segunda-feira, 10 de outubro de 2022

Pela democracia, a volta do Lula do 1º mandato; claro, sem “mensalão”

A emergência do Brasil profundo:
“Em resumo, a direita civilizada acha que Bolsonaro pode até tentar, mas não conseguirá dar o golpe. O centro e o centro-esquerda esperam a volta do Lula do primeiro mandato”.
A realidade é apenas uma, e existe apenas uma medida perfeita do pensamento do eleitor: o voto apurado nas urnas, que conta, um por um, o voto de toda a população de eleitores. Essa medida perfeita foi feita no dia 2/10/22.

E, para isso, os brasileiros têm o privilégio de contar com o sistema de votação e apuração de votos mais avançado do mundo! E, além disso, esse sistema é confiável e auditável.

As pesquisas eleitorais idôneas são formas de medir, por amostragem, essa realidade sem precisar contar o voto de toda a população. Elas são necessárias, e são infinitamente mais rápidas, baratas e usadas em toda a ciência.

Mas se pesquisas idôneas necessárias divergem tanto do pensamento do eleitor, existem problemas metodológicos a serem corrigidos.

Por isso, se a pesquisa IPEC, divulgada dia 5/10/22,  depois de 3 dias da eleição do 1º turno difere tanto do que parece provável, no mínimo, se somos responsáveis, temos que clamar: - “Por favor, parem!”. Pois não queremos ser enganados por pesquisas erradas, mesmo que tenham sido feitas de boa fé!

E, pior, pesquisas metodologicamente erradas podem comprometer a credibilidade de todas as pesquisas misturando pesquisas idôneas com as intencionalmente falseavas.

O artigo abaixo de Carlos Alberto Sardenberg trata com imensa acuidade, equilíbrio e felicidade os erros cometidos pelas pesquisas às vésperas da eleição do 1º turno. E nos mostra a realidade de um eleitor conservador ou de direita. Mas, embora isto não seja ainda bem compreendido, nos mostra que estão errados os que concluam que ele não tenha compromisso com a democracia; e mais errados, ainda, se o identificarem com o reacionário Bolsonaro, este sim, de extrema de direita, que tem como sonho dourado governar como ditador.

Carlos Alberto Sardenberg (*)

Voto em Bolsonaro ou Lula não é necessariamente de radicais

(Movimento da direita é muito maior do que o presidente extremista. E ex-presidente é maior do que o petismo)

O Globo 08/10/2022 00h10


Em termos técnicos, pode-se dizer que todos os institutos de pesquisa estão certos, cada um a sua maneira. Quer dizer, conforme os métodos e critérios que utilizam. Mas, se todos estão corretos ao mesmo tempo e mostram resultados diferentes, pode-se dizer também que todos estão errados.

Não é por aí que se vai entender o que se passa no país. E o que se passa? Há um momento ou, se quiserem, uma onda de direita, conservadora, pró-capitalista, muito maior que o bolsonarismo raiz, este sendo a extrema direita.

No caso da eleição presidencial, os maiores institutos e a maior parte dos analistas enxergaram uma onda de voto útil pró-Lula, um forte sentimento para acabar com a coisa no primeiro turno.

Houve esse voto útil, mas não na escala antecipada. O movimento não saiu das elites partidárias e intelectuais.

E houve uma espécie de contravoto útil, em Bolsonaro. Isso não foi captado. O presidente teve um resultado melhor que o indicado nas pesquisas.

Pode-se resumir assim: o voto à esquerda foi superestimado. Inversamente, o voto à direita foi subestimado.

Não foi a primeira vez. Há um padrão aí. Nas duas eleições que venceu, Lula teve no primeiro turno menos votos do que indicavam as pesquisas. Idem para Dilma e para Haddad, este em 2018.

Neste ano, esse padrão foi claramente registrado nos estados, nas eleições para governador e senador. Em quase todos os lugares, a direita foi subestimada.

