segunda-feira, 27 de novembro de 2017

Luciano Huck: No rumo

Íntegra da carta de desistência de
Luciano Huck (*) à candidatura
de Presidente da República

Folha de S.Paulo, Opinião, 27/11/2017 (**)


Como Ulisses em "A Odisseia", nos últimos meses estive amarrado ao mastro, tentando escapar da sedução das sereias, cantando a pulmões plenos e por todos os lados, inclusive dentro de mim.

A tripulação, com seus ouvidos devidamente tapados com cera, esforçando-se em não deixar que eu me deixasse levar pelos sons dos chamados quase irresistíveis. São meus amores incondicionais. Meus pais, minha mulher, meus filhos, meus familiares e os amigos próximos que me querem bem.

Eles são unânimes: é fundamental o movimento de sair da proteção e do conforto das selfies no Instagram para somar forças na necessária renovação política brasileira. Mas daí a postular a candidatura a presidente da República há uma distância maior que os oceanos da jornada de Ulisses.

Há algum tempo me vejo diante desta pergunta: qual foi exatamente a trajetória, o fato e até mesmo o momento em que meu nome foi lançado entre os possíveis candidatos à Presidência do Brasil?

Eu mesmo demorei um pouco para encontrar a resposta. Mas depois de alguma reflexão, ela veio e me pareceu muito clara: minha exposição pública e, espero, meu jeito, minhas características, minha personalidade e a forma como vejo o mundo. As mesmas forças que me movem desde sempre me levaram a esse lugar.

Explicando em outras palavras, entre as centenas de defeitos que carrego, talvez eu tenha uma única virtude: carrego desde sempre, genuinamente, enorme paixão e curiosidade pelo outro.


Gosto muito de gente. Sempre gostei. De todo tipo, origem, tamanho, cor, posição na pirâmide. É só olhar para o que faço profissionalmente há mais de duas décadas. Não paro de procurar pelo diferente. E não falo de um olhar distante, acadêmico, teórico. Falo de andanças intermináveis por todos os quadrantes do Brasil e por vários do mundo atrás daquilo que não conheço. Ando há anos e anos por lugares ricos, paupérrimos, super ou subdesenvolvidos, em guerra, centros moderníssimos de saber, cantos absolutamente esquecidos pelo desenvolvimento. Sempre atrás da mesma coisa: gente boa.

E a sensação de "intimidade" que meus mais de 20 anos de televisão provocam nas pessoas possibilita conversas instantaneamente francas e verdadeiras.

Esse dia a dia me permitiu construir uma visão muito própria e ampla dos recortes, curvas e reentrâncias do país. Sinto na pele o pulso das ruas.

E foi essa permanente "bateção de perna", sempre " in loco", que me tirou definitivamente da zona de conforto e me fez ver: O Brasil está sofrendo demais —especialmente os mais pobres, mas não apenas eles— para ficarmos passivos e reféns deste sistema político velho e corrupto. O que está aí jamais será empático, perceberá e muito menos traduzirá as reais necessidades da gente. Da nossa gente.

Vendo meu nome apontado, é muito importante frisar sempre, sem ter levantado a mão ou me oferecido para concorrer ao cargo mais importante na governança do país, minha reação natural foi tentar entender melhor do que se tratava. Gosto de aprender, de saber o que não sei e penso que cultivo um bom hábito desde muito cedo: tentar descobrir e encontrar quem sabe.

De forma intuitiva e quase caseira, fui procurando referências em pessoas que se dedicam de forma mais intensa a entender o Brasil; o sofrimento, as dificuldades e, principalmente, as soluções.

Acho também que sou meio obsessivo por fazer as coisas direito. Por isso, saí buscando e principalmente ouvindo dezenas de pessoas que admiro, que considero inteligentes, sensíveis, maduras e capacitadas, para que elas compartilhassem comigo suas visões. Foram meses que produziram em mim uma pequena revolução, um aprendizado enorme.

Tantas ideias, tanta gente interessada, brilhante e altamente capacitada, disposta a colocar energia a favor de uma transformação definitiva: De um país à deriva em uma nação de verdade, que possa de uma vez por todas refletir a qualidade indiscutível do seu povo.

