segunda-feira, 17 de abril de 2017

Os governos latino-americanos de esquerda falharam em construir economias sustentáveis

Chomsky (*)
Entrevista concedida em 05 de abril de 2017 ao Democracy Now! - Independent Global News


Leftist Latin American Governments Have Failed to Build Sustainable Economies


(This is a rush transcript. Copy may not be in its final form)


AMY GOODMAN: This is Democracy Now!, democracynow.org, The War and Peace Report. I’m Amy Goodman. We return to MIT professor Noam Chomsky. Democracy Now!’s Juan González and I spoke to him on Tuesday.

JUAN GONZÁLEZ: I wanted to ask you about Latin America. We had a period, for about 10 years, of enormous social progress in Latin America—all these socially minded governments, reduction of income inequality, the only part of the world where there are no nuclear weapons. And yet, now we’ve seen, in the last few years, real steps backwards. Quite a few of the popular governments, with the exception of Ecuador, recently have been thrown out of office, and a deepening crisis in Venezuela. Your sense of what has happened, in that, after so much promise, all of a sudden it seems that the region is going backward?

NOAM CHOMSKY: Well, there were—there were real achievements. But the left governments failed to use the opportunity available to them to try to create sustainable, viable economies. Almost every one—Venezuela, Brazil, others, Argentina—relied on the rise in commodity prices, which is a temporary phenomenon. Commodity prices did rise, mainly because of the growth of China. So there was a rise in the oil price, of soy, and so on and so forth. And instead of trying to develop a sustainable economy with manufacturing, agriculture and so on—like Venezuela is potentially a rich agricultural country, but they didn’t develop it—they simply relied on the commodity—raw materials commodities they could export. That’s a very harmful—it’s not only not a successful, it’s a harmful development model, because when you export grain to China, let’s say, they export manufacturing goods to you, and that undermines your manufacturing industries. And that’s pretty much what’s been happening.

On top of that, there was just enormous corruption. It’s just—it’s painful to see the Workers’ Party in Brazil, which did carry out significant measures, just—they just couldn’t keep their hands out of the till. They joined the extremely corrupt elite, which is robbing all the time, and took part in it, as well, and discredited themselves. And there’s a reaction. I don’t think the game is over by any means. There were real successes achieved, and I think a lot of those will be sustained. But there is a regression. They’ll have to pick up again with, one hopes, more honest forces that won’t be—that will, first of all, recognize the need to develop the economy in a way which has a solid foundation, not just based on raw material exports, and, secondly, honest enough to carry out decent programs without robbing the public at the same time.

AMY GOODMAN: What about Venezuela?

NOAM CHOMSKY: Venezuela is really a disaster situation. The economy relies on oil as to a great—probably a greater extent than ever in the past, certainly very high. And the corruption, the robbery and so on, has been extreme, under the—especially after Chávez’s death. So, it’s a—I mean, if you look at it, it still has—if you look at, say, the U.N. Human Development Index, Venezuela still ranks, say, above Brazil. So it’s the—there are hopes and possibilities for reconstruction and development. But the promise of the earlier years has been significantly lost.

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(*) Chomsky is a world-renowned political dissident, linguist and author. He is institute professor emeritus at Massachusetts Institute of Technology (MIT), where he has taught for more than 50 years. His new book comes out today, titled Requiem for the American Dream: The 10 Principles of Concentration of Wealth & Power.
Da Wikipedia:

domingo, 16 de abril de 2017

O TRIUNFO DA RAZÃO CÍNICA

CÉSAR BENJAMIN (*)
Artigo publicado na revista Caros Amigos n. 80, novembro de 2003 .

"O Triunfo da Razão Cínica" foi escrito em 2003, pouco mais de um ano após a posse de Lula para o seu primeiro mandato de Presidente da República. Sem dúvida, constitui uma crítica dura ao PT, que conhecia "por dentro" como seu militante e fundador.


