Vou ser sincero. Cresce e, lamentavelmente, muito rapidamente, a minha má vontade com Paulo Guedes.
E eu sou dos que apoiou como indispensável uma reforma da previdência para ajustar o perfil do orçamento fiscal aos novos tempos para garantir a liquidez necessária para fazer frente ao pagamento das aposentadorias diante da expectativa cada vez maior de vida dos idosos.
Sou desses que, por não ser economista, o nome de Guedes pouco frequentou as minhas referências. Não me culpo por isso, pois segui outro caminho profissional.
Porém, confesso, tenho me incomodado - e muito - com algumas de suas declarações. Citarei, para ilustrar, algumas de que me lembro; talvez não sejam as suas piores, sintam-se à vontade para complementar:
- No jantar na embaixada brasileira em Washington, logo após o início do seu governo, Bolsonaro fez sentar à sua direita, Olavo de Carvalho e, à sua esquerda, Steve Bannon. Guedes se saiu com essa em seu discurso na ocasião: referiu-se à Olavo de Carvalho, como o “...líder de nossa revolução”. Se não achava, realmente, isso, que não o dissesse, pois ninguém deve dizer intencionalmente o contrário do que pensa.
- Em outra ocasião, quando Bolsonaro chamou a Michelle Macron de feia, Guedes o secundou. Mais uma vez, perguntei-me, o que levaria Guedes a secundar o seu chefe em tão inadmissível, tosca e inaceitável agressão gratuita, com claras e nefastas consequências às relações do Brasil com a França?
- Quando Eduardo Bolsonaro aludiu à eventual necessidade de um novo AI-5, mais uma vez lá estava Guedes prestando declarações dúbias, secundado pelo general Heleno, que amplificaram o assunto e deixaram em dúvida se essa proposta estaria sendo cogitada dentro do governo.
- Para não estender demasiado, sua última declaração em que revela inadmissível preconceito a que as “...empregadas domésticas - com o dólar baixo - viajem para a Disneylândia (exterior)”.
Essas declarações podem ser meramente manifestações de “puxasaquismo” explícito para agradar o chefe que pensa assim, o que já deporia, se fosse apenas isso, contra o caráter de qualquer um; mas podem ser mais: ele pode pensar exatamente assim, e não ter qualquer apreço pela democracia.
Porém, suas últimas declarações no campo mais explicitamente econômico, além de prejudicar a própria economia, deixam a todos com o cabelo em pé. Além de irresponsáveis para um ministro da economia, o que provocou um ataque especulativo ao câmbio, revelou que o “seu” ultrapassado liberalismo não inclui o combate às desigualdades sociais.
Cabe perguntar se Guedes, além de sua personalidade histriônica, tem algo mais a oferecer para exercer o cargo que ocupa, além do que, pelo menos para mim, se parece, cada vez mais, com uma farsesca competência. Passo a palavra.