domingo, 18 de junho de 2017

As 5 capitanias hereditárias da corrupção (*)

A divulgação da gravação clandestina da conversa com o presidente Michel Temer, na calada da noite, feita por Joesley Batista, e a sua entrevista na revista Época, tiveram como objetivo derrubar o presidente da república. Joesley, ao arrogar-se este objetivo, mostrou mais uma faceta da nossa crise ética, agora como uma verdadeira briga de quadrilhas. Claro, não existem santos nessa briga!

Nos dois episódios estiveram envolvidos o jornalismo das organizações Globo. Lauro Jardim divulgou a gravação clandestina; a revista Época a entrevista. Eficiência jornalística, vontade de informar, ou uma intencionalidade política articulada? Erick Bretas, diretor de mídias digitais da Globo, neste texto, mostra o seu olhar sobre esta terrível e degradante realidade, em que "o Brasil foi dividido entre cinco grandes quadrilhas nas últimas duas décadas". Simplista? Talvez!


Na foto, a reunião convocada por Dom Vito Corleone, no filme "O Poderoso Chefão", para negociar a paz com os Tattaglia, os Barzini, os Falcone e os Forlenza, depois de seguidos banhos de sangue que erodiram o poder político e econômico das famiglias mafiosas de Nova York. Dom Vito abre o encontro ainda sob o impacto do assassinato de seu filho, Sonny Corleone, com uma pergunta que os cappi da política brasileira devem se fazer todos os dias: "Como é que pudemos chegar a esse ponto?


Facebook 17/06/17 às 14:35

Se você analisa as delações da JBS, as da Odebrecht e as das demais empreiteiras, a conclusão é mais ou menos a seguinte:

O Brasil foi dividido entre cinco grandes quadrilhas nas últimas duas décadas. 

A maior e mais perigosa, diferentemente do que diz o Joesley, era a do PT: mais estruturada, mais agressiva, mais eficiente e com os planos mais sólidos de perpetuação no poder. Comandava a Petrobras, os maiores fundos de pensão e dividia o poder com as quadrilhas do PMDB nos bancos públicos. Sua maior aliada econômica (mas não a única) foi a Odebrecht. O chefão supremo, o capo di tutti cappi, era o Lula. Palocci e Mantega, os operadores econômicos. José Dirceu, até ser defenestrado, o consigliere. Politicamente equivalia ao Comando Vermelho: pra se manter na presidência era capaz de fazer o Diabo.

A segunda maior era a do PMDB da Câmara. Seus principais chefões eram Temer e Eduardo Cunha. Eliseu Padilha, Geddel Vieira Lima, Moreira Franco e Henrique Eduardo Alves eram os subchefes. Lúcio Funaro era o operador financeiro. Mandava no FI-FGTS, em diretorias da Caixa Econômica, em fundos de pensão e no ministério da Agricultura. Por causa do controle desse último órgão, tinha tanta influência na JBS. Era o ADA (**) dos políticos - ou seja, mais entranhada nos esquemas do poder tradicional e mais disposta a acordos e partilhas.

A terceira era o PMDB do Senado. Seu chefão era Renan Calheiros. Seu guru e presidente honorário, José Sarney. Edison Lobão, Jader Barbalho e Eunício Oliveira eram outras figuras de proa. Mandava nas empresas da área de energia e tinha influência nos fundos de pensão e empreiteiras que atuavam no setor. Por divergências sobre o rateio da propina, vivia às turras com a quadrilha do PMDB na Câmara, que era maior e mais organizada. Esta facção tem ainda a simbólica figura de Romero Jucá, que circula entre todos os grupos listados nesse texto como uma espécie de cimento que os une e protege ("delimita tudo como está, estanca a sangria.").

A quarta era o PSDB paulista, cuja figura de maior expressão era o Serra. Tinha grande independência das quadrilhas de PT e PMDB porque o governo de São Paulo era terreno fértil em licitações e obras. A empresa mais próxima do grupo era a Andrade Gutierrez, mas também foi financiada por esquemas com Alstom e Odebrecht.

A quinta e última era o PSDB de Minas - ou, para ser mas preciso, o PSDB do Aécio. Era uma quadrilha paroquial, com raio de ação mais restrito, mas ainda assim mandava em Furnas e usava a Cemig como operadora de esquemas nacionais, como o consórcio da hidrelétrica do Rio Madeira.

Em torno dessas "big five" flutuavam bandos menores, mas nem por isso menos agressivos em sua rapinagem - como o PR, que dava as cartas no setor de Transportes, o PSD do Kassab, que controlou o ministério das Cidades no governo Dilma, o PP, que compartilhava a Petrobras com o PT, e o consórcio PRB-Igreja Universal, que tinha interesses na área de Esportes.

