segunda-feira, 24 de abril de 2023

Somente a multipolaridade poderá construir um mundo de paz!

Abro esta discussão. A China pratica como política oficial de Estado a multipolaridade.

Muitos logo lembrarão que não é um país democrático, e que é governada por um partido único, o Partido Comunista, que exerce o poder com mão de ferro. Verdade.


E logo, diante da quase inevitável ascensão da China à condição de maior potência econômica do planeta, muitos se apressarão a colocá-la na condição de país imperialista. 

Julgo ser um equívoco. Não o é hoje e dificilmente o será no futuro. E as razões estão em sua história como civilização milenar.

O tópico que pretendo discutir é a questão da multipolaridade como princípio geopolítico e concepção de política de Estado.

A China, embora tenha sido a maior potência econômica do planeta até meados do Séc. XIX, não possui um passado de potência colonial. Essa trajetória foi interrompida, pela força, por uma potência colonial, a Inglaterra, que, determinada a equilibrar a sua balança comercial deficitária com a China, a derrotou militarmente e lhe impôs a importação de ópio produzido em suas colônias do sudeste-asiático. Estas guerras ficaram conhecidas como as duas vergonhosas “guerras do ópio”. Deste poder inglês na China originou-se o enclave colonial de Hong Kong.

Na última década do Séc. XIX ainda foi derrotada militarmente pelo Japão que já iniciara a sua industrialização e convertia-se em moderna potência militar.

Anteriormente, a China já fora invadida pelos mongóis, no Séc. XIII, que estabeleceram a dinastia Yuan, e pelos Manchus, no Séc. XVII, que estabeleceram a dinastia Qing. Esta é uma das características singulares da força da civilização chinesa: historicamente, ela abduziu mesmo aos que por um momento se lhe impuseram pela força das armas. 

No Séc. XX, no cenário da 2ª Guerra Mundial, foram invadidos, novamente, pelos japoneses com inaudita violência e massacres.

A China é, portanto, um país com história de invasões ao seu território e sem jamais ter tido um passado de potência colonial.

A China é uma das mais antigas civilizações. Enquanto Estado unificado, sua história remonta há cerca de 2.300 anos, desde o Primeiro Imperador Qin Shi Huang DiÉ, também, a história do primeiro Estado Moderno, com Administracao centralizada, tendo instaurado nos anos 500 DC a prática de fazer concurso público para servidores do Estado. Exército unificado, moeda unificada e imenso território regado por dois grandes rios o Yang Tse e o Amarelo, o que garante a fertilidade de suas terras e explica o seu grande crescimento populacional. Dotada de imensa extensão territorial, sempre bastou-se a si mesma, por isso autodenominava-se de o “Império do Meio”; esta é a razão pela qual jamais vingou na China teses imperialistas em busca de expansão territorial e de “espaços vitais” como na Inglaterra, Alemanha, Itália, Japão, etc.. E esta realidade permanece!

Com a vitória da revolução chinesa (1949) encerrou-se o que os chineses chamam os “cem anos de humilhações” a que foram submetidos desde as duas guerras do ópio. Orgulham-se de sua civilização sofisticada e passaram a ser uma grande potência econômica, científica e tecnológica. A ONU reconhece que conseguiram, simplesmente, erradicar a miséria e a pobreza.

Tornou-se, também, uma grande potência militar. Qual país, responsavelmente, particularmente com sua história de ser invadida e agredida não montaria o devido aparato de defesa? Poderá se transformar em aparato de agressão a outros países? Poderá! Mas é pouco provável! Não existe isso como precedente em sua história!

Ao contrário, independentemente de seu regime político a China esmera-se pelo respeito à soberania das nações. Tornou-se uma grande potência capitalista, a que Deng Xiaoping denominou de “socialismo de mercado”, e sabe que o comércio, a competição e as inovações tecnológicas somente prosperam, como fatores de progresso, em um ambiente de interdependência e de interação cooperativa. Em síntese, em um clima de paz.

