sábado, 8 de janeiro de 2022

O desespero de Bolsonaro

Todos já conhecem a irresponsabilidade do Presidente Bolsonaro. Em suas ações e como se expressa com suas palavras. Todas demonstram à exaustão o seu desequilíbrio, negacionismo, descompromisso com a democracia e desrespeito com as instituições.

A sua incompatibilidade com o cargo somente é negada pela legião dos puxa-sacos que o cercam, dos que o chantageiam em troca de benesses indevidas para mantê-lo no cargo, e pelos radicais que o mitificam. 

Mas, desesperado por saber que não será reeleito, está ultrapassando todos os limites.

Em uma entrevista à TV Nova Nordeste nesta quinta-feira (06/01/22), Bolsonaro questionou os interesses da Anvisa em aprovar a vacinação de crianças contra a covid-19. "Você vai vacinar o teu filho contra algo que o jovem por si só, uma vez pegando o vírus, a possibilidade dele morrer é quase zero? O que que está por trás disso? Qual o interesse da Anvisa por trás disso aí? Qual o interesse das pessoas taradas por vacina?", declarou Bolsonaro na entrevista.

Suas palavras foram ofensivas, justamente com a ANVISA, a Agência Nacional que tem por finalidade institucional:
“… promover a proteção da saúde da população, por intermédio do controle sanitário da produção e consumo de produtos e serviços submetidos à vigilância sanitária, inclusive dos ambientes, dos processos, dos insumos e das tecnologias a eles relacionados, bem como o controle de portos, aeroportos, fronteiras e recintos alfandegados.”

O seu digno Diretor Presidente, Antonio Barra Torres, Contra-Almirante RM1, médico, sentiu-se no dever, diante de tão graves e irresponsáveis declarações, de defender-se e à instituição que dirige.


Abaixo, a íntegra de sua nota:

Nota – Gabinete do Diretor Presidente da Anvisa, Sr. Antonio Barra Torres


Em relação ao recente questionamento do Presidente da República, Jair Messias Bolsonaro, quanto à vacinação de crianças de 05 a 11 anos, no qual pergunta "Qual o interesse da Anvisa por trás disso aí?", o Diretor Presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres, responde:

Senhor Presidente, como Oficial General da Marinha do Brasil, servi ao meu país por 32 anos. Pautei minha vida pessoal em austeridade e honra. Honra à minha família que, com dificuldades de todo o tipo, permitiram que eu tivesse acesso à melhor educação possível, para o único filho de uma auxiliar de enfermagem e um ferroviário.

Como médico, Senhor Presidente, procurei manter a razão à frente do sentimento. Mas sofri a cada perda, lamentei cada fracasso, e fiz questão de ser eu mesmo, o portador das piores notícias, quando a morte tomou de mim um paciente.

Como cristão, Senhor Presidente, busquei cumprir os mandamentos, mesmo tendo eu abraçado a carreira das armas. Nunca levantei falso testemunho.

Vou morrer sem conhecer riqueza Senhor Presidente. Mas vou morrer digno. Nunca me apropriei do que não fosse meu e nem pretendo fazer isso, à frente da Anvisa. Prezo muito os valores morais que meus pais praticaram e que pelo exemplo deles eu pude somar ao meu caráter.

Se o senhor dispõe de informações que levantem o menor indício de corrupção sobre este brasileiro, não perca tempo nem prevarique, Senhor Presidente. Determine imediata investigação policial sobre a minha pessoa aliás, sobre qualquer um que trabalhe hoje na Anvisa, que com orgulho eu tenho o privilégio de integrar.

Agora, se o Senhor não possui tais informações ou indícios, exerça a grandeza que o seu cargo demanda e, pelo Deus que o senhor tanto cita, se retrate.

Estamos combatendo o mesmo inimigo e ainda há muita guerra pela frente.

Rever uma fala ou um ato errado não diminuirá o senhor em nada. Muito pelo contrário.

Antonio Barra Torres

Diretor Presidente - Anvisa

Contra-Almirante RM1 Médico

Marinha do Brasil

quinta-feira, 6 de janeiro de 2022

Os fantasmas do passado

Penso que os que já estão engajados na candidatura de Lula se satisfazem com bem pouco para o Brasil.

Por um momento, considerarei, metodologicamente, que este não seja o caso do nobre leitor, a quem convido para abrirmos um diálogo.


