quarta-feira, 30 de março de 2016

Precisamos ir além do impeachment!

Ser consequente na defesa da democracia é defender a continuidade e o fortalecimento da Operação Lava-jato e apoiar a permanência do juiz Sérgio Moro à sua frente!


O impeachment não é panaceia para os nossos males! Já tivemos outro, e ele, por si mesmo, não interrompeu a corrupção no aparelho do estado! Se reduzidos a ele, reencontraremos, com novos nomes, os "mensalões" e "petrolões" que tivemos nos últimos 13 anos! Não queremos apenas trocar os agentes da roubalheira!

Por isso, a tarefa histórica da democracia brasileira, nesta etapa, é acabar com a impunidade dos crimes de colarinho branco, doa a quem doer!

Queremos, e precisamos, uma renovação da política, das estruturas institucionais e jurídicas que a sustentam, que hoje estão umbilicalmente unidas com a corrupção, e dar à sociedade brasileira a oportunidade de eleger cidadãos comprometidos com o bem comum!

Não temos o direito de nos enganar, pois já possuímos informação suficiente, trazida pela Lava-Jato, sobre como o Brasil está sendo assaltado!

A sociedade brasileira não está condenada a ser governada por ladrões, sustentados por um sistema político que os estimula a roubarem ainda mais, e que, ao final, os deixa impunes!

A nossa tarefa histórica, definitivamente, não é nos livrarmos de alguns bandidos para nos jogarmos nos braços de outros bandidos, que, no caso, já estão no próprio governo, e são quase que, igualmente, responsáveis pela própria crise! A diferença é apenas de nuances!

Queremos mais! O Brasil precisa e pode mais!

terça-feira, 29 de março de 2016

Decidindo assinar manifestos

Os manifestos assinados são testes de coragem moral dos cidadãos. Manifestos, enquanto ações políticas coletivas, guardam, em si, uma regularidade: é necessário coragem para assinar manifestos que se julgue verdadeiros, e coragem para não assinar manifestos que se julgue falsos!


Fora isso, é simples covardia, quando o cidadão, ao considerar o seu texto correto, não o assina por medo; ou pior, quando discordando do seu conteúdo, o assina por simples constrangimento, diante de pressões circunstanciais ou de seus pares.

Mas, se estiver assinando manifestos ou deixando de assina-los por mera conveniência, e não por uma razão ou imperativo categórico da consciência, sempre o será por simples canalhice!

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Observação:
Os conceitos de verdadeiro ou falso, na ciência, carecem de informação, de provas, de experimentos e de testes. 

Assinar ou não um manifesto, entretanto, é uma situação de decisão de caráter político na qual os indivíduos têm que decidir, rapidamente, com base na informação que já dispõem e em sua subjetividade.

O teste de falso/verdadeiro é resolvido no plano de sua consciência, ou grau de convicção, ou de crença, sobre o que julga seja verdadeiro ou falso. O imperativo categórico, portanto, refere-se à sua lealdade subjetiva à própria consciência.

domingo, 27 de março de 2016

Einstein e os manifestos

Interessantes os manifestos políticos ditos de intelectuais. Relato um caso famoso, do mundo da ciência, ocorrido na década de 20 do século passado, na Alemanha, quando o partido nazista já se fortalecia.


Einstein, membro da Academia Prussiana de Ciências, e professor da universidade de Berlim, já consagrara-se no mundo da ciência com a sua "teoria geral da relatividade", que concluíra em 1915. Em 1921 já tinha ganho o prêmio Nobel de física.

Mas havia um problema: ele era judeu. Naquele clima de amargor e frustração dos alemães pela derrota, após a 1ª guerra mundial, esse parecia um bode expiatório convincente: os judeus seriam, para os nazistas, um bom culpado e um câncer a ser extirpado! Pululavam por toda parte manifestos e textos contra uma certa "ciência judaica"!

Em certa ocasião, teria sido instado a participar de uma ampla reunião com cientistas alemães para debater a teoria da relatividade; em meio aos discursos inflamados que se sucederam contra a teoria, ele teria dito, simplesmente: - "não sei porque todo esse alvoroço, e aplausos ruidosos aos seus discursos, pois bastaria que apenas um de vocês estivesse certo, e a teoria da relatividade desabaria imediatamente..." (*).

