terça-feira, 31 de janeiro de 2017

Um relator da Lava-Jato contrário à Lava-Jato?

Pois bem, precisamos encarar a realidade! Age, planejada e estrategicamente, a "santa aliança" dos que temem e combatem a Lava-Jato.

A 2ª turma do STF há algum tempo já está infiltrada por dois juízes claramente serviçais do PT, Lewandowisk e Toffoli; e por Gilmar Mendes, pronto a servir aos interesses do PSDB, sendo adversário declarado de Moro. Todos são adversários da lava-Jato, e sabemos disso!


Resta, como esperança de digna isenção, o decano Celso de Mello, ao qual se agregaria um quinto juiz vindo da 1ª turma.

Mas, se houver sorteio (*) do novo relator para substituir ao ministro Teori Zavascki, a probabilidade de que um juiz contrário à Lava-Jato seja escolhido será de pelo menos 3/5, ou 60%.


Não podemos brincar com isso! Creio que essa solução não interessa de forma alguma ao Brasil. Os brasileiros esperam que os ministros do STF, nesta etapa de nossa história, estejam alinhados na compreensão de que a tarefa mais importante para o aperfeiçoamento da democracia brasileira seja acabar com a impunidade dos crimes de colarinho banco!

O que o Brasil espera, e precisa, são juizes isentos. O que a sociedade espera é integridade e coragem na defesa do Estado Democrático de Direito e na aplicação dos devidos processos legais, em respeito à Constituição e às leis. Antes, esses critérios fundamentais eram apenas slogans de agitação na boca de bons e caros advogados criminalistas especializados em manter impunes seus clientes corruptos. Agora, passaram a ser, na medida em que estão sendo aplicados, particularmente depois da Lava-Jato, fonte de desespero para os criminosos de colarinho branco!

A vontade clara do povo brasileiro, revelada, inclusive nas ruas, está levando ao aperfeiçoamento gradativo da legislação anticorrupção. Particularmente, agora, com a prisão do condenado após o julgamento em 2ª instancia, a aplicação desses critérios fundamentais, se antes eram apenas slogans vazios de advogados de defesa, agora são instrumentos poderosos da sociedade para processar, condenar e punir criminosos, mesmo que sejam brancos, ricos, políticos, ou empresários.

Portanto, é preciso que se diga, se uma personalidade como Lewandowisk, por exemplo, for o escolhido, será uma vitória estratégica da "santa aliança" dos que querem impedir que os processos contra os criminosos de colarinho branco sigam o seu curso!

Ficaremos passivos diante deste risco? Esta possibilidade, contra a democracia brasileira, infelizmente, poderá consumar-se nos próximos dias! Deixaremos acontecer e, depois, ficar chorando sobre o leite derramado?


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(*) Sorteios cujos resultados possíveis, de igual probabilidade, são previamente conhecidos, são dispositivos criados pelos humanos quando se pretende imparcialidade na escolha.

Se você tem uma única e pequena bala para distribuir por duas crianças, você pode adotar um sorteio para não demonstrar preferência; se você quer distribuir um prêmio, como na loteria, você pode adotar esse método para garantir a imparcialidade!

Mas, na escolha do novo relator da Lava-Jato no STF, estamos diante de uma situação totalmente diferente! O sorteio do relator será um equívoco monumental!

Sabidamente, três dos cinco ministros possíveis de serem escolhidos não são isentos! Se um desses três for o sorteado, a Lava-Jato estará em risco, e a credibilidade do STF ficará abalada!

Em um quadro de baixa credibilidade dos poderes legislativo e executivo, se o poder judiciário entrar nesta vala comum, correremos o risco de grave crise institucional!

Pós comentário (02/02/2017):

O escolhido por sorteio foi o ministro Edson Fachin.

Quanto ao método de escolha aleatória de relatores no STF, segundo o que agora está sendo divulgado, são consideradas duas variáveis: (1) o número de ministros que participam do sorteio; (2) o número de processos que cada um já está relatando.

Esse método é rodado eletronicamente, e atribui maior probabilidade de ser escolhido ao ministro que esteja relatando menos processos. O seu algoritmo, entretanto, não é divulgado pelo STF.

O que se sabe é que o sorteio simula uma escolha aleatória, como retirar de um saco com bolas coloridas de cinco cores uma única bola, onde o ministro com o menor número de processos corresponde à cor com o maior número de bolas. Portanto, o ministro com o menor número de processos é o com a maior probabilidade individual de ser escolhido.

Isso pode ter ocorrido com o ministro Fachin, mas  resta uma pergunta: a probabilidade conjunta de ter sido sorteado um dos três ministros contrários à Lava-Jato, ainda não seria maior do que a do ministro representado pela cor com o maior número de bolas?

Tudo o que se pode dizer neste instante é que Fachin ganhou na loteria! E, até prova em contrário, também o povo brasileiro!

segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Eike, o empresário "padrão"

Ontem vi as imagens de Eike Batista, no aeroporto de Nova York (*), um homem que criou uma das maiores bolhas conhecidas, as empresas "X", um conglomerado campeão nacional, artificial, como ele próprio!

Essas empresas foram tratadas midiaticamente para serem orgulho do Brasil e símbolo da era petista. Filho dos "reality show", e das "pós-verdades", como o é Trump, chegou a ser indicado pela revista Forbes como um dos 10 bilionários mais ricos do mundo!


Estava falando ao celular, talvez um dos últimos bens que realmente seja seu, sem assessores, sem acompanhantes, sem amigos, melancolicamente, incógnito, sentado ao lado de cadeiras-de-engraxate vazias, sem clientes, sem engraxates.

Há poucos dias ele era um dos homens mais badalados do Brasil. Amigo íntimo do ex-governador Sergio Cabral, agora preso, e incensado pelos ex-presidentes Lula e Dilma. Tratado a pão-de-ló pelo BNDES, parceiro-cúmplice, e pelos políticos, e pelos próprios empresários!

Uma dolorosa solidão flagrada pelas lentes jornalísticas e, também, certamente, pelos olhos atentos da polícia! Volta para ser processado e preso! A imagem simbólica de um Brasil que começa a ficar para trás, para dar espaço a um outro, que tem pressa para nascer, e que precisa nascer, onde não haja espaço para a impunidade dos crimes de colarinho branco!


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(*) JFK, 29/01/2017.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

Íntegra do discurso de posse de Donald Trump

Donald Trump tomou posse como 45º presidente dos EUA sexta-feira, dia 20/01/2017

Ele prestou juramento diante do Capitólio, em Washington, e discursou na presença de quatro de seus antecessores - um deles republicano.

G1 - 20/01/2017. No pé da página (I), reportagem e vídeo completo sobre o seu discurso.