Este artigo tem méritos especiais. Dois aspectos, entretanto, quero destacar: (1) ao escreve-lo, Benjamin lutou corajosa e lucidamente para que não fossem traídos valores fundamentais da esquerda democrática; (2) que os sinais da degenerescência do PT já estavam presentes há quinze anos atrás, sem o que Benjamin jamais poderia tê-los observado. Se o artigo, então, já era clarividente, agora, diante dos fatos reconhecidos por quase todos, passou a ser um documento histórico-atual de leitura obrigatória!

O TRIUNFO DA RAZÃO CÍNICA

O Partido dos Trabalhadores está morrendo. Nele não resta mais nenhum espírito transformador, nenhuma autenticidade, nenhum impulso vital. Não tem princípios a defender. Não tem mais referências sobre coisa alguma, pois suas posições históricas - sobre a previdência, os transgênicos, a política econômica, o FMI ou qualquer outro assunto - estão sempre prontas a ser sacrificadas no balcão em que se fazem as negociações do momento. 

O PT não tem, nem pretende mais ter, projeto de sociedade. Tem apenas projeto de poder. Esta volúpia desenfreada, sem ideal, cria o ambiente propício ao cinismo e à corrupção crescentes, a que estamos assistindo, pois a melhor maneira de manter-se em cima é copiar os poderosos e aliar-se com eles. Hoje, o militante de que o PT precisa, o que é valorizado pela direção, é o carreirista obcecado pelo sucesso rápido e a trajetória meteórica, disposto a dizer amém, pronto a desmentir amanhã, por qualquer pretexto, aquilo que defendia até hoje. 

Os que construíram o partido e não se corromperam, nele não têm mais lugar. Tornaram-se um estorvo. São enxovalhados. Estão sendo substituídos por filiados pela Internet e por gente arrebanhada pelos esquemas políticos tradicionais. Esquemas caros, como se sabe, pois esvaziados da militância voluntária que impulsionou o partido quando ele era jovem. Para financiar essa operação e esse novo modo de ser, é cada vez mais tênue, no andar de cima, a separação entre política e negócios. Candidatos a deputado, até ontem meros assalariados, falam abertamente em levantar R$ 10 milhões ou R$ 20 milhões para suas campanhas, sabe-se lá de que forma. Candidatos a cargos mais altos aventuram-se em todos os tabuleiros. São as regras do jogo. Não há mais pudor. Todos caminham nus pelos salões. 

O PT tornou-se uma via de ascensão individual para a afluência material e o poder. Multiplicam-se as pessoas que se tornam subitamente importantes, e que se sentem assim, sem ter história nem biografia, sem ter passado nem futuro. Pobres de espírito, sempre ocupados nas articulações do momento - para a próxima convenção, a próxima nomeação ou a próxima eleição -, não lêem um livro, não se dedicam a conhecer bem assunto nenhum, não são solidários às dificuldades do povo brasileiro, não pretendem ser fiéis a uma idéia de nação. Suas lealdades se esgotam nos limites do grupo de interesse a que estão vinculados. Valores como humildade, perseverança e ideal estão definitivamente fora de moda. Tudo agora é cálculo. Liberado para florescer, o oportunismo tem pressa. Tempo é poder. Tempo é dinheiro. 

A crise do PT é a mais profunda crise da esquerda brasileira. Para o bem e para o mal, foi o PT a vanguarda política da nossa esquerda nos últimos vinte anos, e dentro dele foi vanguarda a Articulação. Além de perseguir com coerência uma estratégia política e controlar com competência os principais aparatos de poder, ela propunha a toda a esquerda uma forma de luta estratégica, que, uma vez vitoriosa, seria capaz de abrir um período novo de ação política em nosso país: a eleição de Lula à Presidência. Participávamos de múltiplas iniciativas militantes no cotidiano, e a cada quatro anos renovávamos nossa esperança em uma possibilidade especial, a de colocar Lula lá. 

