quarta-feira, 7 de dezembro de 2022

QUAL PROJETO DA DEMOCRACIA PREPONDERARÁ? O DA ESQUERDA, O DO CENTRO, OU O DA DIREITA?

A questão colocada na ilustração abaixo parece ser um problema apenas da direita.


Mas esta é uma questão de interesse de todos os democratas, sintam-se eles de esquerda, de centro ou de direita. 

É importante abrir esta discussão, pois tudo o que se pode dizer do resultado das eleições presidenciais é que a vitória de Lula foi a vitória do desejo majoritário dos brasileiros de viver em uma democracia.

Mas milhões de democratas não votaram em Lula. Simplesmente, votaram também em Bolsonaro, nulo ou branco; ou se abstiveram. Pode-se dizer que milhões desses eleitores sejam conservadores ou de direita; mas são democratas, porque não apoiam ditaduras e têm apreço por viver em um Estado Democrático de Direito.

Quem derrotou Bolsonaro não foi o lulopetismo; ele foi derrotado por si mesmo. Em síntese, as suas ações, posicionamentos, declarações e ameaças, denotando até mesmo a intenção de não aceitar um resultado desfavorável das urnas (*), sob a alegação prévia de que seriam fraudadas, levaram a que muitos democratas críticos ao próprio lulopetismo votassem em Lula.

Imagine, simplesmente, que ele tivesse colocado uma tarja preta na lapela demonstrando verdadeira empatia com a dor das famílias vitimadas pela COVID. Mas não, a par do seu descompromisso com a democracia, pelo seu negacionismo, reacionarismo e terror ao conhecimento, à ciência e à cultura conseguiu ser o primeiro presidente a não ser reeleito! 

Para arrematar, resolveu colocar-se contra o mundo e tornou-se o maior pária global da causa ambiental.

Conseguiu o feito de, ao final do seu mandato, nem sequer receber o apoio dos militares, ou do que proclamava ser “o seu Exército”, para o seu objetivo golpista de desrespeitar o resultado das urnas. E os militares foram firmes nisto, em que pese as manifestações extremistas nas portas dos quartéis e o fato de terem votado majoritariamente nele em 2018. 

Bolsonaro termina melancolicamente o seu mandato cuja marca foi a destruição das instituições do Estado. Por seu descompromisso com o Estado Democrático de Direito, os militares não puderam mais deixar de lembrar-se, embora respeitosamente, daquele tenente que no passado tiveram que expulsar do Exército.

Óbvio, somente fanáticos de extrema-direita ainda o apoiarão. Mas provavelmente ele não conseguirá sair do seu buraco e dificilmente superará a choradeira. Bolsonaro foi um acidente. Acabou, e a direita sabe disso.

Por que é importante tratar disso? Nesses próximos quatro anos passaremos a presenciar um debate político aceso que colocará em contraposição aos que se poderia denominar, respectivamente, de “democratas-radicais” e de “democratas-conservadores”. O importante é que este debate se dará no campo dos democratas, envolvendo todo o espectro de posições políticas, desde a esquerda, passando pelo centro até  a direita.

Na tipificação de democratas que faço acima, estão excluídas as correntes políticas de extrema-esquerda e de extrema-direita, que defendem ditaduras e não têm apreço pelo Estado Democrático de Direito (**).

Qual projeto preponderará? Difícil saber, mas já existe uma tendência: o bolsonarismo e o lulopetismo, já derrotados em 2022, embora de formas diferentes, não serão mais as referências políticas hegemônicas em 2026.

Um Brasil moderno anseia por nascer!

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segunda-feira, 28 de novembro de 2022

Os Falsos Inimigos

Acho que estamos caindo em uma armadilha ao estarmos alimentando esta disjuntiva entre Richarlison e Neymar.

O nosso encantamento com o belo gol do Richarlison e, depois, ao sabermos dos fatos positivos de sua atuação cidadã foram momentos que eu, pessoalmente, e penso, todos nós, curtimos bastante pelas melhores razões.


Mas temos que reconhecer que 99% de nós sequer o conhecíamos antes.

Em seguida, uma sociedade dividida politicamente como a nossa, que vive a patologia social do “nós contra eles”, está passando, irresponsavelmente, à demonização do Neymar e à igualmente errada mitificação do Richarlison.

Isto prejudicará a nossa seleção.

Além de essa ser uma disjuntiva artificial, estão levando a divisão política e o “nós contra eles” para dentro da seleção.

