sexta-feira, 18 de junho de 2021

O verde e o amarelo são as cores da resistência democrática!

Uma sugestão, mas, também, uma abertura de discussão.

Que tal fazermos do verde e amarelo as cores dominantes da resistência democrática, da manifestação do próximo dia 19/06/21 e das que se seguirão (*)?


Resistir ao projeto totalitário do capitão cloroquina é uma bandeira de todos os democratas, sejam eles de esquerda, de centro ou de direita.

Está na hora de o verde e o amarelo voltarem às mãos dos democratas, que são a maioria dos brasileiros. Definitivamente, ela não deve, e não pode ser a marca dos que defendem ditaduras e não têm apreço pela democracia.

Quando o verde e o amarelo voltarem a ser as cores dominantes de nossas manifestações e outras cores, inclusive o vermelho e o preto, forem meras manchas na manifestação, este será o índice de que o movimento foi abraçado pela cidadania, e de que alcançou a máxima amplitude e força política.

E, quando isto acontecer, e se acontecer, seremos todos vitoriosos, pois, mais uma vez, o obscurantismo terá sido derrotado!

______
(*)
Vivemos em um contexto político incomum e extraordinário.
Ir ou não ir às manifestações diante dos riscos reais de contágio é um dilema de difícil resolução, porque, embora essa decisão tenha um caráter indelegável e pessoal, ela pode ter consequências coletivas trágicas.
Claro, por isso, quem for ou não for às manifestações não merecerá críticas diante das circunstâncias políticas que as tornarão, doravante, inevitáveis, e penso, incontíveis.
Se for, há que ser com todos os cuidados; quais são, todos já os conhecemos!

terça-feira, 8 de junho de 2021

Reflexões









sábado, 5 de junho de 2021

O erro de FHC

Sempre nos sentimos fascinados com a inteligência. Jamais deixei de me sentir encantado com FHC neste aspecto.

Mas chegou o momento de nos libertarmos desse “canto de sereia” hipnótico, pois estou convencido de que nos últimos anos FHC não tem tido mais um papel positivo na política.


FHC foi um grande presidente da república. O que fez de positivo foi incontestável. Os que são justos jamais poderão lhe negar feitos magníficos. Muito já se disse e escreveu sobre isso, pois foi um dos nossos melhores presidentes. Quanto a isso, a história já lhe fez justiça.

Mas o objetivo deste post é falar do presente, e da influência negativa que tem tido; lamentavelmente, que se inicia dentro do seu próprio partido, o PSDB.

Sei que estou pisando em casa de marimbondos, mas essa discussão precisa ser iniciada, focalizando, mais precisamente, neste momento, em que o PT, que quis até “impichá-lo”, se derrama em elogios, buscando resgatá-lo como personalidade e, principalmente, como cabo eleitoral de Lula.

Lembro algumas questões objetivas:
  1. As primeiras experiências da modalidade de “corrupção estratégica” (captação planejada e centralizada, para servir a um projeto político, de recursos ilícitos de licitações fraudadas na administração direta e de obras superfaturadas nas estatais) envolveram políticos do PSDB; o PT aprendeu, aperfeiçoou e institucionalizou essa estratégia ao escolher a ODEBRECHT como empreiteira operadora preferencial. O mensalão e o petrolão foram demonstrações provadas desse momento;
  2. FHC jamais defendeu a Lava-Jato, a não ser como jogo de cena, pois os senões foram sempre o conteúdo principal; pior, alimentou o discurso interno do PSDB e de seus militantes no que, mais adiante, conformou a força política e social do “antilavajatismo”. Com isso, aliou-se, objetivamente, a Bolsonaro, ao PT e ao “centrão”, para liquidar com a Lava-Jato;
  3. De longa data vem sendo um defensor de Lula (me refiro ao período em que ficou evidenciado o envolvimento do PT com a corrupção) e atuou, por dezenas de manifestações pessoais, e milhares de palavras, desde a sua condenação, para criar em sua área de influência, inclusive no STF, ambiente para a anulação das condenações de Lula; e esta passação de pano acentuou-se no período anterior às eleições de 2018;
  4. Por último, lançou (dizendo que não lançou) a candidatura de Lula para 2022, o que praticamente já o colocou no 2º turno.
Sei que estarei enfurecendo a muitos dos seus seguidores, mas estou preparado para um debate respeitoso.

Doravante, como Ulisses, pedirei para me amarrarem ao mastro do navio para escapar dos “cantos de sereia”. Para construir a democracia não precisamos de gurus, nem grandes nem pequenos. Muito menos de mitos. Basta-nos o conhecimento e a inteligência!