Bem, aqui estamos, a ciência não vive mais sem a teoria da relatividade, e o nazismo foi para o lixo da história!

Desconfiemos, portanto, sempre, de "manifestos políticos" antes de assina-los! Eles, frequentemente, trazem o risco de tratar-nos apenas como rebanho!

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Outro episódio em que Einstein, com sua reconhecida coragem moral e intelectual, já confrontara-se com "manifestos políticos", foi quando, em outubro de 1914, já membro da Academia Prussiana de Ciências e professor da Universidade de Berlim, recusou-se a assinar um manifesto de cientistas e intelectuais alemães em apoio ao militarismo alemão, denominado “Apelo ao mundo culto”. 

Este episódio foi marcante em sua vida, no clima de radicalização da primeira guerra mundial, pois ele foi o único entre os seus pares que recusou-se a ser signatário desse manifesto. Ele estava certo, perante sua consciência e a história!

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(*) Outra versão deste episódio:

Foi publicado na Alemanha, em 1931, um livro chamado “Cem Cientistas Contra Einstein”, que não passava de um panfleto anti-semita. Einstein teria reagido ao mesmo com as seguintes palavras:

- "Se eu estivesse errado, bastaria um."

(Uma breve história do tempo. https://books.google.com.br/books?isbn=8580576474 - Stephen Hawking - 2015)

domingo, 13 de março de 2016

Nesta manhã, vou à Esplanada

Autor: MARIO SALIMON (*)

O debate sobre a pertinência ou não da manifestação deste dia 13 de março já dura alguns dias, e seria difícil resenhar todo o processo. Contudo, reproduzirei, nos próximos parágrafos, algumas reflexões que se estruturaram a partir de respostas a posts de amigos e amigas, e que representam, grosso modo, as ideias centrais que defendo. As conversas engendraram questionamentos sobre o posicionamento do PT, a probabilidade de violência nas manifestações e, sobretudo, as generalizações feitas sobre quem se coloca como não-governista.
  

Ilustração: Pedro Henrique Garcia

A manifestação do domingo está de pé. Ela estava marcada há muito tempo. Como das outras vezes, as pessoas, salvo os pontos fora da curva, lá estarão sem qualquer ímpeto violento. Se não houver "foul play" dos governistas, estou certo de que nada de mal acontecerá neste domingo.

Há muita gente razoável e sensata se organizando para ir. Mas muita gente mesmo. Não por vingança, por ódio ou por visão seletiva das coisas. Não somos golpistas. Simplesmente, não aguentamos mais o status quo. A coalização governante, que não se sustenta mais técnica, moral ou politicamente, já deu mostras eloquentes de não ter capacidade de nos colocar do outro lado das crises. Sinto-me, portanto, no direito de expressar insatisfação, como farão, hoje, milhões de pessoas. Ao final do regime militar, logo que me mudei para Brasília, e também no ocaso do governo Collor, lá estávamos expressando nosso descontentamento. Muitas das variáveis que estavam em tela naquele tempo seguem inalteradas, e não mudei minha posição em relação a elas. Foi o PT que rotacionou, na prática, seu sistema de ação, ainda que mantenha as mesmas formações discursivas.

Mas, ainda assim, muitos seguem por ele hipnotizados, pois o partido, como qualquer organização, é uma hierarquia sustentada pela manutenção de sua dimensão simbólica. Um grupo minoritário tem capacidade de incidência, cria e dissemina estratégias e narrativas, desenvolvendo atividades relativas à manutenção de sua sobrevivência, isso enquanto a parte majoritária se ocupa das tarefas e atividades que conformam o subsistema tático-operacional. As narrativas são mistificadoras e convincentes, baseadas em heróis e inimigos funcionais, bem como em ideias centrais capazes de criar identificação e coesão, funções fundamentais para que se possa ter controle sobre o coletivo. Isso funciona em um partido, em uma igreja, família ou multinacional telecom.

É comum o estamento tático-operacional simplesmente aceitar, sem questionamento, os desígnios emanados pelo corpo estratégico. A máquina petista tem, hoje, muito dinheiro, e entende poder - e dever - simplesmente comprar os resultados que deseja na militância. As pessoas comuns aceitam o patrimonialismo e a dominação tradicional, pois "tudo sempre foi assim". É o que vejo acontecer, falando francamente, com quem ainda acredita no PT.