Veja, os que defendem, desde já, a candidatura de Lula argumentam que devamos, todos os democratas, nos unirmos contra o fascismo. Mas esta é uma argumentação que peca não apenas pela lógica. Sobretudo, é uma narrativa fake com claros objetivos políticos, pois não estamos enfrentando uma ditadura, Bolsonaro não é o Hitler (embora talvez gostasse de sê-lo) e não estamos vivendo nos tempos da guerra-fria.

Até o dia 7/09 muitos temiam o golpe que Bolsonaro queria dar. Não deu, as instituições democráticas resistiram e as Forças Armadas disseram não ao golpe. Se Bolsonaro, até esta data, blefou para nos assustar, e para levar os seus apoiadores golpistas para as ruas, este risco não existe concretamente. E suas possíveis ameaças futuras à democracia continuarão recebendo da consciência democrática dos brasileiros e das instituições democráticas o mesmo repúdio eficaz, que já recebeu, para derrotar os seus intentos.

Claro, é altamente conveniente aos que apoiam Lula ficarem até hoje apontando para o risco do golpe iminente. Isto lhes é conveniente para que os democratas, assustados com fantasmas, corram para o apoio à Lula argumentando que ele é o mal menor. Mas não devemos nos deixar enganar por esse blefe que só serve a Lula e a Bolsonaro para mobilizar os seus apoiadores radicais.

A questão que está colocada, então, qual é? Trata-se de romper com as concepções políticas que mantêm bloqueado o desenvolvimento de nossa democracia. Quem a bloqueia? Esta pergunta é inconveniente, pois coloca o lulopetismo e o bolsonarismo, simultaneamente, como fantasmas do passado, e filhos reacionários da guerra fria. E se o são, são modelos de pensamento atreladas ao passado e ao atraso político.

Se você sequer faz essas considerações, e já está, simplesmente, engajado na candidatura de Lula porque o considera um modelo do que é bom para o Brasil, então faz parte do que podemos chamar de “lulopetistas de raiz”. Provavelmente, você foi convencido de que a roubalheira petista liderada por Lula foi uma mera conspiração da Cia e do Departamento de Estado Norte-americano conduzida pelo seu agente local Sergio Moro. Se você faz parte deste conjunto, nada se pode fazer, pois você é tão gado quanto os “bolsonaristas de raiz”.

Mas tenho a esperança de que não, para que julguemos proveitoso continuar neste diálogo. Se você é um democrata, deseja o melhor para o Brasil e o seu horizonte vai além de meras questões partidárias e ideológicas, mas considera que as eleições democráticas são uma oportunidade para fazermos críticas corajosas ao que está errado, e lutarmos pelo bem comum, então talvez esteja disposto a considerar estas questões abaixo de lógica elementar:
  1. Já sabe que a única forma de derrotar Lula será retirando Bolsonaro do 2º turno, pois as tendências apresentadas pelas pesquisas sucessivas demonstram, consistentemente, que Lula o derrotará;
  2. E sabe, também, que Lula, provavelmente, será o derrotado, se um candidato da 3ª Via (*) for ao 2º turno. E é, exatamente, esta a razão pela qual os que já estão engajados na candidatura de Lula lutam para conformar um 2º turno com Bolsonaro; a mesma razão pela qual já trabalharam para inviabilizar o seu impeachment.
É necessário que, rapidamente, os democratas, de todos os matizes políticos - de esquerda, de centro e de direita - se deem conta dessa aliança-casamento tácita, trágica e objetiva entre o lulopetismo e o bolsonarismo para manter bloqueado o desenvolvimento de nossa democracia.

Não haverá outro caminho, pois será com a nossa democracia depauperada, saqueada, rota, maltratada e vilipendiada, mas com o voto, que iremos nos livrar desses grilhões que nos prendem ao passado.

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(*) Aqui, 3ª Via é a denominação de uma candidatura alternativa a Lula e a Bolsonaro.

Ela não corresponde, necessariamente, às que até este momento já se apresentaram como mais prováveis, como as de Ciro, Dória, Simone, ou mesmo Moro.

Terceira Via, assim, passa a ser uma alternativa da democracia brasileira, que afaste o risco da crise institucional, e apresente um conteúdo programático que aponte para o futuro de um Brasil mais desenvolvido, democrático e justo.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2021

Narrativas, fatos, ficção e tramas no jogo da politica

Explicamos o mundo através de narrativas. Menciono, para exemplificar, três tipos: as científicas e as que instruem os processos judiciais, que se baseiam-se em fatos e provas; a religiosa, em mitos, valores morais e crenças; a ficcional literária, uma criação artística, mas em que se debate com profundidade e beleza as coisas mais importantes da existência humana; as fakenews, travestidas de verdade, mas cujo objetivo é iludir ou enganar. 

