Lá vai Bolsonaro descendo a ladeira em aprovação e credibilidade. As pesquisas DataFolha publicadas nos dias 27, 28, 29, 30, 31 de maio e 1 de junho de 2020 mostram isto com clareza. Você poderá encontra-las no pé da página deste texto.
A menos de um ano e meio de exercício do mandato presidencial, não são as críticas da oposição a razão de suas dificuldades, mas as suas decisões, ações e palavras; esse comportamento, fartamente documentado, passou a suscitar até sérias dúvidas quanto à sua inabilitação para o cargo.
O vídeo da reunião ministerial do dia 22/04/20 foi um divisor de águas, pois mostrou um presidente sem compostura, o que foi repudiado por 76% (*) da sociedade. Nele, com toda a clareza, Bolsonaro sintetizou a sua filosofia:
“Armar o povo - em nome da liberdade - contra o comunismo”.
Proclamou - e nos ameaçou -, assim, com a fina-flor do seu pensamento, com o objetivo de implantar um Estado totalitário e miliciano, de tipo venezuelano, contra um inimigo fantasmagórico.
Não importa que esse inimigo não seja real, pois já acabou a guerra fria; afinal, ainda não existem alguns partidos no Brasil que têm o nome "comunista" em sua sigla? Pouco importa que se saiba que sua existência seja uma homenagem à democracia e à liberdade de organização e pensamento consagrada pela Constituição de 1988; ou, mesmo, que não sejam aspirantes ao poder. Bolsonaro, se vive no mundo real, sabe disso, mas o elevou ao grau de perigo iminente! Seria esse inimigo fantasmagórico necessário para unir e justificar as suas "tropas" de milicianos armados contra o mal? Esta história mal contada, entretanto, bate inteiramente com as suas posições mais do que conhecidas e documentadas de defensor da ditadura militar, da tortura e da eliminação de comunistas; e os "bolsonaristas de raiz" (**) pensam como ele. Mas são poucos e barulhentos.
Se Bolsonaro pretende lutar contra o risco de uma ditadura "comunista" por que não chama os democratas? Mas não, ele chama o apoio de correntes políticas radicais que têm como objetivo fechar o Congresso e o STF. Alguma coisa não bate, pois estas instituições são os símbolos maiores das liberdades democráticas; e, sem esses poderes rompem-se todas as premissas do Estado Democrático de Direito. E note-se, o que é muito importante, jamais abriu um debate democrático com a sociedade visando explicitar propostas em que críticas legítimas aos poderes legislativo e judiciário pudessem consubstanciar um conjunto de reformas para aperfeiçoa-los.
Dado que o seu pensamento contém uma lógica arrevesada, mais uma vez é lícito perguntar-se se a obscuridade de sua formulação é fruto de dissimulação estratégica ou de delírio. Cresce, portanto, o temor por sua inabilitação. Mas como não o levar a sério se suas decisões afetam a vida de milhões de brasileiros? Delírio ou racionalidade?
A maioria dos eleitores de Bolsonaro, os democratas que nele votaram para promover a alternância no poder e impedir que o PT voltasse ao governo, decepcionados, vêm que o presidente começou a trair os compromissos éticos de sua campanha. Este desvio de comportamento, e de discurso, já teve como consequência a saída do juiz Sergio Moro do governo porque não concordou com a intervenção na PF para proteger o seu clã, o que levou um imenso contingente de seus apoiadores a passar para a oposição. Agora o seu objetivo é transforma-la em polícia política na sua concepção miliciana de Estado. Conseguirá? Sabe-se que haverá muita resistência, porque a PF é uma instituição do Estado com elevado grau de autonomia, o que é essencial para o combate à corrupção.
Tudo isso já estava antecipado quando Bolsonaro fez um "acordão" com Maia e Toffoli para retirar o COAF do ministério da justiça, fragilizar o pacote anticrime apresentado por Moro, acabar com a prisão em 2ª instancia e criar o juiz de garantias. Mal sabiam os presidentes da Câmara e do STF que estavam ajudando a chocar o ovo da serpente! Este desvio da pauta ética exaustivamente proclamada culminou, agora, com a incorporação do Centrão ao governo e com a adesão ao toma-lá-dá-cá; claro, o Centrão cobra por antecipação; por isso o presidente já lhes entregou fundos públicos bilionários.
Todos estes fatos demonstram que Bolsonaro abandonou a pauta ética; o próprio juiz Sergio Moro declarou nestes dias que jamais o presidente esteve empenhado na luta contra a corrupção. O presidente comporta-se, agora, como um fugitivo da polícia e passou a dormir aterrorizado com o medo do seu afastamento por interdição (inabilitação) ou por impeachment (crime de responsabilidade). Tudo isso é lamentável! Inabilitação ou irresponsabilidade?
A pandemia se agrava! O presidente, somando-se ao coronavírus, maximiza o número de mortes. E coloca-se contra a ciência, ao influir junto aos seus eleitores para que descumpram o isolamento social; e obrigou o ministro interino da saúde Pazuello - após a demissão de Mandetta e Teich - a recomendar um medicamento condenado pelas autoridades de saúde. Por isso, a agonia será mais prolongada e se agravará a tragédia!
Além de ter perdido a oportunidade de unir o país em nome do valor da vida, como fizeram os demais chefes de Estado, divide o país e não demonstra qualquer empatia para com os doentes infectados e com as famílias dos já mais de 26.000 mortos. Psicopatia?
