terça-feira, 7 de setembro de 2021

As Forças Armadas disseram não ao golpe!

Este dia 7/09/21 teve uma importância fundamental para o que virá, a seguir, no processo político brasileiro. Ele marca um claro posicionamento das Forças Armadas em favor da democracia e a debacle da chance de Bolsonaro de disputar com sucesso a sua reeleição.

Como assim, se as Forças Armadas não levaram um soldado para as ruas, e se Bolsonaro levou dezenas de milhares de pessoas para os seus “comícios”? Este texto tenta mostrar o que às vezes não se apresenta evidente diante de nossos olhos.

Temos que reconhecer: ainda ontem eram consideradas com preocupação por todos os democratas as ameaças de Bolsonaro ao STF, até de fechá-lo, como os seus seguidores radicais propõem às claras.

Quem, em sã responsabilidade, não as levaria a sério se a origem dessas ameaças é o próprio presidente? Ontem mesmo, dia 6/09, à noite, grupos radicais forçaram, com caminhões pesados e carros, a entrada no trecho do Eixo Monumental interditado pela polícia militar. Ele inclui a Praça dos Três Poderes onde está o prédio do STF. E gritavam: “…e nós vamos invadir o STF amanhã!”. E todos viram, nos vídeos, que o dispositivo policial não teria condições para contê-los se tivessem recebido o comando de ir à frente (*).

O que os teria parado? O medo? Mas isto não seria esperável desses “operacionais” treinados e dispostos a tudo! Mais provável é que receberam ordem de parar! Ou seja, o medo, se houve, esteve um pouco acima na sua cadeia de comando!

Por que pararam? Porque quem os comandava temeu as consequências, pois não poderiam prosseguir sem o apoio das Forças Armadas a esses atos de terrorismo! E no vértice desta cadeia, não é difícil adivinhar, está o presidente da república.

A consequência inevitável para o capitão, já crescentemente isolado política e socialmente, seria o impeachment. E Mourão está preparado para assumir!

Este dia 7/09 foi um ponto sem volta. Pois, o que se viu - e ficou claro para todos - é que o capitão não blefa apenas com os democratas, ameaçando-os com golpes de estado! Blefa, também, com os seus apoiadores pois passou a ser evidente que não possui a força que alega ter para governar autoritariamente desconhecendo os demais poderes da república. Ou seja, as Forças Armadas não o apoiarão com medidas de força para “enquadrar” o STF ou o poder legislativo. E, definitivamente, não darão um golpe para que o capitão tresloucado possa governar ditatorialmente.

Claro, voltam pra casa frustrados, não apenas os seus “operacionais” que estavam dispostos a tudo, mas, também, a maioria dos que vieram de longe a chamado do seu capitão, para “resolver” e travar uma batalha final na Esplanada dos Ministérios no dia simbólico e épico da independência!


Voltam para casa com um sabor de derrota e tendo que examinar a hipótese de que o capitão apenas os usou como massa de manobra, para promover um comício eleitoral. Pois foi o que aconteceu. Talvez, como consolação, possam dizer que essa cara mobilização e logística não expontânea conseguiu reunir dezenas de milhares de apoiadores. E isto, de fato, não é pouco. Mas com que Bolsonaro os brindou? Com as quase mesmas diatribes contra o STF em um rápido discurso! Convenhamos, se era só pra isso não precisariam ter vindo de tão longe! Se pelo menos tivesse tido, também, um show musical teria sido melhor, não é?

Hoje foi um dia especial, um ponto de virada! Que não reste dúvidas, para todos, oposição ou apoiadores de Bolsonaro, de que lado estão as Forças Armadas. Estão com a democracia, com o Estado Democrático de Direito, com a lei e com a ordem.


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(*) https://twitter.com/i/events/1435213841307033605?s=20

sábado, 4 de setembro de 2021

Carta de “desconvite” para as manifestações do dia 7 de setembro

O Movimento Batistas por Princípios divulgou no dia 3/09/21 a nota “Desconvite ao 7/09” (*), um brilhante e claro posicionamento em oposição às “iniciativas autoritárias e pouco democráticas do Presidente da República”, particularmente quanto aos objetivos declarados das manifestações convocadas para o dia sete de setembro próximos.

