sexta-feira, 20 de janeiro de 2023

Lula deveria valorizar e agradecer o papel que as Forças Armadas tiveram na derrota do golpe

A entrevista que Lula deu à Natuza Nery da GloboNews (*), e divulgada no dia 18/01/23, revelou um Presidente surpreendido pelos fatos que cercaram a tentativa de golpe da extrema-direita bolsonarista no dia 8/01/23, sete dias após a sua magnífica posse.


Em que pese Bolsonaro tenha trabalhado a cada dia do seu mandato para envolver as Forças Armadas no seu projeto antidemocrático, a tentativa de golpe teve como consequência esclarecer e demonstrar o compromisso firme destas com a Constituição, com o Estado Democrático de Direito e com a legalidade.

Quem é contra os fatos? Os fatos listados, a seguir, são essenciais para a compreensão e superação da crise, e para a construção de um clima de estabilidade democrática:

1. A gravidade do atentado revelou um Presidente não informado pelos sistemas de informação do Estado sobre o que aconteceria, embora o que se soubesse por outros meios já fosse muito preocupante;

2. A desconfiança e a insegurança legítimas do Presidente tem base objetiva:
  • A tropa de elite institucional formada por militares das três Forças Armadas para proteger o Palácio do Planalto não agiu; pior, se omitiu; e fortes evidências mostram que foi conivente, simpática e complacente com os invasores;
  • O dispositivo de proteção da capital federal a cargo da PM/DF, sob o comando do Governador Ibaneis chegou, permissivamente, a dar escolta à massa de extremistas até a Praça dos Três Poderes; e ficou óbvio que quando lá chegaram passaram à execução do já planejado: tomar os palácios e proceder ao quebra-quebra dos símbolos da República e da democracia brasileira;
  • Não foram poucas as manifestações individuais de militares da ativa e da reserva de apoio aos insurretos.
3. Mas Lula, provavelmente, em virtude das fortes emoções que cercaram tais gravíssimos acontecimentos para derrubá-lo há poucos dias de sua posse, não conseguiu ter uma visão equilibrada do papel que as Forças Armadas tiveram para inviabilizar o golpe que Bolsonaro tentou dar apoiado por seus extremistas delirantes:
  • Fato I: as FFAA, incluídas as três forças, não saíram dos quartéis para apoiar o golpe;
  • Fato II: as FFAA já não apoiaram o golpe, quando Bolsonaro pretendera dá-lo nos 7 de setembro de 2021 e 2022; antes dos 1º e 2º turnos da eleição presidencial de 2022 e, entre 30/10/22 e 31/12/22, após a vitória de Lula, quando ainda estava no poder.
4. Foram importantíssimas as tempestivas e firmes atitudes de Lula, de Flavio Dino, dos ministros do STF, dos chefes do Poder Legislativo, dos Governadores, das Instituições civis e Personalidades do campo democrático, das principais Redes jornalísticas de Imprensa, Televisão e Rádio e, nas redes sociais, de milhões de brasileiros comprometidos com a democracia; elas demonstram a existência de uma união vigorosa das instâncias da República em defesa da democracia, e a opção esmagadora dos brasileiros pela democracia.

5. Mas essa resistência democrática não barraria o golpe se as FFAA usassem o seu poder armado para apoiá-lo. Não quiseram usá-lo, foram contra usá-lo e decidiram não o usar. Não cabe a nós ficarmos criando narrativas fantasiosas: se as Forças Armadas tivessem apoiado o golpe ele teria sido concretizado; somente por erro de análise ou por conveniência política alguns poderão dizer o contrário, mas esta é a simples realidade.

6. Reconhecer isto não significa leniência com os crimes contra a democracia que tenham sido cometidos por militares ou civis. Todos devem ser punidos, em respeito ao devido processo legal, a começar pelos principais responsáveis. 

Por que é fundamental trazer esta discussão? Porque, se Lula não compreender isso não conseguirá valorizar - e agradecer - o papel que as FFAA (diga-se, a sua cadeia de comando) tiveram na derrota do golpe e, consequentemente, não conseguirá fazer os gestos rápidos que se fazem necessários para pacificar o país, e evitar futuras crises que, infelizmente, ainda estão no horizonte das possibilidades.

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