Muitos voltarão, ainda assim, a lembrar o seu regime político, e dirão: - “nós somos diferentes!”. É certo, mas isso não pode converter-se em um “medo ideológico” e em preconceito. Nós, brasileiros, em particular, já temos a China como o nosso principal parceiro comercial. E, respeitadas as nossas diferenças, precisaremos aprofundar essas relações.

Este é o mundo da multipolaridade! Ah…, em tempo, ele se opõe ao mundo da bipolaridade, que leva às guerras. Neste mundo, o da bipolaridade, se gasta bilhões ($) com a morte e a destruição, que poderiam ser usados para acabar imediatamente com a fome no mundo, e para erradicar, definitivamente, a miséria e a pobreza.

terça-feira, 18 de abril de 2023

COMBATENDO A MENTE BIPOLAR DO LULA

Os países se relacionam com outros países independentemente de seus regimes políticos.

Muitas vezes, o que prejudica a discussão desta questão é a dificuldade que temos de fazê-la sem nos aprisionarmos em posições bipolares e ideológicas.


Os EUA, p.ex., uma democracia liberal, ainda não se libertou da visão bipolar na sua política externa. Um dos seus aliados estratégicos é a Arábia Saudita, uma ditadura sanguinolenta. E conhecemos isso muito bem, pois nas décadas de 60, 70 e 80, por ex., apoiou golpes de estado em toda a AL, inclusive no Brasil, e ditaduras assassinas, quando julgou ser isso do seu interesse.

Não podemos esquecer destes fatos. Se Lula está recaindo nessas concepções bipolares do tempo da guerra fria precisa ser criticado e corrigido enquanto ainda é tempo. 

Se fomos vítimas dessas trágicas concepções bipolares, e se estamos tentando e querendo construir uma democracia moderna no Brasil, não podemos ficar passivos diante desses erros.

Sobretudo, o despreparo de Lula para enfrentar essas questões geopolíticas complexas, e o seu boquirrotismo de palanque, não pode isolar o país da comunidade das nações democráticas.

segunda-feira, 17 de abril de 2023

O mundo bipolar do Lula

Na viagem à China Lula fez declarações polêmicas cutucando a onça com vara curta.


Os que apenas criticam, entretanto, têm que lembrar que essas questões geopolíticas não são tão simples. 

As falas destemperadas de Lula expressam, simultaneamente, duas coisas: a sua sensibilidade, como a de um bom velejador, para perceber a direção dos ventos; em segundo, o seu despreparo cultural para navegar diante das imensas e novas complexidades geopolíticas que se apresentam com a ascensão da China como potência global.

É sempre bom lembrar, para os que não têm isso como referência, que a China até meados do Séc. XIX, antes das duas “guerras do ópio” com a Inglaterra (em que foi derrotada), era a maior potência econômica global. Agora, ela provavelmente voltará em pouco tempo a essa posição. E tem isso como projeto consciente; ou seja, ela quer e acha isso inevitável!

Nós, os ocidentais, vemos tudo isso com um medo “ideológico”, mas o pragmatismo acabará por se impor. Temos que lembrar, se quisermos ser honestos com nós mesmos, que o colonialismo e o imperialismo são invenções nossas e surgidos na Europa. Que esses fenômenos fiquem no passado!

Quem gosta do mundo bipolar, e quer preservá-lo, somos nós; e quem orienta a sua política externa por um visão missionária, para impor “sagrados” valores, somos nós! Reviver isso significa reabrir as portas da tragédia!

A guerra fundamental que está sendo travada é pela hegemonia na produção dos chips. As armas, como as próprias bombas atômicas, no confronto entre as grandes potências, são instrumentos de dissuasão, não para serem utilizadas. 

As armas, infelizmente, continuam a ser usadas em conflitos regionais, quando uma superpotência militar quer impor os seus interesses geopolíticos e sua hegemonia “sagrada” a um outro povo, como o faz a Rússia com os ucranianos e Israel com os palestinos. 