Mas, para mim, de nada valem as narrativas quando o estamento estratégico vem conduzindo o país, há mais de uma década, num sentido totalmente contrário a elas. No meu entendimento - e foi o que fiz há dez anos - quem for capaz de se ater à factualidade do que nos mostra o contexto presente deve abandonar e execrar o partido, pois ele é, na prática, o que são seus líderes, quase todos comprovadamente comprometidos com diversos tipos de malfeito, que somam algo já perto de meio trilhão de reais. Essa ruptura deve ser almejada no caso de relação com outros partidos também, ou com qualquer ente que procure substituir nossos desejos por aqueles por ele nutridos. Devemos visar a um caminho de mais autonomia e livre-pensar. Também devemos buscar formas de diminuir a opacidade nas relações com os partidos, o Estado e os governos. É nosso direito, e um dever também, conhecer tudo que há de obsceno nessas transações.


Ilustração: Pedro Henrique Garcia

Algumas questões são recorrentes nas conversas, e tratarei delas como pontos:

1. A corrupção endêmica no partido

Tudo indica que o modus operandi do PT, a despeito do que possa significar a moralidade ou ética de seus filiados, seja hoje baseado no pragmatismo calculativo-finalístico. Em algum momento de sua história, e isto ouvi de um fundador do partido, o PT entendeu que, sem adotar os métodos da "direita", não se colocaria e manteria no poder. Tudo que vemos nos escândalos desde o mensalão confirma tal tese, e este interdiscurso surge com muita frequência como justificativa para as ações moralmente indesejáveis dos agentes do partido.

2. O empresariado impede o PT de realizar seu “projeto”

A classe empresarial brasileira, tal como a política, é patrimonialista e pouco afeita à responsabilidade social, esta vista meramente como ação de RP e potencial correção de imagem. Pensemos nos banqueiros e construtoras. São eles que hoje mandam no país, como faziam há muito tempo. A tolerância do PT a esse modelo, entretanto, mudou com o acesso ao poder. Acaso os petistas teriam sido lenientes com Aécio se a tragédia de Mariana tivesse acontecido nos tempos do tucano, e ele tivesse feito seu primeiro pronunciamento de dentro da sede da empresa, ladeado e, praticamente, constrangido por executivos e asseclas da empresa? Acaso FHC teria sido poupado por reagir apenas uma semana depois, se o fato houvesse ocorrido no governo dele? A Vale e os bancos bancaram parte substantiva das campanhas do PT para o governo de Minas e para o federal. Devem ter bancado de outros partidos também. Empresas pouco se importam conosco, pois o negócio delas é lucro, e, para mantê-lo, precisam controlar quem está no poder. Este, por sua vez, é o negócio dos partidos e seus líderes. Basta um breve raciocínio para se entender o esquema. As empresas não têm colaborado com o povo, mas, é óbvio, atuam na coalizão governante de forma imbricada, e com muita incidência. Os interesses dos partidos, sobretudo do PT, têm sido, indubitavelmente, atendidos.

3. O perigo do surgimento de um cadáver

A eventual presença de outliers, espiões, agitadores e outros tipos de anomalias não deve ser motivo para que um coletivo deixe de se expressar. Essas figuras são sintomas do sistema hierárquico, respostas orgânicas - ainda que doentias - à incapacidade de um agente na tentativa de inviabilizar discursivamente a mobilização do oponente. Veja a ação dos black blocks em junho de 2013. Se fôssemos nos mover por esse tipo de medo, nunca teríamos ido às ruas nos tempos do regime militar, quando, obviamente, havia todo tipo de infiltração.

4. Marchar com Bolsonaro

 No caso do dia 13 de março, haverá ampla mobilização antigovernista, dentro da qual se inserirão grupos muito diversos, pois estão nesse escopo desde radicais como Malafaia e Bolsonaro até pessoas comuns como eu e diversos amigos e amigas, que, posso garantir, não são ingênuos, golpistas, fascistas, aecistas, tucanistas, coxinhas ou qualquer dessas ridículas generalizações, tão precárias do ponto de vista socioexplicativo quanto a palavra "petralha". Não uso uniforme, não marcho, não canto hinos, não sigo carros e não peço ditadura. Associar automaticamente um manifestante anti-status quo à ala ultraconservadora é um erro crasso de análise do contexto que, para mim, constitui ofensa pessoal.

