segunda-feira, 24 de fevereiro de 2020

Das milícias às forças paramilitares

Os democratas não podem conciliar com a estratégia de Bolsonaro de afrontar a Constituição e apoiar a criação de forças paramilitares com objetivos políticos.


Essa prática escancarada ele já defendia com o apoio explícito às milícias do Rio de Janeiro. O apoio declarado às greves de PMs ele já iniciara desde a de 2017 no Espírito Santo, quando ainda era deputado.

Agora, como presidente, sinaliza a sua disposição de apoiar essas greves ilegais, o que nos remete de volta à selva, em que a vida e a segurança dos cidadãos passa a não valer mais nada. Sua estratégia, óbvia, é a de comprometer a autoridade dos governadores e retirar-lhes o controle sobre as forças de segurança.

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020

Minha charge da semana:


quarta-feira, 19 de fevereiro de 2020

Unindo os democratas

Há, necessariamente, uma questão metodológica quando se examina a realidade com os olhos da ciência, seja a realidade natural ou a social. A necessidade de um certo distanciamento para ver e entender a realidade objetiva.

Pois bem, Bolsonaro foi eleito. A primeira questão, então, é reconhecer o óbvio, de que foi eleito com a maioria dos votos.

A segunda questão, e essa é mais difícil, é a de reconhecer que os seus eleitores não são apenas do tipo “bolsonaristas de raiz”, ou seja, por simplicidade, pessoas que convergem em pensamento político ou ideológico com ele. Já de passagem eu o caracterizo como de extrema direita, não democrata e admirador de ditaduras totalitárias; observo que cada uma dessas caracterizações está apoiada na vasta documentação existente a partir de suas próprias declarações.

Existe um outro contingente de seus eleitores, não bolsonaristas de raiz, que julgo ser a maioria, são os que votaram nele para impedir que o PT voltasse ao governo. Não são homogêneos, muitos são de direita, mas são democratas, pois repudiam quaisquer tipos de ditaduras e somente querem viver em um Estado Democrático de Direito. Os petistas, politicamente, não podem aceitar isto, mas sabem que é a realidade.

Mas, os que não se desgarram da visão polar do mundo, seja por ideologia ou estratégia política, ora acusam os não bolsonaristas de petistas, porque são oposição a Bolsonaro; ora chamam de bolsonaristas aos que, com total nitidez, estão empenhados na busca de uma alternativa democrática ao bolsonarismo e ao lulopetismo.

Mas os fatos são insistentes, por isso volto ao tema inicial. Primeiro, se a clivagem que queiramos fazer, por exemplo, não for a política, mas a religiosa, é necessário reconhecer que não foi apenas a maioria dos evangélicos que votou em Bolsonaro no 2º turno mas, também, a maioria dos católicos. Alguns acharão isso duro de aceitar pois sempre consideraram as comunidades católicas mais ativas como um “curral” do PT.

Mas o primeiro passo para retomarmos o aperfeiçoamento do processo democrático, e deixarmos para trás o obscurantismo bolsonarista, é assumir a realidade dos fatos, e compreender o caráter democrático da luta contra a impunidade, para que esta bandeira seja valor fundamental de qualquer projeto democrático, e esteja nas mãos certas!

domingo, 16 de fevereiro de 2020

Um liberal autoritário

Vou ser sincero. Cresce e, lamentavelmente, muito rapidamente, a minha má vontade com Paulo Guedes.

E eu sou dos que apoiou como indispensável uma reforma da previdência para ajustar o perfil do orçamento fiscal aos novos tempos para garantir a liquidez necessária para fazer frente ao pagamento das aposentadorias diante da expectativa cada vez maior de vida dos idosos.

Sou desses que, por não ser economista, o nome de Guedes pouco frequentou as minhas referências. Não me culpo por isso, pois segui outro caminho profissional.