Em consequência, dificilmente se reelegerá em 2022, pois a maioria democrática - civis e militares - se unirá contra ele, tal como ocorreu com o PT em 2018. Bolsonaro, sabe disso; por isso, porque sabe contar votos, quer dar o golpe antes para estender o seu mandato.
Bolsonaro busca todos os pretextos para criar uma crise institucional, como está fazendo agora, ao mobilizar os seus radicais contra a investigação das Fake News pela PF, o que atinge em cheio tanto o “ministério do ódio” quanto a alguns dos seus mais íntimos seguidores e financiadores. Mas, quanto mais radicalizar, mais oposição e resistência despertará e mais estará próximo do seu limite e do seu fim. Provavelmente fracassará, por duas razões: porque não conseguirá dar o golpe; e porque todos esses erros, inclusive sua inabilitação, mais cedo ou mais tarde, lhe cairão no colo.
Em síntese, Bolsonaro não conseguirá o seu intento de promover um retrocesso democrático porque não contará com apoio. Quem o parará? A maioria dos brasileiros, que são democratas: os civis e militares que repudiam todo tipo de ditadura e só querem viver em um Estado Democrático de Direito!
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(*) Pesquisa DataFolha publicada em 27/05/2020:
Observe que a soma dos que consideraram as palavras do presidente Bolsonaro "Muito inadequadas" (61%) com os que consideraram "Um pouco inadequadas" (15%) é igual a 76%.
(**) Bolsonaro tem dois tipos de eleitores:
Muitos que não votaram em Bolsonaro costumam recusar o fato de que milhões de eleitores de Bolsonaro sejam democratas; mas estão errados.
Por isso, para os fins dessa análise, democratas são os cidadãos que:
Como corolário, define-se como não-democratas, e de extrema-direita ou de extrema-esquerda, os que defendam regimes ditatoriais e que desprezem viver fora das premissas do Estado Democrático de Direito.
Da mesma pesquisa DataFolha, que corresponde a uma coleta telefônica de dados nos dias 25 e 26 de maio de 2020. O resultado dessa pesquisa foi publicado nos dias 27, 28, 29, 30 e 31 de maio e 1 de junho de 2020. Abaixo são apresentados alguns gráficos relevantes à argumentação desenvolvida no texto:
Pesquisa DataFolha publicada em 27/05/20 - lockdown e isolamento social
Pesquisa DataFolha publicada em 28/05/20 - avaliação do governo Bolsonaro
Pesquisa DataFolha publicada em 28/05/2020
Pesquisa DataFolha dia 29/05/20 - Avaliação do governo na pandemia
Pesquisa DataFolha publicada em 29/05/2020
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(*) Pesquisa DataFolha publicada em 27/05/2020:
Observe que a soma dos que consideraram as palavras do presidente Bolsonaro "Muito inadequadas" (61%) com os que consideraram "Um pouco inadequadas" (15%) é igual a 76%.
(**) Bolsonaro tem dois tipos de eleitores:
(1) os bolsonaristas de raiz, de extrema-direita, como ele, e que são nostálgicos da ditadura militar; estão entre 10 e 20 milhões de brasileiros;
(2) os democratas que nele votaram para promover a alternância do poder e impedir que o PT voltasse ao governo. São a grande maioria dos seus eleitores, e estão entre 30 e 40 milhões de brasileiros.
Muitos que não votaram em Bolsonaro costumam recusar o fato de que milhões de eleitores de Bolsonaro sejam democratas; mas estão errados.
Por isso, para os fins dessa análise, democratas são os cidadãos que:
1. repudiam todo tipo de ditaduras, sejam elas de direita ou de esquerda;
2. somente querem viver em um Estado Democrático de Direito.Ser democrata não é monopólio dos que se situam à direita ou à esquerda do espectro político, e não são democratas os que desprezem as condições acima.
Como corolário, define-se como não-democratas, e de extrema-direita ou de extrema-esquerda, os que defendam regimes ditatoriais e que desprezem viver fora das premissas do Estado Democrático de Direito.
Da mesma pesquisa DataFolha, que corresponde a uma coleta telefônica de dados nos dias 25 e 26 de maio de 2020. O resultado dessa pesquisa foi publicado nos dias 27, 28, 29, 30 e 31 de maio e 1 de junho de 2020. Abaixo são apresentados alguns gráficos relevantes à argumentação desenvolvida no texto:
Pesquisa DataFolha publicada em 27/05/20 - lockdown e isolamento social
Pesquisa DataFolha publicada em 28/05/20 - avaliação do governo Bolsonaro
Pesquisa DataFolha publicada em 28/05/2020
Pesquisa DataFolha dia 29/05/20 - Avaliação do governo na pandemia
Pesquisa DataFolha publicada em 29/05/2020
Pesquisa DataFolha publicada em 31/05/2020 - Armamento da população
“Armar o povo - em nome da liberdade - contra o comunismo”. Declaração de Bolsonaro em 22/04/20. O povo concorda? Vejamos o que diz a pesquisa:
Espero que você esteja certo na sua análise e projeção. Eu temo que 1/3 do eleitorado será suficiente para sua releição. Torço estar errado (e devo estar, pois seu conhecimento político é bem melhor que o meu).
ResponderExcluirPerfeito o texto.
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