sexta-feira, 2 de novembro de 2018

Moro, uma referência moral

Fiz duas pequenas postagens em minha linha do tempo no Facebook relativas à ida do Juiz Sergio Moro para Ministro da Justiça de Bolsonaro:

  • A primeira, no dia 30 de outubro de 2018.

" Sou contra que o juiz Sergio Moro vá para o Ministério da Justiça.

Prefiro que ele continue como o mais importante e eficaz juiz de primeira instância da justiça brasileira!

Seria um erro Bolsonaro fazer e Moro aceitar este convite!"  

  • A segunda, no dia 2 de novembro de 2018, após a sua aceitação.

" Torço por Moro, porque torço pelo Brasil! Agora que a decisão está tomada, só resta esperar que dê certo!

O meu maior temor é que essas personalidades difíceis - as de Bolsonaro e Moro - não se entendam! E se isso tiver que acontecer, não levará muito tempo.

Moro irá para um outro ambiente, o das intrigas da corte, com muitos interessados, de dentro e de fora, para tentar fazer com que se desentendam!

Como um superministro, a ciumeira e as intrigas começarão imediatamente!

Se isso acontecer, e se Moro for atropelado, ele será exonerado e desmoralizado! Perderá ele, a Lava-Jato e o Brasil."

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Pós escrito (em 26/09/2020)

Todos se lembram que Moro, foi convidado para ser ministro da Justiça e da Segurança Pública após a proclamação da vitória de Bolsonaro no 2º turno (*). Este convite recebeu grande apoio da opinião pública, pois os brasileiros entenderam este gesto como um compromisso do presidente em apoiar o aperfeiçoamento das instituições jurídicas para combater com mais eficiência a corrupção e o crime organizado. Moro acreditou nisso e assumiu o risco de deixar uma carreira bem sucedida de mais de 20 anos como juiz. A Lava-Jato, conduzida por servidores públicos abnegados, competentes e corajosos, PFs, Procuradores e outros Juízes, tornara-se a operação anticorrupção mais bem sucedida da história do Brasil. Pela primeira vez foram condenados e presos alguns dos políticos e empresários mais poderosos do país envolvidos com crimes de colarinho branco.

Mas quem diria, Bolsonaro o traiu e tornou-se o maior inimigo da Lava-Jato!

As circunstâncias do pedido de demissão de Moro foram acompanhadas por todo o Brasil. A razão não foram as "intrigas da corte", que não deixaram de existir; quanto a estas, até, Moro, com o seu temperamento equilibrado, mostrou saber contornar.

A razão principal foi que Bolsonaro decidiu intervir na Superintendência da Policia Federal do Rio de Janeiro para proteger o seu filho, senador Flávio Bolsonaro. Moro não concordou com essa interferência não republicana, pois uma das premissas do sucesso institucional na luta contra a corrupção, deposita-se, exatamente, no respeito à autonomia investigativa da PF. Mas Bolsonaro não pretendia apenas substituir o Superintendente, pretendia substituir, também, o Diretor Geral da PF. E, óbvio, não pretendeu fazê-lo em comum acordo com o seu ministro. 

A situação ficou insustentável. A reunião ministerial do dia 22 de abril de 2020, cujo vídeo foi divulgado por determinação do ministro Celso de Melo do STF, demonstrou claramente isto. Moro pediu demissão logo após, quando, por telefone, foi informado pelo Presidente que decidira nomear o policial Ramagem como novo Diretor Geral da PF sem consulta-lo. Com esse gesto impediu essa nomeação, e tornou transparente, para toda a nação, a intenção totalitária de Bolsonaro de transformar a Policia Federal em polícia política a serviço dos seus interesses particulares. Conseguirá? Não, se a PF, enquanto instituição, e se os democratas, que são a maioria dos brasileiros, souberem resistir!

Bolsonaro, com isso, mostrou o seu desespero e a sua incompatibilidade com o cargo, sobretudo ao constatar as investigações do Ministério Público do Rio de Janeiro, e da própria Polícia Federal do Rio de Janeiro, devassando o comportamento criminoso do seu filho; e porque o que foi surgindo mostrou não apenas as "rachadinhas" na ALERJ, quando foi deputado estadual, mas as suas íntimas relações com os milicianos abrigados em seu gabinete parlamentar. E esta relação, todos sabem, foi iniciada e cultuada pelo chefe do clã. Existe vasta documentação sobre isto!