Íntegra do discurso em português (em tradução não-oficial)

"Chefe de Justiça Roberts, presidente Carter, presidente Clinton, presidente Bush, presidente Obama, colegas americanos e pessoas do mundo: obrigado.

Nós, os cidadãos da América, estamos agora unidos em um grande esforço nacional para construir nosso país e restaurar sua promessa para todo o nosso povo.

Juntos, iremos determinar o curso da América e do mundo por muitos, muitos anos. Ver (II).

Enfrentaremos desafios, confrontaremos dificuldades. Mas faremos o serviço.

A cada quatro anos nos reunimos nesta escadaria para conduzir a ordeira e pacífica transferência de poder. E somos gratos ao presidente Obama e à primeira-dama Michelle Obama por sua graciosa ajuda durante essa transição. Eles foram magníficos. Obrigado.

A cerimônia de hoje, no entanto, tem um significado muito especial porque hoje não estamos apenas transmitindo o poder de uma administração a outra ou de um partido ao outro, mas estamos transferindo o poder de Washington, D.C., e o devolvendo a vocês, o povo.

Por muito tempo, um pequeno grupo na capital de nossa nação colheu as recompensas do governo enquanto o povo assumiu o custo.

Washington floresceu, mas o povo não compartilhou sua riqueza.

Políticos prosperaram mas os empregos foram embora e as fábricas fecharam.

O sistema se protegeu, mas não aos cidadãos de nosso país.

As vitórias deles não foram suas vitórias. O triunfo deles não foi o de vocês. E enquanto eles celebravam em nossa capital, havia pouco para celebrar para famílias em dificuldade ao redor de todo o país.

Tudo isso muda, começando aqui e agora, porque este momento é seu momento: ele pertence a vocês.

Ele pertence a todos reunidos aqui hoje e todos assistindo em todos os Estados Unidos.

Este é seu dia. Esta é sua celebração.

E este, os Estados Unidos da América, é seu país.

O que realmente importa não é qual partido controla nosso governo, mas se nosso governo é controlado pelo povo.

20 de janeiro de 2017 será lembrado como dia em que o povo se tornou o comandante desta nação novamente.

Os homens e mulheres esquecidos de nosso país não serão mais esquecidos.

Todos estão ouvindo vocês agora.

Vocês vieram aos milhões para se tornar parte de um movimento histórico, do tipo que o mundo nunca viu antes.

Ao centro deste movimento está uma convicção crucial de que uma nação existe para servir aos seus cidadãos.

Americanos querem ótimas escolas para seus filhos, vizinhanças seguras para suas famílias e bons empregos para si.

Essas são demandas justas e razoáveis de pessoas direitas e de um público direito.

Mas, para muitos de nossos cidadãos, uma realidade diferente existe. Mães e crianças presas na pobreza das zonas carentes de nossas cidades, fábricas enferrujadas espalhadas como lápides pela paisagem de nosso país. Um sistema educacional cheio de dinheiro, mas que deixa nossos jovens e belos estudantes desprovidos de conhecimento. E o crime as gangues e as drogas que roubaram tantas vidas e roubaram tanto potencial não realizado de nosso país.

Essa carnificina americana acaba aqui e acaba agora.

Somos uma única nação - e a dor deles é nossa dor. Os sonhos deles são nossos sonhos, e o sucesso deles será nosso sucesso. Dividimos um único coração, um lar e um glorioso destino.

O juramento do cargo que faço hoje é um juramento de lealdade a todos os americanos.

Por muitas décadas enriquecemos a indústria estrangeira às custas da indústria americana;

Subsidiamos os exércitos de outros países enquanto permitíamos ao muito triste esgotamento de nosso poder militar;

Nós defendemos as fronteiras de outros países enquanto nos recusamos a defender as nossas próprias;

E gastamos trilhões e trilhões de dólares além mar, enquanto a infraestrutura dos Estados Unidos caiu em degradação e deterioração.

Nós tornamos outros países ricos enquanto a riqueza, a força e a confiança do nosso país se dissipou no horizonte.

Uma por uma, as fábricas fecharam e deixaram nosso solo sem nem pensar nos milhões e milhões de trabalhadores americanos que foram deixados para trás.

A riqueza da nossa classe média foi arrancada de suas casas e depois redistribuída ao redor do mundo.

Mas isso é o passado, e agora nós estamos olhando só para o futuro.

Nós reunidos aqui hoje estamos emitindo um novo decreto a ser ouvido em todas as cidades, em todas as capitais estrangeiras e em todos os corredores do poder.

Deste dia em diante, uma nova visão vai governar nossa terra.

Deste momento em diante, será a América primeiro. Nota no pé da página em (III).

Todas as decisões sobre comércio, sobre taxas, sobre imigração, sobre relações exteriores serão feitas para beneficiar os trabalhadores americanos e as famílias americanas.

Devemos proteger nossas fronteiras das devastações dos outros países fazendo nossos produtos, roubando nossas empresas e destruindo nossos empregos. A proteção vai levar a grande prosperidade e força.

Vou lutar por vocês com todo o fôlego do meu corpo, e nunca vou decepcionar vocês.

A América vai começar a vencer de novo, vencer como nunca antes.

Vamos trazer de volta nossos empregos. Vamos trazer de volta nossas fronteiras. Vamos trazer de volta nossa riqueza, e vamos trazer de volta nossos sonhos.

Vamos construir novas estradas e rodovias e pontes e aeroportos e túneis e ferrovias ao redor da nossa nação maravilhosa.

Vamos tirar nosso povo do seguro-desemprego e colocá-los de volta ao trabalho, reconstruindo nosso país com mãos americanas e trabalho americano.

Vamos seguir duas regras simples: Comprar [produtos] americanos e contratar americanos.

Vamos procurar amizade e boa vontade com as nações do mundo - mas vamos fazer isso com o entendimento de que é o direito de todas as nações colocar seus próprios interesses em primeiro lugar.

Nós não buscamos impor nossa maneira de viver sobre ninguém, mas, em vez disso, deixar que ela brilhe como um exemplo a ser seguido.

Nós vamos reforçar alianças antigas e formar novas - e unir o mundo civilizado contra o terrorismo radical islâmico, que vamos erradicar completamente da face da Terra.

No alicerce das nossas políticas haverá uma lealdade total aos Estados Unidos da América, e através de nossa lealdade ao nosso país nós vamos redescobrir nossa lealdade um ao outro.

Quando você abre seu coração ao patriotismo, não há lugar ao preconceito.

A Bíblia nos diz "quão bom e agradável é quando o povo de Deus vive junto em unidade".

Devemos falar abertamente, debater nossos desentendimentos honestamente, mas sempre buscar a solidariedade.

Quando a América está unida, a América é totalmente invencível.

Não deve haver medo - estamos protegidos e sempre estaremos protegidos.

