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segunda-feira, 17 de maio de 2021

Os dilemas da decisão de votar e a defesa da democracia

Se a trágica polarização lulopetismo x bolsonarismo continuar no 2º turno da próxima eleição presidencial, exercerei, provavelmente, e novamente, o direito de votar nulo. Acho necessário abrir essa discussão, até para combater a falácia de que foram os votos nulos e brancos que levaram Haddad à derrota.


Embora votar nulo ou em branco seja uma difícil decisão pessoal, o que fiz pela primeira vez em 2018, ela demarcou, em primeiro lugar, o meu convencimento de que nenhum dos candidatos significaria uma boa solução para o Brasil; o governo catastrófico do capitão cloroquina está a demonstra-lo. A segunda razão, é que as pesquisas, às vésperas da eleição, já demonstravam que os votos nulos ou brancos não teriam o poder de inverter o resultado mais provável. Optei por seguir minha consciência.

Esta decisão ocorreu em um contexto totalmente diferente de quando enfrentávamos a ditadura, quando não tínhamos eleições presidenciais. Neste período, combati todas as propostas de algumas organizações esquerdistas em favor do voto nulo. Na verdade, elas eram posições de boicote às eleições. E, também, combati a posição do PT de não comparecer ao Colégio Eleitoral para eleger Tancredo em 1985 pela via indireta.

Para amargor dos que defendiam a ditadura, fomos vitoriosos, e esta, naquele momento, foi a única alternativa dos democratas para promover a alternância do poder, o que demarcou o fim da ditadura e culminou com a promulgação da Constituição de 1988.

Estamos agora em outro momento. Em que pese a nostalgia totalitária do bolsonarismo, e as ameaças que estão promovendo e trazendo à democracia, caminhamos para mais uma eleição democrática. E, neste contexto histórico, a forma mais concreta de minimizar estes riscos significa encontrar uma alternativa democrática à essa trágica polarização.

Aos críticos dessa posição de milhões de brasileiros de votar nulo ou branco, lembro que, em 2018, Haddad não precisou desses votos para perder; os dados divulgados pelo TSE sobre os resultados da votação demonstraram isso claramente (*).

Da mesma forma, as análises mais respeitáveis indicam que quem enfrentar o capitão cloroquina em 2022, se ele for ao 2º turno, será o próximo presidente da república; por isso, se a trágica polarização se repetir, Lula não precisará do meu voto e do de milhões de outros democratas críticos ao lulopetismo para ganhar.

O Brasil precisa superar essa trágica polarização; portanto, somo-me aos que estarāo, até o instante da votação no 1º turno da eleição presidencial de 2022, empenhados na eleição de um candidato do campo democrático capaz de romper com essa polarização. E, nós, os que defendemos essa posição, estamos trabalhando para que este candidato vá para o 2º turno; e, se isso ocorrer, derrotará qualquer concorrente, não importa quem seja. Nossa tarefa, portanto, é levar esse candidato ao 2º turno, quando será vitorioso.

Mas isso será uma construção, a que devemos nos dedicar com desprendimento e urgência, pois este resultado ainda não está dado.

O objetivo de cada democrata não é o de votar, a qualquer custo, no candidato que poderá ser vitorioso. Não estamos participando de um jogo em que o objetivo é apenas ganhar. Não estamos em busca, fisiologicamente, das benesses do poder, pois continuaremos a viver do nosso trabalho. O que está em jogo é o nosso futuro, sempre adiado, o de um país mais próspero, democrático e justo.

Portanto, a primeira coisa a fazer, se a democracia está sob ataque, é unir o campo das forças democráticas, diga-se, de esquerda, de centro e de direita, sem discriminações ou hegemonismos, para romper com a trágica polarização, derrota-la, e manda-la para o lixo da história.

Da democracia que já conquistamos, cheia de defeitos, queremos eleva-la a um patamar mais alto, pois o nosso valor de hierarquia mais alta é a própria democracia.

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(*) 

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