sábado, 27 de fevereiro de 2016

"A X Internacional (*)

A prisão de João Santana inspira o estofo de uma boa novela! Para fazer sucesso no mercado americano só faltam os tiros e as mortes!


Um enredo envolvendo a articulação de uma grande empreiteira global com um ex-presidente, transformado em seu maior criador de negócios - grandes obras - preferencialmente em países que lutam para superar a pobreza e a miséria. Uma estranha aliança, em que as partes não exigem uma da outra unidade ideológica, mas apenas convergência de interesses!

No mundo pós guerra-fria, onde a democracia política se impõe, as eleições passaram a ser a forma de se chegar ao poder; porém, elas são muito caras em toda parte!

O ex-presidente, baseado em seu prestígio internacional, se coloca o objetivo político de ajudar a eleger governos populares na América Latina e na África. Convenceu-se, entretanto, do caráter estratégico da corrupção para realizar esse projeto de poder além-fronteiras; ou seja, de que a corrupção restaria plena e moralmente justificada se fosse para levar a boa e justa causa popular à vitória eleitoral, e derrotar as "elites conservadoras”!

Transformado em projeto internacional, seria necessário constituir fundos, com muito dinheiro, baseados nas obras superfaturadas da Odebrecht, e de suas associadas, em vários países (**). No Brasil, a empreiteira já ganhara experiência com essas associações, como revelado pela Lava-Jato, ao participar de um cartel de empreiteiras criado para vencer licitações fraudulentas, e para superfaturar obras de várias estatais, como a Petrobras; para isso, utilizavam-se de funcionários  dessas empresas, e de operadores externos especializados na arte de lavar dinheiro!

A adesão a esse projeto seria reforçada com a abertura de linhas de crédito do BNDES para financiar, em vários países, certas obras consideradas estratégicas. Uma audaciosa política de estado, porém conduzida discretamente para não sofrer entraves políticos internos. E a Odebrecht tocaria essas obras!

Todo o dinheiro arrecadado pela empreiteira seria gerenciado no exterior, mantendo-o, para a sua proteção, em contas diversificadas situadas em paraísos fiscais. Uma intrincada e arriscada operação, mas os retornos valeriam a pena, pois esses recursos permitiriam a eleição de governos "populares", que seriam seguidos de mais obras e mais lucros!

Aos candidatos "amigos" seriam oferecidos os serviços do marqueteiro João Santana. Qual candidato "popular" não o aceitaria, particularmente se tudo já estivesse incluído no preço? A empreiteira, usando a sua estrutura internacional, faria os pagamentos dos seus serviços diretamente em suas contas no Brasil ou no exterior!

Esse enredo é apenas o esboço de uma novela, uma obra da imaginação; portanto, limitada em seus detalhes, pois se sabe que a complexidade da vida real costuma superar a arte!

Mas, trata-se de um enredo ficcional constrangedor para uma certa esquerda que se consome em ultrapassadas e atrapalhadas teses: ora porque, ingenuamente, se identifiquem com o seu tema; ora porque, proclamem, a luta contra a corrupção é apenas parte do discurso conveniente da "direita golpista"; ora porque vêm desabar, dolorosamente, sonhos e projetos nos quais empenharam suas vidas.

Não percebem, tragicamente, que a luta contra a corrupção é, sobretudo, uma tarefa histórica e estratégica para o aperfeiçoamento da democracia brasileira e para a saída da crise; e que, portanto, para a cidadania, não existe tarefa mais radicalmente democrática e republicana!

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(*) Um texto em construção, pois a vida, vertiginosamente, empenha-se em alimentar a imaginação do seu autor.
(**) Sobre essas obras, melhor ir direto ao site da Odebrecht: http://odebrecht.com/pt-br/organizacao-odebrecht/odebrecht-no-mundo

domingo, 7 de fevereiro de 2016

A crise e as mudanças de rumo do bolsa família

“A crise corroeu os avanços. Teremos de refazer 15 anos”

Entrevista de José Márcio Camargo, que teve um papel destacado na implantação do bolsa família, a  Samantha Lima, na revista Época, edição de 8/02/2016.