Porém, confesso, tenho me incomodado - e muito - com algumas de suas declarações. Citarei, para ilustrar, algumas de que me lembro; talvez não sejam as suas piores, sintam-se à vontade para complementar:
  1. No jantar na embaixada brasileira em Washington, logo após o início do seu governo, Bolsonaro fez sentar à sua direita, Olavo de Carvalho e, à sua esquerda, Steve Bannon. Guedes se saiu com essa em seu discurso na ocasião: referiu-se à Olavo de Carvalho, como o “...líder de nossa revolução”. Se não achava, realmente, isso, que não o dissesse, pois ninguém deve dizer intencionalmente o contrário do que pensa.
  2. Em outra ocasião, quando Bolsonaro chamou a Michelle Macron de feia, Guedes o secundou. Mais uma vez, perguntei-me, o que levaria Guedes a secundar o seu chefe em tão inadmissível, tosca e inaceitável agressão gratuita, com claras e nefastas consequências às relações do Brasil com a França?
  3. Quando Eduardo Bolsonaro aludiu à eventual necessidade de um novo AI-5, mais uma vez lá estava Guedes prestando declarações dúbias, secundado pelo general Heleno, que amplificaram o assunto e deixaram em dúvida se essa proposta estaria sendo cogitada dentro do governo.
  4. Para não estender demasiado, sua última declaração em que revela inadmissível preconceito a que as “...empregadas domésticas - com o dólar baixo - viajem para a Disneylândia (exterior)”.
Essas declarações podem ser meramente manifestações de “puxasaquismo” explícito para agradar o chefe que pensa assim, o que já deporia, se fosse apenas isso, contra o caráter de qualquer um; mas podem ser mais: ele pode pensar exatamente assim, e não ter qualquer apreço pela democracia.

Porém, suas últimas declarações no campo mais explicitamente econômico, além de prejudicar a própria economia, deixam a todos com o cabelo em pé. Além de irresponsáveis para um ministro da economia, o que provocou um ataque especulativo ao câmbio, revelou que o “seu” ultrapassado liberalismo não inclui o combate às desigualdades sociais.

Cabe perguntar se Guedes, além de sua personalidade histriônica, tem algo mais a oferecer para exercer o cargo que ocupa, além do que, pelo menos para mim, se parece, cada vez mais, com uma farsesca competência. Passo a palavra.

quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

Cresce número de brasileiros que defendem democracia

A maioria dos brasileiros repudia qualquer tipo de ditadura e quer viver somente em um Estado Democrático de Direito. Eles são democratas.

No segundo turno das eleições presidenciais de 2018 os democratas se dividiram da seguinte forma: (1) os que votaram em Bolsonaro, sem gostar dele, para impedir que o PT voltasse ao governo; (2) os que votaram em Haddad, sem gostar do PT, para impedir que Bolsonaro vencesse; (3) os que votaram nulo ou branco, porque se sentiram diante de uma impossível decisão de votar em Bolsonaro ou Haddad; (4) a maioria dos que se abstiveram e não compareceram às urnas.

Esta matéria do Globo mostra que de 2018 a 2019 aumentou - de 56,2% para 64,8% - o número de brasileiros que acreditam na democracia. Existe esperança!

sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

A tentativa de golpe - abortada - para derrubar Moro

Secretários de Segurança, 17, se reuniram com o presidente na última quarta-feira, dia 22/01/2022, sem a presença de Moro, que não foi convidado para a reunião, para reivindicar a criação do Ministério da Segurança Pública. E assinaram um manifesto neste sentido.


Uma reunião com essa natureza não ocorre de uma hora para outra. E jamais teria sido articulada, desde o primeiro momento, sem o aval do próprio presidente. Bolsonaro, óbvio, organiza uma conspiração para fragilizar o ministro Sergio Moro, e retirar-lhe os instrumentos e o poder para combater a corrupção e o crime organizado. Os precedentes, até aqui, já são bem conhecidos.

Não estivesse o trabalho de Moro dando certo, pois em sua gestão os índices de criminalidade caíram significativamente, esta mudança na estrutura da justiça já seria uma demanda da própria sociedade! Mas não é o caso! Na verdade, o que está sendo proposto pega a todos de surpresa!

Esse reconhecimento dos brasileiros ao trabalho de Moro é revelado pelas próprias pesquisas de popularidade, que o colocam como o homen público com maior credibilidade!

Mas quem não está sendo surpreendido com esse golpe que está sendo tramado contra a luta para acabar com a impunidade? Exatamente os que participam dessa conspiração! Bolsonaro, por óbvio, que, à sua frente, articula e comanda essa mudança! Mas quem mais? Com que objetivos?

Paro por aqui, pois acabei de ler a notícia de que Bolsonaro descartou, pelo menos enquanto está viajando à Índia, a retirada da Segurança pública das atribuições de Moro, pois "...não se mexe em time que está ganhando".