Moro, ao pedir demissão, em uma situação já insustentável, produziu o maior libelo público contra Bolsonaro, que terá que prestar depoimento à Polícia Federal, e cujo comportamento passou a ser o de quem teme e foge da justiça.

Em contrapartida, Moro, com sua integridade se transformou em referência moral para a nação! Já o era antes de ser ministro, porque liderou a maior operação anticorrupção da história do país; e, sobretudo, porque, após ser ministro,  mostrou que não se vende e teve a coragem de colocar o guizo no pescoço do gato!

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(*) Moro foi convidado por Bolsonaro para compor o ministério após a proclamação de sua vitória no 2º turno. Devido à sua compostura de juiz, Moro não fez qualquer declaração de apoio a qualquer candidato nos 1º e 2º turnos da eleição presidencial, e até hoje não se sabe em quem votou. Existe até mesmo um fato periférico, relatado pelo próprio Bolsonaro (entre magoado e arrogante), de que, tendo encontrado ocasionalmente com Moro, durante a campanha eleitoral, em um aeroporto, dirigiu-se a ele e este o tratou com frieza e indiferença.

De fato Bolsonaro foi o principal beneficiário em 2018 do clamor público favorável à Lava-Jato. Os principais partidos, o PT, o PMDB, o PSDB, o DEM, os partidos do Centrão, etc., porque tiveram algumas de suas principais lideranças pegas com a boca na butija, passaram a temer e combater a Lava-Jato. Bolsonaro, por não ter sido dúbio ao apoiá-la durante a campanha eleitoral, recebeu, em votos, os dividendos por ter tido esse posicionamento claro.

A Lava-Jato não foi um conluio ou uma conspiração para condenar Lula e tirá-lo da disputa; mas foi um clamor público (vide 2013) de milhões de brasileiros, como ainda o é hoje.  Todos sabem que a corrupção e a impunidade prejudicam imensamente ao país. Até na pandemia os criminosos têm a audácia de desviar recursos da saúde. Os fatos que vieram à luz com o chamado “Petrolão”, após o mensalão, exigiram uma resposta rápida e imediata da sociedade e da justiça, em tempo de expurga-los do processo eleitoral. Não perdoam a Moro, porque pela primeira vez um “juizeco” de 1º grau teve a coragem de cumprir o seu dever.

A bandeira do combate à corrupção e para acabar com a impunidade, ao contrário de ser um estratagema da direita, tem um caráter democrático; é, portanto, um valor fundamental, que permanece tão atual hoje como em 2018,  assim como permanecerá em 2022.

Por isso, os desdobramentos descritos neste post mostram que os democratas não podem deixar que essa bandeira permaneça  demagogicamente nas mãos de Bolsonaro ou seja recuperada por ele, o que certamente tentará.

É de se prever que, embora tenha sido desmascarado, tentará retoma-la com ações meramente “espetaculosas”, inconsequentes e sem desdobramentos judiciais, que terão por objetivo apenas, e com a mesma demagogia, recuperar os votos de milhões de eleitores que passaram à oposição, porque perderam a confiança nele com a saída de Moro.

terça-feira, 30 de outubro de 2018

Medindo o tamanho do campo democrático

O processo de apuração eletrônica, confiável, nos permitiu participar da festa da democracia de forma exemplar. Pelo menos neste aspecto. Mas não se pode deixar de registrar que vivemos em um país dividido. 

A massa crítica da explosão está constituída. Milhões de democratas votaram em Haddad ou Bolsonaro sem que realmente gostem, conheçam ou confiem em seus projetos. Uns, por temerem mais aos valores representados pelo bolsonarismo; outros, por não suportarem mais as práticas antiéticas do lulopetismo. Os que se opõem a esses "projetos" precisam entrar em cena. Qual o seu peso junto ao eleitorado?