5. Teorias de conspiração

Não acredito que Moro seja um teleguiado da CIA, treinado nos EUA para destituir um governo legitima e legalmente alçado ao poder pelo voto. Como todo ser humano, ele deve ter seus vieses, mas tendo a confiar na lisura da operação Lavajato. Considerando-se o volume de dinheiro gasto pelos réus com advogados de calibre e o posicionamento dos grandes tribunais diante das várias fases da operação, imagino que o juiz paranaense não teria se sustentado se a ação não fosse menos do que o protocolarmente exigido. Moro, assim como o PSDB, FHC, os EUA, é um inimigo funcional do PT, cuja imagem negativa tem que ser alimentada para que se sustentem as narrativas mitológicas do partido. Por isso, os militantes espalham pela web o documento de filiação ao PSDB de um homônimo paranaense dele. Do mesmo modo, tecem falsas ligações da esposa do juiz com organizações inimigas; conexões tão equivocadas que até o próprio site amestrado Brasil247 teve que correr e negar tudo, pois as teias da sociedade em rede acabam levando sempre o impacto a alguém do próprio campo estratégico.

6. O bem que justifica o mal

Dizem muitos que Lula não merece o que está vivendo, porque fez bem ao Brasil. Tendo contribuído com dezenas de organizações ligadas ao desenvolvimento desde os tempos de Collor, discordo muito da concentração dos louros na cabeça do petista. Ele pode ter feito muito - e nem vou começar a falar sobre o que ele desfez, pois basta estar vivo no Brasil para saber - mas não o fez sozinho. Foi beneficiado por processos históricos, ganhos cumulativos e, ao assumir o primeiro mandato, até mesmo sorte de iniciante. Fazer dele um coitado é cair, uma vez mais, na armadilha da mistificação. Essas ações comunicacionais, não duvidem, são calculadas. Os que fazem esse jogo deixam de ser pessoas para ser, predominantemente, mídia. Enfim, vou à Esplanada protestar, e repito: quero a saída da coalizão governante, pelas vias legais e o mais rapidamente possível. É óbvio que ela não mais se sustenta moral, técnica ou politicamente. Temos uma constituição suficientemente robusta, e acharemos uma saída legal para este imbroglio, desde que deixemos de seguir aceitando o inaceitável.

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terça-feira, 8 de março de 2016

Novo nicho editorial (*)

O acúmulo de “gente fina” em cadeias de Curitiba e de outras cidades brasileiras, resultante da atuação dos incansáveis protagonistas da operação policial-judiciária conhecida como Lava-Jato, pode dar origem a novo “nicho” para o mercado editorial brasileiro: o dos leitores chiques e endinheirados mantidos em prisão temporária, preventiva ou em penitenciária, já condenados.


É um pessoal de alta capacidade de leitura, alto poder aquisitivo e sem ter o que fazer a maior parte do tempo. Daí, numa nova vertente da literatura de auto-ajuda, em volumes capa-dura bem encadernados e luxuosamente ilustrados, eis alguns títulos que poderão surgir:

“A primeira noite (na prisão) a gente não esquece” – orientações para potenciais leitores que sabem estar na iminência de se tornarem alvo da própria Lava-Jato ou de operações semelhantes – o que vestir no momento da apresentação à polícia; como preparar a maleta e o nécessaire (o que colocar dentro e o que não colocar), postura corporal diante das câmaras de tevê, com detalhamento passo a passo sobre como entrar no camburão sem perder a classe, mesmo algemado às costas; dicas gerais de comportamento durante o exame de corpo de delito; como negociar o cardápio das refeições (incluindo o que pedir e o que não pedir, levando em conta o sedentarismo da situação e as repercussões estomacais, intestinais e anais de cada refeição e também considerando o uso da retrete turca); capítulo-caderninho de telefones e mini-currículos dos advogados que defendem (e negociam) e dos que condenam (e se negam a assessorar clientes) (n)a estratégia da delação premiada e assim por diante.