O documento fala por si mesmo: é em defesa da democracia; mas é exemplar sob um aspecto, o de que não se pode ser leniente com a defesa do Estado Democrático de Direito.

É de se prever que outros grupos de religiosos se posicionem. Dentre outros, está tardando o posicionamento oficial da CNBB, pois milhões de católicos votaram em Bolsonaro, embora o presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, dom Walmor Oliveira de Azevedo tenha divulgado nesta sexta-feira, 3 de setembro, um vídeo por ocasião do próximo Dia da Pátria, 7 de setembro (**). É de se registrar, entretanto, a bem da exatidão deste post, que, embora a intervenção de dom Walmor não tenha sido apresentada como um posicionamento oficial da CNBB, não foi menos clara e incisiva na defesa da democracia. O vídeo com que se posiciona, que poderá ser encontrado no link, é excelente. 

Claro, a maioria dos democratas que votou em Bolsonaro - de todas as religiões -, já está sumamente decepcionada. Mas muitos, equivocadamente, pretendem ir às manifestações, pois ainda se iludem com as mentiras do Presidente..

Este exemplar documento dos batistas tem um mérito especial: é um apelo à inteligência e à racionalidade e luta contra a tentativa de fazer dos religiosos “massa de manobra” do projeto antidemocrático de Bolsonaro.


Íntegra da Nota: “desconvite ao 07/09”


Diante da convocação feita às igrejas evangélicas, por diversas lideranças, para saírem às ruas em apoio às manifestações do próximo dia 7 de setembro, fazemos as seguintes considerações:

1. Defendemos e propagamos a liberdade de expressão e opinião, garantidas pela Constituição Brasileira, na convicção de que nenhum cidadão do nosso país está acima das normas constitucionais;

2. Estranhamos o lamentável fato de que pastores, embora ensinem em suas igrejas uma eclesiologia democrático-congregacional, expressem sua solidariedade a uma manifestação de claro apoio a iniciativas autoritárias e pouco democráticas do atual Presidente da República;

3. Denunciamos, com perplexidade, o evidente caráter contraditório da manifestação, uma vez que — em nome da defesa da liberdade — faz a apologia inconstitucional do fechamento do Congresso e do Supremo Tribunal Federal;

4. Expomos nossa desconfiança em relação a um movimento que pretende dar salvo-conduto a um presidente que, juntamente com seus filhos, ainda deve explicações a sérios e graves indícios de corrupção e uso indevido de verbas de gabinete constituídas por dinheiro público — indícios que estão sendo investigados e, por si, revelam situações que parecem desmontar discursos hipócritas contra a corrupção;

5. Discordamos de todo e qualquer apoio acrítico ao atual governo — bem como à voluntária submissão ao papel de massa de manobra que se tem visto em vários setores da sociedade, em especial no ambiente evangélico — tendo em vista:
a) o fracasso na condução da crise de saúde no país como resultado da pandemia do Coronavírus;
b) o fracasso da política econômica, que se confirma pelo aumento do desemprego, da fome e da miséria, bem como de outras diversas maneiras, inclusive no crescente abandono do país por multinacionais muito conhecidas e aqui presentes há várias décadas;
c) o fracasso no controle inflacionário, resultando no absurdo e crescente aumento de preços, cujos mais notórios são dos alimentos, gás de cozinha e combustíveis, situação que deixa ainda mais vulneráveis aqueles que, de alguma forma, já se encontram prejudicados pela pandemia;
d) o fracasso no prometido combate à política predatória do chamado Centrão, cujo maior representante está hoje assentado num dos gabinetes do Palácio do Planalto, na qualidade de Ministro da Casa Civil;
e) o fracasso na estabilização política;
f) o fracasso nas políticas educacionais;
g) o fracasso no plano de prevenção à crise hídrica e de energia elétrica que, depois de claros sinais, agora se avizinha.