Na natureza física, o acúmulo da massa crítica radioativa produz a explosão nuclear; na sociedade, o acúmulo de irracionalidade nascido do confronto radical entre anti-projetos produz a escalada da violência e a explosão social.

Paradoxalmente, Haddad recebeu muitos votos antipetistas, mas que eram, mais ainda, antibolsonaristas. Bolsonaro recebeu muitos votos antibolsonaristas, mas que eram, mais ainda, antipetistas. Este fenômeno é ilustrado na figura abaixo: 


Os votos de Bolsonaro, Haddad, Abstenções e os Votos Nulos e Brancos são representados por áreas e cores proporcionais ao seu peso percentual. A figura foi construída com os dados oficiais divulgados pelo TSE na tarde do dia 29/10/18 (ver quadro anexo). 

Observe: a área azul, dos votos de Bolsonaro, possui uma sub-área hachurada, que representa os que votaram em Bolsonaro, sem gostar dele, para afastar o risco do PT voltar; a área laranja, dos votos de Haddad, possui uma sub-área hachurada, que representa os que votaram em Haddad, sem gostar dele, na expectativa de impedir a vitória do “bolsonarismo”. Qual o tamanho dessas áreas hachuradas? Alguns a representariam bem maior. Importante registrar, entretanto, que essas áreas hachuradas azul e laranja não são de eleitores, respectivamente, "de raiz", de Bolsonaro ou de Haddad.

Um estranho tipo de voto esses hachuradas! Por serem, simultaneamente, contrários ao bolsonarismo e ao lulopetismo, eles deveriam fazer parte dos votos nulos e brancos (5,84% + 1,69% = 7,53%), que têm exatamente este conteúdo, o dos eleitores que repudiaram a ambos os candidatos. Infelizmente, está perdida essa informação que seria extremamente útil estatisticamente para a conformação do quadro partidário não lulopetista que fará oposição a Bolsonaro. Admitamos, por baixo, que sejam cerca de 5% esses votos hachuradas, e que, dentre as abstenções, aproximadamente 10% (a metade de 21,30%) serão, doravante, oposição. Portanto, o campo não lulopetista que fará oposição a bolsonaro terá o tamanho de aproximadamente 22,53% (7,53% + 5% + 10%) do eleitorado, o que corresponderá a aproximadamente 33 milhões de eleitores. Nada mal para começar!

É extremamente importante Bolsonaro ter clareza de que esses 33 milhões de eleitores que não apoiam nem ao seu projeto nem ao do lulopetismo, somados aos votos dos que apoiam (de raiz) ao lulopetismo são potencialmente de oposição ao seu governo, e superam, de muito, a soma de votos de seus apoiadores. E esses mesmos 33 milhões de eleitores somados aos votos dos que apoiam (de raiz) ao bolsonarismo superam, de muito e em pelo menos mais 10 milhões de eleitores, aos apoiadores do lulopetismo. Esta é como uma fotografia instantânea tirada no dia 28/11/18. Mas todos sabem que a política, como as nuvens, é dinâmica e move-se, apresentando-se cada vez de uma forma diferente!

Alguns chegariam a estimar que a expressão política deste posicionamento - simultaneamente anti-bolsonarista e antilulopetista - superaria à própria votação obtida por Bolsonaro. A conferir.

Os resultados extraídos das urnas mostram que foi o antipetismo que preponderou na sociedade. Exatamente por isso Bolsonaro venceu! Mas foi, também, uma eleição dominada pelos anti-projetos! Teremos quatro anos para fazer gestar, com uma clareza ainda não alcançada, o projeto do centro democrático e reformista!

É necessário, portanto, fazer baixar essa bola, particularmente a do vencedor, que passará a exercer o poder político e que será obrigado a fazer o difícil exercício (para ele) de ser o presidente de todos os brasileiros, sem querer impor as suas atrasadas concepções ideológicas. Existem sérias dúvidas de que ele vá conseguir ser o estadista que o Brasil precisa. Mas foi eleito democraticamente e os cidadãos esperam isso dele. É necessário, também, acabar com essa história do “prendo e arrebento” e tentar ganhar a confiança de um Brasil que saiu dividido da eleição. Sobretudo, porque, além da boa vontade cívica e democrática, e o desejo de todos de que superemos a grave crise, Bolsonaro não está recebendo um cheque em branco da sociedade brasileira, particularmente para realizar os seus mais perigosos propósitos declarados! 