Mas nestes dias aprendi que vivemos cercados de gado. Não apenas bolsonaristas, mas lulopetistas, fhc-istas,…ou até papistas. O que se vai fazer, a não ser lutar contra isso?

quarta-feira, 2 de junho de 2021

A necessidade histórica da 3ª Via

A 3ª Via significa uma alternativa democrática a Bolsonaro e a Lula.

Ela corresponde à necessidade histórica de um novo projeto político e de nação, sem o qual estaremos, mais uma vez, adiando um Brasil mais democrático, mais próspero e mais justo!

Sobretudo, esse futuro é possível! Precisamos, agora, para viabilizar e realizar essa necessidade histórica, unir a maioria dos brasileiros, que são democratas!

E devemos receber, de forma aberta e ampla, todos os brasileiros dignos que queiram se somar a este projeto!

Não importa que o candidato da 3ª via seja de esquerda, de centro ou de direita. O que importa é que seja um democrata!

Neste momento, de construção deste projeto, nada impede que quem seja de esquerda defenda que esse candidato seja um democrata de esquerda; que quem seja de direita defenda que esse candidato seja um democrata de direita. Isto apenas enriquecerá o leque de nossas alternativas.

Indispensável, entretanto, para realizá-la, é colocar os interesses dos brasileiros acima dos interesses partidários, e romper com o nós contra eles, que divide o Brasil e que caracteriza a polarização bolsonarismo x lulopetismo.

A tarefa histórica dos democratas é levar o candidato da 3ª via ao 2º turno das eleições presidenciais de 2022. Se ele chegar lá será o próximo presidente da república.


Esquerda, direita, centrão, ou democracia?

Estamos acostumados, e condicionados, ao analisarmos a política brasileira, a ficarmos aprisionados às alternativas políticas e conceituais de esquerda, centro ou direita. Se elas correspondem a opções político-programáticas e ideológicas bem definidas, e de longa tradição histórica, entretanto, hoje, elas bloqueiam o desenvolvimento de nossa democracia.


E, ao buscarmos uma opção que rompa com os erros da esquerda ou da direita, muitas vezes buscamos um “centro” hipotético de valores ou programa indefinidos; e nos vemos sempre diante do risco real, ou da fatalidade, de cairmos nos braços do “centrão”, um espectro fantasmagórico, mas concreto, onipresente e assustador, corrupto, fisiológico e descompromissado com a superação dos problemas nacionais.

Do “centrão” não escapou o lulopetismo; pior, ao render-se a ele, fez da corrupção estratégica (*) a sua marca; e, agora, o bolsonarismo seguiu os mesmos passos, vendendo a alma ao diabo e rompendo, descaradamente, com o seu discurso de campanha.

A 3ª Via não corresponde à visão de opções políticas neste mesmo plano. Ela é a superação, em outro plano, da trágica busca da esquerda ou da direita por um centro, ou centrão, para poder governar. Definitivamente, não é pela reprodução disso que devemos lutar, e é com isso que queremos romper! A esquerda ou a direita tem preferido aliar-se ao centrão, que vende-se ao sabor das circunstâncias, do que unirem-se, tendo como referência o valor fundamental da democracia para fazer valer o interesse nacional!

Não vivemos mais no tempo da guerra fria. Portanto, a opção pelo valor fundamental da democracia está em um plano superior aos interesses da esquerda, da direita, do centro ou do “centrão”. Somente o projeto da democracia será capaz de isolar o “centrão” no legislativo, formando uma aliança democrática majoritária para governar. Isto é fundamental para superarmos o “atraso” do sistema político brasileiro e promover, mais adiante, as reformas que se farão necessárias!

A 3ª Via quer escapar do dilema ilustrado pela figura, aprisionado à uma mesma lógica, que insiste, tragicamente, em se repetir. Ela propõe que nos reencontremos em um plano superior; ou seja, no valor unificador da democracia!

Haverá quem não concorde com isso, pois essa visão atenta contra os seus projetos de poder. Deixemos que gritem sozinhos!

______
(*) A “corrupção estratégica” é orientada por um projeto político, e por possuir um comando e planejamento centralizado para atingir os seus objetivos. Ela se diferencia da velha e conhecida "corrupção laissez faire", que não possui comando ou planejamento centralizado.

sábado, 29 de maio de 2021

Rouba mas faz, de novo?

São muitos os que não concordam e se sentem incomodados com o teor deste artigo do jornalista Carlos Alberto Sardemberg, publicado hoje, 29/05/21, no caderno de economia do O Globo (*).


Muitos, “convenientemente”, não podem concordar, embora reconheçam o poder descritivo do autor sobre a nossa trágica realidade.