“Como matar o tempo na cadeia” – ioga sem mestre, exercícios de meditação e de alongamento (ilustrado), dicas comentadas de livros a levar para a prisão (e a evitar), canções (de auto-ajuda, de aumento da auto-confiança, de combate à depressão etc.) a decorar, com as cifras; apêndice com guia de observação e classificação de (ex-)amigos em função de sua (deles) reação ao encarceramento do(a) ilustre leitor(a); capítulo especial de entomologia e aracnologia ilustradas, ensinando a identificar, no detalhe, variedades sutilmente distintas de moscas, mosquitos, baratas, aranhas e quetais.

“Tarô para principiantes encarcerados” – baralho e respectivo manual de uso (produto tipo 2 em 1); o manual ensinará todos os procedimentos que devem ser dominados pelo taropraticante graduado, inclusive os trejeitos próprios dos atos de embaralhar as cartas e de abri-las; o baralho trará cartas extras, ilustradas com figuras públicas (tanto já presas quanto ainda soltas) e com figuras notórias da PF, do MPF e do Judiciário (todas essas figuras serão representadas de forma que faça lembrá-las inequivocamente mas que não sejam reprodução fotográfica, e sim algo que se aproxime do “retrato falado”, para evitar a embaraçosa necessidade de obter autorização de uso de imagem); o livro ensinará a “prever o futuro”, tanto o de quem joga as cartas quanto o de outras pessoas (representadas nas cartas extras); também ensinará a roubar no embaralhamento e na disposição das cartas, de modo a gerar previsões de acordo com a vontade do freguês.

“Glossário de frases úteis e repertório de jaculações” – contendo frases apropriadas às situações que o(a) novel detento(a) enfrentará, com indicação das circunstâncias exatas em que cada frase será melhor encaixada, acompanhada de dicas de entonação; num apêndice, também trará frases a serem evitadas; na segunda parte, a das jaculações, terá dois capítulos – o das imprecações, xingamentos, rogação de pragas, blasfêmias, insultos e assemelhados, para uso em momentos de solidão e na companhia de colegas de infortúnio, e o das expressões epifânicas-edificantes-angelicais, para uso na presença de autoridades policiais e judiciais; umas e outras virão separadas em subcapítulos conforme a confissão religiosa do(a) detento(a), tanto a atual quanto aquela a que ele(a) pretenda aderir, considerando sua nova experiência de vida; dicas de expressão facial para uso em cada circunstância.

“Grandes ladrões através dos tempos” – livro-texto, com intenção didática, contendo resumos biográficos elaborados com ajuda técnica de policiais-investigadores e advogados-criminalistas; leitura indicada sobretudo para detento(a) que queira aproveitar o tempo de cadeia para aperfeiçoar suas técnicas [afinal, como todos sabem, as penitenciárias são “escolas do crime”, aonde se vai fazer “pós-graduação”, e não é justo que bandidos gente-fina sejam mantidos à margem dessa possibilidade já amplamente facultada aos bandidos “comuns”].

“Escrevendo torto por linhas certas” – o grande livro do contorcionismo verbal e da mistificação, contendo teoria, lições, exercícios e testes sobre a arte e a técnica de mentir dando impressão muito vívida e convincente de que se fala a verdade; oportunidade de ouro (por isso mesmo, o volume será vendido a preço estratosférico) para quem quer continuar e se aperfeiçoar na prática do delito mas não se dispõe a ser apanhado de novo; inclui capítulos especiais sobre técnicas de redação nas novas mídias, criptografia avançada para continuar escrevendo em português sem, porém, dar dicas a investigadores abelhudos e dessa forma sobreviver à quebra de sigilo; apêndice técnico especial conterá indicações sobre como destruir rastros deixados nos computadores (e “nas nuvens”) e que possam ser considerados comprometedores, quando “interpretados fora do contexto”; distribuídas pelos rodapés, fins de capítulo e “olhos” inseridos à margem de várias páginas, vêm as “1001 formas de dizer esse dinheiro não é meu”, “esse tríplex não é meu”, “esse sítio não é meu”, “esse filho não é meu”, “esse laranja não é meu” etc.; inclui capítulo específico sobre como trabalhar a expressão facial e a gestual; como brinde, o livro será acompanhado do “volume do advogado”, indicado para os eminentes causídicos que precisam defender esse tipo de clientela em audiências públicas transmitidas ao vivo pela TV Justiça.