6. Afirmamos com ênfase que a convocação para tal manifestação pública, embora exiba como fachada a defesa da liberdade e da democracia, na verdade se revela como astuta tentativa do atual governo de provocar rupturas institucionais e criar ambiente favorável a instalação de um governo autoritário e personalista.

Sendo assim, conclamamos aos irmãos e irmãs, especialmente aos batistas que sempre defenderam princípios de verdadeira democracia e separação entre Igreja e Estado, a não comparecerem às ruas na próxima terça-feira, dia 7 de setembro, aproveitando melhor o seu tempo com outras atividades mais recompensadoras e que, ao fim e ao cabo, demonstrem o autêntico respeito que temos pelo Dia da Independência.

MOVIMENTO BATISTAS POR PRINCÍPIOS
03/09/2021.

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(**)

quinta-feira, 2 de setembro de 2021

A Febraban sai em defesa do Estado Democrático de Direito

Está instaurada uma divisão, provocada por Bolsonaro, entre as entidades representativas das atividades econômicas brasileiras.

Isto se dá como consequência da crise institucional que ele resolveu provocar para enquadrar o STF, a única instituição da democracia que ele não dispõe de instrumentos para controlar. Mas persegue este objetivo para torná-lo dócil ao seu projeto totalitário. Fundamentalmente, a manifestação do dia 7/09/21 tem este objetivo.

Mas ao procurar fazê-lo ele fere premissas fundamentais do Estado Democrático de Direito; com isso, divide, politicamente, não apenas aos cidadãos enquanto pessoas físicas, mas às pessoas jurídicas, ou empresas, ou o que se convencionou chamar de PIB ou setor produtivo. Claro, atrás dessas entidades está o poder econômico que se individualiza em pessoas bem concretas.

Verifica-se, portanto, um rápido realinhamento de forças no cenário político. Este realinhamento já parece estar desfavorável ao presidente.

A FEBRABAN decidira elaborar uma carta pacificadora entre os Três Poderes para exorcizar a crise institucional; e propôs isso à FIESP, que concordou. Entretanto, esta, pressionada pelo governo, resolveu dar meia trava.

Abaixo, um trecho da reportagem da jornalista Júlia Duailibi do G1 sobre o episódio (*):

“A carta surgiu de uma ideia inicial da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), encampada depois por Skaf. O presidente da Fiesp sinalizou na sexta-feira (27), em e-mail enviado a entidades de classe, que faria a divulgação na terça (31), mas desistiu após reação do governo Bolsonaro --que, ao saber da carta, atuou para esvaziá-la. 

No domingo (29), o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), chegou a conversar com Skaf. Lira defendeu esperar que a divulgação ocorresse apenas depois de 7 de setembro. 

A Fiesp diz que a suspensão não teve a ver com o pedido de Lira. Segundo a entidade, houve muito interesse pelo manifesto e que resolveu, então, esperar novas adesões. 

A previsão inicial era que o texto contasse com a assinatura de cerca de 200 entidades de classe – entre elas a Associação Brasileira de Agronegócio (Abag), o Instituto de Desenvolvimento do Varejo (IDV), a Fecomercio e a Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave).”

Hoje, 2/09/21, a FEBRABAN resolveu prosseguir sozinha, em que pese a ameaça do governo de afastar o BB e a CEF da entidade.

Leia, abaixo, a íntegra da carta, neste momento assinada apenas pela FEBRABAN:


"A Praça é dos Três Poderes

A Praça dos Três Poderes encarna a representação arquitetônica da independência e harmonia entre o Legislativo, o Executivo e o Judiciário, essência da República. Esse espaço foi construído formando um triangulo equilátero, cujos vértices são os edifícios- sede de cada um dos poderes. 

Esta disposição deixa claro que nenhum dos prédios é superior em importância, nenhum invade o limite dos outros, um não pode prescindir dos demais. Em resumo, a harmonia tem de ser a regra entre eles.