Seremos protegidos pelos grandes homens e mulheres de nossas forças armadas e da aplicação da lei. E mais importante, sempre seremos protegidos por Deus.

Finalmente, devemos pensar grande e sonhar ainda maior.

Na América, entendemos que uma nação só vive enquanto estiver se esforçando.

Não iremos mais aceitar políticos que são apenas discurso e nenhuma ação - constantemente reclamando, mas nunca fazendo nada a respeito.

O tempo para conversas vazias acabou.

Agora chega a hora da ação.

Não permitam que ninguém diga a vocês que isso não pode ser feita. Nenhum desafio pode equivaler ao coração, e à luta e ao espírito da América.

Não iremos falhar. Nosso país irá crescer e prosperar novamente.

Estamos perante o nascimento de um novo milênio, prontos para desbloquear os mistérios do espaço, para libertar a terra das misérias da doença, e controlar as energias, indústrias e tecnologias de amanhã.

Um novo orgulho nacional irá nos agitar, elevar nossas vistas e curar nossas divisões.

É hora de lembrar daquele ditado que nossos soldados nunca esquecerão, de que não importa se somos, negros, de outra cor ou brancos, todo sangramos o mesmo sangue vermelho dos patriotas. Todos desfrutamos das mesmas gloriosas liberdades e saudamos a mesma grande bandeira americana.

E se uma criança nasce num subúrbio de Detroit ou nas planícies varridas pelo vento de Nebraska, elas olham para o mesmo céu à noite, elas enchem seus corações com os mesmos sonhos e são insufladas com a brisa da vida pelo mesmo poderoso Criador.

Então a todos os americanos, em todas as cidades próximas e distantes, de montanha a montanha, de oceano a oceano, ouçam estas palavras:

Vocês nunca serão ignorados novamente.

Sua voz, suas esperanças e sonhos irão definir nosso destino americano. E sua coragem, bondade e amor irão para sempre nos guiar pelo caminho.

Juntos iremos tornar a América forte novamente.

Tornaremos a América rica novamente.

Faremos a América orgulhosa novamente.

Faremos a América segura novamente.

E, sim, juntos iremos tornar a América grande novamente. Obrigado. Deus abençoe vocês. E Deus abençoe a América."


A íntegra do discurso em inglês está no pé da página, em (IV).


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(II) Os parágrafos em negrito são os destacados na edição da reportagem original.

(III) Este destaque constitui o único não feito na reportagem original do G1. Ele realça o tom nacionalista do discurso, e vem sendo registrado pelos analistas como o centro da visão e da retórica trumpeana. Uma série de vídeos originados de países da comunidade européia, como o a seguir, satirizam com humor essa concepção; como exemplo, o de Portugal e os de outros países:
https://www.youtube.com/watch?v=4L7DWcktUxM.

(IV) Discurso em inglês:
"Chief Justice Roberts, President Carter, President Clinton, President Bush, President Obama, fellow Americans, and people of the world: thank you.

We, the citizens of America, are now joined in a great national effort to rebuild our country and to restore its promise for all of our people.

Together, we will determine the course of America and the world for years to come.

We will face challenges. We will confront hardships. But we will get the job done.

Every four years, we gather on these steps to carry out the orderly and peaceful transfer of power, and we are grateful to President Obama and First Lady Michelle Obama for their gracious aid throughout this transition. They have been magnificent.

Today’s ceremony, however, has very special meaning. Because today we are not merely transferring power from one Administration to another, or from one party to another – but we are transferring power from Washington, D.C. and giving it back to you, the American People.

For too long, a small group in our nation’s Capital has reaped the rewards of government while the people have borne the cost.

Washington flourished – but the people did not share in its wealth.

Politicians prospered – but the jobs left, and the factories closed.

The establishment protected itself, but not the citizens of our country.

Their victories have not been your victories; their triumphs have not been your triumphs; and while they celebrated in our nation’s Capital, there was little to celebrate for struggling families all across our land.

That all changes – starting right here, and right now, because this moment is your moment: it belongs to you.

It belongs to everyone gathered here today and everyone watching all across America.

This is your day. This is your celebration.

And this, the United States of America, is your country.

What truly matters is not which party controls our government, but whether our government is controlled by the people.

January 20th 2017, will be remembered as the day the people became the rulers of this nation again.

The forgotten men and women of our country will be forgotten no longer.

Everyone is listening to you now.

You came by the tens of millions to become part of a historic movement the likes of which the world has never seen before.

At the center of this movement is a crucial conviction: that a nation exists to serve its citizens.

Americans want great schools for their children, safe neighborhoods for their families, and good jobs for themselves.

These are the just and reasonable demands of a righteous public.

But for too many of our citizens, a different reality exists: Mothers and children trapped in poverty in our inner cities; rusted-out factories scattered like tombstones across the landscape of our nation; an education system, flush with cash, but which leaves our young and beautiful students deprived of knowledge; and the crime and gangs and drugs that have stolen too many lives and robbed our country of so much unrealized potential.

This American carnage stops right here and stops right now.

We are one nation – and their pain is our pain. Their dreams are our dreams; and their success will be our success. We share one heart, one home, and one glorious destiny.

The oath of office I take today is an oath of allegiance to all Americans.

For many decades, we’ve enriched foreign industry at the expense of American industry;

Subsidized the armies of other countries while allowing for the very sad depletion of our military;

We've defended other nation’s borders while refusing to defend our own;

And spent trillions of dollars overseas while America's infrastructure has fallen into disrepair and decay.

We’ve made other countries rich while the wealth, strength, and confidence of our country has disappeared over the horizon.

One by one, the factories shuttered and left our shores, with not even a thought about the millions upon millions of American workers left behind.

The wealth of our middle class has been ripped from their homes and then redistributed across the entire world.

But that is the past. And now we are looking only to the future.

We assembled here today are issuing a new decree to be heard in every city, in every foreign capital, and in every hall of power.

From this day forward, a new vision will govern our land.

From this moment on, it’s going to be America First.

Every decision on trade, on taxes, on immigration, on foreign affairs, will be made to benefit American workers and American families.

We must protect our borders from the ravages of other countries making our products, stealing our companies, and destroying our jobs. Protection will lead to great prosperity and strength.

I will fight for you with every breath in my body – and I will never, ever let you down.

America will start winning again, winning like never before.

We will bring back our jobs. We will bring back our borders. We will bring back our wealth. And we will bring back our dreams.

We will build new roads, and highways, and bridges, and airports, and tunnels, and railways all across our wonderful nation.

We will get our people off of welfare and back to work – rebuilding our country with American hands and American labor.

We will follow two simple rules: Buy American and Hire American.

We will seek friendship and goodwill with the nations of the world – but we do so with the understanding that it is the right of all nations to put their own interests first.

We do not seek to impose our way of life on anyone, but rather to let it shine as an example for everyone to follow.