Mas, de gado, o que se há de esperar? Pois, seríamos ingênuos em pensar que só exista gado bolsonarista? Não, definitivamente! Existe, também, gado lulista, fhc-zista, etc..

Íntegra do texto:

Quando se cita o mote, os mais jovens – e nem estes tão jovens assim – lembram-se de Paulo Maluf.

Mas até isso Maluf pegou, digamos, de maneira indevida. O verdadeiro dono do “rouba mas faz” é Ademar de Barros, político dos anos 40 a 60, prefeito e governador de São Paulo, senador, candidato a presidente.


Ele mesmo espalhava as piadas a seu respeito. Nos comícios, dizia: neste bolso nunca entrou dinheiro roubado; e a platéia, divertida: calça nova, governador. Ele ria.


Também lançou o que poderia ser o lema da atual velha política: amigo meu não fica na estrada. Era verdade. Ademar no governo, não tinha um ademarista que ficasse sem cargo público.


O folclore ficou para Ademar de Barros, mas o fato é que a coisa se espalhava por todo o espectro político. O consenso tácito era o seguinte: todo mundo levava o seu, o importante é que abrisse estradas (ou construísse Brasília), oferecesse bons negócios públicos para os correligionários e nomeasse a turma.


O capitalismo de amigos sempre esteve na raiz da política brasileira. Até que foram apanhados o mensalão e o petrolão – mas que, visto de hoje, parecem mesmo dois pontos fora da curva.Todo mundo está sendo perdoado nas instâncias judiciárias e políticas.


O STF vem cancelando condenações e devolvendo ao  cenário político personagens que curtiram cana em anos recentes.


Na política, não há melhor exemplo  de anistia plena, geral e irrestrita do que o encontro entre Fernando Henrique Cardoso e Lula.



Lula saiu de lá com o voto de FHC e o passado limpo. Não precisou pedir desculpas pelos eternos ataques ao tucano (herança maldita, entreguista, neoliberal), pelos seguidos pedidos de impeachment que o PT entrava contra o governo FHC, muito menos pelo mensalão e pelo petrolão.


Em resumo, Lula levou tudo e não entregou nada.

Digamos que FHC tenha feito algumas ressalvas em privado. Mas isso não conta em política. Na sua única manifestação pública, Lula disse que se fossse FHC contra Bolsonaro, ele votaria no tucano.


Estão de gozação.


FHC disse que ainda continua preferindo uma terceira via, mas tornou-a ainda mais difícil – se não a enterrou – ao anistiar Lula sem levar nada em troca.


Reparem no cenário político – ex-presidiários voltando ao comando, o Centrão nomeando e gastando, Bolsonaro ameaçando golpes e vendendo pedaços do orçamento, os correligionários ocupando os cargos, a Lava Jato destruída, os negócios de amigos só não voltam com tudo porque a economia ainda patina. Mas já se nota a ocupação de estatais e fundos de pensão pela turma do governo.


Eis o quadro: amigo meu não fica na estrada; ganhar 200 mil por mês do governo não tem nada demais; para os amigos, tudo, para os adversários, o rigor da lei. (Dizem que esta última era do Getúlio!) E Bolsonaro quer colocar os militares na roda.


Boa parte do mundo desenvolvido está saindo da pandemia e voltando a crescer. Há riscos pela frente, como a temida volta da inflação elevada, provocada pelo excesso de dinheiro que os governos gastaram e continuam gastando. Sim, era preciso apoiar pessoas e empresas na pandemia, mas como já dizem alguns economistas, talvez tenham colocado água de mais na bacia.


De todo modo, por aqui, estamos longe de superar a pandemia. O nível de investimenbto público e privado está em torno de 15% do PIB, insuficiente para sustentar crescimento. A reforma tributária foi cortada em fatias tão finas que nem se as vê. É possível que o sistema piore com vários impostos e contribuições sobre as mesmas mercadorias e serviços.


Neste momento, a recuperação dos desenvolvidos está nos ajudando, via comodities e juros zerados pelo mundo afora. Mas se lá subirem inflação e juros, teremos outra conta a pagar – em um mau momento.


Capaz de piorar. Ficar no rouba e nem faz.


______

(*) https://sardenberg.com.br/rouba-mas-faz-de-novo/

quarta-feira, 19 de maio de 2021

Loucura ou crime?

No dia 16 de maio de 2021 o jornal o Estado de S.Paulo (Estadão) em sua coluna de Opinião, sob o título "Loucura ou crime?" (*), reportou duas iniciativas, respectivamente, das comunidades jurídica e médica, defendendo o afastamento do presidente Jair Bolsonaro. Na primeira, juristas e acadêmicos entraram com Ação Civil no STF pedindo a sua Interdição; na segunda, os profissionais de saúde defendem o seu impedimento.