Considerem São Paulo. Tarcísio de Freitas, a direita, parecia disputar a segunda vaga com Rodrigo Garcia, Haddad liderando fácil. Nas urnas: Tarcísio com folgada liderança, Haddad decepcionado. E ninguém acreditava que o astronauta se elegeria, muito menos com tanta facilidade. Considerem o Rio Grande do Sul. O bolsonarista Onyx parecia disputar a segunda vaga. Pois chegou bem na frente. Eduardo Leite, suposto favorito, passou raspando para o segundo turno e está bem atrás. No Rio, Castro estava na frente, mas chegou com muito mais folga. Idem para Romeu Zema em Minas. O que aconteceu?

Uma resposta: é o antipetismo. Outra, paralela: pesaram muito dois tipos de voto, o evangélico e o de costumes, de conservadores contra a agenda progressista. Não pode ser só isso. No interior de estados como São Paulo, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, o voto evangélico não tem peso significativo. Podem ser conservadores, mas não radicais.

Em São Paulo, Tarcísio teve mais de 9 milhões de votos. Seria tudo antipetista? Tudo fascista? Tem de ser também a favor de alguma coisa. Basta olhar os temas fortes da campanha vencedora: obras, privatização, concessões, liberdade de empreender, garantias ao ambiente de negócios. Vale também, e muito especialmente, para Romeu Zema em Minas, desde já um importante quadro da direita. Ele teve mais votos que Bolsonaro no estado.

Bolsonaro teve 51 milhões de votos. De novo, não é possível que sejam todos extremistas reacionários. Bolsonaro ganhou no Sul, Sudeste e Centro-Oeste, regiões com uma característica em comum: são as mais desenvolvidas, pelo modelo capitalista. É o setor privado que comanda. Esse pessoal se incomoda com o intervencionismo estatal do PT.

Lula ganhou no Nordeste e no Norte, onde as populações e a economia são mais dependentes de ações dos governos.

Tudo considerado, esse movimento da direita é muito maior que o Bolsonaro extremista. Inversamente, como já se viu noutras eleições, Lula é maior que o petismo.

Não é por acaso que políticos em torno de Bolsonaro procuram “moderar” o presidente e afastar os bolsonaristas raiz, aquela turma de 2018.

Lula se move para o centro. Os votos dos pais do Real e de Simone Tebet vão nessa direção. Além disso, esses votos se baseiam na convicção de que Bolsonaro é ameaça à democracia — pelo que já fez e pelo que pode tentar, dado o peso conservador no novo Congresso.

Em resumo, a direita civilizada acha que Bolsonaro pode até tentar, mas não conseguirá dar o golpe. O centro e o centro-esquerda esperam a volta do Lula do primeiro mandato.

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sábado, 8 de outubro de 2022

O armário está cheio de cupins: em luta contra a visão binária

A emergência do Brasil profundo…

Sim, esse Brasil deseja ser um país democrático; deseja o progresso, a prosperidade e erradicar a pobreza e a miséria. Ele deseja um meio ambiente saudável e o respeito aos direitos humanos.

Ele sabe que a corrupção, seja da esquerda, do centro ou da direita corrói a democracia e dilapida, para fins privados, os recursos que deveriam ser usados para a educação, para a saúde e para a promoção do bem estar de todos.

Sobretudo, ele não é mais o Brasil que está na cabeça dos que o enxergam sob o olhar dos parâmetros ideológicos da primeira metade do século passado. Muito menos do da extrema direita ou da extrema esquerda.

Precisamos discutir esse novo Brasil. Marcos Cavalcanti, corajosamente, afronta alguns dos nossos “princípios sagrados”. Neste excelente texto ele traz a sua contribuição.



ÍNTEGRA DO TEXTO

Marcos Cavalcanti (*)

O armário tá cheio de cupins...
"A sua piscina está cheia de ratos
suas ideias não correspondem mais aos fatos... " (Cazuza)
Quando tinha uns 16 anos e concluía o nível médio no Colégio São Vicente de Paulo passava o dia na escola jogando bola, participando do Grêmio e conversando com meus amigos. Só aparecia em casa para jantar e dormir... 

Um belo dia, voltando mais cedo pra casa, joguei meu par de tênis dentro do armário e bati a porta. Para minha surpresa o armário desabou, provocando um enorme estrondo! Minha mãe veio ver o que estava acontecendo e eu só me lembro de balbuciar “não fui eu” ... 