We will reinforce old alliances and form new ones – and unite the civilized world against Radical Islamic Terrorism, which we will eradicate completely from the face of the Earth.

At the bedrock of our politics will be a total allegiance to the United States of America, and through our loyalty to our country, we will rediscover our loyalty to each other.

When you open your heart to patriotism, there is no room for prejudice.

The Bible tells us, “how good and pleasant it is when God’s people live together in unity.”

We must speak our minds openly, debate our disagreements honestly, but always pursue solidarity.

When America is united, America is totally unstoppable.

There should be no fear – we are protected, and we will always be protected.

We will be protected by the great men and women of our military and law enforcement and, most importantly, we are protected by God.

Finally, we must think big and dream even bigger.

In America, we understand that a nation is only living as long as it is striving.

We will no longer accept politicians who are all talk and no action – constantly complaining but never doing anything about it.

The time for empty talk is over.

Now arrives the hour of action.

Do not let anyone tell you it cannot be done. No challenge can match the heart and fight and spirit of America.

We will not fail. Our country will thrive and prosper again.

We stand at the birth of a new millennium, ready to unlock the mysteries of space, to free the Earth from the miseries of disease, and to harness the energies, industries and technologies of tomorrow.

A new national pride will stir our souls, lift our sights, and heal our divisions.

It is time to remember that old wisdom our soldiers will never forget: that whether we are black or brown or white, we all bleed the same red blood of patriots, we all enjoy the same glorious freedoms, and we all salute the same great American Flag.

And whether a child is born in the urban sprawl of Detroit or the windswept plains of Nebraska, they look up at the same night sky, they fill their heart with the same dreams, and they are infused with the breath of life by the same almighty Creator.

So to all Americans, in every city near and far, small and large, from mountain to mountain, and from ocean to ocean, hear these words:

You will never be ignored again.

Your voice, your hopes, and your dreams, will define our American destiny. And your courage and goodness and love will forever guide us along the way.

Together, We Will Make America Strong Again.

We Will Make America Wealthy Again.

We Will Make America Proud Again.

We Will Make America Safe Again.

And, Yes, Together, We Will Make America Great Again. Thank you, God Bless You, And God Bless America."

quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

A íntegra do último discurso de Obama

Barack Obama, fez nesta terça-feira (10/01/2017) seu discurso de despedida da Presidência dos Estados Unidos (*).

O pronunciamento ocorreu em Chicago, cidade onde o democrata iniciou sua carreira política. O mandatário fará em 20 de janeiro a transição para o seu sucessor, Donald Trump.



"É bom estar em casa. Meus concidadãos americanos, Michelle e eu estamos comovidos com todos os bons votos que recebemos nas últimas semanas. Mas hoje é minha vez de dizer obrigado. Quer tenhamos coincidido em nossas posições ou raramente tenhamos concordado, minhas conversas com vocês, povo americano em salas de estar e escolas - em fazendas e fábricas; em restaurantes populares ou em postos avançados distantes - são o que me mantiveram honesto, me mantiveram inspirado e me deram força para seguir adiante. Aprendi com vocês todos os dias. Vocês me fizeram um presidente melhor e vocês me fizeram um homem melhor.

Vim para Chicago originalmente quando tinha 20 e poucos anos, ainda tentando decifrar quem eu era, ainda à procura de um objetivo na vida. Foi em bairros não muito distantes daqui que comecei a trabalhar com grupos de igreja à sombra de siderúrgicas fechadas. Foi nestas ruas que testemunhei o poder da fé e a dignidade discreta de pessoas trabalhadoras confrontadas com dificuldades e perdas. Foi aqui que aprendi que a transformação só acontece quando pessoas comuns se envolvem, se engajam e se unem para reivindicá-la.

Após oito anos como seu presidente, ainda acredito nisso. E não sou apenas eu quem acredita. Esse é o coração latejante de nossa ideia americana - nosso experimento ousado com o autogoverno.

É a convicção de que todos fomos criados iguais, dotados por nosso Criador de certos direitos inalienáveis, entre os quais estão a vida, a liberdade e a busca da felicidade.

É a insistência em que esses direitos, embora sejam manifestos, nunca foram autoexecutados; que nós, o povo, por meio do instrumento de nossa democracia, podemos formar uma união mais perfeita.

Essa é a grande dádiva que nossos fundadores nos legaram. A liberdade de correr atrás de nossos sonhos individuais, com nossa suor, trabalho e imaginação - e o imperativo de lutarmos juntos, também, para alcançar um bem maior.

Há 240 anos o chamado de nossa nação à cidadania confere trabalho e objetivos a cada nova geração. Foi esse chamado que levou patriotas a escolher a república e não a tirania, que levou os pioneiros a abrir caminho rumo ao oeste do país, que inspirou escravos a aventurar-se naquele caminho arriscado rumo à liberdade. Foi o que atraiu imigrantes e refugiados a cruzar oceanos e o rio Grande, que impeliu mulheres a buscar o direito de votar, que inspirou trabalhadores a se organizar. Foi por isso que soldados americanos sacrificaram suas vidas na praia de Omaha e em Iwo Jima, no Iraque e no Afeganistão; foi por isso que homens e mulheres de Selma a Stonewall se dispuseram de sacrificar as suas, também.

Então é isso o que queremos dizer quando falamos que a América é excepcional. Não que nosso país tenha sido perfeito desde o começo, mas que demonstramos a capacidade de mudar e de melhorar a vida daqueles que vêm depois.

Sim, nosso progresso tem sido desigual. O trabalho da democracia sempre foi árduo, contencioso e por vezes sangrento. Para cada dois passos à frente, muitas vezes temos a impressão de termos recuado um. Mas o longo avanço da América vem sendo definido pelo movimento para frente, por uma constante ampliação de nosso credo fundador, de modo a abraçar todos, e não apenas alguns.

Se eu tivesse lhes dito oito anos atrás que a América reverteria uma grande recessão, revigoraria nossa indústria automotiva e daria início à fase mais longa de geração de empregos de nossa história... se eu tivesse dito que abriríamos um capítulo novo com o povo cubano, que fecharíamos o programa iraniano de armas nucleares sem disparar um único tiro e que eliminaríamos o arquiteto do 11 de setembro... se eu tivesse dito que conquistaríamos o casamento entre pessoas do mesmo sexo e que garantiríamos a outros 20 milhões de nossos concidadãos o direito a um plano de saúde - vocês talvez tivessem dito que estávamos querendo demais.

Mas foi o que fizemos. Foi o que vocês fizeram. Vocês foram a transformação. Vocês responderam às esperanças das pessoas, e por causa de vocês, segundo praticamente qualquer critério, a América é um lugar melhor e mais forte hoje do que era quando começamos.