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Votação no 2º Turno da Eleição Presidencial:


Votação no 1º Turno das Eleição Presidencial:


Variação dos Votos entre o 1º e o 2º Turnos da Eleição Presidencial:

quarta-feira, 3 de outubro de 2018

Rumo à batalha dos falsos projetos

Penso que análises as mais respeitáveis podem, com base nas últimas pesquisas, apontar para um inevitável 2º turno com Bolsonaro e Haddad.


Mas eu não me dei por vencido, pois esta é uma lamentável configuração entre dois falsos projetos para a sociedade brasileira, entre o lulopetismo - do qual a sociedade está cansada - e o bolsonarismo, que expressa fundamentalmente, o anti-lulopetismo. São, ambos variações de visões populistas e autoritárias, e rotas alternativas para a Venezuela embora por caminhos diferentes!

O “anti-lulopetismo”, que deveria estar reduzido apenas ao que é, uma estratégia de combate e posicionamento eleitoral para claramente identificar o adversário a ser batido, converteu-se no próprio projeto, como se neste conceito militar pudessem estar os conteúdos das políticas públicas necessárias para tirar o país da crise!

Por que alguns projetos democráticos consistentes estão em vias de serem derrotados? Porque não se desvincularam de um dos componentes fundamentais do lulopetismo, o da “corrupção estratégica”, de assalto ao Estado, para financiar a conquista e manutenção do poder político!

O anti-lulopetismo, como um “não-projeto”, está derrotando, também, o que é ótimo, a “santa aliança” suprapartidária e supra-ideológica dos que temem e combatem a Lava-Jato-Jato. Entretanto, o que trágico, para muitos brasileiros Bolsonaro passou a simboliza-lo! Nisto, é preciso que se diga, as candidaturas do campo democrático estão fracassando!

Mas precisamos ser francos, Bolsonaro não disse o que propõe para o Brasil! O que ele nos promete é, sobretudo, uma fórmula geral de usar de mais violência para acabar com inimigos violentos. E, sinceramente, está à frente das pesquisas porque a facada do louco radical definiu o contexto da disputa eleitoral!

O que podemos fazer então, agora, até o dia 7/10, e até o último debate e a última pesquisa? Não esmorecermos, pois sempre poderá advir a emergência disruptiva da sabedoria de milhões de eleitores para quebrar esse jogo da polarização irracional, e canalizar, finalmente, os votos majoritários para uma candidatura que nos livre do mal maior! Devemos reconhecer que isso é improvável.

O paradoxal deste contexto eleitoral é que, todos sabemos, como dizem as próprias pesquisas, que, se levássemos este candidato democrático para o 2º turno, ele seria o novo presidente da república, pois receberia o apoio de uma ampla frente anti-bolsonarista, se disputasse com Bolsonaro, ou de uma ampla frente antipetista, se disputasse com Haddad!

O mais lamentável, entretanto, é que essas mesmas pesquisas apontam que em um segundo turno com Bolsonaro e Haddad o primeiro será o vencedor!

quarta-feira, 19 de setembro de 2018

Por que o Centro Democrático e Reformista fracassou?

Vamos falar claro, não fomos, os democratas, antipetistas suficientemente! O que significa dizer, não fomos suficientemente radicais em nosso projeto de formação de um polo democrático e reformista.

Para sê-lo, e sermos para a sociedade um polo alternativo de grande impacto e credibilidade, o nosso projeto e posição precisaria ter se tornado claro, sem dubiedades e fácil de ser entendido.


Não o conseguimos até agora, e é preciso reconhecer que foi o “bolsonarismo” que ocupou esse espaço! O grave, para o Brasil, são os seus aspectos regressivos, traduzidos nos seus valores irracionais, autoritários e intolerantes, de um não-projeto, sequer esboçado formalmente, mas baseado em medos e falsos dilemas, que não resistirão ao tempo e não passarão pelo teste histórico, mas que são a matéria prima do fascismo.