O que preponderará, diante das inevitáveis respostas que virão a essas falas desinformadas de Lula? Espero que seja, pelo bem do Brasil, a sensibilidade de Lula! Caberá a todos os democratas promover e, se for o caso, impor, a Lula, os ajustes finos necessários para que o seu “boquirrotismo de palanque” não jogue tudo por água abaixo.

segunda-feira, 13 de março de 2023

Harari, um militante pela democracia

O discurso militante PELA DEMOCRACIA de Harari, o historiador israelense autor do livro “Sapiens - Uma breve história da humanidade” (*), contra o golpe que Benjamin Netanyahu ESTÁ TENTANDO DAR EM ISRAEL NESTE MOMENTO. Suas palavras de resistência expressam os pensamentos que tornam a democracia um valor universal; portanto, que devem ser defendidos por todos nós.

Tradução do discurso do professor Yuval Noah Harari durante a grande manifestação no sábado, 4 de março de 2023, em Tel Aviv (trazido de Marcelo Halberg).

Queridos amigos, estamos no centro de uma tempestade histórica, esta tempestade não desperta em nós nem raiva nem ódio, mas desperta medo. Estamos ansiosos, não dormimos à noite, simplesmente temos medo. E isso é completamente normal!

Há momentos na história em que o medo reflete uma realidade verdadeira, há momentos na história em que o medo é uma emoção útil porque nos leva à ação! Hoje, temos um excelente motivo para ter medo e um excelente motivo para agir.

O que este governo está fazendo não é uma reforma - é um golpe! É exatamente assim que um golpe se parece!

Golpes não necessariamente se materializam com tanques nas ruas. Muitos golpes na história foram feitos às escondidas, com canetas e papel, e quando as pessoas entenderam o significado dos textos ali consignados, já era tarde demais para resistir.

A história está repleta de ditaduras criadas por quem chegou legitimamente ao poder.

O significado do pacote de leis que o governo está tentando aprovar é simples - a partir de agora, o governo poderá abolir totalmente nossas liberdades!

- 61 membros do Knesset poderão aprovar qualquer lei racista, opressiva e sinistra que possam imaginar.

- 61 membros do Knesset também poderão modificar o sistema eleitoral como quiserem e, portanto, não poderemos mais removê-los do poder!

Quando se pergunta aos líderes que apoiam este golpe: “O que, apesar de tudo, constituirá um freio para o governo com este novo regime, e o que protegerá os direitos humanos? a única resposta que eles dão é: "Confie em nós".

Com todo o respeito - não confiamos em você! Você está derrubando a convenção que manteve nossa sociedade unida por 75 anos e espera que ainda confiemos em você?!

Netanyahu, Levin, Rothman, não confiamos em você, porque sabemos o que você quer - você quer poder ilimitado! Você quer nos impor silêncio e nos dizer como viver! Você quer nos dizer o que comer, o que vestir, o que pensar e quem amar.

Mas você não entende com quem está lidando. Os israelenses não são madeira para serem escravizados! Nós, israelenses, somos teimosos, somos livres e ninguém jamais conseguiu nos silenciar! Não permitiremos que você transforme Israel em uma ditadura!!

Então, o que vai acontecer nas próximas semanas? Eles continuarão a tentar aprovar leis tirânicas. Eles também continuarão a nos chamar de anarquistas e traidores, e irão explorar ou mesmo instigar um evento escandaloso para suprimir protestos. De nossa parte, continuaremos a demonstrar e faremos com que os ministros do Supremo Tribunal tenham o apoio do povo e sejam animados pela vontade de invalidar as leis da tirania.

E o que acontecerá se o governo não aceitar a decisão do Supremo Tribunal? Entraremos então no que se chama de “crise constitucional”.

Uma crise constitucional é uma terra desconhecida onde não há leis nem regras!

A quem a polícia obedecerá então - o governo ou o tribunal? A quem o Shin Bet e o Mossad obedecerão, a quem o Tsahal obedecerá? E a questão mais importante será - o que os cidadãos farão? As pesquisas são claras - uma grande maioria dos cidadãos israelenses se opõe às ações do governo. Mas as pesquisas não impedem a tirania.

A história mostra que os cidadãos são a última e principal linha de defesa em qualquer democracia. A democracia é uma convenção segundo a qual os cidadãos devem respeitar as decisões do governo - desde que o governo defenda as liberdades básicas dos cidadãos. Quando uma das partes violar este acordo, a outra parte não deve continuar a respeitá-lo!