Dentro de dez dias o mundo vai assistir a um ato que caracteriza nossa democracia: a transferência pacífica de poder de um presidente livremente eleito a outro. Prometi ao presidente eleito Trump que minha administração asseguraria a transição mais tranquila possível, como o presidente Bush fez comigo. Porque cabe a todos nós assegurar que nosso governo possa nos ajudar a fazer frente aos muitos desafios que ainda enfrentamos.

Dispomos do que precisamos para isso. Afinal, ainda somos o país mais rico, mais poderoso e mais respeitado da Terra. Nossa juventude e garra, nossa diversidade e abertura, nossa capacidade ilimitada de risco e reinvenção significam que o futuro deve nos pertencer.

Mas esse potencial só será realizado se nossa democracia funcionar. Será realizado apenas se nossa política refletir a decência de nosso povo. Apenas se todos nós, independentemente de nossa filiação partidária ou de nossos interesses particulares, ajudarmos a restaurar o senso de objetivos comuns que nos é tão seriamente necessário agora.

É disso que quero tratar hoje: o estado de nossa democracia.

Entendam que a democracia não requer uniformidade. Nossos fundadores brigaram, fizeram concessões e esperaram que fizéssemos o mesmo. Mas eles sabiam que a democracia requer, sim, um senso básico de solidariedade - a ideia de que, não obstante todas nossas diferenças externas, estamos nesta juntos; que nos elevamos ou tombamos com um só.

Houve momentos ao longo de nossa história que ameaçaram romper essa solidariedade. O início deste século tem sido um desses momentos. Um mundo cada vez menor, a desigualdade crescente; as mudanças demográficas e o espectro do terrorismo - essas forças puseram à prova não apenas nossa segurança e prosperidade, mas também nossa democracia. E o modo como enfrentamos esses desafios à nossa democracia vai determinar nossa capacidade de educar nossos filhos, gerar bons empregos e proteger nossa pátria.

Em outras palavras, vai determinar nosso futuro.

Nossa democracia não vai funcionar sem a ideia de que todos têm oportunidades econômicas. Hoje a economia está crescendo novamente; os salários, as rendas, o valor dos imóveis e as aposentadorias estão voltando a subir, e a pobreza voltou a diminuir. Os ricos estão pagando uma parcela mais justa de impostos, ao mesmo tempo em que o mercado acionário quebra recordes. O índice de desemprego se aproxima do nível mais baixo em dez anos. O índice de pessoas sem seguro nunca foi mais baixo. Os custos da saúde estão subindo no ritmo mais lento em 50 anos. E, se alguém puder montar um plano que seja comprovadamente melhor que as melhorias que promovemos ao nosso sistema de saúde - que cubra o mesmo número de pessoas a um custo mais baixo - eu darei apoio público.

É por isso, afinal, que servimos a nosso país - para fazer a vida da população ser melhor, não pior.

Mas, apesar de todos os avanços reais que conquistamos, sabemos que não são o suficiente. Nossa economia não funciona tão bem nem cresce tanto quando poucos prosperam às expensas de uma classe média crescente. A desigualdade gritante também corrói nossos princípios democráticos. Enquanto os 10% mais ricos acumularam uma parcela maior da riqueza e receita, muitas famílias demais, nos centros pobres das grandes cidades e nos condados rurais, ficaram para trás: operários de fábricas demitidos, garçonetes e profissionais de saúde que têm dificuldade em pagar suas contas, convencidos de que a situação é armada para ser desfavorável a eles, que seu governo defende apenas os interesses dos poderosos. É uma receita de mais cinismo e polarização de nossa política.

Não existem soluções fáceis para esta tendência de longo prazo. Concordo que nosso comércio deve ser justo, e não apenas livre. Mas a próxima onda de deslocamento econômico não virá do exterior. Virá como consequência do avanço implacável da automação, que torna obsoletos muitos empregos bons da classe média.

Por isso precisamos forjar um novo pacto social - para garantir a todos nossos filhos a educação que necessitam; para conferir aos trabalhadores o poder de se sindicalizarem em busca de salários melhores; para modernizar a rede de segurança social de modo a refletir o modo como vivemos hoje e empreender mais reformas tributárias, para que as empresas e os indivíduos que lucram mais com a nova economia não evitem cumprir suas obrigações ao país que possibilitou seu sucesso. Podemos discutir sobre as melhores maneiras de alcançar esses objetivos. Mas não podemos transigir em relação aos próprios objetivos. Pois, se não gerarmos oportunidades para todas as pessoas, os desafetos e divisões que paralisaram nosso progresso vão apenas se intensificar nos próximos anos.

Existe uma segunda ameaça à nossa democracia - uma ameaça que é tão velha quanto nosso próprio país. Após minha eleição, falou-se em uma América pós-racial. Por bem-intencionada que fosse, essa visão nunca foi realista. A raça continua a ser uma força poderosa e frequente de divisão em nossa sociedade. Já vivi o suficiente para saber que as relações raciais estão melhores hoje do que eram dez, 20 ou 30 anos atrás - vocês podem ver isso não apenas nas estatísticas, mas nas atitudes de jovens americanos de todo o espectro político.

Mas não chegamos onde precisamos chegar. Todos nós temos mais trabalho a fazer. Afinal, se todo problema econômico é apresentado como uma luta entre uma classe média branca que trabalha arduamente e minorias que não são merecedoras, então trabalhadores de todas as cores serão relegados a disputar as sobras, enquanto os ricos se retiram ainda mais dentro de seus enclaves privados. Se nos negarmos a investir nos filhos de imigrantes, apenas porque eles não se parecem conosco, prejudicaremos as perspectivas futuras de nossos próprios filhos - porque essas crianças morenas vão representar uma parcela maior da força de trabalho da América. E nossa economia não precisa ser um jogo de soma-zero (em que alguns ganham tudo e outros ficam com nada. NT). No ano passado houve um aumento de renda para todas as raças, todas as faixas etárias, para homens e mulheres.

Daqui em diante, precisamos respeitar e implementar as leis contra a discriminação - nas contratações, no setor habitacional, na educação e no sistema de justiça criminal. É o que exigem nossa Constituição e nossos ideais mais elevados. Mas as leis não serão o bastante, por si sós. É preciso que os corações mudem. Para que nossa democracia funcione neste país cada vez mais diversificado, é preciso que cada um de nós dê ouvidos ao conselho de um dos grandes personagens da ficção americana, Atticus Finch, que disse: "Você nunca compreende uma pessoa realmente enquanto não considera as coisas desde seu ponto de vista... enquanto não entra em sua pele e caminha nela".