Acho, pessoalmente, que o presidente não abandonou a idéia, que vem ao encontro do que desejam todos os rabos-presos, que formam a "santa aliança" tácita dos que temem e combatem a Lava-Jato-Jato. Essa aliança suprapartidária e supra-ideológica varre, da esquerda à direita, todo o espectro político. É a aliança do atraso que não reconhece o caráter democrático de acabar com a impunidade. Une personalidades políticas tão distintas quanto Bolsonaro, Rodrigo Maia e Dias Toffoli.

Mas, observem, um novo ingrediente se coloca. Esta mudança é, também, uma nova ofensiva de setores de extrema-direita, que querem um militar à frente da Segurança Pública, como o Cel Alberto Fraga da PM/DF, com a visão estratégica de que o povo, e suas manifestações de rua, são o principal inimigo. É a chamada voz dos porões dos saudosos da ditadura militar.

O mais grave é que muitos democratas de direita, de centro e de esquerda, que se somam à guerra contra Moro, e apoiam a sua fragilização e deposição do ministério, estão sendo inocentes úteis do projeto da extrema-direita.

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É sempre muito interessante o desdobrar dos fatos políticos. Bolsonaro é vazio de conteúdo conceitual, e sabe praticar apenas o confronto polar da guerra de movimento, e atropelar seus adversários; escapa-lhe as sutilezas da política. Isto fez com que fosse por 28 anos um membro do baixo clero, do qual continua mesmo como presidente.

Gostaria de observar sobre alguns números obtidos nas matérias que noticiaram o encontro dos Secretários de Segurança com Bolsonaro. Se estiveram presentes apenas 17 secretários, quantos teriam se manifestado a favor de desmembrar o Ministério da Justiça? Quantos foram contra?

Mas há a possibilidade de que alguns secretários não tenham, em seguida, assinado qualquer compromisso em favor do Ministério da Segurança Pública, porque o conchavo foi mal feito; alguns secretários foram pegos de surpresa e logo perceberam que uma questão de tal importância não poderia ser tratada levianamente sem conversar previamente com seus governadores.

Ou seja, o tiro de Bolsonaro pode ter saído pela culatra, gerando mal estar político e conflito com os governadores.

Na vida política e em teoria social essas são chamadas de consequências não intencionais de ações intencionais.

Pois bem, se Bolsonaro com o seu recuo já demonstra que o conchavo foi mal feito, isso não significa que o mal estar entre ele e Moro não possa ter se aprofundado! Afinal, a tramoia e conspiração orquestrada por Bolsonaro contra Moro sempre terá alguma consequência.

A mais evidente, é a de que a sua máscara está caindo rapidamente, particularmente entre os democratas que votaram nele para se livrarem do PT.

terça-feira, 21 de janeiro de 2020

Moro: - "...minha paciência é infinita"

Uma das frases que Moro usou na entrevista dada ao Roda Viva na edição do dia 20/01/2020 (*) é que a sua “...paciência é infinita”.


De fato, ele precisa dela, pois há uma contradição real entre Moro e Bolsonaro. E muitos torcem para que Moro chegue à sua capacidade limite de engolir sapos e saia do governo por conta própria.

São, praticamente, dois os posicionamentos dos que torcem por isso: (1) o dos rabos-presos, ou seus militantes, que sabem que a saída de Moro do governo não apenas o enfraquecerá, mas, sobretudo, fragilizará a luta contra a corrupção; (2) o dos que, contraditoriamente, gostam de Moro, reconhecem a importância da Lava-Jato e defendem o caráter democrático da luta contra a impunidade, mas acham que a permanência de Moro fortalece a Bolsonaro, que consideram um fascista.

Os “rabos-presos” e seus militantes, diga-se de passagem, formam uma “santa aliança” dos que temem e combatem a Lava-Jato. Estão em toda parte, no governo, no legislativo, no judiciário, e se articulam suprapartidária e supra-ideologicamente à esquerda, ao centro e à direita do espectro político.

Sou dos que defendem a permanência de Moro no governo, mesmo tendo que engolir sapos, porque tudo em política é passageiro, e porque a luta contra a impunidade é um valor permanente da democracia. Como acho que este valor está nas mãos de Moro, e não nas de Bolsonaro, que estou convencido passará rapidamente, mais importante ainda ter calma e paciência até atravessar este mar revolto.

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