Este princípio está presente de forma clara na Constituição Federal, pilar do ordenamento jurídico do país. Diante disso, é primordial que todos os ocupantes de cargos relevantes da República sigam o que a Constituição impõe.

As entidades da sociedade civil que assinam este manifesto veem com grande preocupação a escalada de tensões e hostilidades entre as autoridades públicas. O momento exige de todos serenidade, diálogo, pacificação política, estabilidade institucional e, sobretudo, foco em ações e medidas urgentes e necessárias para que o Brasil supere a pandemia, volte a crescer, a gerar empregos e assim possa reduzir as carências sociais que atingem amplos segmentos da população. 

Mais do que nunca, o momento exige do Legislativo, do Executivo e do Judiciário aproximação e cooperação. Que cada um atue com responsabilidade nos limites de sua competência, obedecidos os preceitos estabelecidos em nossa Carta Magna. Este é o anseio da Nação brasileira."

Não há dúvida de que é uma carta em defesa do Estado Democrático de Direito, portanto, não agradou a Bolsonaro, que quer romper com suas premissas.

Quem dera fosse tão clara e precisa quanto foi a do Agronegócio, ou como a dos empresários mineiros com o seu manifesto denominado de “2º Manifesto dos Mineiros”. Mas não é uma defesa menos clara da democracia!

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O 2º Manifesto dos Mineiros

A manifestação convocada por Bolsonaro para o dia 7/09/21, com claros objetivos golpistas, divide a sociedade. Mas já fica claro que ele está com a minoria.

Empresários mineiros fizeram o seu manifesto. Ele se denomina o “2º Manifesto dos Mineiros”. 

O que dizem?

A ruptura pelas armas, pela confrontação física nas ruas, é sinônimo de anarquia, que é antônimo de tudo quanto possa compreender uma caminhada serena, cidadã e construtiva. A democracia não pode ser ameaçada, antes, deve ser fortalecida e aperfeiçoada. O que se pretende provocar é outro tipo de ruptura: a ruptura através das ideias e da mudança de comportamentos em todas as dimensões da vida.”

A matéria publicada pelo Estadão traz a íntegra da sua posição (*):

“Horas após o presidente da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), Flávio Roscoe, divulgar documento com críticas ao Supremo Tribunal Federal. (STF), questionando decisões dos ministros, defendendo sites investigados pela divulgação de fake news e a liberdade de expressão de políticos presos por ataques à Corte, um grupo de mais de 200 empresários e executivos mineiros divulgou documento, nesta quarta-feira, 1/09/21, nomeado Segundo Manifesto dos Mineiros. 

A peça defende as instituições brasileiras, o Estado de Direito e a democracia, em contraponto às considerações de Roscoe, feitas também nesta quarta. O empresário é próximo do presidente Jair Bolsonaro.

O novo Manifesto dos Mineiros faz alusão ao documento assinado por lideranças estaduais, em 1943, que exigia o fim do Estado Novo e a redemocratização do Brasil. Na época, a carta aberta trilhou o caminho para o surgimento de diversas outras, contribuindo para um clima político que levou à deposição de Getulio Vargas (1882-1954), em 1945.”


Leia a íntegra do ‘Segundo Manifesto dos Mineiros ao Povo Brasileiro’:


As mudanças estruturais que o Estado Brasileiro necessita (e que o Povo Brasileiro reclama) exigem das lideranças, todas, e daqueles que ocupam cargos e funções nas estruturas produtivas e fornecedoras de serviço e de conhecimento (tanto públicas quanto privadas) uma urgente tomada de posição.

A ruptura pelas armas, pela confrontação física nas ruas, é sinônimo de anarquia, que é antônimo de tudo quanto possa compreender uma caminhada serena, cidadã e construtiva. A democracia não pode ser ameaçada, antes, deve ser fortalecida e aperfeiçoada. O que se pretende provocar é outro tipo de ruptura: a ruptura através das ideias e da mudança de comportamentos em todas as dimensões da vida.