Ou paramos isso imediatamente ou estaremos criando o adversário mais poderoso para o Brasil nesta copa: a desarmonia interna e a exacerbação das vaidades.

Precisamos fazer um esforço coletivo, talvez difícil, sem lado bom ou mau, para SEPARARMOS, em nossas mentes, a Copa da disputa política polarizada, que nos dividiu e nos desuniu durante as eleições presidenciais.

Neste momento, a nossa única seleção de futebol nos une. Todos sabemos que os jogadores convocados são os nossos maiores valores. E Neymar está lá pelos seus méritos reconhecidos pelos que mais entendem de futebol.

É hora de estarmos unidos sob as mesmas cores. As eleições já passaram. E será com esta única seleção que disputaremos. E, óbvio, para tentar ganhar!

quinta-feira, 17 de novembro de 2022

O debate sobre como conduzir a economia na perspectiva da democracia

Está instaurado o debate sobre a economia brasileira.

Armínio Fraga, Pedro Malan e Edmar Bacha assinam, em conjunto, carta aberta a Lula em resposta às suas recentes declarações, mormente à que fez no Egito no dia 17/11/22. Sua íntegra está abaixo.

São homens sérios, e muito respeitados pelas contribuições que já prestaram ao Brasil.

Enfrentam as declarações mais recentes de Lula que parecem ver o “mercado” como um indivíduo a serviço de agentes inteligentes, que, consciente e maliciosamente, atuam contra a superação da desigualdade e da pobreza.

É um bom debate, mas não trata apenas de questões econômicas e sociais. Trata de questões políticas, que estão aparentemente invisíveis, pois, dependendo de como Lula desenhe a sua política econômica, verá aumentar (ou diminuir) o apoio político de que precisa para o sucesso do seu governo.


Veja a íntegra do texto com a resposta dos economistas:

O Globo, 17 de novembro de 2022 (*)

Caro presidente eleito Lula, 

Assistimos a sua fala nesta quinta (17) cedo na COP27, no Egito. Acredite que compartilhamos de suas preocupações sociais e civilizatórias, a sua razão de viver. Não dá para conviver com tanta pobreza, desigualdade e fome aqui no Brasil. 

O desafio é tomar providências que não criem problemas maiores do que os que queremos resolver. 

A alta do dólar e a queda da Bolsa não são produto da ação de um grupo de especuladores mal-intencionados. A responsabilidade fiscal não é um obstáculo ao nobre anseio de responsabilidade social, para já ou o quanto antes. 

O teto de gastos não tira dinheiro da educação, da saúde, da cultura, para pagar juros a banqueiros gananciosos. Não é uma conspiração para desmontar a área social. 

Vejamos por quê. 

Uma economia depende de crédito para funcionar. O maior tomador de crédito na maioria dos países é o governo. No Brasil o governo paga taxas de juros altíssimas. Por quê? Porque não é percebido como um bom devedor. Seja pela via de um eventual calote direto, seja através da inflação, como ocorreu recentemente. 

O mesmo receio que afeta as taxas de juros afeta também o dólar. Imagino que seja motivo de grande frustração ver isso tudo. Será que o seu histórico de disciplina fiscal basta? A verdade é que os discursos e nomeações recentes e a PEC (proposta de emenda à Constituição) ora em discussão sugerem que não basta. Desculpe-nos a franqueza. 

Como o senhor sabe, apoiamos a sua eleição e torcemos por um Brasil melhor e mais justo. 

É preciso que se entenda que os juros, o dólar e a Bolsa são o produto das ações de todos na economia, dentro e fora do Brasil, sobretudo do próprio governo. Muita gente séria e trabalhadora, presidente. 

É preciso que não nos esqueçamos que dólar alto significa certo arrocho salarial, causado pela inflação que vem a reboque. Sabemos disso há décadas. Os sindicatos sabem. 

E também não custa lembrar que a Bolsa é hoje uma fonte relevante de capital para investimento real, canal esse que anda entupido. 

São todos sintomas da perda de confiança na moeda nacional, cuja manifestação mais extrema é a escalada da inflação. Quando o governo perde o seu crédito, a economia se arrebenta. Quando isso acontece, quem perde mais? Os pobres! 

O setor financeiro recebe juros, sim, mas presta serviços e repassa boa parte dos juros para o resto da economia, que lá deposita seus recursos. 

O teto, hoje a caminho de passar de furado a buraco aberto, foi uma tentativa de forçar uma organização de prioridades. Por que isso? Porque não dá para fazer tudo ao mesmo tempo sem pressionar os preços e os juros. O mundo aí fora está repleto de exemplos disso.