A que segue abaixo, neste texto, do tipo ficcional, não tenta enganar a ninguém, mas trazer uma hipótese ou delineamento lógico e plausível do processo eleitoral, mais especificamente sobre as eleições presidenciais de 2022.

Não será surpresa, entretanto, a ocorrência de duas coisas opostas: (1) que logo apareçam protagonistas autorizados e mais informados a descartá-la; (2) que o seu delineamento mais geral se concretize na realidade.



O jornalista Carlos Marchi dizia, em 16/12/21, em um post em sua Linha do Tempo no Facebook:

Bolsonaro derreteu. Dissolveu-se. Gaseificou-se. Virou vento. 
Alguém irá ocupar o lugar que um dia foi dele. Gradativamente. 
Por que isto vai acontecer?
Porque uma parcela (que em 2018 foi majoritária) do eleitorado vai querer isto.”


Acho altamente provável este delineamento, por isto resolvi fazer, como comentário a este post, em 21/12/21, uma provocação com o meu amigo jornalista:


“Carlos Marchi, permita-me montar uma narrativa que, para muitos, irá parecer fantástica. Mas qual narrativa, a não ser as baseadas em fatos ou em delineamentos lógicos a partir dos fatos, não é fantástica?


Lá vai, segurem-se os interlocutores deste post em suas cadeiras. Talvez essa narrativa já tenha aparecido em algum lugar. Nao a li, mas não invoco a sua improvável originalidade.


Pois bem, Pacheco será o candidato de Bolsonaro a Presidente. E este disputará um mandato parlamentar (talvez deputado federal, que já sabe como exerce-lo sem precisar trabalhar).


Como assim, não é o próprio Bolsonaro o candidato? Não! Ele sabe que não se reelegerá. Se tiver a felicidade de chegar ao 2º turno teremos a trágica (para o Brasil) disputa dele com Lula, quando certamente perderá.


Repito: ele sabe que será derrotado! O seu problema maior, e tem tempo para pensar nisso, é não perder a imunidade, sem a qual, mais cedo ou mais tarde, irá parar em Bangú I.


Pacheco tem feito tudo, como presidente do Senado, para manter vivos os seus canais de interlocução com Bolsonaro. E bate uma bola azeitada com Lira. Sua postura equilibrada e ponderada lhe servem para evitar ou cultivar atritos que não lhe sirvam.


Kassab, por sua vez, que já o lançou candidato a presidente, e que se move, conversando com todo mundo, da direita à esquerda, para maximizar os ganhos do seu projeto de poder, está apenas à espera para que esse quadro se configure. Enquanto isso, Pacheco nem se preocupa em fazer campanha. Basta-lhe, por enquanto, a mídia que o seu cargo lhe propicia. Ele decidiu não entrar no tráfego já congestionado dos candidatos da 3ª Via.


Pacheco aguarda: ou será candidato herdeiro dos votos de Bolsonaro, ou não será candidato. Kassab e ele já estariam nesta aposta.


Olhe o plano inicial de alianças partidárias: PSD, PL, PSL, DEM (do qual saiu mantendo as portas abertas). Os dois últimos já anunciaram a fusão em um novo partido, o União Brasil. Tá bom para iniciar, não é? Outros partidos se somarão.


Pois bem, se isso acontecer, muda a estrutura da eleição! Se em meus humildes devaneios trago isso aqui, para provoca-lo, imagina o que nas madrugadas da República não se articula em sórdidas transações?”


Comentários a posteriori. Pacheco, neste caso, será capaz de libertar-se do estigma de extrema direita que Bolsonaro carrega? Para crescer, e ir para o 2º turno, será capaz de atrair os votos do campo democrático que, como em 2018, permanece querendo encerrar o ciclo da roubalheira petista? Será capaz de atrair votos da centro esquerda que somente votaria em Lula se a disputa fosse contra Bolsonaro? Essas, e muitas outras perguntas, estariam em aberto.