Aqui é importante pontuar uma constatação que logo apontou no meu radar e que há tempos ecoa nele de maneira incômoda. Minha geração está trabalhando e inovando com vigor em muitas frentes. Há milhares de notáveis empreendedores, profissionais liberais, atletas, executivos, artistas, intelectuais, pensadores e por aí vai. Mas pela política, ela tem feito pouco.

Tenho dito sempre algo que me parece muito evidente, quase óbvio, mas assim mesmo um alerta necessário: se não nos aproximarmos de fato da política, se seguirmos negando esse universo e refratários ao seu ambiente, ele definitivamente não se reinventará por um passe de mágica.

Dito isso, sigo acreditando que o melhor caminho passa obrigatoriamente pelos movimentos cívicos, pela abertura de espaço na mídia para novas lideranças, por uma escuta dos anseios das pessoas, por reformas estruturais, muitas delas doloridas, por políticas públicas afetivas e efetivas, por políticas econômicas modernas e eficazes, pela educação levada a sério, pela saúde tratada com respeito, por tecnologia que alavanque as boas ideias e pela total transparência dos gastos públicos. Por menos politicagem e por mais e melhor representatividade. A lista é grande.

O momento de total frustração com a classe política e com as opções que se apresentam no panorama sucessório levou o meu nome a um lugar central na discussão sobre a cadeira mais importante na condução do país.

É claro que isso me trouxe a sensação boa de que uma parte razoável da população entende o que sou e faço como algo positivo. Evidente também que junto vieram uma pressão muito pesada e questionamentos de todos os tipos.

Já disse e escrevi antes, aqui neste mesmo espaço, mas tenho hoje uma convicção ainda mais vívida e forte de que serei muito mais útil e potente para ajudar meu país e o nosso povo a se mover para um lugar mais digno, ocupando outras posições no front nacional, não só fazendo aquilo que já faço mas ampliando meu raio de ação ainda mais.

Com a mesma certeza de que neste momento não vou pleitear espaço nesta eleição para a Presidência da República, quero registrar que vou continuar, modesta e firmemente, tentando contribuir de maneira ativa para melhorar o país. Vou bem além da voz amplificada enormemente pela televisão que amo fazer, do eco monumental das redes sociais que aprendi a tecer, do instituto que fundei há quase 15 anos e de todos os meios que o carinho das pessoas me proporcionou.

Vou também direcionar toda a energia de que disponho para outra coisa que acredito saber fazer: agregar.

Agregar as mentes sábias que fui encontrando em diferentes camadas da sociedade, dentro e fora do Brasil, pessoas extremamente capazes e dispostas de fato a conjugar o verbo servir no tempo e no sentido corretos. Vou trabalhar efetivamente para estruturar e me juntar a grupos que assumam a missão de ir fundo na elaboração de um pensamento e principalmente de um projeto de país para o Brasil.

E, para isso, não são necessários partidos, cargos, nem eleições.

Essa intenção já esta viva através dos movimentos cívicos dos quais me aproximei com bastante interesse e intensidade. E de outras iniciativas que estão por vir.

Quero registrar de novo que entre as percepções que confirmei nesses últimos meses está a convicção de que não há nada mais importante do que tomarmos consciência da importância da política e de que precisamos nos mover concretamente na direção da atuação incisiva, para que não sejamos mais vítimas passivas e manobráveis de gente desonesta, sem caráter, despreparada e incapaz de entender o conceito básico da interdependência ou de pensar no coletivo.

A hora é de trabalhar por soluções coletivas inteligentes e inovadoras para o país, e não de focar o próprio umbigo ou de alimentar polêmicas pueris e gritas sem sentido.

Quem se interessa pelo que sou e faço pode acreditar: vou atuar cada vez mais, sempre de acordo com minhas crenças, em especial com a fé enorme que tenho neste país.

Contem comigo. Mas não como candidato a presidente.

__________
(*) Luciano Huck é apresentador de TV e empresário

sábado, 25 de novembro de 2017

Huck, um predador ambiental?

Huck tem sido apontado como possível candidato a presidente da república. Não se sabe ainda o que ele proporá, em termos programáticos, para enfrentar os mais candentes problemas brasileiros. Os que o incentivam, e que o conhecem melhor, talvez saibam. Mas essas propostas ainda não foram explicitadas para a nação.