Então por que falta dinheiro para áreas de crucial impacto social? Porque, implícita ou explicitamente, não se dá prioridade a elas. Essa é a realidade, que precisa ser encarada com transparência e coragem. 

O crédito público no Brasil está evaporando. Hora de tomar providências, sob pena de o povo outra vez tomar na cabeça. 

Respeitosamente, 

Arminio Fraga, Edmar Bacha e Pedro Malan 


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sexta-feira, 11 de novembro de 2022

Nota dos ministros militares: a pá de cal no golpe que Bolsonaro quer dar

No dia 11 de novembro de 2022 os três ministros militares, comandantes de suas forças, o Exército a Marinha e a Aeronáutica, deram fim às especulações de que poderiam apoiar, por um ato de força, uma rebelião contra o resultado eleitoral que elegeu Lula Presidente da República em 30 de outubro de 2022.


Bolsonaro desde o início do governo chantageou a nação com a ameaça de que chamaria o “seu exército”, para dar o golpe que queria dar. Na verdade, valendo-se da condição constitucional de “Comandante em Chefe das Forças Armadas”, a ameaça implícita era de que chamaria as FA para dar o golpe.

Na verdade blefava com este apoio que nunca teve! Valia-se de sua autoridade hierárquica para fazer suas ameaças e dizer o que bem entendia sabendo que os comandantes militares não poderiam desmenti-lo.

Isso mantinha os seus radicais mobilizados, inclusive nas ruas, em apoio indubitável aos seus intentos. Algumas de suas manifestações em Brasília, na Av. Paulista, etc., foram incrivelmente massivas.

Por isso, milhões de democratas brasileiros, que somente querem viver em um Estado Democrático de Direito, levaram a sério essas ameaças, até mesmo porque Bolsonaro cercou-se de generais reformados de quatro estrelas rezando pela mesma cartilha golpista; se não fosse pouco, colocou-os como os seus ministros palacianos mais próximos.

A consequência foi uma eleição presidencial polarizada entre os que defendiam a democracia e os que se alinharam ao projeto bolsonarista, o que criou o ambiente trágico para um 2º turno entre Lula e Bolsonaro, exatamente os dois piores candidatos.

Espertamente, Lula foi o beneficiário da ameaça golpista de Bolsonaro, pois recebeu já no 1º turno os votos da maioria dos eleitores que, sabidamente, são democratas. E, em nome da democracia, Lula recebeu milhões de votos críticos ao próprio lulopetismo.

As Forças Armadas ficaram onde sempre estiveram desde a promulgação da Constituição de 1988: fiéis e leais à sua missão constitucional.

Outro fosse o vencedor da eleição presidencial em 2022 a postura das FA teria sido a mesma.


A ÍNTEGRA DA NOTA (*):

Às Instituições e ao Povo Brasileiro

Acerca das manifestações populares que vêm ocorrendo em inúmeros locais do País, a Marinha do Brasil, o Exército Brasileiro e a Força Aérea Brasileira reafirmam seu compromisso irrestrito e inabalável com o Povo Brasileiro, com a democracia e com a harmonia política e social do Brasil, ratificado pelos valores e pelas tradições das Forças Armadas, sempre presentes e moderadoras nos mais importantes momentos de nossa história.

A Constituição Federal estabelece os deveres e os direitos a serem observados por todos os brasileiros e que devem ser assegurados pelas Instituições, especialmente no que tange à livre manifestação do pensamento; à liberdade de reunião, pacificamente; e à liberdade de locomoção no território nacional.

Nesse aspecto, ao regulamentar disposições do texto constitucional, por meio da Lei nº 14.197, de 1º de setembro de 2021, o Parlamento Brasileiro foi bastante claro ao estabelecer que: "Não constitui crime [...] a manifestação crítica aos poderes constitucionais nem a atividade jornalística ou a reivindicação de direitos e garantias constitucionais, por meio de passeatas, de reuniões, de greves, de aglomerações ou de qualquer outra forma de manifestação política com propósitos sociais".

Assim, são condenáveis tanto eventuais restrições a direitos, por parte de agentes públicos, quanto eventuais excessos cometidos em manifestações que possam restringir os direitos individuais e coletivos ou colocar em risco a segurança pública; bem como quaisquer ações, de indivíduos ou de entidades, públicas ou privadas, que alimentem a desarmonia na sociedade.