Quando fomos ver de perto, percebemos milhares de bichinhos passeando alegremente entre os restos do armário. Ele estava infestado de cupins! Minha mãe perguntou se eu não tinha reparado nos “pozinhos brancos” nas roupas e só então me dei conta que eles estavam lá, convivendo comigo, há muitos anos. O armário desabou naquele verão de 1976, mas os cupins estavam fazendo seu trabalho silencioso há muito tempo.

No início deste mês fizemos nossas escolhas e elas não tiveram nada a ver com o que indicavam as pesquisas. O IPEC nos garantia, na VÉSPERA da eleição, que Sérgio Moro estava disputando o terceiro lugar para o senado no Paraná, que Freixo ia para o segundo turno, que Márcio França seria eleito senador por São Paulo com o dobro de votos de seu adversário e que o atual presidente teria 35% dos votos... E isto na véspera, repito, das eleições!

O que os institutos de pesquisa, os intelectuais, artistas e jornalistas lulalá não enxergam é que o Brasil mudou. O Brasil real não é mais um embate entre a “burguesia” e o “proletariado”, entre os ricos e os pobres. Esta visão binária de mundo é a que prevalece nestes setores, que continuam enxergando o armário e não conseguem perceber a ação dos cupins que estão corroendo e vão por abaixo o arcabouço de suas ideias ultrapassadas. O Brasil que cresce e se desenvolve é o dos motoristas de aplicativos, dos que vendem quentinhas nas esquinas, dos que fazem e entregam comida em casa, dos que não têm carteira assinada, não são sindicalizados (e nem querem ser) e não se vêem como "pobres", “operários” ou “trabalhadores”, mas como “trabalhadores por conta própria”. 

São estes “cupins” que estão corroendo a visão binária de mundo e estão pondo abaixo os sindicatos, partidos e estruturas arcaicas que ainda nos governam. No Brasil e no mundo é só uma questão de tempo até que estes “armários” desabem. 

O que precisamos, urgentemente, é discutir onde vamos guardar nossas roupas num futuro próximo...

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quarta-feira, 5 de outubro de 2022

Simone Tebet: Manifesto ao povo brasileiro

Hoje, 5/10/22, Simone Tebet declarou voto e apoio a Lula no segundo turno da eleição presidencial, embora não represente a posição do seu partido.


O MDB, o seu partido, liberou os seus membros para optar entre Lula ou Bolsonaro, tirou nota, onde diz, de acordo com sua tradição histórica:
“Em respeito ao cenário, o MDB deixa claro que cobrará do vencedor o respeito ao voto popular, ao processo eleitoral como um todo e, sobretudo, a defesa intransigente da Constituição de 19888 e do Estado Democrático de Direito”.

Simone, ao começar a campanha não era conhecida por 70% dos brasileiros; agora somente 30% não a conhecem. Fez uma campanha digna e propositiva. As mídias sociais a apontaram como a melhor avaliada nos três debates, o da BAND, o do SBT e o da Globo.

Simone saiu maior da campanha do que entrou. Agora, é uma liderança nacional emergente; e, por sua personalidade corajosa e competente tornou-se uma alternativa para a renovação da política brasileira.

Neste momento concreto ela nos alerta para a questão fundamental desta eleição: o risco que significa Bolsonaro à nossa democracia. E de que todos devemos nos unir para derrotá-lo no 2º turno desta campanha eleitoral. E diz: estará nas ruas em luta por esta missão.

Simone Tebet é a melhor intérprete, simultaneamente, do Brasil moderno e do Brasil profundo e conservador que emergiu com toda a nitidez nesta eleição. Sua presença chegou como que para nos alertar que estão errados os que identificam esse eleitor conservador com o Bolsonaro reacionário, que tem como sonho dourado governar como ditador e regredir as instituições democráticas brasileiras.

Com ela a palavra. Abaixo, na íntegra, o seu manifesto ao povo brasileiro, com o legítimo direito de cidadã, mulher e política vinda lá do interior do Brasil, do Estado do Mato Grosso do Sul:


MANIFESTO AO POVO BRASILEIRO (*)

Apresentei minha candidatura à Presidência da República diante de um país dividido pelo discurso do ódio, da polarização ideológica e de uma disputa pelo poder que não apresentava soluções concretas para os problemas reais do povo brasileiro. Minha intenção foi construir uma alternativa a essa situação de confronto, que não reflete a alma e o caráter da nossa gente.