Durou menos de um ano a transição de um auge a uma crise. Hoje, a Articulação tem um poder que a esquerda nunca teve, mas não é vanguarda de mais nada, nem para o bem nem para o mal. É, simplesmente, outra coisa: um grupo que ocupa posições de mando em um Estado corrompido e conservador, forte para premiar e punir, fraco para transformar. Adaptado a ele, usa essas posições para negociar tudo com todos. Falar de um "governo em disputa" era um erro há nove meses. Hoje é apenas cumplicidade com o charlatanismo. 

A cooptação do PT pelo sistema de poder é a mais vergonhosa de todas, pois vem desassociada de qualquer ganho real para a base social que ele deveria representar. Ao contrário, ele aceitou ser o algoz dessa base: a contar do início do governo Lula, teremos um milhão de novos desempregados em fevereiro de 2004, e os rendimentos do trabalho estão em queda livre. A Previdência pública foi desmontada, e anuncia-se para breve o acerto de contas com a legislação trabalhista. Comparativamente a isso, a social democracia européia teve uma trajetória brilhante. 

Nenhum de nós pede que Lula faça uma revolução. Nenhum desconhece o cenário, nacional e internacional, que nos cerca. Pedimos apenas decência, espírito republicano e compromisso com um capitalismo regulado. Basta isso para que sejamos chamados de radicais, num país em que política e indecência sempre foram mais ou menos a mesma coisa, em que o Estado sempre foi um espaço de negociatas e em que, em vez de capitalismo, prevalece a bandalha. Insistimos nessas três coisas, porque por menos do que elas a própria atividade política já não vale a pena. Por menos, é melhor ir para casa. 

O que nos afasta do PT não são posições adotadas nessa ou naquela questão. São valores e princípios. É esse ilimitado pragmatismo de quem, uma vez no poder, não pode correr risco nenhum, nem mesmo o risco de dizer a verdade. No lugar da verdade, marketing, dissimulação e engodo, uma enorme operação de deseducação política do povo brasileiro. No lugar de uma ação coletiva, de baixo para cima, um líder que desmobiliza e que, como todo medíocre, começa a se considerar semideus. No lugar de um projeto, espertezas, um discurso para cada interlocutor. No lugar de diálogo, ameaças, chantagens, nomeações, demissões. No lugar da luta de idéias, movimentos sempre nas sombras. É o triunfo da razão cínica. 

O chefe disso chama-se Luís Inácio Lula da Silva. Sua principal herança, para a esquerda brasileira, não será formada a partir de acertos e erros aqui e acolá, naturais na trajetória de qualquer pessoa. Sua herança mais duradoura será construída pela sistemática sinalização de valores negativos, que ele ajudou a difundir amplamente nos últimos anos. Isso é que é imperdoável. Arrogante com os "de baixo" e subserviente aos "de cima': desqualifica-se, pois o que se espera de um líder popular é exatamente o contrário: que seja humilde com os de baixo e firme com os de cima. Aos pobres, "seus filhos': pede infinita paciência, enquanto atende com presteza aos reclamos dos ricos, os financiadores de campanhas. Desemprega um milhão de brasileiros e anuncia-se como aquele que resgata a auto-estima do Brasil. Considera-se corajoso porque tira direitos de enfermeiras, professores e barnabés, conduz serviços essenciais ao colapso, enquanto se dispõe a pagar pontualmente mais de R$ 150 bilhões em juros aos rentistas só neste ano. É o novo líder dos trezentos picaretas que denunciava. Logo lhes entregará mais ministérios. 

Seu governo passará, mas sua liderança deixará na esquerda um extenso e duradouro legado: milhares de pessoas despreparadas e sem valores, que aprenderam no PT que fazer política é gerenciar interesses. Esses ficarão ainda por muito tempo, na forma de uma geração de gente perdida, que nunca lutou e foi derrotada. É isso que dói. 

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sábado, 15 de abril de 2017

A importância da Lava-Jato

José Padilha (*) é um dos mais brilhantes cineastas brasileiros. Sua obra expressa-se, também, nos textos vigorosos de sua coluna no jornal O Globo. Comprometido com fazer emergir da crise atual um país mais democrático, mais justo e mais ético, transformou-se em um entusiasta da Lava-Jato.