A solução a possíveis controvérsias no seio da sociedade deve valer-se dos instrumentos legais do estado democrático de direito. Como forma essencial para o restabelecimento e a manutenção da paz social, cabe às autoridades da República, instituídas pelo Povo, o exercício do poder que "Dele" emana, a imediata atenção a todas as demandas legais e legítimas da população, bem como a estrita observância das atribuições e dos limites de suas competências, nos termos da Constituição Federal e da legislação.

Da mesma forma, reiteramos a crença na importância da independência dos Poderes, em particular do Legislativo, Casa do Povo, destinatário natural dos anseios e pleitos da população, em nome da qual legisla e atua, sempre na busca de corrigir possíveis arbitrariedades ou descaminhos autocráticos que possam colocar em risco o bem maior de nossa sociedade, qual seja, a sua Liberdade.

A construção da verdadeira Democracia pressupõe o culto à tolerância, à ordem e à paz social. As Forças Armadas permanecem vigilantes, atentas e focadas em seu papel constitucional na garantia de nossa Soberania, da Ordem e do Progresso, sempre em defesa de nosso Povo.

Assim, temos primado pela Legalidade, Legitimidade e Estabilidade, transmitindo a nossos subordinados serenidade, confiança na cadeia de comando, coesão e patriotismo. O foco continuará a ser mantido no incansável cumprimento das nobres missões de Soldados Brasileiros, tendo como pilares de nossas convicções a Fé no Brasil e em seu pacífico e admirável Povo.

Brasília/DF, 11 de novembro de 2022.

Almirante de Esquadra ALMIR GARNIER SANTOSComandante da Marinha

General de Exército MARCO ANTÔNIO FREIRE GOMESComandante do Exército

Tenente-Brigadeiro do Ar CARLOS DE ALMEIDA BAPTISTA JUNIORComandante da Aeronáutica

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sexta-feira, 4 de novembro de 2022

O MAIOR RISCO DE BOLSONARO NOS PRÓXIMOS ANOS: FICAR DESEMPREGADO!

Bolsonaro saiu do 2º turno com mais de 58 milhões de votos. O PL, o seu partido, já disse que vai lhe arranjar um emprego, com um bom salário, para que ele se dedique nos próximos 4 anos a organizar a oposição ao governo Lula e articular a sua volta gloriosa em 2026.

Nada mais lógico este impulso inicial. Qual partido não desejaria manter e consolidar tal patrimônio eleitoral? Afinal, não é ele a voz mais forte dessa corrente conservadora e de direita que emergiu com imensa força representando 49,10% dos votos válidos?


Mas, passado o primeiro impulso, algumas questões começam a surgir com a mesma espontaneidade:
  • Logo se lembram, os mais próximos ao presidente do PL, o Valdemar Costa Neto, que o partido, mais do que uma corrente político-ideológica, é um grande empreendimento empresarial que descobriu o grande negócio político-partidário que tem como premissa estar sempre o mais próximo possível do poder existente, seja ele qual for. E nisso, reconheçamos, são profissionais: o PL saiu das eleições de 2022 como o maior partido nas duas casas: na Câmara, 99 deputados federais; no Senado, 14 senadores;
  • Conhecem bem a Bolsonaro, que já circulou por muitos partidos. O PL é o nono. Teria ele o perfil de ser um quadro partidário e organizador meticuloso de um projeto programático, o que exige muito esforço, paciência e trabalho em equipe junto às várias instâncias de decisão típicas de uma organização partidária com múltiplos interesses regionais espalhada por todo o território nacional? Parece que não!
  • Se há algo que o caracteriza é que ele é um líder ideológico de extrema-direita, nostálgico da ditadura militar e que os seus valores políticos explicitamente auto-declarados o identificam com o fascismo; pessoalmente, já deixou transparecer o seu desejo de governar ditatorialmente e o seu descompromisso com a democracia; cabe, então, perguntar: a maioria dos seus eleitores possui o seu perfil?; ou desejariam mais um “bolsonarismo sem Bolsonaro”, com um líder da direita democrática, como o Tarcisio de Freitas, governador de São Paulo, que estaria mais apto a representar este papel?
  • O conservadorismo, que emergiu com imensa força na sociedade brasileira, desejaria ou buscaria uma liderança como Bolsonaro que, embora tenha surgido como um furacão, ainda assim foi derrotado, mesmo com todos os meios disponíveis para favorecer a reeleição do Presidente? Até a Dilma foi reeleita! Ou, ao contrário, historicamente, anseia e precisa algo diferente?
  • Sendo, ainda, Bolsonaro, sinônimo de obscurantismo civilizacional, negacionismo cientifico, intolerância cultural, religiosa e comportamental e idolatria às armas e à violência? Esta seria a face de uma direita capaz de ter um papel progressista no desenvolvimento da democracia brasileira? Ouso, antecipadamente, responder que não! O debate se impõe e está aberto.
  • Finalmente, Bolsonaro com sua personalidade, próxima à psicopatia, e incapaz de demonstrar empatia com as famílias enlutadas com suas perdas durante a pandemia, conseguirá construir-se como um líder moderno de oposição à Lula? Ouso, também, responder que é pouco provável!
Mais provável é que em menos de dois anos ele perca o emprego que o PL agora está a lhe oferecer. Causará mais confusão do que ganhos para o partido que estará, como sempre, buscando uma convivência com Lula e com o poder de plantão, e de olho nas eleições de 2024 e de 2026. 