Quando um governo tenta estabelecer uma ditadura - os cidadãos podem se opor a ela!!

Esta é uma hora histórica para os cidadãos de Israel, esperemos que não seja a nossa última hora também. Devemos erguer nossas cabeças agora - ou mantê-las abaixadas pelo resto de nossas vidas! Devemos falar agora - ou ficar em silêncio para sempre! É hora de demonstrar, é hora de gritar, e também é hora de não representar!

Por exemplo, como professor universitário, espero que, enquanto o golpe continuar, fechemos todas as instituições acadêmicas em Israel! Devemos, claro, continuar apoiando nossos alunos neste momento difícil, mas os pescoços (?) devem ser travados.

(…) pessoas comuns e falam apenas sobre democracia, direitos humanos e liberdade.

E se algum de nós achar difícil entrar oficialmente em greve, - estou convencido de que, como israelenses, encontraremos maneiras engenhosas de desacelerar e nos desviar das diretrizes. Cada um de nós pode colocar um pequeno raio (?) nas rodas do golpe. 

E, finalmente, como qualquer israelense que se preze, gostaria de aproveitar o fato de ter recebido um microfone para transmitir algumas mensagens pessoais:

- Esther Hayut e Gali Bahrav-Miara, vocês receberam um dos cargos mais difíceis e importantes da história do Estado de Israel. É uma responsabilidade enorme, e é um grande privilégio! Não leva mais de uma hora para alguns entrarem para a história. É o seu tempo! Não desista e não hesite - proteja nossa liberdade!

- Ao presidente Herzog e aos líderes dos partidos de oposição - protejam nossa liberdade, é inegociável! Quando um tigre vem nos devorar, é impossível transigir e deixar que ele nos devore no meio do caminho!

- E para reservistas relutantes - não sirvam a ditadores! Seu pacto é com a democracia israelense, não com seus coveiros!

- Ao Tsahal, ao Shin Bet, ao Mossad e à polícia israelense - se por infortúnio chegar o momento da verdade, faça a escolha certa! A história se lembrará de vocês como aqueles que protegeram os cidadãos, não os ditadores!

- A todos os manifestantes que vieram aqui esta noite e a todos os que estão participando das dezenas de manifestações por todo Israel – vocês são a esperança da democracia israelense! Se perseverarmos na luta, juntos venceremos!!

- E, finalmente, em nome de todos nós, quero enviar uma mensagem clara a Netanyahu, Levin, Rothman e seus amigos - é verdade, você tem 64 assentos, mas isso não significa que você pode sentar em Todos! Mãos fora de nossa liberdade! Pare o golpe - ou pararemos o país!!

Obrigado!

______

(*) https://www.companhiadasletras.com.br/livro/9788535933925/sapiens-nova-edicao?idtag=7ec82fe8-e709-4f1a-9969-7d018c0785e5&gclid=Cj0KCQjwk7ugBhDIARIsAGuvgPYW1omwneYP_OWDBBuMhl2NxDjJg8b8gG9YjvKINMteKEoZrlUq3UUaAik3EALw_wcB


Nota: nesta edição pessoal, cuja única liberdade que me dei foi colocá-lo em parágrafos, coloquei os sinais de (?) e (…) nas partes do texto que, por exceção, julguei pouco claras ou truncadas; mas foram mínimas, porque a marca do texto da tradução é demonstrar a clareza conceitual de um grande pensador (CAT).

sábado, 4 de fevereiro de 2023

Se Bolsonaro não conseguiu dar o golpe que tentou dar é porque jamais teve força para dar

Bolsonaro sonhou em governar como ditador com marcas fascistas. Os seus apoiadores extremistas compraram esta ideia, acamparam em frente aos quartéis e acreditaram que as Forças Armadas sairiam para assumir, pela força, um Poder Moderador inconstitucional. Neste ativismo totalitário consumiu todo o seu mandato; finalmente, ameaçou não reconhecer o resultado das urnas se este lhe fosse desfavorável, e deixou a comunidade democrática nacional e internacional de sobreaviso.

