segunda-feira, 9 de maio de 2016

O sonho de uma Universidade de Brasília democrática e de excelência

Carlos Alberto Torres

O sonho da UnB não tem proprietários. Ele vem encantando sucessivas gerações de docentes, técnico-administrativos e alunos, que a buscam e se orgulham de fazer parte de seus quadros, e de nela estudar.
A UnB é vocacionada para ser uma instituição da democracia brasileira. Foi concebida como um projeto engajado, pois a visão dos seus fundadores foi de que essa democracia, além de politica, deveria ser, também, social e econômica. Por isso o compromisso com a solução dos problemas nacionais foi registrado em seus documentos de fundação.
A ADUnB, quando surgiu, em 1978, enfrentávamos a ditadura militar. Tive a honra de junto com outros bravos colegas ser seu sócio fundador, e de fazer parte de sua primeira diretoria. A entidade, naturalmente, com o código genético da UnB, adotou, desde o primeiro dia, o mais vigoroso compromisso com o valor fundamental da democracia. Foram muitas lutas. Chegamos aos nossos dias.
Nos próximos dias 10 e 11 de maio os docentes irão eleger uma nova diretoria da ADUnB. Que entidade precisamos e queremos? Possuímos, como docentes, nossa pauta reivindicatória. Ela é intrínseca ao exercício de condições dignas de trabalho para que a instituição atinja os seus objetivos. Neste momento da campanha as pautas programáticas das diversas chapas já são conhecidas por todos.
Quero tomar a liberdade de inserir esta eleição da ADUnB no cenário da crise ética e política que o nosso país atravessa. Exatamente no segundo dia da votação, dia 11, estará, provavelmente, sendo aprovada no plenário do Senado a admissibilidade para o julgamento do impeachment da presidente Dilma Rousseff. E a previsão é que no prazo máximo de 180 dias esse julgamento estará concluído. Supõe-se que serão dias tensos e difíceis para todos os brasileiros! E isso nos afetará a todos, e à UnB em particular.
Gostaria de fazer as seguintes considerações, que conduzem à minha opção pela Chapa 1 (*):
1.   Defendo que o nosso valor mais fundamental é manter a UnB funcionando. O sonho de uma instituição acadêmica de excelência é uma responsabilidade e construção coletiva. Não devemos abandonar este objetivo mesmo neste momento de crise.
Sempre estive convencido de que as visões corporativistas atentam contra esse objetivo, pois adotam como estratégia de luta as greves prolongadas, que não conseguem esconder objetivos políticos alheios aos interesses da comunidade acadêmica. Julgo que a orientação política seguida pela Chapa 2 se alinha com esta concepção equivocada. Acho que esta perspectiva não serve à UnB neste momento histórico.
Penso que, nas condições específicas que serão enfrentadas nos próximos dois anos, devemos defender os nossos empregos e salários, buscar formas inovadoras de luta, e tomar decisões coletivas democráticas com a consulta à maioria dos docentes.
Penso que o que nos protegerá será, exatamente, a excelência no cumprimento de nossa função social, em aliança com os técnico-administrativos, com os alunos e com a sociedade.
2.   Defendo que têm caráter essencialmente democrático as mudanças institucionais que se avizinham para superar a crise, e que o impeachment, caso ocorra, se dará dentro do mais estrito respeito às normas constitucionais.
A corrupção pune a sociedade, diminuindo, principalmente, os recursos para os gastos sociais; e a educação pública é uma das mais prejudicadas; exatamente, por isso, acabar com a impunidade dos crimes de colarinho branco, doa a quem doer, é essencial para aperfeiçoar a democracia brasileira nesta etapa de nossa história.
Ao mesmo tempo, defendo que a Operação Lava-Jato[1] vem sendo exemplar ao desnudar o papel da corrupção no financiamento da conquista e da manutenção do poder político. Esta é a razão da baixa qualidade de nossa representação parlamentar!
Julgo ser esse o pensamento da Chapa 1 sobre esta questão. Estou, mais ainda, convencido de que a UnB, majoritariamente, pensa assim, coerentemente com suas tradições democráticas.
3.    Defendo o desaparelhamento partidário das instituições públicas.
Desde 2014, durante as eleições presidenciais[2], passei a criticar o que se passava na ANDIFES (Associação Nacional de Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior), formada pelos reitores em exercício das universidades federais, quando organizou manifesto em apoio à candidatura de Dilma Rousseff, constrangendo os próprios reitores. Pessoalmente, eu gostaria de um MEC libertado do aparelhamento!
Por essa razão, a Chapa 3, vinculada à ANDIFES, não poderia receber o meu apoio.
Ao polemizar com essas questões de caráter político não coloco em dúvida a honorabilidade de quaisquer dos membros das Chapas 2 e 3. Todos são colegas respeitáveis e merecem o nosso apreço. A eles dedico a minha frontal e leal divergência!
Finalmente, chamo a todos para não deixarem de comparecer às urnas! O voto de todos, e o de cada um é indispensável! Basta que cada um pense que sua ausência poderá ser exatamente o voto que faltará para a vitória da chapa de sua preferência!



[1] "A santa aliança contra a Lava-Jato". Artigo publicado no Correio Braziliense em 12/01/2016:
[2] "Teriam as universidades federais candidato a presidente?". Artigo publicado no Correio Braziliense em 22/10/2014:
https://dl.dropboxusercontent.com/u/16402719/Teriam%20Candidato%20a%20Presidente%3F-CB-22-10-14.tiff

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(*) Para registro histórico: a Chapa 1 venceu as eleições.

Resultados finais da eleição da ADUnB:
Chapa 1: 502 votos (43%)
Chapa 2: 419 votos (36%)
Chapa 3: 235 votos (20%)
Total: 1.156 votos
Obs.: Os percentuais foram calculados sobre os totais, considerados os votos brancos e nulos.

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