(referência enviada pelo amigo Amauri Marques da Cunha, professor da UFRJ).

domingo, 31 de janeiro de 2016

Por que lutamos contra os fatos? A ilusão irá ajudar a construir um Brasil mais democrático e justo?

São notícia, irrecusável, os fatos trazidos à luz pela Operação Lava-Jato sobre o possível e não declarado patrimônio de Lula!


O jornalista Luiz Carlos Azedo, como é de seu dever e prazer, nos traz uma brilhante análise sobre isso em seu artigo de hoje, 31/01/16, na coluna "Nas entrelinhas" do Correio Braziliense.

Mostra-nos que está quebrado o monopólio estrito dos políticos e dos poderosos econômica e socialmente sobre os acontecimentos políticos. Os modernos meios de comunicação de massas e as redes sociais, deram, definitivamente, espaço para a influência do cidadão comum. E isso tem sido, frequentemente, determinante!

Soma-se, a isso, o brilhante protagonismo independente da justiça brasileira na luta contra a impunidade! Imaginem se vivêssemos sob a justiça amordaçada da Venezuela!

Certamente, Azedo alinha-se, com independência e lucidez, entre os críticos. Mas, diante dessa conjuntura a que fomos conduzidos pelo oportunismo sectário dos que dirigem o país, inclusive empobrecendo-o intelectualmente, como poderíamos os cidadãos melhor refletir sobre essa complexa realidade?

Com sua coragem assume o risco até de errar! Mas, prefiro mil vezes isso - a voz da inteligência crítica necessária -, do que o texto dos jornalistas chapa-branca, que a tudo justificam! O que os brasileiros buscam é uma saída para o Brasil, e não para as velhas e novas oligarquias patrimonialistas que assaltam o patrimônio público do país!

sábado, 30 de janeiro de 2016

O PT tem futuro sem Lula?

Muitos, no PT, já se perguntaram se o partido sequer teria existido se não tivesse podido contar com Lula em suas fileiras.


Uma pergunta de difícil ou impossível resposta nas ciências sociais. Agora se fazem uma pergunta mais concreta: qual será o futuro do PT se Lula não puder candidatar-se em 2018. Uma pergunta desesperante!

sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Um político sério

A César o que é de César! Excelente entrevista concedida por Flavio Dino, governador do Maranhão, ao jornalista Mário Sérgio Conti, no seu programa de entrevistas no Globo News desta noite (28/01/16).


Jurista respeitável, defendeu com equilíbrio e ênfase a Operação Lava Jato e ao Juiz Sérgio Moro, bem como considera, em sua essência, positiva a chamada judicialização da política, fazendo uma defesa fundamentada da luta contra a impunidade.

Foi brilhante na sua defesa do resgate da política como instância própria para implementar e estabelecer as pautas e os programas necessários para enfrentar as grandes questões sociais.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Conselhos para dar e vender

A reunião do "conselhão", o Conselho de Desenvolvimento Econômico, com 90 membros, que agora Dilma lembrou existir, tem por objetivo ampliar a base social e política do governo via as artes e o poder da caneta.


Pensemos e lembremos, Dilma em sua arrogância e auto-suficiência, nunca achou que precisava aconselhar-se. Duvida-se, mesmo, que ela julgasse necessário ter ministro da fazenda. Ela bastava-se a si mesma. Hoje, sabe-se, esse comportamento era menos por capacitação, mas por uma trágica manifestação da conhecida audácia e coragem dos ignorantes!

Assessorias cidadãs, como essa, sempre bem vindas em condições normais, dão certo se os seus participantes se sentem realmente importantes e necessários! Mas, se for, apenas, para produzir um fato midiático, não passará de uma farsa, como tem grande possibilidade de ser. Breve ficaremos sabendo!

Torço por uma solução rápida para a crise e não aceito alternativa a não ser pela via democrática. Mas, estou, já, escaldado!

terça-feira, 12 de janeiro de 2016

A santa aliança contra a Lava-Jato

Carlos Alberto Torres

A sociedade brasileira, pouco a pouco, vai compreendendo quem são e como reagem os que temem a Operação Lava-Jato. Contra ela se levanta, tacitamente, uma poderosa “santa aliança", que é necessário reconhecer e denunciar.