A iniciativa dos juristas, que está destinada a fazer história, constitui um documento acadêmico sobre os pressupostos conceituais e jurídicos que justificam a Interdição.

Abaixo, a íntegra do artigo de Opinião do Estadão:

Juristas e médicos apontam incapacidade mental de Bolsonaro para governar

Um grupo de sete juristas e acadêmicos protocolou no Supremo Tribunal Federal (STF) uma Ação Civil (**} solicitando o “reconhecimento da incapacidade civil de (Jair Bolsonaro para) exercer o cargo e as funções atinentes à Presidência da República, com seu consequente afastamento”. 

Os autores esclarecem que não se trata de julgamento por crime de responsabilidade ou crime comum, para os quais seria necessária autorização parlamentar. Apontam ainda que não se trata de uma interdição pela incapacidade de gerir atos da vida civil, mas especificamente da “interdição de um supremo mandatário que não tem os requisitos cognitivos mínimos” para exercer a Presidência.

Na expectativa de que a Corte determine a produção de prova pericial, os autores levantaram exaustivamente ponderações de profissionais da área da psicologia, da psicanálise e da psiquiatria. As bases para o pedido já haviam sido lançadas pelo jurista Miguel Reale Jr., no artigo Pandemônio, publicado no Estado. 

Reale cataloga diversos indícios de transtorno de personalidade. Ainda em 1999, Bolsonaro dizia, em entrevista, que se fosse presidente fecharia o Congresso “sem a menor dúvida – daria o golpe no mesmo dia”. Na mesma entrevista, defendeu a tortura, e disse que o Brasil “só vai mudar quando partirmos para uma guerra civil (...) matando uns 30 mil (...). Vão morrer alguns inocentes. Tudo bem”. Já presidente, Bolsonaro, além de promover manifestações golpistas, deu inúmeras mostras de megalomania – “eu sou a Constituição”, “tenho a caneta”, “quem manda sou eu”, “o meu Exército”. 

Segundo a Classificação Internacional de Doenças da OMS, o transtorno de personalidade antissocial é caracterizado pela “indiferença insensível face aos sentimentos alheios; uma atitude flagrante e persistente de irresponsabilidade e desrespeito a regras; a baixa tolerância à frustração; a incapacidade para experimentar culpa; e a propensão a culpar os outros”. A falta de empatia de Bolsonaro ante centenas de milhares de mortos está gravada na História da Infâmia nacional: “e daí?” “não sou coveiro”, “chega de frescura”, “vai ficar chorando até quando?”. 

Reale sugere ainda o transtorno de personalidade paranoide, caracterizado por “um combativo e obstinado senso de direitos pessoais; tendência a experimentar autovalorização excessiva e preocupação com explicações conspiratórias”. Além de enxergar por toda a parte conspirações da sua nêmesis (“os comunistas”), Bolsonaro já rompeu com seu partido e confronta dia sim e outro também os governadores, a imprensa, o Congresso e o STF. Ele já ameaçou responder com “pólvora” a uma suposta invasão da Amazônia pelos EUA e sugeriu que a China está movendo uma “guerra química” (sic) contra o mundo. 

Segundo outro cânone do diagnóstico psiquiátrico, o DSM-5, da Associação Psiquiátrica Americana, o transtorno paranoide é “caracterizado por desconfiança e suspeita tamanhas que as motivações dos outros são interpretadas como malévolas”; o transtorno narcisista se manifesta pelo “sentimento de grandiosidade, necessidade de admiração e falta de empatia”; e o transtorno antissocial apresenta um padrão de “desrespeito e violação dos direitos dos outros”. 

Em Carta Aberta, 600 médicos formados na Escola Paulista de Medicina (***) elencaram os atos e omissões mortíferos de Bolsonaro na pandemia, entre eles o estímulo a tratamentos comprovadamente ineficazes; a negligência na crise de oxigênio em Manaus; a sabotagem das medidas de isolamento social; ou o descaso no planejamento da imunização. A Carta conclui com um pedido de impeachment por crimes de responsabilidade e contra a saúde pública. 

Qualquer que seja o desfecho da ação protocolada no STF, o fato de que juristas se unem para apontar um caso de incapacidade mental e médicos para pedir o impedimento político sugere que é cada vez menos verossímil uma terceira hipótese para explicar a conduta desastrosa de Bolsonaro que contribuiu para as centenas de milhares de mortes no Brasil. A leitura dos dois documentos indica que ou foi loucura ou foi crime.

