quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Entrevista do presidente Temer ao programa Roda Viva

Esta importante entrevista (*) foi ao ar no programa Roda Viva, TV Cultura, 14/11/16, 22h. Ela foi esclarecedora sob muitos aspectos, mas me ficaram duas impressões contraditórias:

(1) positiva, de que respondeu a tudo o que lhe foi perguntado, demonstrando conhecimento e habilidade para conduzir as delicadas articulações político-legislativas, no Congresso, para aprovar as medidas de caráter emergencial para enfrentar a crise fiscal e financeira do Estado;

(2) negativa, de que é prisioneiro da "santa aliança" formada pelos que temem e combatem a Lava-Jato, o que se traduz em posições dúbias e em pouca disposição para abraçar medidas vigorosas para punir a corrupção, em particular quando envolvem parlamentares e personalidades políticas da república.

A história, todos nós, e as ruas, o julgaremos!


O programa foi gravado na sexta (11/11/16) no Palácio da Alvorada, em Brasília, contou com uma bancada de entrevistadores formada por Willian Corrêa, coordenador geral de jornalismo da TV Cultura e âncora do Jornal da Cultura, Sérgio Dávila, editor-executivo da Folha, João Caminoto, diretor de jornalismo do Grupo Estado, Eliane Cantanhêde, colunista do jornal "O Estado de S. Paulo" e comentarista da GloboNews, e Ricardo Noblat, colunista político do jornal "O Globo" e titular do Blog do Noblat.
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De que forma Temer pode estar sendo prisioneiro da "santa aliança" dos que temem e combatem a Lava-Jato? Analiso duas hipóteses:

1. Caso Temer esteja sendo refém de chantagem, no Senado e na Câmara, dos parlamentares que condicionariam o voto favorável aos projetos de ajuste fiscal ao apoio do presidente, buscando um acordo por cima, na calada da noite, à anistia do caixa dois, à manutenção da prerrogativa de foro, à aprovação da lei de "abuso de autoridade" do Renan, etc., projetos estes para que possam sair impunes dos ilícitos que lhes estão sendo imputados pela justiça; muitos afirmam ser esta a hipótese correta;
2. Caso Temer seja um prisioneiro de sua própria consciência; neste caso ele, Lula, Renan, Romero Jucá, etc., estão no mesmo barco, o de buscar liquidar com a Lava-Jato, em que pese as declarações que possam dar em contrário; o drama de nossa crise é que, também, muitos consideram ser esta a hipótese correta.

Eu gostaria, por enquanto, até prova em contrário, de considerar que a primeira hipótese seja a que mais se aproxime da realidade, sendo Temer mais uma vítima do chamado "presidencialismo de coalizão"; esta é uma distorção do nosso sistema político (por isso ele estaria clamando pelo parlamentarismo); neste caso, para livrar-se da chantagem, precisará apelar para a banda ética do Congresso, para a cidadania, para as instituições democráticas da sociedade civil, para as instituições jurídicas e para as ruas; caso contrário, se não tiver coragem para fazer isso, será engolido por este dragão, jogando fora a oportunidade histórica, que se coloca, de acabar com a impunidade dos crimes de colarinho branco! 

Se a segunda hipótese for a verdadeira, a crise é mais profunda - com riscos institucionais -, e somente o surgimento de um movimento com profundos compromissos com a democracia, com outras lideranças, permitirá romper o impasse; este movimento precisará ganhar as ruas, apoiar-se nas instituições democráticas e ficar longe dos extremos de ultra-direita e de ultra esquerda!

O mais surpreendente, nesta segunda hipótese, por decorrência meramente lógica, é que Temer, com isso, aumentaria o seu cacife para negociar com o PT o apoio às suas medidas fiscais! Neste caso, tanto quanto Lula, Temer estaria na trama de buscar uma anistia ampla, geral e irrestrita aos implicados na Lava-Jato, e isto incluiria os empresários, bem como acordos de leniência generosos para suas respectivas empresas. Isto configuraria, mais uma vez, um acordo por cima, de elites, tão comum na história política brasileira.
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(*) https://www.youtube.com/watch?v=szaxsMK7kCY

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