As urnas falaram. O povo brasileiro fez sua voz ser ouvida. Cumpriu-se o rito da Constituição, que hoje completa 34 anos. Venceu a democracia. Tive 4.915.423 votos, pelo que agradeço, do mais fundo do coração, por cada um deles.

Aprendi, ao longo de minha vida política, que não se luta apenas para vencer, mas para defender projetos, disseminar ideias, iluminar caminhos, plantar boas sementes para uma colheita coletiva.

O eleitor optou por dois turnos.

Em face de tudo o que testemunhamos no Brasil dos últimos tempos e do clima de polarização e de conflito que marcou o primeiro turno, não estou autorizada a abandonar as ruas e praças, enquanto a decisão soberana do eleitor não se concretizar.

A verdade sempre me foi companheira, não será agora que irei abandoná-la. Critiquei os dois candidatos que disputarão o segundo turno e continuo a reiterar as minhas críticas. Mas, pelo meu amor ao Brasil, à democracia e à Constituição, pela coragem que nunca me abandonou, peço desculpas aos amigos e companheiros que imploraram pela neutralidade neste segundo turno, preocupados que estão com a eventual perda de algum capital político, para dizer que o que está em jogo é muito maior que cada um de nós. Votarei com minha razão de democrata e com minha consciência de brasileira. E a minha consciência me diz que, neste momento tão grave da nossa história, omitir-me seria trair minha trajetória de vida pública, desde quando, aos 14 anos, pedi autorização à minha mãe para ir às ruas lutar pelas Diretas Já. Seria desonrar a história de vida pública de meu pai e de homens históricos do meu partido e da minha coligação. Não anularei meu voto, não votarei em branco. Não cabe a omissão da neutralidade.

Há um Brasil a ser, imediatamente, reconstruído. Há um povo a ser, novamente, reunido. Reunido na diversidade, antes (e sempre) a nossa maior riqueza, agora esmigalhada por todos os tipos de discriminação.

Neste ponto, um desabafo: de que vale irmos às nossas igrejas, proclamar a nossa fé, se não somos capazes de pregar o evangelho e respeitar o nosso próximo nos nossos lares, no nosso trabalho, nas ruas de nossa pátria?

Nos últimos quatro anos, o Brasil foi abandonado na fogueira do ódio e das desavenças. A negação atrasou a vacina. A arma ocupou o lugar do livro. A iniquidade fez curvar a esperança. A mentira feriu a verdade. O ouvido conciliador deu lugar à voz esbravejada. O conceito de humanidade foi substituído pelo de desamor. O Brasil voltou ao mapa da fome. O orçamento, antes público, necessário para servir ao povo, tornou-se secreto e privado.

Por tudo isso, ainda que mantenha as críticas que fiz ao candidato Luiz Inácio Lula da Silva, em especial nos últimos dias de campanha, quando cometeu o erro de chamar para si o voto útil, o que é legítimo, mas sem apresentar suas propostas para os reais problemas do Brasil, depositarei nele o meu voto, porque reconheço seu compromisso com a Democracia e a Constituição, o que desconheço no atual presidente.

Meu apoio não é por adesão. Meu apoio é por um Brasil que sonho ser de todos, inclusivo, generoso, sem fome e sem miséria, com educação e saúde de qualidade, com desenvolvimento sustentável. Um Brasil com reformas estruturantes, que respeite a livre inciativa, o agronegócio e o meio ambiente, com comida mais barata, emprego e renda.