As razões mais visíveis e analisadas para considerar a candidatura de Huck estão essencialmente relacionadas ao fato de que ele teria o potencial de ser bom de voto no primeiro turno. E é isto, a questão eleitoral, o que mais interessa aos candidatos a mandatos parlamentares em 2018. Para estes, e particularmente para um certo tipo de políticos, isso é mais importante do que as suas propostas para o Brasil. O resto é especulação.


Portanto, pela impossibilidade, no momento, de considerar as suas idéias para governar o país, a sua candidatura, politicamente de centro, está sendo apresentada como uma nova alternativa para salvar o país dos riscos populista e autoritário representados pelas candidaturas polares Lula e Bolsonaro. 

Apesar disso, o seu nome não pode mais deixar de ser considerado e discutido, até mesmo porque as pesquisas já destacam o seu nome. Apresento neste texto um testemunho pessoal sobre Huck, que não é favorável a ele. Mas faço-o com a intenção de abrir o debate sobre se essa candidatura passaria pelo filtro ético indispensável, e se, posta nestes termos, ao contrário do que se pensa, ela não seria mais do que uma ilusão salvacionista, e baseada no desespero de políticos que buscam apenas a sua sobrevivência eleitoral.

A questão: relato experiência pessoal da qual me ficou a impressão de que Huck não zela pelo cumprimento das normas ambientais quando na condução dos seus empreendimentos empresariais e pessoais.

Parto da premissa de que não podemos ser condescendentes com ilicitudes; em particular, se praticadas por um cidadão que se proponha a ser presidente da república. Não podemos ficar afastando presidentes depois que a sua máscara cai, pois o custo para o país é imenso, como está sendo o custo Dilma-Temer. Todos sabemos ser imprescindível acabar com a impunidade dos poderosos para que o Brasil possa superar a sua crise. E julgo que é exatamente antes das eleições que as explicações devem ser dadas. E isso devemos exigir de todos os candidatos.

Fernando de Noronha

A possível candidatura de Huck me trouxe à lembrança um primeiro momento em que sua ação pública me incomodou de fato. Foi em novembro de 2004.

Eu e minha mulher cultivamos o hábito de andar e caminhar, de estar ao ar livre e na natureza. Já estivemos em todos os estados de nosso país à excessão do Amapá, que visitaremos brevemente. Pois bem, estávamos em Fernando de Noronha, em viajem de sonhos, e caminhamos a pé, de praia em praia, sendo que algumas são consideradas as mais belas do mundo.

A legislação ambiental e as regras de manejo e circulação na ilha são rígidas e você para chegar lá tem que inscrever-se para que o número de visitantes não ultrapasse o limite. Você se hospeda em pequenas pousadas, a principal fonte de renda interna dos habitantes da ilha. Quando você chega lá, é praticamente alocado em uma dessas pousadas, sem que tenha muita opção de escolha.

Pois bem, estávamos em uma dada praia onde se podia observar as tartarugas do Projeto Tamar e nos deparemos com um hotel cinco estrelas, o único que existia na ilha, neste padrão, naquele ano. Logo o guia nos informou que o seu proprietário era o Huck. Nesta ocasião eu pouco mais sabia sobre ele de que era o marido da Angélica, e de que tinha um programa de auditório na TV que eu só vira ocasionalmente.

Mas eu e minha mulher, adeptos da causa ambiental, ficamos indignados. As razões: aquele empreendimento destoava de todas as regras que valiam, com rigidez, para todos os demais habitantes da ilha e que eram informadas em entusiásticas aulas temáticas, que são proferidas para todos os visitantes logo ao chegar (e existe uma incrivelmente bem programada série de documentários temáticos, com debates, conduzidas por jovens e preparados ambientalistas); logo nos perguntamos, pois foi inevitável, como fora possível transgredir o código de posturas da ilha, como fora aprovado o projeto do prédio de vários andares e do hotel, como obtivera a concessão do imenso terreno, como obtivera o alvará de construção, como obtivera o habite-se? Teriam sido respeitadas todas as normas ambientais? Como ele obtivera todos esses privilégios?

Essa foi a primeira vez que tive desconforto com a ação pública de Huck. Agora, esse desconforto continua, ao saber que, em mais um empreendimento de interesse pessoal, em Angra dos Reis, ele  estaria, novamente, desrespeitando as normas ambientais. 