Neste texto, de 12/02/17, ele nos oferece à reflexão os seus "Vinte e sete enunciados sobre a oportunidade de desmontar o mecanismo de exploração da sociedade brasileira". A ele, a palavra.

 

1) Na base do sistema político brasileiro, opera um mecanismo de exploração da sociedade por quadrilhas formadas por fornecedores do estado e grandes partidos políticos. (Em meu último artigo, intitulado Desobediência Civil, descrevi como este mecanismo exploratório opera. Adiante, me refiro a ele apenas como “o mecanismo”.)

2) O mecanismo opera em todas as esferas do setor público: no Legislativo, no Executivo, no governo federal, nos estados e nos municípios.

3) No Executivo, ele opera via superfaturamento de obras e de serviços prestados ao estado e às empresas estatais.

4) No Legislativo, ele opera via a formulação de legislações que dão vantagens indevidas a grupos empresariais dispostos a pagar por elas.

5) O mecanismo existe à revelia da ideologia.

6) O mecanismo viabilizou a eleição de todos os governos brasileiros desde a retomada das eleições diretas, sejam eles de esquerda ou de direita.

7) Foi o mecanismo quem elegeu o PMDB, o DEM, o PSDB e o PT. Foi o mecanismo quem elegeu José Sarney, Fernando Collor de Mello, Itamar Franco, Fernando Henrique Cardoso, Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma Rousseff e Michel Temer.

8) No sistema político brasileiro, a ideologia está limitada pelo mecanismo: ela pode balizar políticas públicas, mas somente quando estas políticas não interferem com o funcionamento do mecanismo.

9) O mecanismo opera uma seleção: políticos que não aderem a ele têm poucos recursos para fazer campanhas eleitorais e raramente são eleitos.

10) A seleção operada pelo mecanismo é ética e moral: políticos que têm valores incompatíveis com a corrupção tendem a ser eliminados do sistema político brasileiro pelo mecanismo.

11) O mecanismo impõe uma barreira para a entrada de pessoas inteligentes e honestas na política nacional, posto que as pessoas inteligentes entendem como ele funciona e as pessoas honestas não o aceitam.

12) A maioria dos políticos brasileiros têm baixos padrões morais e éticos. (Não se sabe se isto decorre do mecanismo, ou se o mecanismo decorre disto. Sabe-se, todavia, que na vigência do mecanismo este sempre será o caso.)

13) A administração pública brasileira se constitui a partir de acordos relativos a repartição dos recursos desviados pelo mecanismo.

14) Um político que chega ao poder pode fazer mudanças administrativas no país, mas somente quando estas mudanças não colocam em xeque o funcionamento do mecanismo.

15) Um político honesto que porventura chegue ao poder e tente fazer mudanças administrativas e legais que vão contra o mecanismo terá contra ele a maioria dos membros da sua classe.

16) A eficiência e a transparência estão em contradição com o mecanismo.

17) Resulta daí que na vigência do mecanismo o Estado brasileiro jamais poderá ser eficiente no controle dos gastos públicos.

18) As políticas econômicas e as práticas administrativas que levam ao crescimento econômico sustentável são, portanto, incompatíveis com o mecanismo, que tende a gerar um estado cronicamente deficitário.

19) Embora o mecanismo não possa conviver com um Estado eficiente, ele também não pode deixar o Estado falir. Se o Estado falir o mecanismo morre.

20) A combinação destes dois fatores faz com que a economia brasileira tenha períodos de crescimento baixos, seguidos de crise fiscal, seguidos ajustes que visam conter os gastos públicos, seguidos de novos períodos de crescimento baixo, seguidos de nova crise fiscal...

21) Como as leis são feitas por congressistas corruptos, e os magistrados das cortes superiores são indicados por políticos eleitos pelo mecanismo, é natural que tanto a lei quanto os magistrados das instâncias superiores tendam a ser lenientes com a corrupção. (Pense no foro privilegiado. Pense no fato de que apesar de mais de 500 parlamentares terem sido investigados pelo STF desde 1998, a primeira condenação só tenha ocorrido em 2010.)

