sábado, 16 de janeiro de 2021

Coronavac, uma vacina vitoriosa

O governo do Estado de São Paulo e o Instituto Butantan apresentaram em entrevista coletiva, no dia 12/01/21, a eficácia global da vacina Coronavac.

A ilustração abaixo apresenta de forma sucinta esses dados de eficácia. Em que pese a sua beleza gráfica, talvez clara para os especialistas, ela não o é para o cidadão. Trago o meu esforço para compreender estas informações.


A ação de proteção do Coronavac é dada pelos percentuais em cada nível do gráfico, expressando, de baixo para cima as formas em que a doença pode se apresentar: Muito leve, Leve, Moderada e Grave. Como entende-los?

Se formos vacinados com duas doses da Coronavac, qual o grau de imunização que alcançamos (*)?

(1) em 50,38% das vezes ficaremos protegidos de contrair a doença em quaisquer de suas formas; este é chamado o índice de eficácia global; o teste para o coronavirus será negativo;

(2) isto significa que em 49,62% das vezes (100% - 50,32%) os expostos ao virus contrairão a doença; ou seja, ficarão infectados; em princípio, os infectados poderiam adquirir a doença desde a forma muito leve até a grave

(3) a segunda informação importante é a de que, se infectados, em 77,96% das vezes teremos a doença apenas em sua forma "Muito Leve", já que este é o percentual de proteção que a vacina oferece contra a doença em sua forma “Leve”; o que significa não haver necessidade de cuidados médicos ambulatoriais;

(4) isto significa que, se infectados, em 22,04% das vezes (100% - 77,96%) a doença poderia se desenvolver desde a forma leve até a grave;

(5) a terceira informação importante é a de que, a vacina oferece, em 100% das vezes, proteção contra as formas “Moderada” e "Grave" da doença, o que significa 0% de chance do vacinado contraí-la sob essas formas, dado que tenham sido infectados;

(6) isto significa que, se infectados, e se pertencemos ao grupo dos que poderia ter adquirido a doença das suas formas leve até grave, em 100,0% das vezes (100% - 0% - 0%) ela será "Leve"; neste caso, precisaremos apenas de assistência ambulatorial ou de cuidados médicos;

Como mostra a ilustração acima, o efeito da vacina é o de garantir que, se infectados, o seremos apenas na forma “Muito leve” ou “Leve”.

O gráfico abaixo, denominado de Árvore de Probabilidades, demonstra de forma lógica o que foi detalhado dos itens (1) a (6). Observe que, nela, as probabilidades são condicionais. Ela permite visualizar informações importantes à direita de seus nós terminais:
  1. que a probabilidade de não sermos infectados é de 50,32%, exatamente o índice global de eficácia da vacina;
  2. que a probabilidade de adquirirmos a doença na forma "Muito Leve" é de 38,73% (49,68 x 77,96%);
  3. que a probabilidade de adquirirmos a doença na forma "Leve" é de 10,95% (49,62% x 22,04% x 100%).
  4. que a probabilidade de adquirirmos a doença nas suas formas "Moderada" e "Grave" é de 0% (49,62% x 22,04% x 0%).

Sob todos os aspectos a vacina do Butantan é uma excelente vacina. Ela foi testada sobre uma amostra do mais extremo risco: os profissionais de saúde.

Os seus resultados demonstraram que houve zero casos, dentre os que participaram do teste, receberam o princípio ativo e foram infectados, que tivessem precisado de hospitalização, e óbvio, de UTI’s. Ela foi capaz de salvar vidas e de eliminar a demanda por leitos hospitalares.

Se a amostra de teste fosse representativa da população total e, portanto, de menor risco, os índices de eficácia alcançados seriam maiores.

O que é indispensável entender é que os índices de eficácia de vacinas somente são comparáveis quando foram testadas para populações homogêneas de amostragem.

Por isso, se a vacina do Butantan escolheu fazer uma amostragem sobre uma população de profissionais de saúde, a de mais alto risco, e passou brilhantemente no teste, ela é uma excelente vacina.

Não é demais insistir: ser eficaz no combate à pandemia - o que significa salvar mais vidas - é começar a vacinar em massa o mais cedo possível!

______
(*) Outra forma de apresentar a lógica de (1) a (6) acima, que talvez seja considerada mais intuitiva:

(1)' a primeira informação fornecida é de que em 50,38% das vezes, se vacinados, ficaremos protegidos de contrair a doença em quaisquer de suas formas; este é chamado o índice de eficácia global; o teste para o coronavirus, neste caso, será negativo;

(2)' isto significa que em 49,62% das vezes (100% - 50,32%) os vacinados expostos ao virus contrairão a doença; ou seja, ficarão infectados; os infectados, segundo a classificação do Butantan, poderiam adquirir a doença desde a forma muito leve até a grave

(3)' portanto, dado que a pessoa tenha sido infectada, em 100% das vezes ela o será nas formas Muito leve, Leve, Moderada e Grave;

(4)' a segunda informação nos diz que em 79,96% das vezes ele estará protegido de contrair a doença em sua forma "Leve"; logo, ele a contrairá em 22,04% das vezes (100% - 79,96%), sendo esta a probabilidade condicional dos vacinados contraírem a doença nesta forma, dado que estejam infectados;

(5)' a terceira informação importante é a de que, a vacina oferece, em 100% das vezes, proteção contra as formas “Moderada” e "Grave" da doença, o que significa 0% de chance dos vacinados a contraírem sob essas formas, sendo esta a probabilidade condicional de adquirirem a doença nestas formas dado que tenham sido infectados;

(6)' finalmente, poderemos deduzir a probabilidade condicional do vacinado contrair a doença sob a forma "Muito Leve", dado que esteja infectado, cujo valor é de 77,96%. Seja a equação abaixo:

P(Muito Leve/Infectada) =
= 100% - P(Leve/Infectada) - P(Moderada/Infectada) - P(Grave/Infectada) =
= 100% - 22,04% - 0,0% - 0,0% = 77,96%

A árvore de probabilidades abaixo, equivalente à apresentada no texto original, permite uma visualização desta lógica:


Talvez, os que me deram a  honra de chegar até aqui prefiram esta forma de visualização, que é equivalente à primeira.