Meu apoio é por projetos que defendo e ideias que espero ver acolhidas. Dentre tantas que julgo importantes, destaco cinco, tendo sempre a responsabilidade fiscal (âncora fiscal) como meio para alcançar o social:
  1. Educação: ajudar municípios a zerar filas na educação infantil para crianças de três a cinco anos e implantar, em parceria com os estados, o ensino médio técnico, com período integral e conectividade, garantindo uma poupança de R$ 5 mil ao jovem que concluir o ensino médio, como incentivo para que os nossos jovens voltem à escola;
  2. Saúde: zerar as filas de cirurgias, consultas e exames não realizados no período da pandemia, com repasse de recursos ao SUS;
  3. Resolver o problema do endividamento das famílias, em especial das que ganham até três salários mínimos mensais;
  4. Sancionar lei que iguale salários entre homens e mulheres que desempenham, com currículo equivalente, as mesmas funções. Esse projeto já foi aprovado no Senado Federal e encontra-se parado na Câmara dos Deputados;
  5. Um ministério plural, com homens, mulheres e negros, todos tendo como requisitos a competência, a ética e a vontade de servir ao povo brasileiro.
Até o dia 30 de outubro, estarei nas ruas, vigilante; meu grito será pela defesa da democracia e por justiça social; minhas preces, por uma campanha de paz.

Com os meus mais sinceros agradecimentos ao povo brasileiro, 

Simone Tebet
(5/10/22)

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terça-feira, 4 de outubro de 2022

RACIOCÍNIOS ERRADOS A SEREM SUPERADOS PELOS DEMOCRATAS SE QUISEREM GANHAR A ELEIÇÃO DO 2º TURNO

Será necessário que a campanha de Lula “aterre” no Brasil profundo e consiga dialogar com o eleitor real. Existem muitas questões estratégicas a serem consideradas, mas as abaixo são pontos de partida essenciais. Como os primeiros obstáculos de uma corrida olímpica de 400 metros com barreiras, que é, sobretudo,  uma corrida muito rápida!


Abaixo, cinco erros de raciocínio, ou de análise, que levam a conclusões erradas, a serem considerados imediatamente, para que a campanha de Lula no 2º turno possa deslanchar com sucesso e ser vitoriosa:
  1. Que as pesquisas do DATAFOLHA e do IPEC não cometeram erro metodológico; ao contrário, erraram, pois o que pensa e o que quer o eleitor é o que foi apurado pelas urnas; aliás, os seus resultados são confiáveis, não fraudáveis e auditáveis;
  2. Que foram os eleitores de Simone e de Ciro os responsáveis pela votação “surpreendente” de Bolsonaro; ao contrário, Simone e Ciro foram, antes, vitimados pelo voto útil em uma eleição muito polarizada, e receberam votações muito aquém das que teriam se recebessem o voto de todos os eleitores que os consideraram os melhores candidatos;
  3. Que o eleitor conservador do “Brasil Profundo” é “bolsonarista”, “fascista”, “direitista” e que queira viver em uma ditadura; ao contrário, a esmagadora maioria desses eleitores acredita nas urnas eletrônicas e quer viver em uma democracia; sobretudo, ele não é igual a Bolsonaro;
  4. Que as Forças Armadas apoiam o golpe que Bolsonaro quer dar caso o resultado das urnas lhe seja desfavorável; ao contrário, não apoiam o golpe, não levam a sério a vocação ditatorial de Bolsonaro e, provavelmente, não acham mais conveniente a sua reeleição;
  5. Que a batalha que se travará no segundo turno se resolverá com a mera articulação de cúpulas partidárias e de acordos de interesses entre os vencedores e atores políticos que saíram fortalecidos no 1º turno; ao contrário, vencerá o 2º turno quem melhor interpretar a alma do eleitor, incorporar o Brasil Profundo, o seu sentimento e as suas aspirações.
Finalmente, Simone e Ciro, com os seus 7,20% dos votos, serão intérpretes e pontos de conexão e “aterramento” dos democratas ao Brasil Profundo. Se tentarem reduzi-los a meros coadjuvantes formais e caricatos, Lula perderá o 2º turno.

O Brazil não conhece o Brasil

Esquerda brasileira não entendeu que a sociedade mudou, especialmente no interior e nas periferias dos grandes centros

Por Merval Pereira
04/10/2022 04h31, O Globo (*)


A música premonitória de Aldir Blanc e Maurício Tapajós “Querelas do Brasil” reflete o resultado das urnas do primeiro turno. Sempre achei que a eleição iria para o segundo turno e considerava isso bom, porque obrigaria o PT a fazer acordos, dentro da perspectiva de que Lula ganharia facilmente e iria para o segundo turno forte. Agora, a situação mudou completamente. Lula precisa de apoio, a diferença de cinco pontos percentuais é uma vitória com gosto de derrota, porque todo mundo esperava pelo menos o dobro, se ele não ganhasse no primeiro.