O objetivo é construir (na verdade, reconstruir) um projeto de Nação para o Brasil, dando sentido novo ao que seja patriotismo, de modo a fazer do povo brasileiro uma gente mais feliz e colocando o Brasil como Nação altiva, livre e democrática no concerto das Nações.

O país necessita de uma verdadeira "reforma do Estado" (reforma continente) nela compreendendo as reformas internas necessárias, sobressaindo: a reforma político-eleitoral, a reforma administrativa, a reforma do sistema de educação (só a educação transforma as pessoas), a reforma do sistema de segurança, a reforma orçamental e econômica, a reforma do sistema tributário (são reformas de conteúdo).

Já se revelou, e faz tempo, equivocada uma maneira de governar onde os Municípios e os Estados são reféns permanentes do que pensa e do que deseja o governo central sediado em Brasília. Esse centralismo que aumenta as desigualdades, já impôs atraso e miséria a toda a Nação Brasileira.

Vive-se um século XXI que já vai alto e os problemas da gente brasileira continuam, na base, praticamente os mesmos: analfabetismo, esquecimento, ausência de infraestrutura básica (como água e esgoto, por exemplo), além do agravamento de uma escalada criminosa crescente, em vários sentidos (de balas perdidas, assaltos e discriminações).

É preciso valorizar, e se necessário for criar um novo capitalismo que valorize a inteligência humana, um capitalismo humanizado, porque o centro da vida é a Pessoa Humana. 

É quase ulceroso falar, no Brasil, em reforma constitucional, mas é imperativo reconhecer que a Constituição de 1988 já cumpriu o seu papel histórico de assegurar a democracia e de valorizar a cidadania. Quanto ao demais, o que dela se recolhe é um texto antônimo de si mesmo, na medida em que oferece, para uma mesma pergunta, como resposta, sempre um sim e um não. Não se desconhece a delicadeza do tema e as dificuldades a serem encontradas no seu enfrentamento.

É preciso extirpar das leis todo tipo odioso de privilégio que cria castas e diferenças entre as pessoas em função de seus fazeres e de suas responsabilidades. É situação, afinal, que não faz de Pessoa alguma, figura diferente e privilegiada em relação aos demais. É preciso repristinar esta verdade: perante o Estado todos os cidadãos são cidadãos comuns.

É preciso pôr fim à vida estamental do aparelho do Estado que, no Brasil, desde sempre, é uma presa capturada por grupos de pessoas que se autoprivilegiam e conduzem a vida das pessoas segundo seus interesses pessoais, secundando os legítimos interesses do Povo e da Sociedade Brasileira.

É preciso criar mecanismos eficientes de erradicação e de controle da erva daninha da corrupção, banindo da vida pública aqueles que se servem do Estado para, criminosamente, atender a interesses menores e que não correspondam às obrigações do cargo e das funções que exerçam. Tais medidas devem alcançar, por igual, aqueles que ocupem posições de destaque em todos os poderes do Estado: Executivo, Legislativo, Judiciário e Instituições agregadas. 

É preciso criar mecanismo a permitir que as instituições representativas da Sociedade Civil tenham voz ativa junto aos poderes constituídos, fazendo as vezes daquele ‘Poder Moderador’ criado na França pelo pensador Benjamin Constant, de modo a nunca mais permitir arranjos que, atendendo a interesses outros, não correspondam aos anseios da Sociedade e do Povo Brasileiro. 

O Brasil se insere dentre os países do mundo que já viveram todas as experiências de governos e mandonismos: o Brasil colônia deu lugar ao Brasil império; que deu lugar ao Brasil república, a velha e a nova; experimentou, por mais de uma vez, as ditaduras; conheceu, em voo de pássaro, a experiência do parlamentarismo, antes de chegar à nova república. Portanto, a experiência para reescrever o Brasil quem a possui somos nós próprios: os Brasileiros. 