Vamos convir, dificilmente o Valdemar deixará que o Bozo atrapalhe os seus negócios, assim como o Bivar já não permitiu no antigo PSL!

segunda-feira, 31 de outubro de 2022

A BOA NOVA: FORAM DERROTADOS, SIMULTANEAMENTE, O BOLSONARISMO E O LULOPETISMO

Correntes de pensamento que habitavam o mundo concretamente na primeira metade do Séc. XX chegaram até nós, em pleno 2022, como espectros ameaçadores.

Como fantasmas ideológicos eles ainda nos assombram e dividem.


Pior ainda, suas concepções estiveram até agora a nos empurrar para uma luta fratricida. Os fantasmas do fascismo e do comunismo movem fanáticos mas não são reais.

Mas, mesmo ireais, muitos se mobilizam fanaticamente para combatê-los! Enquanto isso, o comunismo e o fascismo são insignificantes na sociedade brasileira como forças políticas reais!

A nossa luta não é sequer entre a esquerda e a direita, mas muitos acreditam nisso! O lulopetismo e o bolsonarismo, que nos convocam a lutar contra fantasmas, são os representantes deste mundo fantasmagórico do passado, mas muitos acreditam neles!

O que nos divide, realmente, é a luta entre o desenvolvimento da democracia e as forças do atraso que o bloqueiam. Nossa luta é para erradicar a pobreza e a miséria, e para liberar as forças da prosperidade e do progresso, baseadas no conhecimento e na ciência. O nosso inimigo é o populismo, o patrimonialismo e as forças que cultuam o assalto ao Estado, não importa a sua cor ideológica!

Precisamos restabelecer a confiança nos políticos, na política e na democracia.

O resultado das eleições presidenciais de 2022, cujo 2º turno terminou no dia 30 de outubro, nos trouxe duas boas novas. Sobretudo, são oportunidades para o Brasil, pois, observem: o bolsonarismo e o lulopetismo, ambos, foram derrotados eleitoralmente, cada um à sua maneira.

Em 30/10 Lula venceu Bolsonaro por apenas 2.139.645 votos, uma pequena margem, a menor, percentualmente, de todas as eleições presidenciais desde 1989. É certo que o bolsonarismo foi derrotado! Mas essa não foi uma vitória do lulopetismo. Ao contrário, dezenas de milhões de democratas votaram em Lula desde o 1º turno não por saudades do PT, mas para se livrarem de Bolsonaro, de sua incompetência, de seu negacionismo, de sua psicopatia e, principalmente, de suas ameaças à democracia!

Embora fantasmas, renitentemente, continuarão a querer nos assombrar; mas, historicamente, eles estão derrotados!

domingo, 30 de outubro de 2022

ÍNTEGRA DO DISCURSO LIDO POR LULA APÓS A PROCLAMAÇÃO DE SUA VITÓRIA PELO TSE

Íntegra do discurso histórico lido por Lula (*) no dia 30 de outubro de 2022, logo após ter tido a sua vitória eleitoral nas urnas proclamada pelo Ministro Alexandre de Moraes, membro do STF e Presidente do TSE.

É um discurso de valores programáticos e de compromisssos, proferido no calor exato do momento da vitória; permanecerá como referência para todos os que pretendam avaliar futuramente o seu governo.


Meus amigos e minhas amigas.

Chegamos ao final de uma das mais importantes eleições da nossa história. Uma eleição que colocou frente a frente dois projetos opostos de país, e que hoje tem um único e grande vencedor: o povo brasileiro.