O bolsonarismo representa a descrença na democracia e, lamentavelmente, para muitos jovens, ele é como o herói vingador que sai de dentro de um vídeo game, pronto a usar de toda a violência para exterminar os inimigos e os alienígenas. No Brasil, os inimigos principais são uma mistura confusa de políticos, comunistas, corruptos e diferentes. Ao final e ao cabo, não fugirá à regra da histórica desigualdade: os que pagarão a conta serão os pobres, as mulheres e os negros.

Se o bolsonarismo chegar ao poder trará muito sofrimento, particularmente à maioria da população e às camadas sociais desprovidas de poder; e sabe-se lá quanto tempo essa onda do atraso permanecerá!

Onde os democratas erraram? Penso que não conseguimos nos libertar de uma concepção do Estado não oligárquico, corporativista, conivente e leniente com o patrimonialismo. Tornamo-nos um país caro, improdutivo e corrupto. Neste sistema o valor das pessoas deixa de ser fruto do mérito e do reconhecimento social, e muito mais da esperteza, dos títulos cartoriais e dos sinais de riqueza que ostente!

Claro, num país assim deixa-se queimar museus, e pouco valor se dá ao conhecimento, à ciência e às inovações tecnológicas. Tornamo-nos um país de predadores egoístas, distraídos e omissos com os crimes ambientais e contra o nosso patrimônio público, histórico e cultural, que se perpetram à nossa volta diariamente!

As nossas instituições políticas e a nossa justiça são corrompidos e desacreditados, e temos sido coniventes com os criminosos de colarinho branco. Parece que a política deixou de ser a arte de cuidar do bem comum!

Mas um novo Brasil anseia por nascer! É preciso desbloquear a nossa democracia e criar uma sociedade em que não hajam cidadãos acima da lei!

Quando a Lava-Jato surgiu, como fenômeno novo, vindo de baixo, de renovação, conduzido por jovens profissionais da justiça, PF’s, procuradores federais e juízes de 1ª e 2ª instâncias, desnudando a corrupção dos poderosos, com provas, fatos e evidências, e usando a lei, a cidadania apoiou e aplaudiu.

Tudo parecia ir bem enquanto a Lava-Jato serviu como fornecedora de provas para o combate à corrupção petista, servir de pano de fundo para o impeachment de Dilma, para os processos que levaram à condenação e prisão de empresários e políticos corruptos ligados a esse projeto, de dirigentes do PT e, finalmente, diga-se, para a justa condenação e prisão de Lula.

Mas isso mudou quando os processados passaram a ser políticos e partidos não alinhados com o projeto petista! De repente, os que continuaram combatendo a impunidade começaram a ser chamados de “lacerdistas” e “jacobinistas”.

Estranhamente, formara-se uma aliança tácita suprapartidária e supra-ideológica para combater a Lava-Jato!

E Alckmin, um político com méritos indiscutíveis, não conseguiu ficar à margem de uma dubiedade prática e de discurso pois o seu partido, o PSDB, revelou-se tão envolvido com a corrupção quanto o próprio PT. Finalmente, no processo eleitoral, ao aliar-se aos partidos do centrão, que foram a base parlamentar dos governos petistas, e notórios assaltantes do Estado, essa dubiedade ficou mais do que evidente. O que passou para a sociedade é que Alckmin tentava restaurar um sistema de poder petista sem PT! Aparentemente, os eleitores estão preferindo o original!

Portanto, a chave da questão está em que os anseios de mudança, e a indignação com o crime organizado e a violência, foi capturada pelo discurso de direita e atrasado de Bolsonaro!

Esta é a razão pela qual o centro democrático e reformista não conseguiu ter um discurso marcado pela clareza e ausência de dubiedades!

Temos pouco tempo, o quadro eleitoral está polarizado pelos projetos populistas e autoritários lulista e bolsonarista. Dará tempo de mudar? Alguns dirão que já é tarde; respeitarei! Sei apenas que não podemos ficar sentados à beira da estrada! Comecemos falando a verdade para o eleitor! Talvez isso já faça a diferença!

domingo, 3 de junho de 2018

As lições da greve dos caminhoneiros

Nós, os democratas, teremos que carregar essa "mala" de desesperança - o presidente Michel Temer - até o seu sucessor. Por mais que isso seja desconfortável e quase insuportável a alguns, a milhões ou a todos nós, isso é o melhor, institucionalmente, para o país. Esse é o preço a pagar, como o remédio amargo, para que a partir de 1º de janeiro de 2019, com um novo presidente e um novo Congresso eleitos, o Brasil retome a sua caminhada esperançosa para um futuro melhor.