Esse passado inspirador retém matéria prima suficiente para que possamos, de mãos dadas, construir um futuro promissor para o Brasil-nação. A respeito, é relevante trazer a texto a constatação de que instituições brasileiras sérias e comprometidas existem e são inúmeras, como ilhas, no entanto. O propósito deste Manifesto está em propiciar a ligação de todas essas ilhas, dando-nos as mãos. Se todas essas ilhas derem as mãos, a partir de propósitos comuns, construiremos um grande Brasil-arquipélago. 

Dessa construção, (na verdade, reconstrução), sobressairá fortalecido o respeito à integridade das pessoas e suas diferenças e nascerá uma sociedade mais tolerante. É preciso plantar e implantar definitivamente uma política que reconheça o valor do meio ambiente. 

Às mudanças estruturais e estruturantes que este Manifesto suscita – e que por certo serão aprimoradas – caminharão através de um ‘GRANDE PACTO PELO BRASIL’. Esta é a pregação maior com a qual se pretende plantar e colher um Brasil que tenha futuro. 

Registro final: Não se adota neste texto por equívoco, como título, a expressão ‘SEGUNDO MANIFESTO DOS MINEIROS’. A iniciativa compreende um alertar a Gente Mineira e a Gente Brasileira, chamando a atenção para aquele corajoso e desprendido ato praticado por um grupo de pró-Homens conseguiu.

O blefe antidemocrático de Bolsonaro

O STF pagou para ver (*). Fez certo e agiu como se espera de uma instituição da democracia no seu dever de defender o Estado Democrático de Direito, particularmente porque é o alvo principal dos ataques antidemocráticos.


Bolsonaro, como se diz, terá que mostrar suas cartas:
  • Se estiver com a democracia, é o que se espera de um presidente eleito pelo voto, fará a sua manifestação em paz e não provocará nem ameaçará as instituições democráticas;
  • Se não estiver com a democracia, enfiará os pés pelas mãos, pois hoje somente contaria: (1) com núcleos radicais de eleitores, que o seguem cegamente, querem caçar fantasmas comunistas, são politicamente negacionistas, de extrema-direita, etc.; (2) com milicianos e organizações clandestinas de bandidos armados e paramilitares nostálgicos da ditadura militar; neste “exército” roto se apoiaria para promover atentados contra a democracia, invadir o STF, etc..
Se esta segunda alternativa é a sua opção, como parece ser, não passa de um blefe com cartas fracas e previsíveis.

A verdade é que já foi abandonado pela imensa maioria dos seus eleitores e pelas Forças Armadas que lhe têm dado repetitivos recados de que não o apoiarão em um golpe; como se não fosse pouco, tem recebido, diariamente, recados críticos do agronegócio, dos industriais, dos banqueiros e de quase todos os representantes do PIB, de que não o apoiarão se quiser romper com a democracia; finalmente, com a sua bancada parlamentar, comprada a peso de ouro com fatias de verbas orçamentárias, não poderá contar, também, para romper com a democracia.

Qualquer que seja a sua alternativa, já perdeu, pois além de decepcionar profundamente aos democratas brasileiros, ex apoiadores ou não, com sua incapacitação intelectual, moral e mental para o cargo, irá decepcionar, também, aos seus ainda apoiadores, e radicais de extrema direita, quando perceberem que o seu líder bravateiro apenas blefava ao chamá-los, como massa de manobra, para um assalto fake aos palácios da democracia sem que para isso contasse com força e apoio.

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Estadão:

Agência Brasil:

terça-feira, 31 de agosto de 2021

O agronegócio em defesa da democracia

O manifesto das entidades do agronegócio divulgado no dia 30 de agosto de 2021, segunda feira, é exemplar na forma como  expressa o compromisso com o Estado Democrático de Direito e como demonstra a compreensão de sua responsabilidade e importância perante a sociedade e a economia brasileiras.

É de se esperar que posicionamentos semelhantes venham de outras importantes entidades do setor econômico, que formam o PIB brasileiro. Seria bom que fossem tão claros e corajosos quanto este do agronegócio. Mas já é claro o desconforto dos agentes econômicos com as intenções antidemocráticas de Bolsonaro.

Observe-se que a FEBRABAN e a FIESP ainda não se manifestaram independente e soberanamente. Apenas ameaçaram com um documento anódino. O artigo de Eliane Cantanhede (*), colocado em anexo, é esclarecedor de suas contradições e do vexame que estão passando.


ÍNTEGRA DO MANIFESTO (**):

As entidades associativas abaixo assinadas tornam pública sua preocupação com os atuais desafios à harmonia político-institucional e, como consequência, à estabilidade econômica e social em nosso País. Somos responsáveis pela geração de milhões de empregos, por forte participação na balança comercial e como base arrecadatória expressiva de tributos públicos. Assim, em nome de nossos setores, cumprimos o dever de nos juntar a muitas outras vozes responsáveis, em chamamento a que nossas lideranças se mostrem à altura do Brasil e de sua história agora prestes a celebrar o bicentenário da Independência.

(***)

A Constituição de 1988 definiu o Estado Democrático de Direito no âmbito do qual escolhemos viver e construir o Brasil com que sonhamos. Mais de três décadas de trajetória democrática, não sem percalços ou frustrações, porém também pela repleta de conquistas e avanços dos quais podemos nos orgulhar. Mais de três décadas de liberdade e pluralismo, com alternância de poder em eleições legítimas e frequentes.

O desenvolvimento econômico e social do Brasil, para ser efetivo e sustentável, requer paz e tranquilidade, condições indispensáveis para seguir avançando na caminhada civilizatória de uma nacionalidade fraterna e solidária, que reconhece a maioria sem ignorar as minorias, que acolhe e fomenta a diversidade, que viceja no confronto respeitoso entre ideias que se antepõem, sem qualquer tipo de violência entre pessoas ou grupos. Acima de tudo, uma sociedade que não mais tolere a miséria e a desigualdade que tanto nos envergonham.

As amplas cadeias produtivas e setores econômicos que representamos precisam de estabilidade, de segurança jurídica, de harmonia, enfim, para poder trabalhar. Em uma palavra, é de liberdade que precisamos - para empreender, gerar e compartilhar riqueza, para contratar e comercializar, no Brasil e no exterior. É o Estado Democrático de Direito que nos assegura essa liberdade empreendedora essencial numa economia capitalista, o que é o inverso de aventuras radicais, greves e paralisações ilegais, de qualquer politização ou partidarização nociva que, longe de resolver nossos problemas, certamente os agravará.

Somos uma das maiores economias do planeta, um dos países mais importantes do mundo, sob qualquer aspecto, e não nos podemos apresentar à comunidade das Nações como uma sociedade permanentemente tensionada em crises intermináveis ou em risco de retrocessos e rupturas institucionais. O Brasil é muito maior e melhor do que a imagem que temos projetado ao mundo. Isto está nos custando caro e levará tempo para reverter.

A moderna agroindústria brasileira tem história de sucesso reconhecida mundo afora, como resultado da inovação e da sustentabilidade que nos tornaram potência agroambiental global. Somos força do progresso, do avanço, da estabilidade indispensável e não de crises evitáveis. Seguiremos contribuindo para a construção de um futuro de prosperidade e dinamismo para o Brasil, como temos feito ao longo dos últimos anos. O Brasil pode contar com nosso trabalho sério e comprovadamente frutífero.

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(***) Abag: Associação Brasileira de Agronegócio

segunda-feira, 30 de agosto de 2021

Fuzil, ditadura e morte, ou feijão, democracia e paz?

 Aproxima-se o dia 7 de setembro de 2021, dia da Proclamação da Independência, quando a democracia será submetida a um severo teste.

Bolsonaro, crescentemente isolado política e socialmente, está desesperado. É inteiramente responsável pelo seu fracasso como presidente, mas por saber que dificilmente será reeleito pelo voto democrático, chama os seus apoiadores - que são em cada vez menor número - para virar a mesa.


Tenta dar uma demonstração de força e arrastar as Forças Armadas para o seu projeto golpista.