Esta não é uma vitória minha, nem do PT, nem dos partidos que me apoiaram nessa campanha. É a vitória de um imenso movimento democrático que se formou, acima dos partidos políticos, dos interesses pessoais e das ideologias, para que a democracia saísse vencedora.

Neste 30 de outubro histórico, a maioria do povo brasileiro deixou bem claro que deseja mais – e não menos democracia.

Deseja mais – e não menos inclusão social e oportunidades para todos. Deseja mais – e não menos respeito e entendimento entre os brasileiros. Em suma, deseja mais – e não menos liberdade, igualdade e fraternidade em nosso país.

O povo brasileiro mostrou hoje que deseja mais do que exercer o direito sagrado de escolher quem vai governar a sua vida. Ele quer participar ativamente das decisões do governo.

O povo brasileiro mostrou hoje que deseja mais do que o direito de apenas protestar que está com fome, que não há emprego, que o seu salário é insuficiente para viver com dignidade, que não tem acesso a saúde e educação, que lhe falta um teto para viver e criar seus filhos em segurança, que não há nenhuma perspectiva de futuro.
O povo brasileiro quer viver bem, comer bem, morar bem. Quer um bom emprego, um salário reajustado sempre acima da inflação, quer ter saúde e educação públicas de qualidade.

Quer liberdade religiosa. Quer livros em vez de armas. Quer ir ao teatro, ver cinema, ter acesso a todos os bens culturais, porque a cultura alimenta nossa alma.

O povo brasileiro quer ter de volta a esperança.
É assim que eu entendo a democracia. Não apenas como uma palavra bonita inscrita na Lei, mas como algo palpável, que sentimos na pele, e que podemos construir no dia-dia.

Foi essa democracia, no sentido mais amplo do termo, que o povo brasileiro escolheu hoje nas urnas. Foi com essa democracia – real, concreta – que nós assumimos o compromisso ao longo de toda a nossa campanha.

E é essa democracia que nós vamos buscar construir a cada dia do nosso governo. Com crescimento econômico repartido entre toda a população, porque é assim que a economia deve funcionar – como instrumento para melhorar a vida de todos, e não para perpetuar desigualdades.

A roda da economia vai voltar a girar, com geração de empregos, valorização dos salários e renegociação das dívidas das famílias que perderam seu poder de compra.

A roda da economia vai voltar a girar com os pobres fazendo parte do orçamento. Com apoio aos pequenos e médios produtores rurais, responsáveis por 70% dos alimentos que chegam às nossas mesas.

Com todos os incentivos possíveis aos micros e pequenos empreendedores, para que eles possam colocar seu extraordinário potencial criativo a serviço do desenvolvimento do país.

É preciso ir além. Fortalecer as políticas de combate à violência contra as mulheres, e garantir que elas ganhem o mesmo salários que os homens no exercício de igual função.

Enfrentar sem tréguas o racismo, o preconceito e a discriminação, para que brancos, negros e indígenas tenham os mesmos direitos e oportunidades.

Só assim seremos capazes de construir um país de todos. Um Brasil igualitário, cuja prioridade sejam as pessoas que mais precisam.

Um Brasil com paz, democracia e oportunidades.

Minhas amigas e meus amigos.

A partir de 1º de janeiro de 2023 vou governar para 215 milhões de brasileiros, e não apenas para aqueles que votaram em mim. Não existem dois Brasis. Somos um único país, um único povo, uma grande nação.
Não interessa a ninguém viver numa família onde reina a discórdia. É hora de reunir de novo as famílias, refazer os laços de amizade rompidos pela propagação criminosa do ódio.

A ninguém interessa viver num país dividido, em permanente estado de guerra.

Este país precisa de paz e de união. Esse povo não quer mais brigar. Esse povo está cansado de enxergar no outro um inimigo a ser temido ou destruído.

É hora de baixar as armas, que jamais deveriam ter sido empunhadas. Armas matam. E nós escolhemos a vida.
O desafio é imenso. É preciso reconstruir este país em todas as suas dimensões. Na política, na economia, na gestão pública, na harmonia institucional, nas relações internacionais e, sobretudo, no cuidado com os mais necessitados.

É preciso reconstruir a própria alma deste país. Recuperar a generosidade, a solidariedade, o respeito às diferenças e o amor ao próximo.

Trazer de volta a alegria de sermos brasileiros, e o orgulho que sempre tivemos do verde-amarelo e da bandeira do nosso país. Esse verde-amarelo e essa bandeira que não pertencem a ninguém, a não ser ao povo brasileiro.