Este texto, baseado na lógica e nos fatos, é de otimismo e de esperança nas perspectivas de nossa democracia. Vejamos:
  1. Bolsonaro sempre quis dar o golpe; e tentou dá-lo; sua última tentativa foi em 8/01/23; não conseguiu, mas continuará querendo dá-lo;
  2. Os extremistas que o apoiam, frustrados e inconformados, ainda o apoiarão em outras aventuras;
  3. A chave para esta análise é separar o golpe que Bolsonaro tentou dar, e que ainda gostaria de dar, do golpe que não teve nem terá força para dar;
  4. Se Bolsonaro não conseguiu dar o golpe que tentou dar é porque jamais teve força para dar.
Os fatos demonstraram que Bolsonaro não conseguiu dar o golpe porque se impôs o poder e a vontade das forças democráticas: cidadãos, instituições democráticas do Estado e a cadeia de comando das Forças Armadas comprometida majoritariamente com a Constituição e com a legalidade (*). E foi de grande importância o peso da comunidade democrática internacional, vigilante, a apoiar a democracia brasileira.

Projeto de Oscar Niemayer

Mas porque tantos se recusam a aceitar essa realidade? Razões cognitivas, desinformação ou porque resistem emocional ou subjetivamente a aceitar os fatos. Contrários ou a favor do golpe, muitos veem a política como o império da esperteza e da dissimulação, como uma “guerra por outros meios”, e sentem-se justificados a defender e expressar suas posições por meio de opiniões e narrativas sabidamente fakes, desde que as vejam como convenientes para a fragilização de seus adversários. Os extremistas, além disso, chegam a ver os seus adversários como inimigos a serem destruídos.

O que nos diz a observação factual da política brasileira? Que existe um campo democrático majoritário na sociedade, e que este campo saiu fortalecido das eleições de 2022, em todos os cargos políticos, tanto nos poderes executivo e legislativo federal como nos estaduais.

Para os fins desta análise, o Campo Democrático é definido como o conjunto dos cidadãos que (1) repudiam todo tipo de ditadura e que (2) só querem viver em um Estado Democrático de Direito (**).

O campo democrático não é algo abstrato ou hipotético. Ele é concreto e formado, fundamentalmente, por cidadãos de dois tipos que, neste texto, são distinguidos por duas denominações: Democratas radicais e Democratas conservadores (***).

Os democratas estão em todos os setores da sociedade e ocupam majoritariamente o poder político em todas as instâncias. Sobretudo, o campo democrático demonstrou que possui a força institucional e política para derrotar todas as tramas antidemocráticas, tal como foi a tentativa de golpe do trágico 8/01/23, como a que agora está sendo protagonizada pelo senador Marcos do Val, e como às que ainda serão intentadas por irredutíveis extremistas.

Se faz necessário, sem dúvida, que sejam aperfeiçoados os mecanismos jurídicos e legais para defender a democracia.

Se impõe, por isso, que saibamos tirar todas as consequências desta compreensão de que os democratas venceram as eleições. Em primeiro lugar, que a grande maioria dos democratas, sejam eles radicais ou conservadores, votaram tanto em Lula quanto em Bolsonaro nos 1º e 2º turnos das eleições presidenciais de 2022, à exceção dos democratas que preferiram votar nulo ou branco ou se abster. Em segundo lugar, que nenhum cidadão ou partido do campo democrático possui o monopólio de “ser democrata” e, muito menos, de que pode arrogar-se ser mais democrata do que outro.

Muitos levarão algum tempo para aceitar essas conclusões. Mas esta compreensão nos permitirá derrotar os extremistas e dar vez, com generosidade, à pacificação indispensável para inaugurar uma nova e necessária convivência democrática. 

E será com essa compreensão, apoiados no conhecimento, na ciência e na cultura, que poderemos retomar o progresso, promover a prosperidade, erradicar as nossas misérias e superar, unidos, os nossos grandes problemas.

