domingo, 10 de maio de 2020

Por que Bolsonaro quer uma ditadura?

É um dever dize-lo, Bolsonaro quer uma ditadura. Duas são as razões: (1) ele não é um democrata; (2) sabe que não se reelegerá em 2022.

A segunda razão, porque os democratas, inclusive os que nele votaram em 2018, se unirão contra ele em 2022.

Ninguém tem bola de cristal, mas a melhor maneira de enfrentar Bolsonaro é compreender exatamente como ele pensa e o que ele quer, e reagir, pois trata-se de defender a democracia sem desânimo ou pessimismo covarde.


Por que não é provável que Bolsonaro consiga o seu intento? (1) porque a maioria dos brasileiros não desejam uma ditadura; desde 1985, já são 35 anos de democracia, o mais prolongado período de nossa história republicana e, depois da promulgação da Constituição de 1988, foram criados os pesos e contrapesos para a defesa do Estado Democrático de Direito; (2) porque Bolsonaro não conseguiu cooptar as forças armadas para o seu projeto totalitário; mais provável que não o consiga; (3) porque lhe falta moral e respeito, mesmo na extrema direita, para conseguir liderar um golpe de estado.

Mas é necessário detalhar melhor a segunda razão de Bolsonaro para querer dar um golpe. Bolsonaro, que sabe contar votos, também sabe que não se reelegerá; se for ao 2º turno perderá para qualquer outro concorrente, como perderia Haddad contra qualquer outro adversário que o enfrentasse no 2º turno; embora não seja confortável para os apoiadores deste admiti-lo, em 2018 uniram-se contra ele todos os que desejavam a alternância do poder e impedir que o PT voltasse ao governo.

Como já aconteceu com Haddad, o mesmo acontecerá com Bolsonaro em 2022. A maioria dos eleitores democratas se unirá contra ele, incluídos a maioria dos seus eleitores de 2018.

Por isso, porque não é um democrata, quer dar o golpe antes para estender o seu mandato, pois não quer correr o risco de perder. Paradoxalmente, o seu modelo é o da Venezuela. Ele quer um Estado miliciano, autoritário, e sem liberdades civis. Condição para isso, é que, como na Venezuela, ele lhe tenha o Congresso e o STF servis. Por isso, apoia o fechamento desses poderes para depois reabri-los devidamente “formatados” ao seu projeto.

Conseguirá? Este é outro problema. Os democratas não o apoiarão, inclusive os seus eleitores democratas, que já o estão abandonando. Com a saída de Moro, perdeu a bandeira da ética e, doravante, se verá envolvido em processos judiciais. Mas Bolsonaro investe e deposita a esperança de que os seus generais palacianos, paraquedistas como ele, terão influência nas forças armadas suficiente para levá-las à aventura do golpe; até agora não obteve este apoio.

O risco maior, para ele, se continuar a tentar dar o golpe, é ser afastado - isolado da maioria democrática e das FFAA - pela aplicação das normas legais e constitucionais.

A pandemia e a grave recessão que lhe segue, exige a liderança de um estadista, tudo o que Bolsonaro não é.

É tão grave o comportamento de Bolsonaro, tendo ele mesmo se tornado um problema sanitário, maximizando o número de mortes, que corre o risco de ser afastado por “interdição”, sem impeachment sem nada!

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