Nosso compromisso mais urgente é acabar outra vez com a fome. Não podemos aceitar como normal que milhões de homens, mulheres e crianças neste país não tenham o que comer, ou que consumam menos calorias e proteínas do que o necessário.

Se somos o terceiro maior produtor mundial de alimentos e o primeiro de proteína animal, se temos tecnologia e uma imensidão de terras agricultáveis, se somos capazes de exportar para o mundo inteiro, temos o dever de garantir que todo brasileiro possa tomar café da manhã, almoçar e jantar todos os dias.

Este será, novamente, o compromisso número 1 do nosso governo.

Não podemos aceitar como normal que famílias inteiras sejam obrigadas a dormir nas ruas, expostas ao frio, à chuva e à violência.

Por isso, vamos retomar o Minha Casa Minha Vida, com prioridade para as famílias de baixa renda, e trazer de volta os programas de inclusão que tiraram 36 milhões de brasileiros da extrema pobreza.

O Brasil não pode mais conviver com esse imenso fosso sem fundo, esse muro de concreto e desigualdade que separa o Brasil em partes desiguais que não se reconhecem. Este país precisa se reconhecer. Precisa se reencontrar consigo mesmo.

Para além de combater a extrema pobreza e a fome, vamos restabelecer o diálogo neste país.

É preciso retomar o diálogo com o Legislativo e Judiciário. Sem tentativas de exorbitar, intervir, controlar, cooptar, mas buscando reconstruir a convivência harmoniosa e republicana entre os três poderes.

A normalidade democrática está consagrada na Constituição. É ela que estabelece os direitos e obrigações de cada poder, de cada instituição, das Forças Armadas e de cada um de nós.

A Constituição rege a nossa existência coletiva, e ninguém, absolutamente ninguém, está acima dela, ninguém tem o direito de ignorá-la ou de afrontá-la.

Também é mais do que urgente retomar o diálogo entre o povo e o governo.

Por isso vamos trazer de volta as conferências nacionais. Para que os interessados elejam suas prioridades, e apresentem ao governo sugestões de políticas públicas para cada área: educação, saúde, segurança, direitos da mulher, igualdade racial, juventude, habitação e tantas outras.

Vamos retomar o diálogo com os governadores e os prefeitos, para definirmos juntos as obras prioritárias para cada população.

Não interessa o partido ao qual pertençam o governador e o prefeito. Nosso compromisso será sempre com melhoria de vida da população de cada estado, de cada município deste país.

Vamos também reestabelecer o diálogo entre governo, empresários, trabalhadores e sociedade civil organizada, com a volta do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social.

Ou seja, as grandes decisões políticas que impactem as vidas de 215 milhões de brasileiros não serão tomadas em sigilo, na calada da noite, mas após um amplo diálogo com a sociedade.

Acredito que os principais problemas do Brasil, do mundo, do ser humano, possam ser resolvidos com diálogo, e não com força bruta.

Que ninguém duvide da força da palavra, quando se trata de buscar o entendimento e o bem comum.

Meus amigos e minhas amigas.

Nas minhas viagens internacionais, e nos contatos que tenho mantido com líderes de diversos países, o que mais escuto é que o mundo sente saudade do Brasil.
Saudade daquele Brasil soberano, que falava de igual para igual com os países mais ricos e poderosos. E que ao mesmo tempo contribuía para o desenvolvimento dos países mais pobres.

Brasil que apoiou o desenvolvimento dos países africanos, por meio de cooperação, investimento e transferência de tecnologia.

Que trabalhou pela integração da América do Sul, da América Latina e do Caribe, que fortaleceu o Mercosul, e ajudou a criar o G-20, a UnaSul, a Celac e os BRICS.

Hoje nós estamos dizendo ao mundo que o Brasil está de volta. Que o Brasil é grande demais para ser relegado a esse triste papel de pária do mundo.

Vamos reconquistar a credibilidade, a previsibilidade e a estabilidade do país, para que os investidores – nacionais e estrangeiros – retomem a confiança no Brasil. Para que deixem de enxergar nosso país como fonte de lucro imediato e predatório, e passem a ser nossos parceiros na retomada do crescimento econômico com inclusão social e sustentabilidade ambiental.
Queremos um comércio internacional mais justo. Retomar nossas parcerias com os Estados Unidos e a União Europeia em novas bases. Não nos interessam acordos comerciais que condenem nosso país ao eterno papel de exportador de commodities e matéria prima.