Certamente os que o defendem se apressarão em trazer as explicações necessárias para esses fatos. Espero que sejam convincentes, não apenas convenientes, pois partirão de quem está disposto a torná-lo presidente da república.

quarta-feira, 22 de novembro de 2017

Em 2018 eleja Lula, Bolsonaro ou Huck, ou...

Marilene de Freitas (*)


Em 2018, eleja o Lula ou algum poste que ele indicar e ganhe um Maduro como presidente, com um exército de progressistas de butique cheios de sangue nos olhos, cifrões no lugar de cérebro, rancorosos, antidemocráticos e com uma fome centuplicada de poder.

Em 2018, eleja o Bolsonaro e ganhe um Trump tupiniquim como presidente, com um exército de conservadores cheios de sangue nos olhos, visão de mundo boçal, antidemocráticos, cifrões no lugar de cérebro e gula de poder.

Em 2018, eleja o Huck e ganhe um animador de auditório como presidente, que vai te iludir com uns Programas Lata Velha e Caldeirão de descultura enquanto multiplica os cofres de ricos e poderosos, libera os amigos para construírem em áreas de preservação ambiental e se apropriarem de praias públicas, como ele faz. Um cara que tem vaidade de poder...

Ou...

Preste bastante atenção em todas as opções que surgirem, tire os olhos do próprio umbigo, pense em todo o lamaçal em que o Brasil está atolado, no quanto de contribuição você (e cada um de nós) deu para isso acontecer, pense no que é bom não só para você e a sua turma, mas para todos; pense que se você não se sente seguro na sua bela casa, no seu carrão, na sua rua, na sua cidade, isso tem a ver com um país extremamente desigual, péssima qualidade na educação (básica, principalmente), falta de saneamento básico, assistência de saúde precária, falta de perspectivas de futuro, falta de esperança, e que nossos políticos, até hoje, nunca buscaram soluções efetivas para isso tudo, pelo contrário, aprofundam nossas mazelas.

Se quiser, pense na Suécia, só não esqueça que o Brasil é imensamente maior e mais complexo do que aquele país e que, portanto, aqui as soluções não são tão fáceis, requerem muita boa vontade política e do povo, determinação e participação cidadã de todos.

Pense nisso tudo e muito mais e, em 2018, tente votar com todos os neurônios do seu cérebro. E deixe o coração, o estômago, o umbigo e o bolso em casa, bem trancados.

____________
(*) Jornalista

terça-feira, 21 de novembro de 2017

Nadando contra a corrente da história

Segovia foi escolhido para liquidar com a Lava-Jato e confrontar com o MPF. Perderá as duas batalhas! Ele nada contra a corrente da história!


Respeito aos amigos que acham que os acontecimentos políticos já estejam escritos nas estrelas. Respeito, mas discordo!

Alimento-me da ideia elementar, com a qual construímos nossas vidas, e o conforto e a segurança de nossas famílias. Esta ideia é simples: sabemos que com organização, trabalho e luta, muita luta, podemos construir um futuro melhor. Claro, sabemos, também, que não podemos fazer tudo o que gostaríamos, mas acreditamos na persistência e lutamos contra os azares da vida!

O agricultor nasce sabendo que para colher ele tem que plantar. Nem sempre ele obtém a safra desejada, mas prossegue, trabalhando e lutando. É a chamada lei da fazenda, que vale para todos os setores da vida social!

Por isso, defino-me como um esperançoso de luta. Acho que todos somos, pois viver é isso!

Pois bem, acho que estamos vivendo em uma corrente histórica virtuosa! O patrimonialismo e o assalto ao Estado feito pelos donos do poder sempre existiu em nosso país! Mas vivemos outros tempos.

O quadro mudou, talvez porque a roubalheira tenha se exacerbado nos últimos 15 anos. Mas acho que a melhor explicação é que as novas gerações de PF’s, procuradores e juízes, concursados, filhos da Constituição de 1988, e os novos recursos tecnológicos e eficácia no combate à corrupção, inclusive internacionalmente, fez com que esses jovens assumissem combater a impunidade como a missão profissional central de suas vidas.

Segovia perderá a primeira batalha para os seus próprios pares; a segunda, para os procuradores. Ambas as instituições, a PF e o MPF, orgulham-se do papel histórico que têm tido, com a Lava-Jato, e na luta contra a impunidade!