Um fato curioso, e preocupante, é que os dois líderes no segundo turno independem dos partidos. Lula é maior do que o PT e, se fosse outro candidato, provavelmente Bolsonaro ganharia de novo. Bolsonaro não acredita em partido. Em 2018, estava no PSL e levou o partido nanico a ser o maior da Câmara. Está no PL agora, e o partido mais uma vez elegeu a maior bancada. É uma eleição diferente de todas as anteriores, que de uma forma geral repete a de 2018.

Quando havia PT contra PSDB, havia uma disputa partidária, de maneiras de ver o mundo dentro de uma ótica social-democrata. Hoje são duas personalidades em disputa. Temos de recalibrar essa percepção do homem médio brasileiro, mesmo que não gostemos do que vemos. Chamar a esquerda de “progressista” é classificar os que não o são de “regressivos”. É isso mesmo? O país não está dividido entre “progressistas” e “regressivos”, é mais complexa a realidade. Não podemos relegar a um plano secundário 50 milhões de pessoas.

Nem todo esquerdista é progressista. Ou é progressista quem defende ditaduras sangrentas? E nem todo conservador é regressivo. Muitos votaram em Lula para se livrar de um estigma.

Temos de entender suas preocupações, seus anseios, mostrar, pelo exemplo, que não é preciso ser extremista de direita para conseguir o que se quer. Não temos uma direita capaz de liderar esse povo, os partidos terão de mudar muita coisa. Se a gente imaginar que essas pessoas estarão separadas para sempre, teremos de dividir o país em dois, sem possibilidade de conviver. Não é isso o que acontece. Quando existia o PSDB, esses eleitores se sentiam representados por um partido que, embora de centro-esquerda, entendia o agronegócio, entendia as questões de saúde e programas sociais.

Mas a esquerda brasileira não entendeu que a sociedade mudou, especialmente no interior e nas periferias dos grandes centros; é uma sociedade muito mais empreendedora, cada um por si, mais capitalista, que não quer o governo se metendo. Isso já tinha sido detectado há anos numa pesquisa que o Instituto Perseu Abramo fez no ABC paulista e deu um resultado surpreendente na região que foi o berço do PT. Explicitava o anseio por liberdade de ação, que não tinha nada a ver com sindicatos, mas com o apoio para o empreendedorismo. O PT já havia detectado essa tendência e engavetou a pesquisa, talvez com receio de encarar a realidade.

Essa situação evoluiu muito de lá para cá. Bolsonaro captou o anseio da sociedade por liberdade de ação, pelo menos na retórica ele vende essa ideia, e as pessoas a compram pelo valor de face. A esquerda e a classe média urbana ficaram muito preocupadas com a falta de empatia na pandemia, com a falta de vacinas, mas isso não afetou o eleitorado de Bolsonaro, tanto que Pazuello foi o candidato mais votado para deputado federal no Rio.

O que afeta os bolsonaristas, ou os que votam nele mesmo sem ser militantes, é emprego, menos inflação - que está acontecendo. São coisas mais do cotidiano do que conceitos como liberdade de expressão, democracia, valores civilizacionais fundamentais, mas que não pesam no Brasil profundo, às voltas com questões básicas de sobrevivência. Acho até que, em determinado momento da campanha, a inflação alta e o desemprego tiveram papel importante, dando dianteira a Lula.

Mas, à medida que a economia melhorou, que o dinheiro do Auxílio Brasil chegou à ponta, isso se desfez. O mesmo efeito que houve quando o PT lançou o Bolsa Família ou criou o crédito consignado. Esse bolsonarismo nasceu porque Bolsonaro é o único líder político que surgiu nos últimos tempos para aglutinar essa centro-direita que une conservadores, centro, direita, extrema direita. Não é que todos sejam extremistas de direita. Ao contrário, a minoria é como Bolsonaro, defende essas teses radicais. A maioria quer um partido que possa representar seus anseios, defendê-la de seus receios sobre o futuro.

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segunda-feira, 3 de outubro de 2022

A EMERGÊNCIA DO BRASIL PROFUNDO

Baseemo-nos nos dados do último boletim de apuração do TSE divulgado hoje, 3/10/22, às 5:14:46 h, com 99,99% dos votos apurados (*).