22) A operação Lava-Jato só foi possível por causa de uma conjunção improvável de fatores: um governo extremamente incompetente e fragilizado diante da derrocada econômica que causou, uma bobeada do parlamento que não percebeu que a legislação que operacionalizou a delação premiada era incompatível com o mecanismo, e o fato de que uma investigação potencialmente explosiva caiu nas mãos de uma equipe de investigadores, procuradores e de juízes rígida, competente e com bastante sorte.

23) Não é certo que a Lava-Jato vai promover o desmonte do mecanismo. As forças politicas e jurídicas contrárias são significativas.

24) O Brasil atual esta sendo administrado por um grupo de políticos especializados em operar o mecanismo, e que quer mantê-lo funcionando.

25) O desmonte definitivo do mecanismo é mais importante para o Brasil do que a estabilidade econômica de curto prazo.

26) Sem forte mobilização popular é improvável que a Lava-Jato promova o desmonte do mecanismo.

27) Se o desmonte do mecanismo não decorrer da Lava-Jato, os políticos vão alterar a lei, e o Brasil terá que conviver com o mecanismo por um longo tempo.

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(*) José Padilha é um dos mais reconhecidos cineastas brasileiros contemporâneos. Ficou conhecido e reconhecido nacionalmente por ter dirigido os filmes "Tropa de Elite" e "Tropa de Elite 2".
O artigo aqui reproduzido foi publicado em sua coluna no jornal O Globo em 12/02/17.
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quarta-feira, 12 de abril de 2017

A lista de Fachin

O ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), determinou, em 83 decisões, a abertura de inquérito contra oito ministros do governo Temer, 24 senadores e 39 deputados federais, dentre eles os presidentes do Senado e da Câmara dos Deputados.

 

Nós, os brasileiros, podemos fazer disso uma oportunidade para prosseguirmos no aperfeiçoamento de nossa democracia. Mas, muitos temem que seja o contrário.

A extensão da lista, a importância dos políticos denunciados pelos cargos que ocupam e por suas biografias, a sua natureza suprapartidária, varrendo todo o espectro político e ideológico, demonstra a profunda crise do sistema político brasileiro. Mas, porque temem a Lava-Jato como um inimigo comum, eles formam uma poderosa "santa aliança" tácita para combate-la. Historicamente, estão derrotados, mas, cegos, olhando apenas para os seus umbigos, ainda podem prejudicar muito o país!

A lista de Fachin demonstra, como desnudado pelas investigações, delações, provas e evidências colhidas, que a conquista e a manutenção do poder político no Brasil são financiadas pela corrupção. Isto vale para os poderes executivo e legislativo federal, mas vale, também, para alguns dos maiores estados brasileiros, como o Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo. E contamina, endemicamente, a vida política dos maiores e mais importantes municípios brasileiros.

Os denunciados e seus aliados reagirão, e se defenderão, protegidos pelo Estado Democrático de Direito, e garantidos pela consciência cidadã e republicana dos brasileiros. Mas, não adiantará alegar, mesmo nos casos mais leves, cinicamente, que os volumes recebidos foram pequenos, ou aplicados apenas nas eleições, ou apelar para os aspectos positivos de suas biografias ou de suas lutas passadas. Aliás, é de se prever, que todos invocarão variações do mantra "não existe ninguém, neste país, que seja mais honesto do que eu!".

Mas é necessário ter em mente: (1) que qualquer que seja o enquadramento a que tenham sido submetidos por Fachin, que todos sabiam da probabilíssima natureza ilícita dos recursos recebidos; (2) que mesmo quando esses recursos são declarados à justiça eleitoral, ainda assim, pesa sobre eles uma probabilíssima natureza ilícita; (3) que as empreiteiras, ao usarem o estratagema de lavar dinheiro da corrupção no processo eleitoral, encontraram uma forma de manter os mais notórios políticos brasileiros gratos à sua imensa generosidade, e os manterem atrelados aos seus interesses; (4) que, nesta área não existem ingênuos.