Finalmente, a opinião pública e a sociedade não aceitarão que um aventureiro qualquer, de ocasião, bloqueie com meros golpes administrativos a indispensável luta contra a corrupção e para acabar com a impunidade dos crimes de colarinho branco!

A corrupção e os seus efeitos destrutivos em termos sociais, econômicos e da moralidade pública tornou-se o inimigo público número um do Brasil.

Nem Temer e os seus ministros bandidos, nem os Renans, Aécios e Gleisis, e Lulas, conseguirão inverter o sentido dessa corrente!

domingo, 19 de novembro de 2017

Renan Calheiros condenado

Juiz de 1ª instância condena Renan Calheiros a perder o mandato e direitos políticos (*)
Matéria:  Eduardo Militão,  UOL notícias Política, em 17/11/2017

Reproduzo aqui, pela relevância, matéria sobre a condenação de Renan Calheiros, a sua primeira. Foi uma condenação por um juiz de 1ª instância. Seu nome é Waldemar Carvalho, titular da 14a Vara Federal de Brasília. Aparentemente, apenas estes têm coragem de enfrentar os bandidos de colarinho branco, tal como Sergio Moro o faz em Curitiba.


Renan Calheiros (PMDB-AL) é um dos mais perniciosos bandidos que habitam o legislativo brasileiro, sendo um dos que usa com mais habilidade das imunidades parlamentares para cometer seus crimes comuns. Foi o líder do blefe da crise institucional, no qual caiu o STF, matizando a imagem pública de sua presidente, a ministra Cármen Lúcia. Com isso, agora, os bandidos, que fizeram das Casas Legislativas a sua morada principal, obtiveram uma ampliação de suas prerrogativas. Agora, os parlamentares flagrados no cometimento de crimes comuns não precisam mais cumprir as decisões judiciais cautelares emanadas dos tribunais. Ou seja, só cumprem se as casas legislativas às quais pertencem assim quiserem.

Os casos Aécio Neves e Jorge Picciani são apenas os mais relevantes e graves, mas o mesmo já começou a acontecer em outras Assembleias Legislativas e Câmaras Municipais espalhadas pelo país. E acontecerão em grande número, pois são muitos os bandidos-parlamentares. E como os bandidos de todos os tipos sabem que é sendo eleito que poderão roubar em paz, é de se supor que aumentará o número dos que disputarão mandatos em 2018.

____________

domingo, 12 de novembro de 2017

A fortuna do príncipe

Luiz Carlos Azedo
Publicado em 12/11/2017, coluna Entrelinhas do jornal Correio Braziliense (*)

Se a maré não está boa para o PSDB, diga-se, por suas próprias fragilidades, e não pelo infortúnio (o lado mau das possibilidades incertas, ou azar), ele ainda tem uma chance.

Virá, diga-se, pelo lado tradicional da política estruturada em torno do velho sistema partidário que saiu fortalecido pelas últimas reformas. Esse velho sistema conquistou, para todos os partidos, pela primeira vez na história, um fundo eleitoral alimentado por R$ bilhões.

Não se deve ter a ilusão de que os candidatos-bandidos deixarão de lançar mão de recursos de caixa dois, ou tampouco que deixarão de lançar mão de dinheiro da corrupção já entesourado (como o do Geddel), que aparecerá por todos os lados.

Quanto ao PSDB, o mais provável é que a lei da sobrevivência pesará mais, e no dia 08/12/17, em sua reunião nacional, daqui a menos de um mês, o partido, embora ainda com disputas internas, sairá suficientemente unido para a disputa de 2018. Se isso acontecer, a probabilidade maior é de que Geraldo Alckmim saia como o seu candidato a presidente.

O seu trunfo maior - de Alckmim/PSDB - é o fato de que é o polo alternativo aparentemente mais viável  para unificar na sociedade uma candidatura para se opor aos extremos populista e autoritário Lula e Bolsonaro.

O brilhante artigo de Azedo, abaixo, entretanto, identifica o risco de "cristianização" dessa candidatura.