Pera aí, você está dizendo que teremos que aguentar Temer como presidente, um legado da era petista no poder, até o dia 31 de dezembro de 2018? Afinal, ele não representa a velha política com suas práticas corruptas e fisiológicas, e ele mesmo, não tem contribuído para aumentar ainda mais o descrédito da política e dos políticos?  

Exatamente isso, pois na democracia a derrubada de presidentes da república somente pode dar-se no pleno respeito às normas constitucionais e legais do Estado Democrático de Direito. Três já foram as oportunidades perdidas para nos livrarmos de Temer constitucionalmente. A primeira foi quando o TSE, em 9/6/17, deixou de cassar a chapa Dilma-Temer; as outras duas foram em 2/8/17 e em 25/9/17, quando a Câmara dos Deputados negou a admissibilidade para que ele fosse julgado pelo STF. Todos acompanharam e formaram suas opiniões.

Entretanto, às vésperas do processo eleitoral, e a poucos meses do término do seu mandato, o que o país precisa, agora, é de tranquilidade e não de rupturas institucionais. 

Felizmente a luta contra a impunidade tem avançado muito em nosso país, começando com o mensalão e agora, desde 2014, com a Lava-Jato. Alguns dos mais poderosos políticos e empresários já estão condenados e presos. Temer, após concluir o seu mandato, assim como Lula, responderá à justiça.

Mas se a descrença, filha da desesperança não é, exatamente, a razão pela qual se vê crescer, em pleno século XXI, os que descreem da democracia e clamam por soluções autoritárias? E não é esse descrédito da política, no Brasil, que alimenta as candidaturas populistas, autoritárias e regressivas, como são as do lulopetismo e do bolsonarismo, que olham pelo retrovisor da história e se alimentam de velhos medos, idéias e filosofias?


Pois bem, vejamos como as lições trazidas pela greve dos caminhoneiros podem nos ajudar a aperfeiçoar a nossa democracia. Ela evidenciou, claramente, as concepções que apostam no caos, quando, unidos na prática, o lulopetismo e o bolsonarismo tentaram se aproveitar, a seu favor, de forma irresponsável e egoísta, das justas reivindicações econômicas da greve dos caminhoneiros. 

Começando pelo bolsonarismo, foram principalmente os seus simpatizantes que tentaram usar o caos gerado pela greve dos caminhoneiros para promover um golpe militar, travestido na proposta de uma “intervenção militar constitucional”. Mas não combinaram bem com os “russos”, pois as forças armadas não apoiaram essa tentativa de usá-los para promover uma ruptura institucional. O militares disseram, claramente, que são uma força constitucional da democracia, e não do autoritarismo. Esta foi a primeira lição desta crise, e não podemos fechar os olhos a isso diante de objetivo de tão clara proposta de implantar uma ditadura militar no Brasil.

O Lulopetismo, por sua vez, saiu da toca, e tentaram aprofundar o caos, chamando à fracassada greve dos petroleiros. O seu objetivo foi provocar o total colapso no abastecimento de combustíveis. Mas o movimento se viu isolado quando não foram apoiados pelos trabalhadores das refinarias e da Petrobras, pela sociedade - já cansada -, e pelo TST que decretou a ilegalidade da greve. 

Como a sociedade reagiu durante a greve dos caminhoneiros? Primeiro, reconhecendo a legitimidade das suas reivindicações econômicas; segundo dizendo não ao golpe militar; terceiro, dizendo não ao caos; quarto, recusando o “apoio” do sindicalismo pelego que nada fizera para defender a Petrobras enquanto ela estava sendo assaltada pelos seus correligionários! 