“Por increça que parível!” (com o subtítulo “Eu acredito!!”) – para leitura apascentadora do(a)s detento(a)s a partir do final da tarde, prevenindo surtos de insônia; seleção de textos e outras manifestações verbais de figuras públicas, a começar por colunistas consagrados e intelectuais de nomeada que, contra todas as evidências, continuam apoiando moral e politicamente os encarcerados. Esse título será de uma coleção, acrescida de novo volume a cada mudança da conjuntura política, dependendo do perfil das “forças políticas” mais representadas na nova quadrilha de encarcerados em cada rodada de políticos flagrados em pleno exercício do poder e seus asseclas na plutocracia.

Convido sua imaginação a bolar outros títulos e respectiva pauta de conteúdos. Também pode imaginar quem melhor se encaixaria como autor(a) do prefácio e da orelha de cada livro.

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(*) O autor desse texto brilhante prefere manter-se anônimo por ora. Sobre ele, posso dizer que sempre esteve nas fileiras dos que lutaram por um Brasil mais democrático e justo. Aguardo, com ansiedade, o momento em que ele me autorize a declinar o seu nome. Por intuição, acho que não teremos que esperar muito! 

Em nome da democracia?

Finalmente, a presidenta Dilma cedeu a Lula! Exonerou Cardoso do ministério da justiça, um petista democrata e republicano, e nomeou Wellington Lima e Silva com a tarefa de substituir a direção da Polícia Federal e desmobilizar o seu time dedicado à Lava-Jato!


Mas, se antes Dilma resistira a isso, ela, agora, passou à linha de frente dentre os que combatem e temem a Lava-Jato! Seu humor mudou desde que veio à luz o teor dos depoimentos do senador Delcídio Amaral, seu ex-líder no Senado, que a apontam, como a Lula, envolvida em desvios de conduta.

Entretanto, as resistências de todo o sistema judiciário serão muito grandes. A Lava-Jato exerceu um papel unificador de todos os seus agentes, até o STF. Hoje, o poder judiciário é o de maior credibilidade pública, porque passou a ir ao encontro do sentimento da população que deseja acabar com a impunidade dos criminosos de colarinho branco que assaltam o país.

Quem vencerá essa queda de braços?

Lula, o PT e os seus aliados de uma certa "esquerda" ultrapassada temem a Lava-Jato, e a acusam de ser um braço da "direita golpista". Aliam-se, com isso,  tacitamente, aos corruptos de sempre, na política e no mundo empresarial, e formam uma poderosa "santa aliança", que nada tem de santa ou ética.

Ao contrário do que desejam fazer crer, não é isso o que os brasileiros pensam! A Lava-Jato tornou-se para a nação num instrumento fundamental e estratégico para o aperfeiçoamento da democracia, e para a própria saída da crise! Ela se tornou na sua maior chance, precisamente, de acabar com a impunidade dos criminosos de colarinho branco, doa a quem doer!

Penso, modestamente, que esse jogo já desempatou: vencerão a justiça, os brasileiros e a democracia!

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A propósito, fruto dessa evolução da justiça para fazer cessar a impunidade, no dia 08/03/2016, terça-feira, foi preso, para cumprir uma pena de 25 anos, o ex-senador pelo DF, Luiz Estevão, após protelar por mais de 10 anos a sua prisão desde a sua condenação; diga-se, com a ajuda de bons e caros advogados e a complacência da justiça.

Registre-se, também, que Marcelo Odebrecht, ex-presidente da Odebrecht, um dos empresários mais ricos do país, foi condenado, no mesmo dia 08/03/16, a 19 anos e quatro meses de prisão.

sexta-feira, 4 de março de 2016

A XIII Internacional (*)

De Carlos Alberto Torres

O dia 04/03/2016, ficará marcado como o da condução coercitiva de Lula para prestar depoimento, na 24a fase da Operação Lava-Jato, que investiga a relação do ex-presidente com empreiteiras envolvidas no esquema de corrupção da Petrobras.

A condução coercitiva de Lula e a prisão de João Santana inspiram o esboço de uma novela com todos os seus ingredientes. Ela nos permite uma reflexão coletiva; particularmente, os que, pelo menos uma vez, já votamos em Lula. A arte talvez nos permita o distanciamento para pensarmos sobre a sua personalidade complexa, e cheia de imensas qualidades e defeitos.