Havia também os bandos regionais, que atuavam com maior ou menor grau de independência. O PMDB do Rio e seu inacreditável comandante Sérgio Cabral, por exemplo, chegaram a ser mais poderosos que os grupos nacionais. Fernando Pimentel liderava uma subquadrilha petista em Minas. O PT baiano também tinha voo próprio, embora muito conectado ao esquema nacional. Os grupos locais se diferenciavam das quadrilhas tucanas pelas aspirações e influência mais restritas aos territórios que governavam.

Por fim, vinham parlamentares e outros políticos do Centrão, negociados de maneira transacional no varejo: uma emenda aqui, um caixa 2 ali, uma secretaria acolá. Esses grupos se acoplavam ao poderoso de turno e a suas ideologias: de FHC a Lula, de Dilma a Temer. O neoliberal de anteontem era o nacionalista de ontem, o reformista de hoje e o que estiver na moda amanhã.

Digo tudo isso não para reduzir a importância do PT e o protagonismo do Lula nos crimes que foram cometidos contra o Brasil. Lula tem de ser preso e o PT tem que ser reduzido ao tamanho de um PSTU.

Mas ninguém pode dizer que é contra a corrupção se tolerar as quadrilhas do PMDB ou do PSDB em nome da "estabilidade", "das reformas" ou de qualquer outra tábua de salvação que esses bandidos jogam para si mesmos.

E que ninguém superestime as rivalidades existentes entre esses cinco grupos. Em nome da própria sobrevivência eles são capazes de qualquer tipo de acordo ou acomodação e farão de tudo para obstruir a Lava Jato.


_________
(*) Este Título foi sugestão de Márcia Zoé Ramos
(**) Amigos dos Amigos (A.D.A.). https://pt.wikipedia.org/wiki/Amigos_dos_Amigos

3 comentários:

  1. Obrigada pela referencia Carlos. Não resisti em rebatizar o texto em minha página na rede fazendo alusão ao Brasil colônia ( 1534) com suas 15 Capitanias doadas aos senhores mandatários pelo Rei Dom João III.O Texto de Bretas é perfeito. Abraços

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  2. Tem a quadrilha da Globo, Band, Veja, Folha, Estadão, Istoé, Jovem Pan, SBT, que recebe grana da JBS e de bancos públicos (verba de publicidade estatal), que sonega e cujos processos 'somem' ainda na RF. Também recebem verbas de empresas financeiras que depois vão à falência, fazem comerciais de bancos, empresas farmacêuticas, planos de saúde, empresas de telefonia ... muitos dos quais lesam os clientes fragorosamente. Dessa quadrilha que está no poder há pelo menos seis décadas ininterruptas não se fala. Os juízes que atuam nos casos em que são partes são cooptados via prêmios e honrarias - além das propinas eventuais - e os globais moram na Joatinga, Recreio, Lagoa, Leblon ... ao lado dos empresários ricos que exploram o povo e dos juízes e procuradores que fingem ser do bem, mas ganham salários acima do teto constitucional. E quem acusa o PT de ser a 'pior quadrilha' vive no Brasil maravilha, come churrasco todo dia, viaja ao exterior e quer que o pobre não tenha direitos - nem mesmo trabalhistas. Quadrilheiros são vocês.

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  3. Tem a quadrilha da Globo, Band, Veja, Folha, Estadão, Istoé, Jovem Pan, SBT, que recebe grana da JBS e de bancos públicos (verba de publicidade estatal), que sonega e cujos processos 'somem' ainda na RF. Também recebem verbas de empresas financeiras que depois vão à falência, fazem comerciais de bancos, empresas farmacêuticas, planos de saúde, empresas de telefonia ... muitos dos quais lesam os clientes fragorosamente. Dessa quadrilha que está no poder há pelo menos seis décadas ininterruptas não se fala. Os juízes que atuam nos casos em que são partes são cooptados via prêmios e honrarias - além das propinas eventuais - e os globais moram na Joatinga, Recreio, Lagoa, Leblon ... ao lado dos empresários ricos que exploram o povo e dos juízes e procuradores que fingem ser do bem, mas ganham salários acima do teto constitucional. E quem acusa o PT de ser a 'pior quadrilha' vive no Brasil maravilha, come churrasco todo dia, viaja ao exterior e quer que o pobre não tenha direitos - nem mesmo trabalhistas. Quadrilheiros são vocês.

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