sexta-feira, 4 de novembro de 2016

Como pensa o criminoso de colarinho branco?

Se ele roubou milhões ($) até ser pego, provavelmente, antes disso, já viajou com sua família e com seus amigos para Paris ou pra onde quis; tomou os melhores vinhos e comeu nos melhores restaurantes; comprou carros de luxo e mansões (quem sabe fazendas?); depositou uma parte significativa em um paraíso fiscal, porque é prevenido; se ficou doente, teve os melhores médicos e hospitais. Provavelmente, buscou viver como rico, e cercado do requinte dos melhores cerimoniais!


O tadinho, se der o azar de cair nas malhas da justiça, e de ser condenado e preso, terá que devolver(?) o que roubou; mas, mesmo que isso aconteça, provavelmente já terá tido anos de boa vida!

Terá valido a pena?

Antes de tentar responder à pergunta, vejamos a lógica do ladrão: roubar e gozar, "antes"; pagar, se tiver que pagar, "depois". Qual troca fazem essas personalidades criminosas? Eles possuem duas alternativas: não roubar ou roubar; se optarem por esta última, é porque consideram, no balanço entre as alternativas, que os milhões ($) certos recebidos no presente com a corrupção mais do que compensam os custos incertos de uma eventual futura punição! Estes custos incertos futuros, objetivos e subjetivos, são os financeiros, o de exposição pública, o de condenação e o de prisão. Assumem, entretanto, o risco, esperando que o seu crime jamais seja descoberto; ou, se descoberto, que "tirarão de letra" a punição, ou mesmo de que ficarão impunes! Em sua lógica, o crime compensa.

Contam, é preciso que se diga, com a histórica ineficiência da justiça na repressão aos crimes de colarinho branco, e com a nossa passividade, muitas vezes nada ingênua, conveniente, conivente e covarde.

Quando, então, não valerá a pena o risco do crime? 

Quando tiverem a certeza de que terão que devolver o dinheiro roubado, e quando, existencialmente, os anos de boa vida que possam vir a ter com a corrupção não compensarem, em sua imaginação, a certeza das duras penas que receberão! Em síntese, trata-se de estabelecer um sistema jurídico e legal, e a cultura pública e cidadã, de intolerância com a impunidade.

Como ficamos nós, a grande maioria feitos de imbecis, que só queremos e conseguimos viver dos rendimentos auferidos com o serviço socialmente necessário que produzimos com o nosso trabalho? Que caretas somos nós, sabedores desse jogo, ao insistirmos em puni-los severamente e colocá-los na cadeia para que o crime não compense?

Quem somos nós?

Somos os que consideramos que a Lava-Jato representa o anseio dos brasileiros de acabar com impunidade dos crimes de colarinho branco, e dos que acreditam que o juiz Sergio Moro simboliza a vontade e o compromisso de uma nova geração de profissionais da justiça, filhos da Constituição de 1988, de realizar essa tarefa de caráter histórico e democrático!

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