Para os negros e outras minorias, isso significa vincular nossas próprias lutas por justiça aos desafios que muitas pessoas neste país enfrentam: o refugiado, o imigrante, o pobre rural, o americano transgênero e também o homem branco e de meia idade que, visto de fora, pode parecer que desfruta de todas as vantagens, mas que tem visto seu mundo virado do avesso pelas transformações econômicas, culturais e tecnológicas.

Para os americanos brancos, isso significa reconhecer que os efeitos da escravidão e das leis Jim Crow não desapareceram de repente na década de 1960; que, quando grupos minoritários manifestam insatisfação, não estão apenas fazendo racismo ao inverso ou praticando correção política; que, quando promovem protestos pacíficos, não estão reivindicando tratamento especial, mas o tratamento igual prometido pelos fundadores de nossa nação.

Para os americanos natos, isso significa recordar que os estereótipos manifestados hoje sobre imigrantes foram expressos, em termos quase idênticos, em relação aos imigrantes irlandeses, italianos e poloneses. A América não foi enfraquecida pela presença desses imigrantes; eles abraçaram o credo deste país, e o país saiu fortalecido.

Assim, independentemente da posição que ocupamos, precisamos nos esforçar mais; para partir da premissa de que cada um de nossos concidadãos ama este país tanto quanto nós o amamos; que eles valorizam o trabalho e a família como nós; que seus filhos são tão curiosos, cheios de esperança e dignos de amor quanto são os nossos.

Nada disto é fácil. Para muitos de nós, tornou-se mais seguro recuar para dentro de nossas próprias bolhas, quer sejam nossos bairros, nossas universidades, nossos lugares de oração ou nossos feeds de mídias sociais, cercados por pessoas de aparência semelhante à nossa, que compartilham nossa visão política e nunca contestam nossas premissas. A polarização crescente de opiniões, a crescente estratificação econômica e regional, a fragmentação de nossa mídia em canais para todos os gostos - tudo isso faz com que esse grande processo de divisão em categorias distintas pareça natural, até inevitável. E, cada vez mais, nos sentimos tão seguros envoltos em nossas bolhas que só aceitamos informações, verídicas ou não, que se enquadram com nossas opiniões, em vez de basear nossas opiniões nas evidências existentes.

Esta tendência representa uma terceira ameaça à nossa democracia. A política é uma batalha de ideias; ao longo de um debate sadio, priorizamos metas diferentes e meios distintos de alcançar essas metas. Mas, sem alguma base comum de fatos, sem a disposição de aceitar novas informações e reconhecer que nosso adversário está apresentando um argumento justo e que a ciência e a razão têm importância, vamos continuar a falar sem ouvir ou ser ouvidos por nossos interlocutores, impossibilitando qualquer consenso.

Isso não faz parte daquilo que torna a política tão desanimadora? Como podem os políticos ficar falando em déficits quando propomos que se gaste dinheiro com pré-escola para nossas crianças, mas não quando reduzimos os impostos pagos pelas grandes empresas? Como podemos desculpar os lapsos éticos cometidos em nosso próprio partido, mas criticar arduamente o outro partido quando ele faz o mesmo? Essa classificação desonesta de fatos não é apenas desonesta - ela acaba derrotando sua própria finalidade. Porque, como me dizia minha mãe, a realidade costuma nos cobrar a conta.

Tomemos o desafio das mudanças climáticas. Em apenas oito anos, reduzimos nossa dependência do petróleo estrangeiro pela metade, dobramos nossa energia renovável e levamos o mundo a um acordo que encerra a promessa de salvar este planeta. Mas, sem ação mais ousada, nossos filhos não terão tempo para discutir a existência das mudanças climáticas: estarão ocupados enfrentando seus efeitos - desastres ambientais, turbulências econômicas e ondas de refugiados climáticos buscando abrigo em outros países.

Podemos e devemos discutir sobre a melhor maneira de abordar o problema. Mas simplesmente negar o problema significa não apenas trair as gerações futuras: é trair o espírito essencial de inovação e resolução prática de problemas que guiou os fundadores de nosso país.

Foi esse espírito, nascido do iluminismo, que nos converteu em grande potência econômica; foi esse espírito que decolou do Kitty Hawk e de Cabo Canaveral; é esse o espírito que cura doenças e coloca um computador em cada bolso.

É esse espírito - a crença na razão, no empreendedorismo e na primazia do direito, não da força, que nos permitiu resistir à atração do fascismo e da tirania durante a Grande Depressão e a construir uma ordem pós-Segunda Guerra Mundial com outras democracias, uma ordem baseada não apenas no poderio militar e em filiações nacionais, mas em princípios - o estado de direito, os direitos humanos, as liberdades de religião, de expressão, de reunião e de imprensa.

Essa ordem está sendo desafiada hoje - primeiramente por fanáticos violentos que alegam falar em nome do islã; mais recentemente, por autocratas em capitais estrangeiras que enxergam o mercado livre, as democracias abertas e a própria sociedade civil como ameaça ao seu poder. O perigo que cada um representa à nossa democracia tem alcance maior que um carro-bomba ou um míssil. Ele representa o medo das mudanças; o medo das pessoas de aparência diferente à nossa, que falam ou oram de modo diferente; o desprezo pelo estado de direito, que obriga os líderes a prestar conta de seus atos; a intolerância da dissensão e do livre pensamento; a crença de que a espada, a arma de fogo, a bomba ou a máquina de propaganda política são os árbitros finais do que é certo ou errado.

Graças à coragem extraordinária de nossos homens e mulheres nas Forças Armadas e aos agentes de inteligência, policiais e diplomatas que os apoiam, nenhuma organização terrorista estrangeira planejou e executou com sucesso um ataque em nosso país nos últimos oito anos; e, embora Boston e Orlando nos recordem de quão perigosa pode ser a radicalização, nossas agências policiais estão mais vigilantes e são mais eficazes que nunca. Eliminamos milhares de terroristas, incluindo Osama bin Laden. A coalizão global que lideramos contra o Estado Islâmico eliminou seus líderes e arrancou metade de seu território. O EI será destruído, e ninguém que ameaça a América estará em segurança, jamais. A todos os membros das Forças Armadas, ser seu comandante em chefe tem sido a grande honra de minha vida.

Mas proteger nosso modo de vida requer mais que nossos militares. A democracia pode sucumbir quando cedemos ao medo. Assim, do mesmo modo que nós, cidadãos, precisamos nos manter vigilantes contra a agressão externa, precisamos nos precaver contra o enfraquecimento dos valores que nos tornam quem somos. Foi por isso que trabalhei nos últimos oito anos para colocar a luta contra o terrorismo em posição legal mais firme. Foi por isso que acabamos com a tortura, trabalhamos para fechar Guantánamo e reformar nossas leis de vigilância, de modo a proteger a privacidade e as liberdades civis. É por isso que rejeito a discriminação contra americanos muçulmanos. É por isso que não podemos deixar de participar de lutas globais - para ampliar a democracia, os direitos humanos, os direitos das mulheres e os direitos LGBT - por mais que nossos esforços sejam imperfeitos, por mais que possa parecer conveniente ignorar esses valores. Pois a luta contra o extremismo, a intolerância e o sectarismo faz parte da luta contra o autoritarismo e a agressão nacionalista. Se o alcance da liberdade e do respeito pelas leis encolher em todo o mundo, aumentará a probabilidade de guerras dentro e entre países, e nossas próprias liberdades acabarão ameaçadas.