Um enredo envolvendo a articulação de uma grande empreiteira global com um ex-presidente, transformado em seu maior criador de negócios - grandes obras - preferencialmente em países que lutam para superar a pobreza e a miséria. Uma estranha aliança, em que as partes não exigem uma da outra unidade ideológica, mas apenas convergência de interesses!

No mundo pós guerra-fria, onde a democracia política se impõe, as eleições passaram a ser a forma de se chegar ao poder; porém, elas são muito caras em toda parte!

O ex-presidente, baseado em seu prestígio internacional, se coloca o objetivo político de ajudar a eleger governos populares na América Latina e na África. Convenceu-se, entretanto, do caráter estratégico e revolucionário da corrupção para realizar esse projeto de poder além-fronteiras; ou seja, de que a corrupção restaria plena e moralmente justificada se fosse para levar a boa e justa causa popular à vitória eleitoral, e derrotar as "elites conservadoras”!

Transformado em projeto internacional, seria necessário constituir fundos, com muito dinheiro, baseados nas obras superfaturadas da Odebrecht, e de suas associadas, em vários países (**). No Brasil, a empreiteira já ganhara experiência com essas associações, como revelado pela Lava-Jato, ao participar de um cartel de empreiteiras criado para vencer licitações fraudulentas, e para superfaturar obras de várias estatais, como a Petrobras; para isso, utilizavam-se de funcionários  dessas empresas, e de operadores externos especializados na arte de lavar dinheiro!

A adesão a esse projeto seria reforçada com a abertura de linhas de crédito do BNDES para financiar, em vários países, certas obras consideradas estratégicas. Uma audaciosa política de estado, porém conduzida discretamente para não sofrer entraves políticos internos. E a Odebrecht tocaria essas obras!

Todo o dinheiro arrecadado pela empreiteira seria gerenciado no exterior, mantendo-o, para a sua proteção, em contas diversificadas situadas em paraísos fiscais. Uma intrincada e arriscada operação, mas os retornos valeriam a pena, pois esses recursos permitiriam a eleição de governos "populares", que seriam seguidos de mais obras e mais lucros!

Aos candidatos "amigos" seriam oferecidos os serviços do marqueteiro João Santana. Qual candidato "popular" não o aceitaria, particularmente se tudo já estivesse incluído no preço? A empreiteira, usando a sua estrutura internacional, faria os pagamentos dos seus serviços diretamente em suas contas no Brasil ou no exterior!

Esse enredo é apenas o esboço de uma novela, uma obra da imaginação; portanto, limitada em seus detalhes, pois se sabe que a complexidade da vida real costuma superar a arte!

Trata-se de um enredo ficcional constrangedor para uma certa esquerda que se consome em ultrapassadas e atrapalhadas teses. Entretanto, os fatos insistem em dar a esse enredo cores de realidade, que, por sua natureza criminosa, não pode ser assumido e precisa ser negado a plenos pulmões. Esta é a razão porque esse projeto está desabando!

Mas, negando sua natureza, muitos continuam a defendê-lo! Ora, porque, ingenuamente, creiam ser um projeto "socialista" e se identifiquem com ele; ora, porque proclamem que a luta contra a corrupção é apenas parte do discurso conveniente da "direita golpista" para atingi-los, da qual, a Lava-Jato, não seria mais do que seu instrumento; ora, porque, apegados, não querem ver desabar, dolorosamente, sonhos e projetos nos quais empenharam suas vidas. Com isso, desmoralizam e levam para o mesmo saco toda a esquerda democrática, que, duramente, teve papel fundamental para conquistar a democracia!

Não percebem, tragicamente, que a luta contra a corrupção é, sobretudo, uma tarefa histórica e estratégica para o aperfeiçoamento da democracia brasileira, e para a própria saída da crise; e que, portanto, não existe, para a cidadania, tarefa mais radicalmente democrática e republicana!

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(*) Um texto em construção, pois a vida, vertiginosamente, empenha-se em trazer novos fatos para alimentar esse esboço ficcional. Versão dia 04/03/2016.
(**) Sobre essas obras, melhor ir direto ao site da Odebrecht: http://odebrecht.com/pt-br/organizacao-odebrecht/odebrecht-no-mundo