O que podemos e queremos?
  • Que os processos judiciais prossigam celeremente, sem interrupções, para expurgar da vida política os condenados por corrupção aplicando a lei da "ficha-limpa".
  • Que se inaugure uma nova etapa da cultura democrática brasileira, onde não haja espaço para a impunidade dos crimes de colarinho branco.
  • que seja feita uma profunda reforma política e eleitoral  para garantir competitividade eleitoral a cidadãos honestos e comprometidos com o bem comum, justamente a imensa maioria dos que não são eleitos, pois só querem e sabem contar em suas campanhas eleitorais com os recursos financeiros lícitos arrecadados por seus correligionários.


quinta-feira, 23 de março de 2017

A que serve o destempero do Gilmar Mendes?

Lamentável, enquanto espetáculo público, a troca de farpas entre o ministro Gilmar Mendes, do STF, e Rodrigo Janot, o Procurador Geral da República.


Não podemos deixar de nos posicionar diante do afloramento de mais esse ingrediente da crise ética em que vivemos. Eu, como cidadão, estou com Janot.

Gilmar, com sua conhecida irresponsabilidade verbal, já notabilizou-se pela forma descortês e desrespeitosa de atacar e criticar de público aos seus próprios pares.

Entretanto, o mais importante é compreender o significado da divergência que ele trouxe a público. Com sua ação Gilmar tenta tornar o STF refém de uma nova ofensiva conservadora que passa pela aprovação da lei do Abuso de Autoridade. O objetivo, em primeiro lugar, é conter os jovens profissionais da justiça que desnudaram perante o país como a corrupção vem sustentando a conquista e a manutenção do poder político. No limite, paralisar a própria Lava-Jato.

Gilmar converteu-se na linha de frente, dentro do STF, da "santa aliança" dos que temem e combatem a Lava-Jato. E isto ocorre exatamente agora, quando, com o acúmulo de provas e evidências já colhidas, e com as delações premiadas da Odebrecht, as instituições republicanas estão dando um combate exemplar à corrupção e criando a oportunidade histórica de acabar com a impunidade dos crimes de colarinho branco!

O objetivo de Gilmar é inviabilizar o trabalho, e colocar na defensiva, de todos os que, institucionalmente, estão envolvidos na luta contra a impunidade, os procuradores da república, particularmente os da força tarefa da Lava-Jato, os policiais federais e os juízes de 1ª e de 2ª instância, dentre eles o próprio juiz Sergio Moro.

Não podemos aceitar que impeçam este tão ansiado e necessário avanço da democracia brasileira! Estejamos atentos, mais uma vez, para não perdermos tudo o que já tão dura e generosamente conquistamos!

terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

Um reforço ao baixo clero do STF?

Há muitos anos li um livro cujo título era: "Todo mundo é incompetente, inclusive você!", de Lawrence Peter. Uma das suas teses centrais, é a de que cada um tem um nível máximo de competência, a partir do qual, em apenas um limiar acima, passa a ser incompetente. Naturalmente, esse livro acabou sendo considerado um livro de humor, mas fez enorme sucesso à época!


Pois bem, se alguém é elevado ao seu nível de incompetência, começa a fazer merda. Mas, muitas vezes o seu superior ainda quer contar com o ex-competente, e o "promove" a assessor ou a alguma coisa em que pareça ainda poderá ser útil! O autor denominou a isso de "promoção percuciente". Naturalmente, essa avaliação é feita pelo seu superior, que pode ele mesmo ser o verdadeiro incompetente.

Lembrei-me do livro agora, pois parece aplicar-se a essa situação do Alexandre de Moraes. Temer já decidiu promovê-lo a ministro do STF.