Portanto, sejamos vigilantes, mas não tenhamos medo. O EI vai tentar matar inocentes. Mas não poderá derrotar a América, a não ser que traiamos nossa Constituição e nossos princípios na luta contra ele. Rivais como Rússia e China não poderão equiparar-se à nossa influência em todo o mundo - a não ser que abrirmos mão daquilo que representamos e nos convertermos em apenas mais um país grande que oprime seus vizinhos menores.


E isso me conduz à questão final que quero abordar: nossa democracia é ameaçada sempre que nós a damos como garantida. Todos nós, independentemente de nossa filiação partidária, devemos nos engajar na tarefa de reconstrução de nossas instituições democráticas. Quando nossos índices de participação eleitoral estão entre os mais baixos entre as democracias avançadas, precisamos facilitar o voto, e não dificultá-lo. Quando a confiança em nossas instituições está baixa, devemos reduzir a influência corrosiva do dinheiro em nossa política e fazer questão que os princípios de transparência e ética sejam respeitados por nossos políticos. Quando o Congresso está disfuncional, precisamos levar nossos distritos a incentivar os políticos a agirem pautados pelo bom senso, e não por posições extremas e rígidas.

E tudo isso depende de nossa participação; depende de cada um de nós aceitar a responsabilidade da cidadania, independentemente do rumo seguido pelo pêndulo do poder.

Nossa Constituição é uma dádiva notável e bela. Mas, na realidade, é apenas um pergaminho. Ela não possui poder, por si própria. Somos nós, o povo, que lhe damos poder - com nossa participação e com as escolhas que fazemos. Se nos posicionamos ou não em defesa de nossas liberdades. Se respeitamos e aplicamos as leis, ou não. A América não é algo frágil. Mas as conquistas de nossa longa jornada rumo à liberdade não são garantidas.

Em seu próprio discurso de despedida, George Washington escreveu que o autogoverno é a base de nossa segurança, prosperidade e liberdade, mas que "muitos esforços serão feitos, a partir de causas e de origens diferentes, para enfraquecer a convicção desta verdade em vossas mentes"; que devemos preservar essa convicção "com ansiedade zelosa"; que devemos rejeitar "a primeira aurora de cada tentativa de alienar qualquer parcela de nosso país do restante dele ou de enfraquecer os laços sagrados" que nos unem.

Enfraquecemos esses laços quando deixamos nosso diálogo político ficar tão corrosivo que pessoas de bom caráter são desencorajadas de atuar na política; tão grosseiro e rancoroso que enxergamos americanos com os quais discordamos como não apenas estando enganados, mas sendo malévolos, de alguma maneira. Enfraquecemos esses laços quando definimos alguns de nós como sendo mais americanos que outros; quando tachamos o sistema por inteiro como sendo inevitavelmente corrupto e atribuímos a culpa por isso aos líderes que elegemos, sem analisar nosso próprio papel em sua eleição.

Cabe a cada um de nós ser um daqueles guardiões ansiosos e zelosos de nossa democracia e abraçar a tarefa compensadora que nos foi dada de procurar continuamente melhorar esta nossa grande nação. Porque, não obstante todas nossas diferenças externas, todos compartilhamos o mesmo título que é motivo de orgulho: cidadão.

Em última análise, é isso o que nossa democracia exige. Ela precisa de você. Não apenas quando há uma eleição, não apenas quando seus próprios interesses limitados estão em jogo, mas ao longo de toda sua vida. Se você está cansado de argumentar com desconhecidos na internet, experimente conversar com um desconhecido na vida real. Se alguma coisa precisa ser consertada, arregace as mangas e organize pessoas para consertá-la. Se você está decepcionado com os políticos que elegeu, agarre uma prancheta, colete algumas assinaturas e candidate-se a um cargo na política, você mesmo. Compareça. Mergulhe fundo. Persevere. Às vezes você vencerá. Às vezes perderá. Supor que há uma reserva enorme de bondade nos outros pode ser um risco, e haverá momentos em que o processo o decepcionará. Mas, para aqueles de nós que tivemos a sorte de fazer parte desse trabalho, de vê-lo de perto, ele pode energizar e inspirar as pessoas, garanto a vocês. E, na maioria das vezes, sua fé na América e nos americanos será confirmada.

A minha o foi, sem dúvida alguma. Nos últimos oito anos pude ver os rostos esperançosos de jovens recém-formados e de nossos oficiais militares mais recentes. Chorei com famílias enlutadas, em busca de respostas, e encontrei a graça divina numa igreja de Charleston. Vi nossos cientistas ajudarem um paralítico a recobrar o senso de tato e vi nossos guerreiros feridos voltarem a andar. Vi nossos médicos e voluntários reconstruir após terremotos e impedir o avanço de pandemias. Vi as crianças menores nos fazerem lembrar de nossas obrigações de cuidar de refugiados, de trabalhar em paz e, sobretudo, de velar pelo bem uns dos outros.

A fé que depositei todos aqueles anos atrás, não longe daqui, no poder dos americanos comuns de efetuarem mudanças - essa fé foi recompensada de maneiras que eu jamais poderia ter imaginado. Espero que a sua também tenha sido. Alguns de vocês que estão aqui hoje ou que estão assistindo em casa estiveram conosco em 2004, em 2008, em 2012 - e talvez vocês ainda mal acreditem que conseguimos realizar tudo isto.


Vocês não são os únicos. Michelle - há 25 anos você é não apenas minha mulher e a mãe de minhas filhas, mas também minha melhor amiga. Você assumiu um papel que não tinha pedido e o fez seu, com graça, garra, estilo e bom humor. Você fez da Casa Branca um lugar que pertence a todos. E uma nova geração passou a ter aspirações maiores por ter você como exemplo a seguir. Você me deixou orgulhoso. Deixou o país orgulhoso.

Malia e Sasha, sob as circunstâncias mais estranhas possíveis vocês se tornaram duas jovens surpreendentes, inteligentes e lindas, mas, o que é mais importante, gentis, profundas e cheias de paixão. Vocês conviveram tão facilmente com o peso dos anos passados sob os holofotes. De tudo o que eu já fiz em minha vida, o que me dá maior orgulho é ser seu pai.


