sábado, 4 de fevereiro de 2023

Se Bolsonaro não conseguiu dar o golpe que tentou dar é porque jamais teve força para dar

Bolsonaro sonhou em governar como ditador com marcas fascistas. Os seus apoiadores extremistas compraram esta ideia, acamparam em frente aos quartéis e acreditaram que as Forças Armadas sairiam para assumir, pela força, um Poder Moderador inconstitucional. Neste ativismo totalitário consumiu todo o seu mandato; finalmente, ameaçou não reconhecer o resultado das urnas se este lhe fosse desfavorável, e deixou a comunidade democrática nacional e internacional de sobreaviso.

Este texto, baseado na lógica e nos fatos, é de otimismo e de esperança nas perspectivas de nossa democracia. Vejamos:
  1. Bolsonaro sempre quis dar o golpe; e tentou dá-lo; sua última tentativa foi em 8/01/23; não conseguiu, mas continuará querendo dá-lo;
  2. Os extremistas que o apoiam, frustrados e inconformados, ainda o apoiarão em outras aventuras;
  3. A chave para esta análise é separar o golpe que Bolsonaro tentou dar, e que ainda gostaria de dar, do golpe que não teve nem terá força para dar;
  4. Se Bolsonaro não conseguiu dar o golpe que tentou dar é porque jamais teve força para dar.
Os fatos demonstraram que Bolsonaro não conseguiu dar o golpe porque se impôs o poder e a vontade das forças democráticas: cidadãos, instituições democráticas do Estado e a cadeia de comando das Forças Armadas comprometida majoritariamente com a Constituição e com a legalidade (*). E foi de grande importância o peso da comunidade democrática internacional, vigilante, a apoiar a democracia brasileira.

Projeto de Oscar Niemayer

Mas porque tantos se recusam a aceitar essa realidade? Razões cognitivas, desinformação ou porque resistem emocional ou subjetivamente a aceitar os fatos. Contrários ou a favor do golpe, muitos veem a política como o império da esperteza e da dissimulação, como uma “guerra por outros meios”, e sentem-se justificados a defender e expressar suas posições por meio de opiniões e narrativas sabidamente fakes, desde que as vejam como convenientes para a fragilização de seus adversários. Os extremistas, além disso, chegam a ver os seus adversários como inimigos a serem destruídos.

O que nos diz a observação factual da política brasileira? Que existe um campo democrático majoritário na sociedade, e que este campo saiu fortalecido das eleições de 2022, em todos os cargos políticos, tanto nos poderes executivo e legislativo federal como nos estaduais.

Para os fins desta análise, o Campo Democrático é definido como o conjunto dos cidadãos que (1) repudiam todo tipo de ditadura e que (2) só querem viver em um Estado Democrático de Direito (**).

O campo democrático não é algo abstrato ou hipotético. Ele é concreto e formado, fundamentalmente, por cidadãos de dois tipos que, neste texto, são distinguidos por duas denominações: Democratas radicais e Democratas conservadores (***).

Os democratas estão em todos os setores da sociedade e ocupam majoritariamente o poder político em todas as instâncias. Sobretudo, o campo democrático demonstrou que possui a força institucional e política para derrotar todas as tramas antidemocráticas, tal como foi a tentativa de golpe do trágico 8/01/23, como a que agora está sendo protagonizada pelo senador Marcos do Val, e como às que ainda serão intentadas por irredutíveis extremistas.

Se faz necessário, sem dúvida, que sejam aperfeiçoados os mecanismos jurídicos e legais para defender a democracia.

Se impõe, por isso, que saibamos tirar todas as consequências desta compreensão de que os democratas venceram as eleições. Em primeiro lugar, que a grande maioria dos democratas, sejam eles radicais ou conservadores, votaram tanto em Lula quanto em Bolsonaro nos 1º e 2º turnos das eleições presidenciais de 2022, à exceção dos democratas que preferiram votar nulo ou branco ou se abster. Em segundo lugar, que nenhum cidadão ou partido do campo democrático possui o monopólio de “ser democrata” e, muito menos, de que pode arrogar-se ser mais democrata do que outro.

Muitos levarão algum tempo para aceitar essas conclusões. Mas esta compreensão nos permitirá derrotar os extremistas e dar vez, com generosidade, à pacificação indispensável para inaugurar uma nova e necessária convivência democrática. 

E será com essa compreensão, apoiados no conhecimento, na ciência e na cultura, que poderemos retomar o progresso, promover a prosperidade, erradicar as nossas misérias e superar, unidos, os nossos grandes problemas.

Os que, à esquerda ou à direita, defendem ditaduras e não têm apreço por viver em um Estado Democrático de Direito são Extremistas ou Não-Democratas. E são minoritários em toda parte, seja nos parlamentos, nos governos e na sociedade. 

E, definitivamente, não são democratas os bolsonaristas que acamparam em frente aos quartéis pedindo intervenção militar, e que invadiram e depredaram os palácios dos Três Poderes da República. E, também, não são democratas os que, mesmo à distância, aplaudiram e apoiaram essa conspurcação dos símbolos de nossa República.
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(****) 
No 2º turno os Votos Válidos, dados a Lula (38,57%) e a Bolsonaro (37,20%) somaram 75,77% dos Eleitores Apurados. Os Eleitores Apurados são a soma dos votos válidos, mais os votos nulos e brancos, mais as abstenções.

Observe que os Votos Nulos e os Votos Brancos, em conjunto, são um pequeno percentual do total de eleitores apurados; no 2º turno da eleição presidencial alcançou 3,64%. Por sua vez, as Abstenções, o número de eleitores que não compareceram para votar, foi de 20,58%. Estes votos, nulos e brancos, mais as abstenções, dados a “Ninguém”, somaram 24,23% dos eleitores apurados. 


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