O meu temor ainda fica maior quando penso quem virá para ocupar o seu lugar como ministro da Justiça. Perdoem-me os otimistas, mas será para (tentar) articular a grande anistia aos que estão enrolados na Lava-Jato! Com isso, o Temer terá o apoio garantido do PT, do Renan e de toda a "santa aliança" que a combate!

Quanto ao Alexandre de Moraes, no STF será decepção garantida para os brasileiros! Mas, existencialmente, ele não se sentirá só: terá lugar garantido no baixo clero (*) da casa ao lado de Toffoli e Lewandowisk (e de outros, que omito para não causar muita polêmica).

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(*) Gostaria de esclarecer a concepção com que faço a dura classificação de baixo clero a um ou outro ministro do STF. Como minha formação não é jurídica, jamais me daria o direito de classificar ministros do STF por uma avaliação quanto à sua competência jurídica. Mas, como cidadão vivido, posso e me sinto em condições de avalia-los por seu comportamento e postura pessoal e política.

Classifico um juiz do STF como parte do baixo clero quando o vejo sistemática e consistentemente dando votos com coloração politico-partidária.

Ao agirem assim, deixam de cumprir a Constituição, que juraram defender. Considero que o STF deve ser instrumento fundamental para fazer avançar a democracia brasileira, particularmente, em uma conjuntura em que o sistema político-partidário está em crise e com baixa credibilidade pública, devido ao papel da corrupção no financiamento e manutenção do poder político.

Sem um poder judiciário isento não será possível que o próprio poder legislativo aprove as leis necessárias para acabar com a impunidade do crime de colarinho branco!

Juizes não isentos e partidários serão fatores de entrave para o julgamento justo dos indiciados na Lava-Jato, pois se acostumaram a dar votos de gratidão aos que os indicaram. 

Já citei alguns cuja ação não isenta os têm desqualificado. Acho que o Alexandre Moraes tem grande probabilidade de vir a ser mais um, não só por sua filiação partidária ao PSDB, um direito legítimo seu, mas porque julgo que a sua condição de ministro da justiça do governo Temer o impedirá de ter a isenção indispensável em votos que afetem os interesses do governo ou de seus correligionários.

sábado, 4 de fevereiro de 2017

Íntegra do discurso de Lula no velório de D. Marisa

Multidão se despede de Marisa Letícia durante velório no ABC Paulista (*)

Amigos, parentes e políticos participaram da cerimônia. No discurso de despedida, Lula disse que Dona Marisa morreu triste, se referindo à Lava Jato.

Matéria G1 - 04/02/2017

"Queridos companheiros, queridas companheiras que vieram prestar sua última mensagem e homenagem à companheira Marisa. Eu tinha dito que não falaria porque a preocupação de não falar e chorar é muito grande. Mas eu acho que já chorei a quantidade de lágrimas que daria para recuperar a represa Cantareira por dois anos.


Eu queria dar uma palavra de agradecimento a cada mulher, cada homem, cada companheiro, cada companheira - cada parente da Marisa, cada parente meu - e dizer ao companheiro Rafael, presidente desse sindicato, que minha vida não seria um décimo do que é se não fosse esse sindicato. Se não fosse esse salão.

Vocês não têm dimensão da representatividade desse espaço que nós estamos tem na minha vida; Aqui eu aprendi a falar. Aqui eu perdi o medo do microfone. Aqui nós decidimos combater a ditadura militar. Aqui nós criamos um novo sindicalismo. Aqui nós pensamos em criar a CUT. Aqui nós pensamos em criar o PT - aqui nós pensamos em fazer todas as greves feitas nessa categoria.

Aqui saiu inspiração para que muitos sindicatos se transformassem num sindicato combativo. Aqui eu conheci a Marisa. Aqui eu casei com a Marisa. Na minha posse, em 24 de abril de 1969, a Marisa tinha casado comigo. Nos casamos em 1975 - conheci Marisa em 73 e aqui nós criamos nossos filhos. Aqui a Marisa sustentou a barra para que eu me transformasse no que eu me transformei.