Prudente por natureza, Alckmin pode repetir a performance de Orestes Quércia (PMDB), governador paulista “cristianizado” nas eleições de 1994

Um dos últimos capítulos do clássico O príncipe, de Nicolau Maquiavel, obra seminal da teoria política, parece escrito sob medida para as movimentações de bastidor dos líderes principais do PSDB na tentativa de construção de candidatura capaz de unificar forças de centro e derrotar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o deputado Jair Bolsonaro (PSC), que hoje polarizam as pesquisas eleitorais. Intitulado “De quanto pode a fortuna nas coisas humanas e de que modo se lhe deva resistir” (Quantum foruna in rebus humanis possit, et quomodo illis sit occurren dum), trata da relação entre as virtudes dos governantes e a sua fortuna (que tem mais a ver com as contingências do que propriamente com a sorte ou o acaso).

Para Maquiavel, o governante prudente se prepara para as adversidades. “Não ignoro que muitos têm tido e têm a opinião de que as coisas do mundo sejam governadas pela fortuna e por Deus, de forma que os homens, com sua prudência, não podem modificar nem evitar de forma alguma (…) Esta opinião se tornou mais aceita nos nossos tempos pela grande modificação das coisas que foi vista e que se observa todos os dias, independentemente de qualquer conjectura humana. Pensando nisso algumas vezes, em parte, inclinei-me em favor dessa opinião. Contudo, para que o nosso livre arbítrio não seja extinto, julgo poder ser verdade que a sorte seja o árbitro da metade das nossas ações, mas que ainda nos deixe governar a outra metade, ou quase.”

O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, parece não seguir essa receita e não se cansa de dizer que a política é destino. De certa forma, as três eleições que perdeu — duas para a prefeitura de São Paulo (2000 e 2008) e uma à Presidência da República (2006) —parecem corroborar esse ponto de vista, pois as derrotas não o impediram de governar São Paulo por quatro mandatos, a primeira vez em razão da morte do governador Mario Covas (era o vice), e as outras três, porque foi eleito para o cargo (2002, 2010 e 2014).

Alckmin é o candidato do PSDB por ocupar a posição estrategicamente mais importante nas esferas de poder da legenda na administração do estado mais populoso e desenvolvido do país. Ao lado de Fernando Henrique Cardoso e Tasso Jereissati, está entre os líderes tucanos menos afetados pela Operação Lava-Jato, o que parecia transformá-lo em mono-opção partidária às eleições presidenciais de 2018. O candidato natural seria o senador Aécio Neves (MG), presidente licenciado do partido (obteve 51 milhões de votos em 2014, na disputa de segundo turno contra a então presidente Dilma Rousseff), mas acabou fora da disputa, em razão da delação premiada do empresário Joesley Batista. Entretanto, o destino prega mais uma peça ao governador paulista. Alckmin parece aquele príncipe retratado por Maquiavel que estava em franco e feliz progresso, mas corre o risco de ser arruinado.

Discordância

Maquiavel nos ensina que, variando a sorte e permanecendo os homens obstinados nos seus modos de agir, “serão felizes enquanto aquela e estes sejam concordes e infelizes quando surgir a discordância”. É mais ou menos o que está acontecendo com Alckmin, com o PSDB à beira da implosão em razão da disputa pelo controle da legenda com Aécio Neves, que apoia a candidatura do governador goiano Marconi Perillo, a presidente do PSDB, contra o senador Tasso Jereissati, candidato do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e do governador paulista.

Alckmin corre o risco de ser “cristianizado” nas eleições, porque outros caciques do PSDB paulista estão aliados a Aécio, principalmente o chanceler Aloysio Nunes Ferreira e o senador José Serra (SP), que já se articula para a sucessão paulista. Há um plano B em curso para as eleições: o apresentador de tevê Luciano Hulk, que negocia sua filiação ao PPS, com forte apoio de grupos empresariais liderados por jovens investidores formados nos Estados Unidos.


Prudente por natureza, Alckmin pode repetir a performance de Orestes Quércia (PMDB), governador paulista “cristianizado” nas eleições de 1994, quando provou do mesmo veneno que usou contra Ulysses Guimarães, em 1989. Como dizia o bruxo florentino, “a sorte sempre é amiga dos jovens, porque são menos cautelosos, mais afoitos e com maior audácia a dominam”. Com Hulk, a grande novidade desse processo, porém, pode ser o surgimento de um certo “americanismo” na política brasileira, tradicionalmente prisioneira do velho iberismo fisiológico e patrimonialista.