Nenhum país do planeta montou sistema tão eficaz para votação e apuração de votos. Um motivo de orgulho verdadeiro dos brasileiros. Já ontem, 2/10/22, no mesmo dia das eleições, sem fraudes e com resultados auditáveis, soubemos quem ganhou ou quem perdeu as eleições.

A considerar o conjunto dos eleitos, Governadores, Senadores, Deputados Federais e Deputados Estaduais, o resultado favoreceu ao campo bolsonarista. Revelou-se a emergência do voto conservador do eleitor real do Brasil profundo. 

Definitivamente, a esmagadora maioria destes eleitores não divide o mundo entre esquerda ou direita, muito menos entre comunistas ou fascistas (**)(***). Mas são conservadores, se consideram democratas e foram às urnas eletrônicas, acreditando nelas, para escolher os seus representantes. 

Milhões dos eleitores de Lula discordarão totalmente da formulação contida no parágrafo acima. Exatamente, por isso, já começam o 2º turno derrotados. 

Por isso, a maior conquista que todos os brasileiros comprometidos com a democracia poderão fazer até o dia 30/10/22, o dia do 2º turno das eleições presidenciais, será compreender os anseios dos eleitores desse Brasil que emergiu com total clareza.

Teremos que lidar com a realidade fria dos fatos e dos dados, para compreender quais os sentimentos e anseios que eles expressam, e compreender, por mais duro que isso seja, que tudo favorece à vitória de Bolsonaro no 2º turno.


A primeira operação de pensamento a ser feita é não colocar a culpa de Lula não ter vencido no 1º turno em Simone (4,16%) e em Ciro (3,04%), que somam 7,20% dos votos. 

Isto é fundamental ser dito agora, e compreendido imediatamente, pois alguns analistas políticos já os adjetivaram como linha auxiliar de Bolsonaro. Mas, ao contrário, suas candidaturas, por si mesmas, são expressão desse Brasil profundo que emergiu! Eles serão importantes arquitetos da vitória democrática se ainda for possível!

Para muitos, travou-se uma luta épica entre o bem e o mal: entre Lula (48,43%) e Bolsonaro (43,20%), dependendo do ângulo em que o observador se poste. Mas esta visão também está errada por toldar e obscurecer o nosso pensamento.

Então, mãos à obra, caros amigos democratas, pois o tempo é curto!

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sábado, 1 de outubro de 2022

As Forças Armadas estão com a Democracia, com a Lei, com a Ordem e com a Constituição

As Forças Armadas não apoiarão o golpe que Bolsonaro ameaça dar. A matéria do Estadão, assinada por Felipe Frazão, de 30/09/22, sexta-feira, deixa claro o compromisso institucional do Exército (*).

Bolsonaro, desde o início do seu governo, ameaça à nação com um golpe. Isto tem gerado apreensões legítimas. E, na antevéspera das eleições, muitos cidadãos, com o dedo no nariz, pois não esquecem os crimes que Lula cometeu, chegaram a declarar voto nele no primeiro turno para exorcizar o golpe.

Mas, até agora apenas a candidatura de Lula se beneficiou do blefe do golpe que o Bozo quer dar. 


Muitos brasileiros se deixaram capturar pela tese de votar em Lula, o mal menor, já no 1º turno, para exorcizar o golpe que o Bozo, o mal maior, ameaça dar; ou para não deixar que se prolongue por mais um turno essa apreensão. 

Estão errados, pois deixam com isso de votar no 1º turno no seu candidato preferido.


Conclamo a todos os prezados amigos a votarem no 1º turno no seu candidato preferido, seja ele Simone, Ciro, D’Ávila, Soraya, etc. Eles precisam do seu voto para continuar a luta por seus projetos. 

Merecem o nosso voto e não podemos abandoná-los agora!

Eu, em particular, votarei em Simone Tebet, pois tenho a convicção de que é a melhor candidata, e de que, se ela for ao 2º turno, será eleita a próxima presidente do Brasil. Dirão: “mas isto é pouco provável”! Respondo: “gosto de lutar por sonhos difíceis quando estou convencido de que eles são justos!”

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