E, paradoxalmente, não existe saída fora da política! Mas não dessa política. E é preciso que se diga: é possível que a política seja a arte de construir e zelar pelo bem comum. Entre nós, brasileiros, isto não é apenas um ideal, isto é necessário e possível! Basta querermos!

Temer, eleito duas vezes vice-presidente de Dilma tem responsabilidade nesse caos? Certamente! Ele não é em nada diferente da lógica que cultuou o assalto exacerbado ao Estado promovido pelo projeto lulopetista para promover a conquista e a manutenção do poder político; esta semelhança o levou ao cargo e o fez sucessor de Dilma após o seu impeachment! 

Por que, então, manter Temer? Porque, simplesmente, para o Brasil, neste momento, não temos alternativa melhor, o que significa dizer que qualquer outra alternativa será pior!

POLÍTICA DAS MALAS

Aninha Franco, Correio da Bahia, 02.06.2018 

A impressão durante a ditadura de que nós morávamos num livro de Kafka com trechos do ‘Processo’, do ‘Castelo’ e da ‘Metamorfose’ acabou. Atualmente, vivemos num discurso de Dilma Rousseff interpretado por Michel Temer. Às vezes com panelas, noutras sem, mas sempre aos trancos e barrancos! Ninguém sabe como acabou a greve dos caminhoneiros, mas lemos que o governador de SP, Márcio França, do PSB, recebeu caminhoneiros intermediado por Alexandre Frota e, do palácio, eles telefonaram para Temer. Será que Frota, nesta ligação, exigiu Marcela Temer na Playboy de junho? Um dia saberemos, porque depois da Sedição das Panelas (2013) e do Levante da Lava Jato (2014) tudo que estava debaixo do tapete, tornou-se visível. 

As redes mostraram? As panelas falaram? As delações disseram? Não sei. Sei que abro a revista Isto É (Ano 41/2527) com a delação de Palocci e percebo um Brasil ninja, com milhões de reais saindo de obras superfaturadas para contas de políticos de todos os partidos como se fosse legal até 2014, quando ficou desaconselhável. E percebo que enquanto Lula da Silva dispunha do Ministério da Comunicação para nos empapar, todos os dias, desde 2003, de ‘Lula, o cara’, de Lula ‘o bom’, de Lula ‘o máximo’, de Brasil a caminho da primeira economia do planeta, as malas viajavam. E não fomos só nós brasileiros que acreditamos no ministério. Até o The Economist acreditou. 

Lula saiu do governo com aprovação estratosférica, e nós o parabenizamos por não tentar, como os caudilhos latinos tentam, como FHC nos impôs a reeleição, uma terceira gestão. Ainda assim, curiosamente, Dilma enfrentou um segundo turno em 2010 para vencer, passar o exército que a torturou em revista, demitir um ministério que Lula lhe deixou e passar quatro anos sem falar loucuras. 

Todos aplaudimos as demissões rousseffianas dos ministros e todos assistimos Dilma voltar atrás. Com certeza, passada a turbulência da chegada de Dilma ao poder de Lula, as malas de dinheiro de que fala Palocci em sua delação, devem ter voltado a viajar com desenvoltura. 

A exaltação da mandioca e a existência da mulher sapiens são de junho de 2015, mês e ano da prisão de Marcelo Odebrecht, talvez o mais poderoso ator dessa tragédia brasileira. Sua prisão deve ter levado João Santana a se descuidar dos discursos de Rousseff que, em outubro de 2015, lamentou o não estocamento de vento e não parou mais. Os lulopetistas que nomeiam o impeachment de 2016 de golpe desconhecem a força do verbo. E ignoram que a fala é a exposição mais clara do descontrole. 

Descontrolado pela Lava Jato, o PT assistiu o MDB, seu parceiro de malas e aliado, à época, aliado ainda hoje em muitos estados para as eleições de outubro, entrar de sola para tirar Rousseff do Planalto. Talvez o PT precisasse desse impeachment mais que o MDB. Dilma era o Planalto insano. Temer e o PT eram o Planalto bandido, e estavam tão confortáveis com as viagens das malas e com a impunidade, que Temer, presidente do país, recebeu Joesley para discutir propina dentro do Palácio. Todos donos de um projeto que a Sedição das Panelas (2013), a Lava Jato (2014), a prisão de Marcelo Odebrecht (2015), a prisão de Lula da Silva (2018) desmontaram. Projeto que explorava a miséria para manter o poder e fazer circular as malas. 

Essa disputa ingênua de direita, esquerda e centro desviou o Brasil do entendimento de que só existiu, desde 2003, certamente antes, possivelmente sempre, a política das malas. E que é preciso exigir a política de projetos.

domingo, 27 de maio de 2018

A chantagem contra o Brasil

A greve dos caminhoneiros já caminha para o fim, mas já dura sete dias, depois de ter causado grandes prejuízos ao país. Na noite deste domingo, 27/05/18, o presidente Temer anunciou as medidas acordadas com a liderança do movimento grevista. A nação espera que tenham sido suficientes para a volta à normalidade, até mesmo porque corresponde a benefícios que terão que ser arcados por todos os brasileiros.


O que nos ficará como lição? Que uma greve com esta natureza compromete drasticamente o deslocamento das pessoas, o abastecimento de alimentos, de combustíveis, e de outros insumos e produtos básicos e estratégicos? Que a interrupção desses fluxos de mercadorias causa imenso prejuízo à atividade econômica e riscos de caráter político-institucional? Que a vida das pessoas e das cidades se desorganiza e paralisa? Não, isso não é novidade. A derrubada do governo constitucional de Salvador Allende no Chile já ficara como lição; em 1972, começou com uma greve de caminhoneiros que durou 26 dias.

Dada a natureza dessa atividade, e por ser intensiva em capital, são os interesses dos proprietários dos caminhões e das empresas os que mais prevalecem neste tipo de greve. Portanto, não há surpresa de que se manifestem posicionamentos autoritários, atrasados e descomprometidos com a democracia. Esse é um corporativismo mais do que egoísta, tipicamente de direita. 

Exatamente por isso um grupo de manifestantes se sentiu confortável para plantar no asfalto, em frente à refinaria Duque de Caxias no RJ, em letras garrafais, a consigna: “...Intervenção Militar Já”. 

Mas a marca principal desta greve não é o risco que trás para a democracia, de produzir uma crise institucional, ao aproveitar-se, “oportunisticamente”, de um momento em que o governo Temer enfrenta o seu mais baixo nível de credibilidade. Não foi surpresa que setores democráticos insatisfeitos com o governo tenham emprestado inicialmente apoio à pauta das legítimas reivindicações econômicas do movimento antes de se conscientizarem das graves consequências da greve; nem que o candidato de direita, Bolsonaro, foi o que mais revelou desenvoltura em apoiar o movimento para capitalizar apoios; e nem que setores do velho sindicalismo e da esquerda lulopetista, tenham saído em campo para tirar proveito da fragilidade do governo. Mas, nem nestas questões, em que pese a sua gravidade, está a novidade!

A novidade está em que, exatamente no seu pior momento, com o governo em situação quase falimentar, sendo ele mesmo largamente responsável pela própria deflagração do movimento grevista, e diante de grave risco de sucumbir, ele conseguiu manter a governabilidade, articular uma reação das forças estatais para superar a crise institucional e a chantagem contra o Brasil, recuperar a autoridade, proceder às negociações indispensáveis e dar início à luta contra uma nova forma de impunidade! 

O governo, as forças armadas, a justiça e a cidadania uniram-se no compromisso com o Estado Democrático de Direito. E é por isso, com negociação e autoridade, que a greve dos caminhoneiros encaminha-se para o seu fim. 

Isto aconteceu porque revelou-se, em sua plenitude, a presença de uma complexa e horizontal militância democrática nas redes sociais e na sociedade para isolar os seus intentos golpistas. E o governo, a população, os meios de comunicação e as instituições econômicas, diante da crise, estão reafirmando seus compromissos com a democracia, sem o que caminharíamos para uma ruptura institucional regressiva. 

Toda crise é criativa. E esta faz parte de um movimento social que não está satisfeito com o funcionamento de nossas instituições políticas e exige o rompimento das barreiras que bloqueiam o desenvolvimento de nossa democracia! Que saibamos ler mais este aviso!