sábado, 8 de janeiro de 2022

O desespero de Bolsonaro

Todos já conhecem a irresponsabilidade do Presidente Bolsonaro. Em suas ações e como se expressa com suas palavras. Todas demonstram à exaustão o seu desequilíbrio, negacionismo, descompromisso com a democracia e desrespeito com as instituições.

A sua incompatibilidade com o cargo somente é negada pela legião dos puxa-sacos que o cercam, dos que o chantageiam em troca de benesses indevidas para mantê-lo no cargo, e pelos radicais que o mitificam. 

Mas, desesperado por saber que não será reeleito, está ultrapassando todos os limites.

Em uma entrevista à TV Nova Nordeste nesta quinta-feira (06/01/22), Bolsonaro questionou os interesses da Anvisa em aprovar a vacinação de crianças contra a covid-19. "Você vai vacinar o teu filho contra algo que o jovem por si só, uma vez pegando o vírus, a possibilidade dele morrer é quase zero? O que que está por trás disso? Qual o interesse da Anvisa por trás disso aí? Qual o interesse das pessoas taradas por vacina?", declarou Bolsonaro na entrevista.

Suas palavras foram ofensivas, justamente com a ANVISA, a Agência Nacional que tem por finalidade institucional:
“… promover a proteção da saúde da população, por intermédio do controle sanitário da produção e consumo de produtos e serviços submetidos à vigilância sanitária, inclusive dos ambientes, dos processos, dos insumos e das tecnologias a eles relacionados, bem como o controle de portos, aeroportos, fronteiras e recintos alfandegados.”

O seu digno Diretor Presidente, Antonio Barra Torres, Contra-Almirante RM1, médico, sentiu-se no dever, diante de tão graves e irresponsáveis declarações, de defender-se e à instituição que dirige.


Abaixo, a íntegra de sua nota:

Nota – Gabinete do Diretor Presidente da Anvisa, Sr. Antonio Barra Torres


Em relação ao recente questionamento do Presidente da República, Jair Messias Bolsonaro, quanto à vacinação de crianças de 05 a 11 anos, no qual pergunta "Qual o interesse da Anvisa por trás disso aí?", o Diretor Presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres, responde:

Senhor Presidente, como Oficial General da Marinha do Brasil, servi ao meu país por 32 anos. Pautei minha vida pessoal em austeridade e honra. Honra à minha família que, com dificuldades de todo o tipo, permitiram que eu tivesse acesso à melhor educação possível, para o único filho de uma auxiliar de enfermagem e um ferroviário.

Como médico, Senhor Presidente, procurei manter a razão à frente do sentimento. Mas sofri a cada perda, lamentei cada fracasso, e fiz questão de ser eu mesmo, o portador das piores notícias, quando a morte tomou de mim um paciente.

Como cristão, Senhor Presidente, busquei cumprir os mandamentos, mesmo tendo eu abraçado a carreira das armas. Nunca levantei falso testemunho.

Vou morrer sem conhecer riqueza Senhor Presidente. Mas vou morrer digno. Nunca me apropriei do que não fosse meu e nem pretendo fazer isso, à frente da Anvisa. Prezo muito os valores morais que meus pais praticaram e que pelo exemplo deles eu pude somar ao meu caráter.

Se o senhor dispõe de informações que levantem o menor indício de corrupção sobre este brasileiro, não perca tempo nem prevarique, Senhor Presidente. Determine imediata investigação policial sobre a minha pessoa aliás, sobre qualquer um que trabalhe hoje na Anvisa, que com orgulho eu tenho o privilégio de integrar.

Agora, se o Senhor não possui tais informações ou indícios, exerça a grandeza que o seu cargo demanda e, pelo Deus que o senhor tanto cita, se retrate.

Estamos combatendo o mesmo inimigo e ainda há muita guerra pela frente.

Rever uma fala ou um ato errado não diminuirá o senhor em nada. Muito pelo contrário.

Antonio Barra Torres

Diretor Presidente - Anvisa

Contra-Almirante RM1 Médico

Marinha do Brasil

quinta-feira, 6 de janeiro de 2022

Os fantasmas do passado

Penso que os que já estão engajados na candidatura de Lula se satisfazem com bem pouco para o Brasil.

Por um momento, considerarei, metodologicamente, que este não seja o caso do nobre leitor, a quem convido para abrirmos um diálogo.


