segunda-feira, 16 de setembro de 2019

A resistência de Moro à traição de Bolsonaro

Diante de todas as decisões e dubiedades de Bolsonaro, que fragilizam a Lava-Jato e atentam contra a sua própria continuidade, alguns amigos que sempre apoiaram a Moro se fazem o questionamento, absolutamente necessário e legítimo, sobre o que Moro ainda está fazendo neste governo.


Claro, para os que sempre foram contra Moro e a Lava-Jato existe um argumento pronto e na ponta da língua, o de que ele e Bolsonaro formam uma identidade política e ideológica. Alguns ousariam mesmo dizer que, para Moro, depois de ter condenado e prendido Lula e o tirado da campanha eleitoral, tanto faz quanto fez que a Lava-Jato termine, pois o objetivo pretendido já teria sido alcançado. Julgo essa narrativa totalmente equivocada. Convenientemente, não podem reconhecer que hajam contradições entre estes personagens, pois isso daria credibilidade a Moro e fragilizaria a sua narrativa.

Faço parte de um imenso time de democratas que cultiva a análise lógica das informações disponíveis nas redes sociais. Este time não possui informações privilegiadas nem está no governo; tampouco é prisioneiro de antolhos partidários; mas possui o privilégio de se apoiar em um grande número de amigos informados; muitos são cientistas sociais e jornalistas extraordinários, que se debruçam com responsabilidade sobre os fatos, libertos que são de polarizações irracionais e meramente ideológicas.

Ao julgar Moro não podemos deixar de partir de fatos objetivos, concretos e comprovados para demonstrar o seu compromisso com o aperfeiçoamento do aparato jurídico para combater a corrupção e o crime organizado. Seria absolutamente desnecessário listar os seus feitos no combate à corrupção. Moro compreende, como poucos, o caráter democrático de acabar com a impunidade dos crimes de colarinho branco para superar a nossa crise moral, ética, política, social e econômica.

Cometeu o erro de deixar a carreira de juiz porque Bolsonaro lhe prometeu o apoio para prosseguir, em melhores condições, na sua missão de aperfeiçoamento institucional. Já não tem como voltar atrás e só lhe resta seguir em frente. Os que propõem, agora, que ele se afaste do governo é porque, basicamente, ou acham que ele empresta um prestígio indevido a um governo autoritário, ou porque temem por sua desmoralização, ou, até, porque, “mui amigos”, temem que, ao final, ele seja bem sucedido em seus objetivos. Esta última hipótese deixa de cabelo em pé aos que, desde sempre, temeram e combateram a sua ação.

Visto dessa forma, resta o que me parece ser um fato, que em termos de compreensão é novo, de que Bolsonaro não tem qualquer compromisso com o objetivo de aperfeiçoamento das instituições jurídicas para o combate ao crime; e de que passou a formar, junto com todos os que temem a Lava-Jato - onde o Toffoli  e o Maia ocupam um lugar de honra -, a “santa aliança” dos que a combatem.

Este é o fato inesperado, o estelionato eleitoral de Bolsonaro, que trai aos seus eleitores, que nele votaram para impedir que o PT voltasse ao governo, e por acreditarem que daria continuidade à Lava-Jato. Se essa é a realidade, penso que o mais provável é que Moro colocou-se em uma posição de resistência! Portanto, sua melhor resposta é não pedir demissão, pois, enquanto o prestígio de Bolsonaro cai, até por sua traição, o dele apenas sobe, mesmo depois dos ataques da “Intercept”.

Em síntese, Moro somente sairá se Bolsonaro o mandar embora, ou se, equivalentemente, lhe retirar os meios de prosseguir na missão a que se propôs! E é o que eu espero que ele faça! Que resista! Se isso acontecer ele demonstrará caráter e compromisso com sua missão e estará preparado para prosseguir a sua luta em outros patamares.

Quanto ao resto, “...os cães ladram e a caravana passa!”.

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