_____________

(*) https://opiniao.estadao.com.br/noticias/notas-e-informacoes,loucura-ou-crime,70003716210?utm_source=estadao:app&utm_medium=noticia:compartilhamento

(**) https://static.poder360.com.br/2021/05/Peticao_Inicial_Acao_Civil_Originaria-grupo-advogados-juristas-13-mai.pdf?utm_source=estadao%3Aapp&utm_medium=tela-inicial%3Ahome

(***) https://politica.estadao.com.br/blogs/fausto-macedo/wp-content/uploads/sites/41/2021/01/cartaabertaegressosepmunifespbasta1_200120211107.pdf

segunda-feira, 17 de maio de 2021

Os dilemas da decisão de votar e a defesa da democracia

Se a trágica polarização lulopetismo x bolsonarismo continuar no 2º turno da próxima eleição presidencial, exercerei, provavelmente, e novamente, o direito de votar nulo. Acho necessário abrir essa discussão, até para combater a falácia de que foram os votos nulos e brancos que levaram Haddad à derrota.


Embora votar nulo ou em branco seja uma difícil decisão pessoal, o que fiz pela primeira vez em 2018, ela demarcou, em primeiro lugar, o meu convencimento de que nenhum dos candidatos significaria uma boa solução para o Brasil; o governo catastrófico do capitão cloroquina está a demonstra-lo. A segunda razão, é que as pesquisas, às vésperas da eleição, já demonstravam que os votos nulos ou brancos não teriam o poder de inverter o resultado mais provável. Optei por seguir minha consciência.

Esta decisão ocorreu em um contexto totalmente diferente de quando enfrentávamos a ditadura, quando não tínhamos eleições presidenciais. Neste período, combati todas as propostas de algumas organizações esquerdistas em favor do voto nulo. Na verdade, elas eram posições de boicote às eleições. E, também, combati a posição do PT de não comparecer ao Colégio Eleitoral para eleger Tancredo em 1985 pela via indireta.

Para amargor dos que defendiam a ditadura, fomos vitoriosos, e esta, naquele momento, foi a única alternativa dos democratas para promover a alternância do poder, o que demarcou o fim da ditadura e culminou com a promulgação da Constituição de 1988.

Estamos agora em outro momento. Em que pese a nostalgia totalitária do bolsonarismo, e as ameaças que estão promovendo e trazendo à democracia, caminhamos para mais uma eleição democrática. E, neste contexto histórico, a forma mais concreta de minimizar estes riscos significa encontrar uma alternativa democrática à essa trágica polarização.

Aos críticos dessa posição de milhões de brasileiros de votar nulo ou branco, lembro que, em 2018, Haddad não precisou desses votos para perder; os dados divulgados pelo TSE sobre os resultados da votação demonstraram isso claramente (*).

Da mesma forma, as análises mais respeitáveis indicam que quem enfrentar o capitão cloroquina em 2022, se ele for ao 2º turno, será o próximo presidente da república; por isso, se a trágica polarização se repetir, Lula não precisará do meu voto e do de milhões de outros democratas críticos ao lulopetismo para ganhar.

O Brasil precisa superar essa trágica polarização; portanto, somo-me aos que estarāo, até o instante da votação no 1º turno da eleição presidencial de 2022, empenhados na eleição de um candidato do campo democrático capaz de romper com essa polarização. E, nós, os que defendemos essa posição, estamos trabalhando para que este candidato vá para o 2º turno; e, se isso ocorrer, derrotará qualquer concorrente, não importa quem seja. Nossa tarefa, portanto, é levar esse candidato ao 2º turno, quando será vitorioso.

Mas isso será uma construção, a que devemos nos dedicar com desprendimento e urgência, pois este resultado ainda não está dado.

O objetivo de cada democrata não é o de votar, a qualquer custo, no candidato que poderá ser vitorioso. Não estamos participando de um jogo em que o objetivo é apenas ganhar. Não estamos em busca, fisiologicamente, das benesses do poder, pois continuaremos a viver do nosso trabalho. O que está em jogo é o nosso futuro, sempre adiado, o de um país mais próspero, democrático e justo.

Portanto, a primeira coisa a fazer, se a democracia está sob ataque, é unir o campo das forças democráticas, diga-se, de esquerda, de centro e de direita, sem discriminações ou hegemonismos, para romper com a trágica polarização, derrota-la, e manda-la para o lixo da história.

Da democracia que já conquistamos, cheia de defeitos, queremos eleva-la a um patamar mais alto, pois o nosso valor de hierarquia mais alta é a própria democracia.

_________
(*)