segunda-feira, 18 de maio de 2020

Com quem ficarão os militares? Com a democracia ou com a barbárie?

As FFAA ficaram com uma batata quente nas mãos com a eleição de Bolsonaro.

Eles já o conheciam e, agora, no exercício da presidência, o conhecem melhor ainda, e mais do que todos nós civis.

Bolsonaro está sendo muito pior do que as suas piores expectativas! É o que estão dizendo os democratas que votaram nele para promover uma alternância no poder e impedir que o PT voltasse ao governo!


Os militares têm compreensão e amor pela ciência e tecnologia, pois foram, desde a antiguidade, os primeiros a usar os avanços do conhecimento para obter vantagens estratégicas na guerra. Os pacifistas, civis ou militares, ficam de cabelo em pé com este fato, mas é a realidade histórica.

Não surpreende que os militares republicanos, no século XIX, tenham sido influenciados pelo positivismo, filho do Iluminismo, que marcou, na Europa, o encantamento com a descoberta das leis da natureza e com a ciência. Esta influência permanece até hoje em sua formação. Napoleão, p.ex., começou a destacar-se, desde a academia militar, por seu talento na matemática, essencial para calcular trajetórias balísticas; embora não fosse um francês de raiz, pois era corso, foi, em sua época, o oficial que chegou mais jovem ao posto de general.

O positivismo acreditou, neste ambiente, que se poderia, também, com o seu método, compreender melhor as relações sociais e, quem sabe, deduzir as próprias leis do desenvolvimento histórico. Neste sentido o positivismo é primo-irmão do marxismo.

Pois bem, voltemos a Bolsonaro. No segundo turno, a maioria dos militares votou em Bolsonaro. Este passara 28 anos de deputado federal como uma espécie de “sindicalista”, panfletando nas portas dos quartéis em defesa dos seus soldos e demais interesses corporativos. Era um tipo meio folclórico, por seu comportamento radical, e porque fora “expulso” do exército por indisciplina e por suas posições políticas de extrema-direita. O cenário dessa atuação se dá entre o período em que ainda vivíamos sob a ditadura militar até sua eleição em 2018. 

Mas a marca politica do seu discurso, e de sua atuação, no exercício dos mandatos parlamentares, ideologicamente, sempre foi o da defesa da ditadura, da tortura, da eliminação de comunistas, da defesa das armas e da intimidade que desenvolveu com as milícias paramilitares do Rio de Janeiro. Nesta visão de mundo formou seus filhos, e moldou a forma como agem e pensam, e pelas consequências, para o bem ou para o mal, do que lhes irá acontecer na justiça.

Este Bolsonaro não tem qualquer apreço pela democracia e pelo Estado Democrático de Direito. Ultimamente, porque não quer assumir o risco de disputar, e perder, as eleições de 2022, decidiu dar o golpe para estender o seu mandato. E é aí que a coisa começou a “pegar” na sua relação com os militares.

Naturalmente, a vitória de Bolsonaro foi saudada com júbilo pelos militares. Muitos foram chamados para assumir responsabilidades de governo e para assumir cargos estratégicos como ministros. Como profissionais capacitados e treinados estão orgulhosos. E óbvio, seus rendimentos aumentaram. Quem, honestamente, não gosta disso, particularmente se consideram lícito e merecido?

Mas uma coisa é o que Bolsonaro quer, sob a influência de figuras saídas das trevas, como Olavo de Carvalho, Steve Bannon, e do seu “gabinete do ódio”. Outra coisa são os compromissos e os valores dos militares com a democracia e com o Estado de Direito Democrático.

O que Bolsonaro tenta conformar? Um Estado miliciano apoiado em forças paramilitares, no envolvimento das PMs, da inteligência das forças armadas, da institucional - o GSI - e, por último, da PF, fechando o círculo de um aparato repressor institucional. Não é muito inovador, reproduz o que já existiu durante a ditadura; a novidade seria a cooptação das milícias urbanas envolvidas com o crime.

Este é o plano da extrema-direita, mas não é o dos democratas civis ou militares. Para este plano dar certo, há, entretanto, uma condição. A de que a sociedade, majoritariamente, concorde em “fechar” o Congresso e o STF! Por isso o estímulo e o apoio que o presidente dá às manifestações em praça pública e em Brasília. Sem isso, o plano perde a sua viabilidade e ele não pode usar o seu poder institucional para dar o golpe. Mas ele já começou, insistentemente, a chocar o ovo da serpente!

O seu plano está perdendo viabilidade e as suas manifestações começaram a ficar pífias, como a de ontem, 17/05/20, em Brasília. Porque?

Surgiu uma estranha ocorrência da natureza, a pandemia do coronavírus. Ela tornou evidente a inabilitação de Bolsonaro para o papel de presidente a que circunstâncias únicas de nossa história o conduziram. Isso os cidadãos esclarecidos já sabiam, mas, na torcida por um Brasil melhor, por um momento, até se esforçaram para esquecer em respeito à institucionalidade democrática.

À pandemia, simultaneamente, se soma a grave recessão econômica, a quebra das empresas e o desemprego.

Mais do que nunca precisamos de união e da liderança de um estadista. Isto é tudo o que Bolsonaro não é. Pior, por sua ação, virou ele mesmo um grave problema sanitário, aumentando o número de mortes.

Volto ao tema inicial. Com quem ficarão os militares? Do lado do conhecimento, da ciência e da democracia? E porquê não dizer, da tolerância, do diálogo, do respeito, da moral, da ética, e da elegância? Ou escolherão a barbárie?

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