quarta-feira, 4 de novembro de 2020

QUANTO MAIS CORRUPÇÃO MENOS DEMOCRACIA (*)

Alguns, inclusive eu e muitos queridos amigos, antes do mensalão e do petrolão, pensávamos que a corrupção no Brasil era um fenômeno típico da direita, em particular da extrema direita. Estávamos errados.

A democracia fica cada vez mais frágil quanto mais o sistema político-social é corroído pela corrupção.

Daí decorre o caráter democrático de acabar com a impunidade. Enquanto o nosso sistema de justiça garantir a impunidade dos crimes dos poderosos, geralmente mais graves, e tratar com mão de ferro os crimes dos pobres e pretos, geralmente mais leves, não teremos uma democracia respeitável.


A corrupção existe em governos de direita ou de esquerda. E ela é exacerbada nos regimes ditatoriais ou totalitários de extrema esquerda ou de extrema direita. Nestes, a ausência de liberdade, como o amordaçamento da representação política e da justiça e, particularmente, a “de imprensa”, ou jornalística, impede o controle social sobre os que têm o poder político de dispor sobre os recursos públicos.

Por isso, para mim, a democracia é o valor maior na hierarquia de valores fundamentais de um sistema político-social, seguido, em segundo lugar, pelo compromisso ético-civilizatório com o bem comum. E ninguém tem o monopólio de ser democrata, nem a direita nem a esquerda.

Por isso, em uma eleição, a opção ideológica do candidato passou a ocupar, para mim, o terceiro lugar na escala de valores.

Se, em meu processo de decidir dentre dois candidatos ficha-limpa, que é uma premissa ético-legal, eles estiverem empatados nos critérios compromisso com a democracia e com o bem comum, então passo para o terceiro critério, a sua ideologia política. Neste caso, e apenas neste, eu votaria no candidato da esquerda, que julgo ser a herdeira de valores civilizatórios generosos, caros para mim, vinculados ao princípio ético da justiça social e de uma distribuição mais equitativa das oportunidades e dos recursos públicos.

No 1º turno das eleições presidenciais eu jamais votaria em um candidato corrupto. Mas existe a trágica possibilidade, em nosso sistema político, de que estejam no 2º turno dois candidatos corruptos. Concretamente, então, os dois estariam empatados neste critério; portanto, neste caso, tragicamente, a exigência de que ambos sejam ficha limpa passa a ser irrelevante para a decisão. Qual, será, então, o meu principal critério de decisão - o de maior peso - para a escolha do candidato? Votarei no que eu julgue ter o compromisso mais sólido com a democracia.


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