sexta-feira, 9 de outubro de 2015

As Estratégias de Eduardo Cunha

Qual a estratégia de Eduardo Cunha para adiar, ou mesmo evitar, a sua cassação?

Ela é múltipla, formada de movimentos simultâneos e cheia de incertezas, e se dirige, diferenciadamente, a três blocos de força:
  1. Aos deputados do núcleo governista, basicamente, do PT e do PCdoB, visando imobiliza-los para que não se incorporem ao pedido por sua cassação. Com estes, usa de dois estratagemas: o primeiro, de aliança com o governo, pela governabilidade, via Renan e Picciani, e pela sobrevivência mútua, contra o inimigo comum, a Lava Jato; o segundo estratagema, a simples chantagem, ameaçando aceitar de imediato e/ou colocar para votação em plenário o pedido de impeachment do Bicudo.
  2. Aos deputados do núcleo oposicionista, basicamente do PSDB, do DEM, PSB do PPS e do Solidariedade. Enquanto monitora a "lealdade" do primeiro bloco, acena com a colocação para votação em plenário do pedido de impeachment apresentado por Bicudo (existiria já um acordo neste sentido). Com isso, imobiliza esses partidos, que também não pedem a sua cassação.
  3. Aos deputados que lhe são leais (a sua tropa de choque). São uma salada que varre horizontalmente vários partidos: alguns "evangélicos" como ele, alguns da direita golpista, alguns do baixo clero, etc.; não tantos, mas em número suficiente para serem o fiel da balança em uma votação apertada! Com estes, negocia as benesses que o seu poder pode disponibilizar. Esta estratégia é decorrente da sua condição de presidente da Câmara, o que lhe garante o poder de definir a agenda de votação e a capacidade de arrebanhar votos.
Naturalmente, a sua estratégia preferencial é a primeira, e com isso tenta ganhar tempo! Afinal, ela atende ao Planalto, e satisfaz mais aos projetos imediatos de poder do PMDB, que esta aprisionado pela cultura fisiológica de um partido sem programa e sem projeto.

Aos parlamentares dos partidos que já estão pedindo a sua cassação, só lhe resta rezar com fé para que esse movimento não cresça!

E, assim, segue o país, com uma presidenta da república que tudo faz para não sofrer um processo de impeachment, e com um presidente da câmara que tudo faz para não ser cassado!

Seremos, os brasileiros, prisioneiros dessa lógica? Claro que não! Basta querermos rompê-la, desde que estejamos com a Constituição nas mãos, e queiramos viver em um Estado Democrático de Direito!

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Intolerância à Impunidade

Penso que a tensa situação política merece algumas reflexões (após a decisão do TCU, por unanimidade, de submeter ao Congresso seu parecer pela rejeição das contas da Presidente do exercício de 2014):


  1. O impeachment, se vier, não pode comprometer a democracia, e ser uma cortina de fumaça, como alguns querem, para apenas tirar o PT do poder;
  2. Qualquer movimento dos democratas, qualquer que seja o seu matiz político, não pode interromper a Lava Jato, pois é exatamente ela que está trazendo as mais fortes razões para que os brasileiros estejam pensando e desejando novos rumos;
  3. A oposição tem que superar a sua dubiedade com relação aos políticos corruptos que não são do PT, pois é necessário haver uma limpeza restauradora, doa a quem doer, para recuperar a confiança na política como instrumento e arte para servir ao bem comum;
  4. Finalmente, não devemos ir atrás de "salvadores", porque eles não existem, para resolver, ilusoriamente, apenas a questão do poder. 
O mais importante é que esta crise está criando a oportunidade para a democracia brasileira de implantar a cultura da intolerância à impunidade dos crimes de colarinho branco!

terça-feira, 6 de outubro de 2015

Ciência da Decisão: Introdução

Viver tem riscos em um mundo de conflitos e incertezas, mas isso jamais condenou os indivíduos a uma existência sem significados. Ao contrário, mesmo diante das maiores provações, sonham com uma vida mais feliz, renovam suas esperanças e pensam em como mudar sua sorte. Por isso, os indivíduos, se desejam construir um futuro melhor, sabem que têm a possibilidade de transformar, com suas ações, sonhos e esperanças em realidade.


Para um indivíduo, frente a um problema ou a uma oportunidade, decidir é a arte de escolher a alternativa de ação que julgue lhe abrir a melhor perspectiva de futuro. Porém, esse futuro jamais decorrerá apenas de sua vontade; outras forças, com as quais interage e em relação às quais se move, influirão com maior ou menor importância sobre o que acontecerá. Por isso, neste trabalho, diz-se que um indivíduo toma uma decisão interativa quando as consequências dessa decisão resultam de suas interações com outras forças no ambiente em que é executada.

O indivíduo integra um ambiente indivisível, que será observado sob dois aspectos, o ambiente social e o ambiente natural. Ele é uma das forças ambientais e, para os fins dessa análise, ambiente é onde o indivíduo age e interage continuamente com outras forças sociais e naturais, modificando-o para alcançar os seus objetivos e suprir suas necessidades.

O Conceito de Interação

Central, neste trabalho, é o conceito de interação. Define-se interação como um tipo de ação que ocorre quando dois ou mais objetos têm efeito um sobre o outro. A ideia de um efeito em duplo sentido é essencial no conceito de interação, e se diferencia de um efeito causal com um único sentido. Combinações de muitas interações simples podem conduzir a surpreendentes fenômenos emergentes.

Em sociologia, interação social é uma sequência dinâmica e mutável de ações sociais entre indivíduos (ou grupos) que modificam suas ações e reações devido à interação entre as partes. Em física, uma interação refere-se especificamente à ação de um objeto físico sobre o outro, e resulta nas forças de interação que descrevem os fenômenos da natureza.

