre poderá advir a emergência disruptiva da sabedoria de milhões de eleitores para quebrar esse jogo da polarização irracional, e canalizar, finalmente, os votos majoritários para uma candidatura que nos livre do mal maior! Devemos reconhecer que isso é improvável.

O paradoxal deste contexto eleitoral é que, todos sabemos, como dizem as próprias pesquisas, que, se levássemos este candidato democrático para o 2º turno, ele seria o novo presidente da república, pois receberia o apoio de uma ampla frente anti-bolsonarista, se disputasse com Bolsonaro, ou de uma ampla frente antipetista, se disputasse com Haddad!

O mais lamentável, entretanto, é que essas mesmas pesquisas apontam que em um segundo turno com Bolsonaro e Haddad o primeiro será o vencedor!