Para os que chegaram até aqui possam compreender o meu posicionamento, digo que votarei no candidato da 3ª Via com a maior chance de chegar ao 2º turno e tornar-se o próximo Presidente da República. Os candidatos da 3ª Via, por ordem alfabética, são Alessandro, Ciro, D’Ávilla, Dória, Mandetta, Moro, Pacheco e Simone. Até esta data Pacheco figura com apenas 1% nas pesquisas, o que torna ainda mais ficcional minha provocação a Marchi.


Defendo a necessidade histórica de dar uma oportunidade ao desenvolvimento de nossa democracia, que está bloqueada e ancorada ao passado. Lula ou Bolsonaro a manteriam presa ao passado por fortes amarras por mais quatro anos, pois os seus valores e conceitos são os do tempo da guerra fria. Portanto, luto para derrota-los eleitoralmente. Isto significa dizer que somente votarei em um candidato que represente um compromisso com a democracia provado e de grande credibilidade.


Aos que, legitimamente, sejam céticos com essa narrativa fantástica, dentre outras que a simples imaginação possa criar, que ela tenha servido, pelo menos, para demonstrar que o resultado das eleições de 2022 ainda está em aberto!



sexta-feira, 17 de dezembro de 2021

Não podemos permitir que pesquisas fraudadas condicionem a opinião do eleitor

Gostaria de fazer breves considerações sobre as pesquisas eleitorais que estão sendo apresentadas.

Pesquisas são medidas estatísticas feitas com amostras sobre uma população. Em se tratando de pesquisas de opinião política ou de intenções eleitorais, essa população consiste na totalidade dos brasileiros, naturalmente excluídos os que não têm o direito de votar. O seu objetivo é conhecer a população, ou melhor, o que “pensa” a população.


Cada instituto usa a sua própria metodologia, os seus próprios questionários, a sua própria equipe de coleta de dados e os seus próprios estatísticos e analistas.

Portanto, duas pesquisas idôneas realizadas em datas diferentes somente são inteiramente comparáveis se tiverem sido feitas pelo mesmo instituto usando a mesma metodologia. Neste caso, elas são extremamente úteis para indicar as tendências; ou seja, se um determinado índice, relativamente a um dado candidato, está apresentando tendência de crescimento ou de queda.

Institutos diferentes, não podem apresentar resultados muito semelhantes, particularmente quando feitas em datas diferentes, por vezes separadas por semanas a quase um ano da eleição. E isto só pode acontecer se houver combinação e fraude.


Pesquisas podem ser comparadas a fotografias. Se de institutos diferentes, tiradas com máquinas de marcas diferentes, com configurações diferentes, é impossível obter images semelhantes tiradas por observadores diferentes, mesmo que quase no mesmo instante; quanto mais se forem feitas em datas diferentes. Sobre um corpo social e político em movimento, é conhecida a frase atribuída ao político mineiro Magalhães Pinto de que “política é como nuvem; você olha e ela está de um jeito;  olha de novo, e ela já mudou”.

Se queremos viver em uma democracia devemos zelar para que o eleitor não tenha a sua opinião condicionada por pesquisas fraudadas.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2021

Sobre convicções, narrativas, fatos e sordidez

Como, do ponto de vista da opinião pública, se formam as convicções majoritárias?

Como uma guerra de narrativas ou de versões. As narrativas podem ser fake ou baseadas em fatos.

Mas existe um único critério de verdade válido: o que é baseado em fatos.


Claro, em nossa vida pessoal podemos viver de ilusões, sobre o amor, negar a ciência com teses fantásticas, ou viver de fantasmagorias. Mas as ilusões são mentiras que cultivamos e contamos para nós mesmos. Um dia, em confronto com a realidade e com os fatos elas podem cair sobre a nossa cabeça.

As narrativas políticas, se fakes, entretanto, podem causar grande prejuízo a um país inteiro. Precisamos combatê-las, pois estão atreladas a interesses particularistas e não servem aos interesses da sociedade.

Portanto, nesta questão de Moro, e de sua credibilidade, eu o defendo. Atrás de suas decisões e sentenças existem os fatos e as provas colhidas em milhares de horas de trabalho por policiais e procuradores federais; e as sentenças de Moro, na primeira instância, foram ratificadas em outras duas instâncias; exatamente porque respeitaram o princípio do devido processo legal.

Assumir outra posição seria aceitar que denúncias obtidas de forma ilegal, e não aceitáveis em nenhum tribunal, sejam usadas “informalmente”, como o foram, para determinar a suspeição do Moro. Quem foi o seu algoz? Exatamente Gilmar Mendes, o notório juiz do STF que gasta as suas noites e madrugadas em sórdidos conchavos imorais e antiéticos.