O Indivíduo no Ambiente

Um indivíduo, aqui, é definido como uma entidade unitária de decisão com objetivos e preferências. Esta definição vale para uma pessoa, mas também para um grupo social organizado que desenvolva ações unitárias após as suas decisões. O processo decisório será observado na perspectiva de um indivíduo com o papel de tomador de decisões focal, seja ele uma pessoa ou uma organização, diferenciando-o dos outros indivíduos com os quais possa estar interagindo.

A cada ação do tomador de decisões focal correspondem reações de outras forças presentes no ambiente social e natural onde é executada.

1.    No ambiente social, cada ação intencional do tomador de decisões focal provoca reações de outras forças sociais. Essas interações sociais podem ser estratégicas ou impessoais:
  •    Em uma interação estratégica, o tomador de decisões precisa pensar sobre qual poderia ser a resposta de outro indivíduo, que também está pensando sobre o que ele estaria pensando e poderia fazer; neste caso, o tomador de decisões focal e o outro indivíduo estão jogando ou negociando se ambos participam mútua e conscientemente dessa interação (Dixit, 2004).
  •      Em uma interação impessoal, o tomador de decisões focal precisa pensar antes de agir sobre qual poderia ser a resposta de outra força social, para a qual, entretanto, a sua análise e a sua subsequente ação pouco importa. Exemplos de interações impessoais: ações de um indivíduo tendo como resposta sentenças impessoais de um juiz ou de uma autoridade estatal; ações de uma pequena empresa cujas consequências possam ser afetadas por decisões e ações impessoais em relação a ela do governo ou de uma grande empresa; esforços de vendas da empresa focal que são afetadas por respostas impessoais de indivíduos agregados, como a demanda de mercado por um produto.

2.    No ambiente natural, cada ação intencional do tomador de decisões focal provoca reações de outras forças naturais. Essas interações são impessoais porque as reações da natureza, regidas por suas leis, não são controladas por ninguém, algum ser sensitivo que pudesse estar pensando sobre o que ele estaria pensando e poderia fazer; mas o tomador de decisões precisa pensar sobre essas reações, que embora não-intencionais não são nada passivas.

domingo, 4 de outubro de 2015

A contribuição da Justiça e da Operação Lava Jato para a DemocraciaBrasileira

Carlos Alberto Torres
Decisões Interativas – 04/10/2015
Teria deixado de ser a situação da economia o fator determinante para explicar e analisar os acontecimentos na política? Afinal, esta é uma longa e respeitada tradição metodológica tanto do pensamento liberal quanto do marxista!
Entretanto, como testemunhamos nos debates nas redes sociais, com claras consequências nas ruas, jamais na história o protagonismo espontâneo dos indivíduos foi tão relevante! Entrou em cena o indivíduo-cidadão, na sua complexidade, subjetividade, diversidade, diferenças de comportamento e dignidade. Os indivíduos, antes dissolvidos em agregados abstratos, como "mercados" e "classes", agora podem ser percebidos de forma concreta por suas faces, nomes e perfis!
Na conjuntura atual, estejamos nós ainda prisioneiros, ou não, desses referenciais teóricos, não podemos deixar de reconhecer a importância da Operação Lava Jato nos acontecimentos políticos. E este vetor vem da ação das instituições jurídicas, e não da economia, respondendo aos clamores, nas redes e nas ruas, de uma nova militância!
Exatamente por isso, esse vetor disputa um papel de centralidade para o avanço da democracia brasileira, criando a oportunidade de acabar com a impunidade dos crimes de colarinho branco.
Ou seja, valores éticos e morais, que afetam os comportamentos individuais, o repudio à corrupção, o respeito à diversidade de gênero e de orientação sexual, e as questões racial, étnica, de nacionalidades, humanitárias, ambiental, etc., levaram os cidadãos à ação, e tornaram-se vetores fundamentais; por isso, tornaram-se candidatos, junto com a economia, a serem fatores determinantes, por vezes os mais importantes, dos acontecimentos na política.
...
Impeachment ou Lava Jato?
Nada como o andar da carruagem para que os brasileiros se deem conta de que o impeachment de Dilma, e a sua substituição por Temer daria, imediatamente, mais poder, não apenas ao PMDB, mas, sobretudo, a Eduardo Cunha e a Renan Calheiros, dois denunciados na Lava Jato. Isto não atenderia ao clamor ético da sociedade!
Um processo de impeachment não pode ser conduzido ao sabor das circunstâncias, apenas para aplacar o cansaço de largos setores da sociedade brasileira com 13 anos de gestões petistas. Ele só se justificará se todas as suas premissas jurídicas estiverem preenchidas, caso contrário ele trará o risco de uma crise ainda maior, política, econômica e ética!
Estratégia mais efetiva é que todos os democratas, de qualquer matiz político, se unam em torno da bandeira de "Toda força à Operação Lava Jato!", para que ela alcance os seus objetivos, doa a quem doer. Os seus resultados são suficientes para lhe dar credibilidade, pois nunca antes neste país tantos criminosos de colarinho branco foram identificados, denunciados, presos, julgados e condenados. Por gravidade, chegaremos a todos os que devem ser julgados, punidos e expurgados da vida pública, e aperfeiçoaremos a legislação anticorrupção!
Com isso, não perderemos a oportunidade que a crise oferece para o avanço da democracia brasileira, a de acabar com a impunidade dos crimes de colarinho branco! Poderemos conseguir dessa crise algo mais importante?
Estaremos dispostos, como brasileiros e cidadãos, a dar esse passo? Estaremos dispostos a assumir essa radicalidade democrática e republicana?