Os que, à esquerda ou à direita, defendem ditaduras e não têm apreço por viver em um Estado Democrático de Direito são Extremistas ou Não-Democratas. E são minoritários em toda parte, seja nos parlamentos, nos governos e na sociedade. 

E, definitivamente, não são democratas os bolsonaristas que acamparam em frente aos quartéis pedindo intervenção militar, e que invadiram e depredaram os palácios dos Três Poderes da República. E, também, não são democratas os que, mesmo à distância, aplaudiram e apoiaram essa conspurcação dos símbolos de nossa República.
_________



(****) 
No 2º turno os Votos Válidos, dados a Lula (38,57%) e a Bolsonaro (37,20%) somaram 75,77% dos Eleitores Apurados. Os Eleitores Apurados são a soma dos votos válidos, mais os votos nulos e brancos, mais as abstenções.

Observe que os Votos Nulos e os Votos Brancos, em conjunto, são um pequeno percentual do total de eleitores apurados; no 2º turno da eleição presidencial alcançou 3,64%. Por sua vez, as Abstenções, o número de eleitores que não compareceram para votar, foi de 20,58%. Estes votos, nulos e brancos, mais as abstenções, dados a “Ninguém”, somaram 24,23% dos eleitores apurados. 


Os golpistas à caça do “Xandão”

O senador Marcos do Val apresenta uma “delirante” narrativa de golpe envolvendo Bolsonaro (algo plausível que, óbvio, precisa ser investigado).

Mas toda narrativa, as melhores obras da literatura, inclusive as fakenews com objetivos políticos, alimentam-se de alguma plausibilidade para se situarem no mundo da vida dos homens.

Porque o senador não a trouxe à luz no momento em que, supostamente, os fatos relatados ocorreram? 

Porque só agora?


Toda a lógica demonstra ser para atacar, constranger e ter como alvo o ministro Alexandre de Moraes, o inimigo principal imediato, a quem mais odeiam, e consideram ser o elo mais fraco pelo protagonismo que as circunstâncias e a sua personalidade lhe impuseram. 

Isto demonstra que a extrema-direita o tem, neste momento, como o primeiro inimigo a ser abatido. Se lograrem sucesso nisso, prosseguirão para o próximo objetivo.

Por isso, o “Xandão”, pelo seu mérito e coragem, mas, sobretudo, por ter se transformado num símbolo da defesa da democracia, mais do que nunca, precisa ser apoiado por todos os democratas.

Não abandonaram o objetivo do golpe.

Lula que se cuide. A primeira coisa que tem a fazer é sair do palanque e parar de falar besteira.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2023

A República Democrática do Centro

Neste 1º de fevereiro, com o início dos trabalhos do Congresso e com as eleições dos Presidentes da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, e do Senado, Rodrigo Pacheco, ambos firmemente comprometidos com a democracia, inaugura-se uma nova fase da política brasileira.


As suas características:
  1. A afirmação de um Campo Democrático majoritário, dos cidadãos que repudiam todo tipo de ditadura e que, ao mesmo tempo, querem viver em um Estado Democrático de Direito; ele une, em conjunto, duas posições políticas fundamentais, descritas, neste texto, como Democratas-Radicais e Democratas-Conservadores;
  2. O isolamento dos Extremistas, ou Não-Democratas, formado pelos que defendem ditaduras e não têm apreço por viver em um Estado Democrático de Direito;
  3. A afirmação de um Centro-Democrático, que é o subconjunto intercessão dos Democratas-Radicais e dos Democratas-Conservadores. 
As distinções propostas nos três pontos acima não deixam de reconhecer as diferenças político-ideológicas tradicionais, mas evidencia a existência do Centro-Democrático como a expressão de uma realidade política que dialoga, no campo das instituições democráticas, com os polos políticos.

Destaque-se que os Presidentes eleitos da Câmara e do Senado fazem parte do Centro-Democrático, e que ele está em crescimento.

O espectro das posições políticas, ou espectro político, simplesmente, no contexto desta análise, é formado, em seu conjunto, pelas forças do Campo Democrático, que são majoritárias, e pelos Extremistas ou não-democratas, que são minoritários embora barulhentos.