Defender Moro, portanto, constitui fazer a narrativa dos fatos e da verdade prevalecer sobre a versão fake que só serve à conveniência política de criminosos.

domingo, 12 de dezembro de 2021

A Maratona de João Dória

João Dória começa, agora, para valer, sua corrida eleitoral como candidato a Presidente, depois de ter sido indicado na prévia de seu partido, o PSDB. Em primeiro lugar, para mostrar-se com índices em crescimento; depois para tornar-se um candidato viável ao 2º turno.

Será uma longa corrida, mas com pouco tempo e com imensos obstáculos.


Mas tem, como Moro, uma estratégia de posicionamento cristalina: é um candidato da 3ª Via que entra na disputa com o objetivo de derrotar a Bolsonaro e a Lula.

Move-se como um candidato que quer ganhar, não apenas quer participar da festa. Mas sabe que esta eleição já nasceu com uma regra: os eleitores que pretendem se livrar de Lula e Bolsonaro concentrarão os seus votos no candidato que tiver maior chance de chegar ao 2º turno.

Dória compreende que a 3ª Via é um movimento histórico para derrotar, simultaneamente, a Lula e a Bolsonaro. Por isso, acena, com visão correta, para conversas e entendimentos com todos os outros candidatos da 3ª Via, como o Moro, o Mandetta, a Simone, o Alessandro, o D’Ávila e o Pacheco. São candidatos com trajetórias diversas e partidos com projetos programáticos diversos; mas sabem que precisarão praticar a união, além dos personalismos, pela reconstrução do Brasil.

Isso significa que Dória define, com clareza, o seu âmbito de alianças, de conversações, de entendimentos e de negociações: apenas com outros candidatos da 3ª Via. Não quer saber de conversas com Lula ou com Bolsonaro, a quem, definitivamente, quer derrotar.

Ciro, com sua capacitação e dedicação íntegras, a buscar um caminho para o desenvolvimento do Brasil, deveria fazer parte dessas entendes. Recusar-se a isto será um erro fatal para sua candidatura, pois não terá qualquer chance uma estratégia dúbia de querer ficar com um pé dentro e outro fora da 3ª Via.

Uma difícil engenharia e construção, não é? Mas vale a pena. Sonho dos sonhos; mas, em termos de eleições, no Brasil, tudo pode acontecer; quem sabe não possam estar lá, no 2º turno, dois candidatos da 3ª Via?

Mas, para que haja essa concertação, não existe espaço para o antilavajatismo e para o antimorismo na 3ª Via. O combate à corrupção tem um caráter democrático; significa reconhecer que ele é um dos valores fundamentais da democracia.

E, os valores fundamentais da democracia, em seu conjunto, precisam dar vida a um projeto, e compromisso histórico, para desbloquear o desenvolvimento de nossa democracia nos planos da política, da economia e da sociedade. Sem isso será impossível a prosperidade econômica, social, cultural e a erradicação da pobreza e da miséria.

A “Conversa com o Bial” (*) do dia 10/12/21 apresentou um excelente retrato de Dória. Todos deveriam vê-la; Dória é um exemplo pronto e acabado da política real e do que nós somos, com todas as nossas contradições.

Os seus méritos como gestor são inquestionáveis. Sem a sua firme e corajosa postura contra o negacionismo de Bolsonaro no enfrentamento à pandemia, as famílias brasileiras estariam muito mais enlutadas. Com a sua experiência como prefeito de São Paulo e como governador do estado foi bem sucedido. Sem dúvida, está preparado para governar o país.

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quinta-feira, 2 de dezembro de 2021

AS BOAS PERSPECTIVAS DA 3ª VIA

A 3ª Via é um movimento para derrotar a Bolsonaro e a Lula nas eleições presidenciais de 2022.

Muita água ainda irá rolar; o cenário inicial é de que Bolsonaro e Lula sejam candidatos no 1º turno. Neste cenário, o candidato mais forte da 3ª Via provavelmente irá ao 2º turno; e, se chegar lá, provavelmente, será eleito presidente da república.

O objetivo desse texto é mostrar porque haverá o deslocamento de eleitores de Bolsonaro e de Lula  para o candidato da 3ª Via. 