Vamos re-industrializar o Brasil, investir na economia verde e digital, apoiar a criatividade dos nossos empresários e empreendedores. Queremos exportar também conhecimento.

Vamos lutar novamente por uma nova governança global, com a inclusão de mais países no Conselho de Segurança da ONU e com o fim do direito a veto, que prejudica o equilíbrio entre as nações.

Estamos prontos para nos engajar outra vez no combate à fome e à desigualdade no mundo, e nos esforços para a promoção da paz entre os povos.

O Brasil está pronto para retomar o seu protagonismo na luta contra a crise climática, protegendo todos os nossos biomas, sobretudo a Floresta Amazônica.
Em nosso governo, fomos capazes de reduzir em 80% o desmatamento na Amazônia, diminuindo de forma considerável a emissão de gases que provocam o aquecimento global.

Agora, vamos lutar pelo desmatamento zero da Amazônia.

O Brasil e o planeta precisam de uma Amazônia viva. Uma árvore em pé vale mais do que toneladas de madeira extraídas ilegalmente por aqueles que pensam apenas no lucro fácil, às custas da deterioração da vida na Terra.

Um rio de águas límpidas vale muito mais do que todo o ouro extraído às custas do mercúrio que mata a fauna e coloca em risco a vida humana.
Quando uma criança indígena morre assassinada pela ganância dos predadores do meio ambiente, uma parte da humanidade morre junto com ela.

Por isso, vamos retomar o monitoramento e a vigilância da Amazônia, e combater toda e qualquer atividade ilegal – seja garimpo, mineração, extração de madeira ou ocupação agropecuária indevida.

Ao mesmo tempo, vamos promover o desenvolvimento sustentável das comunidades que vivem na região amazônica. Vamos provar mais uma vez que é possível gerar riqueza sem destruir o meio ambiente.

Estamos abertos à cooperação internacional para preservar a Amazônia, seja em forma de investimento ou pesquisa científica. Mas sempre sob a liderança do Brasil, sem jamais renunciarmos à nossa soberania.

Temos compromisso com os povos indígenas, com os demais povos da floresta e com a biodiversidade. Queremos a pacificação ambiental.

Não nos interessa uma guerra pelo meio ambiente, mas estamos prontos para defendê-lo de qualquer ameaça.
Meus amigos e minhas amigas.

O novo Brasil que iremos construir a partir de 1º de janeiro não interessa apenas ao povo brasileiro, mas a todas as pessoas que trabalham pela paz, a solidariedade e a fraternidade, em qualquer parte do mundo.

Na última quarta-feira, o Papa Francisco enviou uma importante mensagem ao Brasil, orando para que o povo brasileiro fique livre do ódio, da intolerância e da violência.

Quero dizer que desejamos o mesmo, e vamos trabalhar sem descanso por um Brasil onde o amor prevaleça sobre o ódio, a verdade vença a mentira, e a esperança seja maior que o medo.

Todos os dias da minha vida eu me lembro do maior ensinamento de Jesus Cristo, que é o amor ao próximo. Por isso, acredito que a mais importante virtude de um bom governante será sempre o amor – pelo seu país e pelo seu povo.

No que depender de nós, não faltará amor neste país. Vamos cuidar com muito carinho do Brasil e do povo brasileiro. Viveremos um novo tempo. De paz, de amor e de esperança.

Um tempo em que o povo brasileiro tenha de novo o direito de sonhar. E as oportunidades para realizar aquilo que sonha.

Para isso, convido a cada brasileiro e cada brasileira, independentemente em que candidato votou nessa eleição. Mais do que nunca, vamos juntos pelo Brasil, olhando mais para aquilo que nos une, do que para nossas diferenças.

Sei a magnitude da missão que a história me reservou, e sei que não poderei cumpri-la sozinho. Vou precisar de todos – partidos políticos, trabalhadores, empresários, parlamentares, govenadores, prefeitos, gente de todas as religiões. Brasileiros e brasileiras que sonham com um Brasil mais desenvolvido, mais justo e mais fraterno.

Volto a dizer aquilo que disse durante toda a campanha. Aquilo que nunca foi uma simples promessa de candidato, mas sim uma profissão de fé, um compromisso de vida:
O Brasil tem jeito. Todos juntos seremos capazes de consertar este país, e construir um Brasil do tamanho dos nossos sonhos – com oportunidades para transformá-los em realidade.
Mais uma vez, renovo minha eterna gratidão ao povo brasileiro. Um grande abraço, e que Deus abençoe nossa jornada. 

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