segunda-feira, 10 de outubro de 2022

Pela democracia, a volta do Lula do 1º mandato; claro, sem “mensalão”

A emergência do Brasil profundo:
“Em resumo, a direita civilizada acha que Bolsonaro pode até tentar, mas não conseguirá dar o golpe. O centro e o centro-esquerda esperam a volta do Lula do primeiro mandato”.
A realidade é apenas uma, e existe apenas uma medida perfeita do pensamento do eleitor: o voto apurado nas urnas, que conta, um por um, o voto de toda a população de eleitores. Essa medida perfeita foi feita no dia 2/10/22.

E, para isso, os brasileiros têm o privilégio de contar com o sistema de votação e apuração de votos mais avançado do mundo! E, além disso, esse sistema é confiável e auditável.

As pesquisas eleitorais idôneas são formas de medir, por amostragem, essa realidade sem precisar contar o voto de toda a população. Elas são necessárias, e são infinitamente mais rápidas, baratas e usadas em toda a ciência.

Mas se pesquisas idôneas necessárias divergem tanto do pensamento do eleitor, existem problemas metodológicos a serem corrigidos.

Por isso, se a pesquisa IPEC, divulgada dia 5/10/22,  depois de 3 dias da eleição do 1º turno difere tanto do que parece provável, no mínimo, se somos responsáveis, temos que clamar: - “Por favor, parem!”. Pois não queremos ser enganados por pesquisas erradas, mesmo que tenham sido feitas de boa fé!

E, pior, pesquisas metodologicamente erradas podem comprometer a credibilidade de todas as pesquisas misturando pesquisas idôneas com as intencionalmente falseavas.

O artigo abaixo de Carlos Alberto Sardenberg trata com imensa acuidade, equilíbrio e felicidade os erros cometidos pelas pesquisas às vésperas da eleição do 1º turno. E nos mostra a realidade de um eleitor conservador ou de direita. Mas, embora isto não seja ainda bem compreendido, nos mostra que estão errados os que concluam que ele não tenha compromisso com a democracia; e mais errados, ainda, se o identificarem com o reacionário Bolsonaro, este sim, de extrema de direita, que tem como sonho dourado governar como ditador.

Carlos Alberto Sardenberg (*)

Voto em Bolsonaro ou Lula não é necessariamente de radicais

(Movimento da direita é muito maior do que o presidente extremista. E ex-presidente é maior do que o petismo)

O Globo 08/10/2022 00h10


Em termos técnicos, pode-se dizer que todos os institutos de pesquisa estão certos, cada um a sua maneira. Quer dizer, conforme os métodos e critérios que utilizam. Mas, se todos estão corretos ao mesmo tempo e mostram resultados diferentes, pode-se dizer também que todos estão errados.

Não é por aí que se vai entender o que se passa no país. E o que se passa? Há um momento ou, se quiserem, uma onda de direita, conservadora, pró-capitalista, muito maior que o bolsonarismo raiz, este sendo a extrema direita.

No caso da eleição presidencial, os maiores institutos e a maior parte dos analistas enxergaram uma onda de voto útil pró-Lula, um forte sentimento para acabar com a coisa no primeiro turno.

Houve esse voto útil, mas não na escala antecipada. O movimento não saiu das elites partidárias e intelectuais.

E houve uma espécie de contravoto útil, em Bolsonaro. Isso não foi captado. O presidente teve um resultado melhor que o indicado nas pesquisas.

Pode-se resumir assim: o voto à esquerda foi superestimado. Inversamente, o voto à direita foi subestimado.

Não foi a primeira vez. Há um padrão aí. Nas duas eleições que venceu, Lula teve no primeiro turno menos votos do que indicavam as pesquisas. Idem para Dilma e para Haddad, este em 2018.

Neste ano, esse padrão foi claramente registrado nos estados, nas eleições para governador e senador. Em quase todos os lugares, a direita foi subestimada.

Considerem São Paulo. Tarcísio de Freitas, a direita, parecia disputar a segunda vaga com Rodrigo Garcia, Haddad liderando fácil. Nas urnas: Tarcísio com folgada liderança, Haddad decepcionado. E ninguém acreditava que o astronauta se elegeria, muito menos com tanta facilidade. Considerem o Rio Grande do Sul. O bolsonarista Onyx parecia disputar a segunda vaga. Pois chegou bem na frente. Eduardo Leite, suposto favorito, passou raspando para o segundo turno e está bem atrás. No Rio, Castro estava na frente, mas chegou com muito mais folga. Idem para Romeu Zema em Minas. O que aconteceu?

Uma resposta: é o antipetismo. Outra, paralela: pesaram muito dois tipos de voto, o evangélico e o de costumes, de conservadores contra a agenda progressista. Não pode ser só isso. No interior de estados como São Paulo, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, o voto evangélico não tem peso significativo. Podem ser conservadores, mas não radicais.

Em São Paulo, Tarcísio teve mais de 9 milhões de votos. Seria tudo antipetista? Tudo fascista? Tem de ser também a favor de alguma coisa. Basta olhar os temas fortes da campanha vencedora: obras, privatização, concessões, liberdade de empreender, garantias ao ambiente de negócios. Vale também, e muito especialmente, para Romeu Zema em Minas, desde já um importante quadro da direita. Ele teve mais votos que Bolsonaro no estado.

Bolsonaro teve 51 milhões de votos. De novo, não é possível que sejam todos extremistas reacionários. Bolsonaro ganhou no Sul, Sudeste e Centro-Oeste, regiões com uma característica em comum: são as mais desenvolvidas, pelo modelo capitalista. É o setor privado que comanda. Esse pessoal se incomoda com o intervencionismo estatal do PT.

Lula ganhou no Nordeste e no Norte, onde as populações e a economia são mais dependentes de ações dos governos.

Tudo considerado, esse movimento da direita é muito maior que o Bolsonaro extremista. Inversamente, como já se viu noutras eleições, Lula é maior que o petismo.

Não é por acaso que políticos em torno de Bolsonaro procuram “moderar” o presidente e afastar os bolsonaristas raiz, aquela turma de 2018.

Lula se move para o centro. Os votos dos pais do Real e de Simone Tebet vão nessa direção. Além disso, esses votos se baseiam na convicção de que Bolsonaro é ameaça à democracia — pelo que já fez e pelo que pode tentar, dado o peso conservador no novo Congresso.

Em resumo, a direita civilizada acha que Bolsonaro pode até tentar, mas não conseguirá dar o golpe. O centro e o centro-esquerda esperam a volta do Lula do primeiro mandato.

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