Quem são esses eleitores? Eles compõem quatro tipos:
  1. Os que votaram em Bolsonaro, sem serem bolsonaristas, por serem mais antipetistas;
  2. Os que votaram em Haddad, sem serem petistas, por serem mais antibolsonaristas;
  3. Um percentual significativo dos que que votaram nulo ou branco a contra-gosto, por não terem encontrado nenhum critério satisfatório para preferir votar em Bolsonaro ou em Haddad;
  4. Um percentual dos que se abstiveram em 2018; os que se abstêm sequer comparecem para votar; a abstenção pode diminuir se as eleições de 2022 trouxerem mais esperança na democracia e na própria política.

O quadro acima apresenta os percentuais de votação do 2º turno de 2018 com relação à soma total dos votos de Bolsonaro, de Haddad, dos votos nulos e brancos e, mais, das abstenções (*). Este total é denominado de Votos Apurados. Observe que as áreas hachuradas em azul e laranja representam, respectivamente, os eleitores dos tipos (1) e (2) acima.

Serão, em primeiro lugar, os eleitores situados nestas áreas hachuradas os que se deslocarão, em 2022, em busca de alternativas às candidaturas de Bolsonaro e de Lula. Na verdade, esta busca já começou em direção aos candidatos do que se convencionou chamar de 3ª Via.

A lógica seguida na figura foi descrita no artigo “Medindo o Tamanho do Campo Democrático” (**):
“Observe: a área azul, dos votos de Bolsonaro, possui uma sub-área hachurada, que representa os que votaram em Bolsonaro, sem gostar dele, para afastar o risco do PT voltar; a área laranja, dos votos de Haddad, possui uma sub-área hachurada, que representa os que votaram em Haddad, sem gostar dele, na expectativa de impedir a vitória do “bolsonarismo”. Qual o tamanho dessas áreas hachuradas? Alguns a representariam bem maior. Importante registrar, entretanto, que essas áreas hachuradas azul e laranja não são de eleitores, respectivamente, "de raiz", de Bolsonaro ou de Haddad.”
As eleições de 2018 são tomadas como referência pois oferecem uma excelente base quantitativa. Estes votos, dos tipos (1), (2), (3) e (4), são suficientes para levar o candidato da 3ª via ao 2º turno em 2022.

Quem votará em Lula no 1º turno? Os lulopetistas de raiz. Os que votaram em Haddad em 2018 com o dedo no nariz não são seus eleitores, pois são contra a roubalheira e não esqueceram do descalabro econômico e desemprego pela qual o lulopetismo foi o principal responsável. Óbvio, continuam antibolsonaristas.

Quem votará em Bolsonaro no 1º turno? Os bolsonaristas de raiz. Os que já votaram em Bolsonaro com o dedo no nariz não são seus eleitores; e este número torna-se cada vez maior agora, à medida em que fica patente o quanto é incapacitado intelectual, moral e mentalmente, e que tomaram conhecimento do seu negacionismo e dos seus crimes comuns e de responsabilidade. Note-se que estes, que não votarão mais em Bolsonaro, continuam antipetistas.

As pesquisas ainda dão números elevados a Bolsonaro e a Lula porque somente agora as candidaturas da terceira via começam a ficar definidas. Quando o quadro de candidaturas ganhar a sua estrutura final, o que só se dará em meados de 2022, os índices de Bolsonaro e de Lula terão quedas abruptas. Os de Bolsonaro já o retirarão do 2º turno.

Um outro cenário, cuja probabilidade aumenta dia a dia, é que, à medida em que Bolsonaro se convença de que corre o risco de sequer ir ao 2º turno, e de que lá será derrotado por qualquer contendor, já prefira apoiar um outro candidato a Presidente e candidatar-se a um cargo parlamentar. Se não fizer isso, perderá a imunidade e poderá ir parar em Bangú I. Neste caso, de mudança estrutural da própria eleição de 2022, cresce a hipótese de que o eleitor já jogue mais pesado e decida ter um 2º turno também sem Lula.

Aos que pensam em eleições presidenciais como sendo oportunidades históricas para que o Brasil avance na superação dos seus problemas, a próxima terá um papel fundamental para derrotar o populismo e patrimonialismo lulopetista e bolsonarista. Trata-se de desbloquear o desenvolvimento de de nossa democracia e retomar o caminho para uma sociedade mais justa e próspera com a erradicação da pobreza e da miséria. O movimento da 3ª Via torce por essa perspectiva.

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(*)