A Joe Biden, o garoto briguento de Scranton que se tornou o filho favorito de Delaware: você foi o primeiro nome que escolhi para minha equipe e foi minha melhor escolha. Não apenas porque você foi um vice-presidente fantástico, mas porque, com isso, acabei ganhando um irmão. Amamos você e Jill como se fossem de nossa família, e a amizade com vocês tem sido uma das grandes alegrias de nossa vida.

A meus assessores excepcionais: por oito anos - e, no caso de alguns de vocês, há muito mais tempo que isso - venho me fortalecendo com sua energia e procurando refletir de volta aquilo que vocês demonstraram diariamente: coração, caráter e idealismo. Vi vocês crescerem, se casarem, ter filhos e iniciar jornadas próprias, novas e incríveis. Mesmo quando as coisas ficaram árduas e frustrantes, vocês nunca deixaram que Washington os dominasse. A única coisa que me dá orgulho maior que tudo o que realizamos é pensar em todas as coisas notáveis que vocês vão realizar daqui em diante.

E a todos vocês aí fora - a cada organizador que se mudou para uma cidade desconhecida, a cada família gentil que o acolheu, a cada voluntário que já foi de porta em porta, a cada jovem que foi votar pela primeira vez, a cada americano que viveu e respirou o trabalho árduo de conquistar mudanças - vocês são os melhores partidários e organizadores que seria possível desejar, e serei eternamente grato. Porque, sim, vocês mudaram o mundo.

É por isso que deixo este palco esta noite ainda mais otimista em relação a este país do que estava quando começamos. Porque sei que nosso trabalho não apenas ajudou tantos americanos; ele inspirou tantos americanos - especialmente tantos jovens aí fora - a acreditar que vocês podem fazer uma diferença; a atrelar suas esperanças a algo maior que vocês mesmos. Esta geração que está chegando - uma geração altruísta, criativa, patriótica - eu vi vocês em todos os cantos do país. Vocês acreditam em uma América justa e inclusive; sabem que as transformações constantes têm sido a marca registrada da América, algo não a ser temido, mas abraçado, e vocês estão dispostos a levar adiante este trabalho árduo da democracia. Dentro em breve vocês vão nos superar em número, e acredito que, graças a isso, o futuro estará em boas mãos.

Meus concidadãos americanos, servir a vocês tem sido a maior honra de minha vida. Não vou deixar de fazê-lo; na verdade, estarei à sua disposição, como cidadão, por todos os dias de vida que me restarem. Por enquanto, quer você seja jovem ou jovem de coração, tenho um último pedido a lhe fazer como seu presidente - a mesma coisa que lhe pedi quando você apostou em mim, oito anos atrás.

Estou pedindo que você acredite. Não em minha capacidade de trazer mudanças, mas na de vocês.

Estou pedindo que vocês se aferrem à fé inscrita em nossos documentos fundadores; aquela ideia sussurrada por escravos e abolicionistas; o espírito cantado por imigrantes, lavradores e aqueles que marcharam pela justiça; o credo reafirmado por aqueles que plantaram bandeiras em lugares desde campos de batalha no exterior até a superfície da Lua; um credo que está ao cerne de todo americano cuja história ainda não foi escrita:

Sim, nós podemos.

Sim, nós fizemos.

Sim, nós podemos.

Obrigado. Deus os abençoe. E que Deus continue a abençoar os Estados Unidos da América."


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(*) A tradução foi colhida de matéria digital da Folha de S.Paulo, edição de 11/01/2017. Íntegra, em português, do discurso do Obama.

Outra versão integral do discurso de Obama, publicado no Estadão: http://internacional.estadao.com.br/blogs/eua-2016/leia-integra-do-discurso-de-despedida-de-barack-obama/

terça-feira, 10 de janeiro de 2017

Não nos deixemos enganar!

Algumas análises, diante do morticínio que ocorre nas prisões, da gravidade destes fatos e da comoção que têm causado, argumentam que essa questão é mais importante do que o combate ao crime de colarinho branco. Na verdade, são duas faces de uma mesma moeda e estão relacionadas!


Alguns chegam mesmo a defender que o combate ao crime de colarinho branco já está bem equacionado. Isto, em primeiro lugar, não corresponde aos fatos; em segundo lugar, pode ser uma esperta tentativa de tirar o foco do que é essencial.

Óbvio que as organizações criminosas precisam ser enfrentadas com toda a competência e energia do aparelho judiciário, nos marcos do Estado Democrático de Direito, mas não podemos nos deixar enganar, nem desconhecer:

(1) que, historicamente, os criminosos de colarinho branco não são condenados, não habitam as prisões e normalmente ficam impunes;

(2) que os traficantes são condenados e presos, e são os que estão se matando nas prisões;

(3) que as iniciativas dos que na justiça querem aperfeiçoar a punição dos criminosos de colarinho branco enfrentam a resistência de uma ampla e poderosa "santa aliança", suprapartidária e supra-ideológica dos que temem a Lava-Jato;

(4) que mesmo dentro do próprio sistema judiciário existem resistências contra o fim da impunidade dos crimes de colarinho branco;

(5) que existem pressões poderosas envolvendo os maiores próceres da república para que haja um acordo "por cima" para interromper as consequências judiciais do que foi apurado até aqui pela Lava-Jato;

Não haverá nem poderá haver combate eficaz às organizações criminosas do "andar de baixo" da sociedade brasileira se ela mesma não conseguir acabar com a própria impunidade dos crimes de colarinho branco, pois estes são a fonte principal da desesperança, da descrença nas instituições, da desorganização financeira do Estado e da ineficácia de sua ação. Sobretudo, ele é a fonte da desmoralização da política, da polícia e do próprio sistema judiciário.

Estamos todos consternados com a barbárie concentrada, a vivo e a cores, do que temos visto nestes dias; mas a sua raiz reside em que, embora os dois tipos de crimes sejam diferentes, o mais perigoso é exatamente o que não decapita nem mata diretamente, pois o crime de colarinho branco é o que mais mata, embora indiretamente, o maior número de brasileiros. O perigo verdadeiro e as ameaças residem fora das prisões, e há muito tempo elas estão nos tirando o emprego, sucateando o atendimento público de saúde, liquidando com a educação pública de qualidade para nossas crianças, e nos aprisionando em nossas próprias casas!

Se a situação do sistema prisional precisa ser enfrentada com ações emergenciais, até para que cesse a matança, ele não se resolverá enquanto a sociedade, todos nós, ficarmos tratando os criminosos de colarinho branco como "bandidos bons", e os criminosos pobres, pretos e prostitutas (os PPP's), os que são recrutados para serem soldados do tráfico, como "bandidos maus", que podem ser empilhados e armazenados nesses presídios, sem dignidade, para sobreviverem, se tiverem sorte!

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Sobre este tema, opinião convergente do ex-ministro do STF Ayres Britto: