quinta-feira, 2 de setembro de 2021

A Febraban sai em defesa do Estado Democrático de Direito

Está instaurada uma divisão, provocada por Bolsonaro, entre as entidades representativas das atividades econômicas brasileiras.

Isto se dá como consequência da crise institucional que ele resolveu provocar para enquadrar o STF, a única instituição da democracia que ele não dispõe de instrumentos para controlar. Mas persegue este objetivo para torná-lo dócil ao seu projeto totalitário. Fundamentalmente, a manifestação do dia 7/09/21 tem este objetivo.

Mas ao procurar fazê-lo ele fere premissas fundamentais do Estado Democrático de Direito; com isso, divide, politicamente, não apenas aos cidadãos enquanto pessoas físicas, mas às pessoas jurídicas, ou empresas, ou o que se convencionou chamar de PIB ou setor produtivo. Claro, atrás dessas entidades está o poder econômico que se individualiza em pessoas bem concretas.

Verifica-se, portanto, um rápido realinhamento de forças no cenário político. Este realinhamento já parece estar desfavorável ao presidente.

A FEBRABAN decidira elaborar uma carta pacificadora entre os Três Poderes para exorcizar a crise institucional; e propôs isso à FIESP, que concordou. Entretanto, esta, pressionada pelo governo, resolveu dar meia trava.

Abaixo, um trecho da reportagem da jornalista Júlia Duailibi do G1 sobre o episódio (*):

“A carta surgiu de uma ideia inicial da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), encampada depois por Skaf. O presidente da Fiesp sinalizou na sexta-feira (27), em e-mail enviado a entidades de classe, que faria a divulgação na terça (31), mas desistiu após reação do governo Bolsonaro --que, ao saber da carta, atuou para esvaziá-la. 

No domingo (29), o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), chegou a conversar com Skaf. Lira defendeu esperar que a divulgação ocorresse apenas depois de 7 de setembro. 

A Fiesp diz que a suspensão não teve a ver com o pedido de Lira. Segundo a entidade, houve muito interesse pelo manifesto e que resolveu, então, esperar novas adesões. 

A previsão inicial era que o texto contasse com a assinatura de cerca de 200 entidades de classe – entre elas a Associação Brasileira de Agronegócio (Abag), o Instituto de Desenvolvimento do Varejo (IDV), a Fecomercio e a Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave).”

Hoje, 2/09/21, a FEBRABAN resolveu prosseguir sozinha, em que pese a ameaça do governo de afastar o BB e a CEF da entidade.

Leia, abaixo, a íntegra da carta, neste momento assinada apenas pela FEBRABAN:


"A Praça é dos Três Poderes

A Praça dos Três Poderes encarna a representação arquitetônica da independência e harmonia entre o Legislativo, o Executivo e o Judiciário, essência da República. Esse espaço foi construído formando um triangulo equilátero, cujos vértices são os edifícios- sede de cada um dos poderes. 

Esta disposição deixa claro que nenhum dos prédios é superior em importância, nenhum invade o limite dos outros, um não pode prescindir dos demais. Em resumo, a harmonia tem de ser a regra entre eles.

Este princípio está presente de forma clara na Constituição Federal, pilar do ordenamento jurídico do país. Diante disso, é primordial que todos os ocupantes de cargos relevantes da República sigam o que a Constituição impõe.

As entidades da sociedade civil que assinam este manifesto veem com grande preocupação a escalada de tensões e hostilidades entre as autoridades públicas. O momento exige de todos serenidade, diálogo, pacificação política, estabilidade institucional e, sobretudo, foco em ações e medidas urgentes e necessárias para que o Brasil supere a pandemia, volte a crescer, a gerar empregos e assim possa reduzir as carências sociais que atingem amplos segmentos da população. 

Mais do que nunca, o momento exige do Legislativo, do Executivo e do Judiciário aproximação e cooperação. Que cada um atue com responsabilidade nos limites de sua competência, obedecidos os preceitos estabelecidos em nossa Carta Magna. Este é o anseio da Nação brasileira."

Não há dúvida de que é uma carta em defesa do Estado Democrático de Direito, portanto, não agradou a Bolsonaro, que quer romper com suas premissas.

Quem dera fosse tão clara e precisa quanto foi a do Agronegócio, ou como a dos empresários mineiros com o seu manifesto denominado de “2º Manifesto dos Mineiros”. Mas não é uma defesa menos clara da democracia!

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