domingo, 7 de fevereiro de 2021

O ANTILAVAJATISMO: UMA NOVA FORÇA SOCIAL E POLÍTICA?

O “Antilavajatismo” tornou-se um fenômeno importante, há que reconhecê-lo. Ele explica, pelo menos em parte, a aliança que conquistou as presidências da Câmara e do Senado. Formaram maiorias que deram sobrevida ao capitão cloroquina.

Teremos tempo, até 2022, para reconstruir um campo democrático suficientemente forte para derrotá-lo?

Mas este fenômeno, do antilavajatismo, que tornou-se ideologia majoritária entre os parlamentares, não está apenas lá. Está, também, na sociedade, embora disseminado apenas de forma marginal dentre os intelectuais orgânicos próximos às denominações partidárias, mormente as que mais foram atingidas pela Lava-Jato. Tornou-se parte do discurso unificador de correntes que vão da esquerda à direita. Nós o encontramos, p.ex., no PT e, também, no DEM. E, obviamente, nos partidos do chamado “centrão”.


Os que incorporaram em seu vocabulário conceitual a luta política contra o “lavajatismo” são “antilavajatistas” por livre escolha; nada podemos fazer quanto a isso, pois são escolhas consciente e livremente assumidas.

Mas estão errados, pois estão articulando o discurso reacionário e conservador que protege a corrupção e os corruptos, realimenta a corrupção e estimula a campanha pela anulação das condenações da Lava-Jato. Pior, reforça a candidatura do capitão, que tornou-se no líder maior inconteste do antilavajatismo, para liquidar com a Lava-Jato!

A consequência mais trágica do movimento antilavajatista é deixar de reconhecer o caráter democrático, civilizacional e progressista do combate à corrupção e da luta para promover as reformas juridico-legais necessárias historicamente para aperfeiçoar o sistema político. Com isso, tentam jogar para debaixo do tapete a maior revelação da Lava-Jato: que, da lógica do nosso sistema político, a maioria dos mandatos parlamentares e a conquista e manutenção do poder político são sustentados pela corrupção e pelo assalto ao Estado.

Sim, pode ser difícil mudar isso, mas, em 2022, o candidato do campo democrático que queira, honestamente, ser eleito, e colocar-se no sentido das reformas historicamente necessárias para tirar o Brasil da crise, terá que ter posicionamento claro sobre esta questão estratégica.

E terá que fazer isto, pois, se o antilavajatismo converteu-se em ideologia unificadora dos poderosos, para não pagarem por seus crimes, ela não o é da sociedade, nem dos eleitores, que continuam compreendendo e apoiando o papel positivo e histórico representado pela Lava-Jato para combater a corrupção. Espero que o candidato do campo democrático que decida assumir a bandeira do combate à corrupção não precise fazê-lo sobre o cadáver ainda quente da Lava-Jato, ou do de Moro!

Carlos Alberto Torres

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