Veja, os que defendem, desde já, a candidatura de Lula argumentam que devamos, todos os democratas, nos unirmos contra o fascismo. Mas esta é uma argumentação que peca não apenas pela lógica. Sobretudo, é uma narrativa fake com claros objetivos políticos, pois não estamos enfrentando uma ditadura, Bolsonaro não é o Hitler (embora talvez gostasse de sê-lo) e não estamos vivendo nos tempos da guerra-fria.

Até o dia 7/09 muitos temiam o golpe que Bolsonaro queria dar. Não deu, as instituições democráticas resistiram e as Forças Armadas disseram não ao golpe. Se Bolsonaro, até esta data, blefou para nos assustar, e para levar os seus apoiadores golpistas para as ruas, este risco não existe concretamente. E suas possíveis ameaças futuras à democracia continuarão recebendo da consciência democrática dos brasileiros e das instituições democráticas o mesmo repúdio eficaz, que já recebeu, para derrotar os seus intentos.

Claro, é altamente conveniente aos que apoiam Lula ficarem até hoje apontando para o risco do golpe iminente. Isto lhes é conveniente para que os democratas, assustados com fantasmas, corram para o apoio à Lula argumentando que ele é o mal menor. Mas não devemos nos deixar enganar por esse blefe que só serve a Lula e a Bolsonaro para mobilizar os seus apoiadores radicais.

A questão que está colocada, então, qual é? Trata-se de romper com as concepções políticas que mantêm bloqueado o desenvolvimento de nossa democracia. Quem a bloqueia? Esta pergunta é inconveniente, pois coloca o lulopetismo e o bolsonarismo, simultaneamente, como fantasmas do passado, e filhos reacionários da guerra fria. E se o são, são modelos de pensamento atreladas ao passado e ao atraso político.

Se você sequer faz essas considerações, e já está, simplesmente, engajado na candidatura de Lula porque o considera um modelo do que é bom para o Brasil, então faz parte do que podemos chamar de “lulopetistas de raiz”. Provavelmente, você foi convencido de que a roubalheira petista liderada por Lula foi uma mera conspiração da Cia e do Departamento de Estado Norte-americano conduzida pelo seu agente local Sergio Moro. Se você faz parte deste conjunto, nada se pode fazer, pois você é tão gado quanto os “bolsonaristas de raiz”.

Mas tenho a esperança de que não, para que julguemos proveitoso continuar neste diálogo. Se você é um democrata, deseja o melhor para o Brasil e o seu horizonte vai além de meras questões partidárias e ideológicas, mas considera que as eleições democráticas são uma oportunidade para fazermos críticas corajosas ao que está errado, e lutarmos pelo bem comum, então talvez esteja disposto a considerar estas questões abaixo de lógica elementar:
  1. Já sabe que a única forma de derrotar Lula será retirando Bolsonaro do 2º turno, pois as tendências apresentadas pelas pesquisas sucessivas demonstram, consistentemente, que Lula o derrotará;
  2. E sabe, também, que Lula, provavelmente, será o derrotado, se um candidato da 3ª Via (*) for ao 2º turno. E é, exatamente, esta a razão pela qual os que já estão engajados na candidatura de Lula lutam para conformar um 2º turno com Bolsonaro; a mesma razão pela qual já trabalharam para inviabilizar o seu impeachment.
É necessário que, rapidamente, os democratas, de todos os matizes políticos - de esquerda, de centro e de direita - se deem conta dessa aliança-casamento tácita, trágica e objetiva entre o lulopetismo e o bolsonarismo para manter bloqueado o desenvolvimento de nossa democracia.

Não haverá outro caminho, pois será com a nossa democracia depauperada, saqueada, rota, maltratada e vilipendiada, mas com o voto, que iremos nos livrar desses grilhões que nos prendem ao passado.

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(*) Aqui, 3ª Via é a denominação de uma candidatura alternativa a Lula e a Bolsonaro.

Ela não corresponde, necessariamente, às que até este momento já se apresentaram como mais prováveis, como as de Ciro, Dória, Simone, ou mesmo Moro.

Terceira Via, assim, passa a ser uma alternativa da democracia brasileira, que afaste o risco da crise institucional, e apresente um conteúdo programático que aponte para o futuro de um Brasil mais desenvolvido, democrático e justo.