Essa aliança é poderosa, porque os implicados ocupam ou ocuparam os cargos mais altos e destacados da república, e estão presentes na vida política e empresarial. Ela é "santa” porque não é santa, nem ética; e, acima de qualquer matiz político-ideológico, o que os une é o seu temor à Lava-Jato. A maioria dos parlamentares sequer consegue esconder o seu desconforto diante dela. No Congresso Nacional, mesmo os que a apoiam, se sentem constrangidos diante de seus pares! Duro dize-lo, e ouvi-lo, não é verdade? Mas, esta é a realidade.

Os implicados têm muito a perder! Aqui, são patrimônios físicos e financeiros milionários obtidos em operações fraudulentas; ali, mandatos, biografias e relações de negócio construídos a golpes de esperteza e de ilegalidade, raramente conquistados pela capacitação, pelo mérito com o trabalho duro, ou pelo compromisso cidadão! Esses, até aqui, têm se beneficiado da notória tolerância com os criminosos de colarinho branco que assaltam a sociedade brasileira!

Mas, acostumados a escapar impunes, o que realmente os assusta é constatar a inexorabilidade do andamento das ações da justiça. A Lava-Jato, que é o símbolo dessas ações, se converteu na mais importante e bem-sucedida operação anticorrupção da história da justiça brasileira. Basta ver o balanço concreto dos seus resultados. Desesperam-se, porque não tem sido mais suficiente a contratação de bons e caros advogados, um ingrediente do estado de direito, para impedir que as ações da justiça estejam expondo e punindo os seus crimes!

Como se chegou à Lava-Jato? Em primeiro lugar, ela representa um fenômeno novo de protagonismo da justiça na luta contra a impunidade dos crimes de colarinho branco, cujo suporte legal é a Constituição de 1988 e a evolução da legislação anticorrupção que a ela se seguiu. Em segundo lugar, porque surgiu uma nova geração de servidores da justiça, filhos legítimos da nova Constituição democrática, policiais federais, procuradores do MPF e juízes federais, dispostos a abraçar a missão da luta contra a impunidade. Eles são jovens e concursados, e o juiz Sérgio Moro simboliza a competência, firmeza e coragem de todo esse time. Poucas vezes, no Brasil, tantos deveram tanto a tão poucos!

Sem reticências, a Operação Lava-Jato está desnudando o papel da corrupção para financiar a conquista e a manutenção do poder político. Esta é a sua importância histórica! Em particular, após a chegada do PT ao poder em 2002, isto ficou mais claro com os fatos trazidos à luz pelo "mensalão" e pelo "petrolão". Ficou evidenciada a existência de um sistema inovador, o da "corrupção estratégica”, orientada por um projeto político, e por possuir um comando e planejamento centralizado para atingir os seus objetivos. Ela se diferencia da velha e conhecida "corrupção laissez faire", que não possui comando ou planejamento centralizado.

As ações da “santa aliança” contra a Lava-Jato se revelam a cada dia. Para resumir, sem esgotar, tentam: (1) táticas de desmoralização, acusando-a de seletividade, de parcialidade, de “judicializar a política”, etc., e colocam em dúvida a seriedade ética dos seus membros; (2) ameaças e intimidações veladas a seus membros e familiares; (3) fragilizar o aparato legal que sustenta as ações anticorrupção, como com o envio para o Congresso, no apagar das luzes de 2015, da MP nº 703, que visa diminuir a prerrogativa do ministério publico de celebrar acordos de leniência, e dificultar o instituto da delação premiada; (4) diminuir os recursos para as operações anticorrupção, como aconteceu com a redução em cerca de R$ 100 milhões do orçamento de 2016 destinados à polícia federal.

O que intentam são “acordos por cima” para garantir a impunidade! Se isso acontecer, mais uma vez serão lesados os interesses dos brasileiros. Estaríamos cegos a isso? A sociedade estaria indefesa? Não creio, a não ser que, com o seu silêncio, ela queira participar, também, dessa conspiração!

Existiria para a sociedade maior radicalidade democrática e republicana do que apoiar e garantir as ações anticorrupção da justiça, e a integridade da Lava-Jato, para construir, passo a passo, a cultura da intolerância contra a impunidade dos crimes de colarinho branco? 

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(*) Artigo publicado no caderno de opinião do Correio Braziliense em 12/01/2016.