Concentrará seus esforços nas mobilizações de Brasília e da Avenida Paulista em São Paulo. Uma, o centro político e, outra, o símbolo do poder econômico do país. Em ambos os lugares já sabe que os políticos e empresários apenas o suportam, apesar de todas as concessões que vem fazendo ao fisiologismo e à corrupção para obter o apoio do “Centrão” e de certos setores econômicos escolhidos a dedo.

Levará para as ruas os seus adeptos de raiz, que se orientam por uma ideologia totalitária confusa, obscurantista e negacionista de extrema direita; estes o mitificam e o merecem, e defendem o fechamento do STF e do Congresso. Não serão poucos, provavelmente serão muitos. Está jogando tudo nessa convocação para não dar vexame, e está organizando caravanas vindas de toda parte. 

Muitos defendem a violência, as armas, a ditadura e se sentem estimulados pela ideia de uma guerra civil para caçar e matar inimigos fantasmagóricos. Menosprezam o desespero de dezenas de milhões de brasileiros torturados pelo desemprego, pela falta de renda, pela pandemia e pela inflação.

Mas fuzil ou violência não substituem o feijão nem enchem barriga; ao contrário, apenas agravam a crise! Diriam, porém, que isto não afeta o posicionamento dos seus apoiadores mais radicais. Certo, parece que não há dúvida quanto a isso. Relatos respeitáveis dão conta de que grupos armados de seus apoiadores estariam dispostos à violência; e defendem que o momento é este, que não pode ser perdido e que não haverá outra oportunidade. Alguns se proporiam, mesmo, a invadir e tomar os prédios do STF e até do próprio Congresso.

Exatamente porque Bolsonaro os chama para uma guerra sem sentido, e porque a maioria dos que votaram nele já está decepcionada com a sua incapacitação intelectual, moral e mental, dezenas de milhões de seus eleitores não acorrerão ao seu chamado; sobretudo, porque são democratas, e querem viver e trabalhar em paz. E, simplesmente, a maioria dos que ainda guardam alguma simpatia por ele também não endossam métodos violentos.

O golpe que Bolsonaro quer dar só ocorrerá se as Forças Armadas o apoiarem. Esperto, não é? Ou seja, uma ruptura institucional que depende, para o seu sucesso, de um golpe de estado que elas não querem dar! O que as faria endossar semelhante desatino? O caos, uma situação de violência e de confronto com mortos nas ruas? Talvez, mas improvável.

Em síntese, Bolsonaro está chamando as Forças Armadas para dar um golpe militar, simplesmente, para atender ao seu delírio autoritário de governar como ditador. Mas nos seus quase três anos de mandato ele tem sido, antes de tudo, uma desgraça para o país, que seria ainda maior se houvesse um impensável rompimento com a democracia. Portanto, as FA já não o levam mais a sério, e estão querendo vê-lo pelas costas.

Sua lealdade ao presidente se dá exatamente dentro dos preceitos institucionais do Estado Democrático de Direito. E nisto permanecerão firmes, a não ser que ele cometa algum desatino insustentável! Talvez esteja próximo disso. Neste caso, ao invés de empregarem as FA para um golpe, darão o sinal verde para o seu impeachment ou interdição, enquanto atores institucionais fundamentais que são da democracia brasileira.

Em poucos dias, no dia 7/09, essa tese, de que as FA se manterão dentro dos limites constitucionais será submetida a severo teste. Faltam poucos dias; cabe a todos os democratas se manterem ativos e alertas.

O que nós, democratas, podemos e devemos fazer? Primeiro, chamar a todos, inclusive aos democratas que votaram em Bolsonaro, para que fiquem em casa e longe das ruas no dia 7/09. Segundo, chamar a todos para a manifestação do dia 12/09, quando inundaremos as ruas, aos milhões, com o verde e o amarelo, para que retomemos o caminho da democracia. Neste dia as cores de nossa bandeira serão resgatadas e passarão a estar nas mãos certas, as dos democratas! A história não andará para trás!