Eu sou o resultado da consciência política dos trabalhadores brasileiros. Na hora que ele evolui, eu evoluo. Eu sou resultado das greves, mas também sou resultado de uma menina que parecia frágil e que me deu a garantia que eu poderia viajar para ajudar candidatura, para ajudar criar sindicalismos combativos. Que ela segurava a barra. E nunca reclamou.

O meu primeiro filho, que é o Fábio, do meu casamento com ela, porque, quando eu casei ela já tinha o Marcos - que já tinha uns dois anos e pouco quando eu casei. Porque eu não sei se vocês sabem, a Marisa ficou viúva novinha, porque assassinaram o marido dela que estava dirigindo um táxi. Logo veio o Fábio, depois veio o Sandro, depois veio o Luiz Cláudio. E eu nunca estive presente. Por causa do PT, por causa da CUT, por causa das greves.

Eu lembro que quando o Fabio nasceu a gente estava pescando aqui na represa Billings, lá no montanhão. Aqui estava a Maria, o Antônio, a Inês. E era mais ou menos 18h, ela estava com água no pé do umbigo tentando pegar uma tilápia de uns 10 centímetros, para a gente comer. A gente assava e comia na beira da represa.

Era um domingo e nós fomos embora para casa. Fomos tomar banho. quando foi umas 6h30 manhã estourou a bolsa. Ela me chamou para levar ela no médico. Eu levei no PS de São Bernardo. Só que eu tinha uma reunião da diretoria do sindicato. Deixei a Marisa lá, e só fui lembrar Rui, as 11 horas da manhã. Quando cheguei em casa, já tinha nascido o Fábio.

O Sandro eu fui para Bahia no congresso do sindicato dos químicos. Ele adiantou um mês, um mês em pouco. Houve uma antecipação no parto. Eu estava no congresso dos petroleiros, na Bahia, quando em 1978 , dia 15 de julho, eu recebo a notícia que a Marisa tinha tido o Sandro. Ele foi antecipado alguns dias e eu não tinha como comemorar.

Era 9h eu fui no bar, no hotel da Bahia. Tomei um conhaque sozinho e comemorei o nascimento do Sandro. Aí nós combinamos que no próximo filho eu ia cuidar de ver o parto. Eu estava com ela em Cuba, o Sandro era pequeno. E a gente foi visitar um show lá em Cuba, no Tropicana. E não pudemos entrar por causa do Sandro.

Aí, então, nós voltamos e, por obra de deus, nós fizemos o companheiro Luis Claudio, que está aqui. Aí foi muito engraçado, porque lá em cuba eu descobri que o Sandro tinha um problema no coração. E, por conta dessa descoberta, nós viemos aqui em SP, e o Dr. Jatene operou a aorta dele. Ele tem até hoje, um cano, que está funcionando bem.

Mas o que é importante é que eu tinha assumido o compromisso com ela que eu ia assistir o parto do Luiz Cláudio. Apareceu uma companheira, que eu nem sei se está aqui no meio. Uma companheira, ex-militante do partidão, Albertina de Souza. Uma médica excepcional que falou para Marisa: eu quero fazer o seu parto gratuitamente. É um presente meu para você e para o Lula.

Aí eu fui na clínica São Luís. Era mais ou menos 17h30. Quando estou na clínica São Luis, Rui, eu recebo um telefonema do Djalma Boca - não sei se ele está aqui também. Ele era presidente do PT estadual e falou: Lula, o PMDB quer uma reunião urgente, porque quer discutir a aliança com o Losca (sic), aqui em São Paulo.

Eu, mais uma vez, pedi desculpa a Marisa. falei: Meu amor, ainda não é dessa vez. E fui fazer a reunião. Quando cheguei à meia noite no hospital, já tinha nascido o companheiro Luís Cláudio. Então, depois disso, Dom angélico, às vezes eu tenho culpa, às vezes eu acho que assim mesmo. Ela, praticamente, criou os filhos sozinha. Porque era ela que ia na escola.

Na verdade eu acho que ela foi mãe. Ela foi pai, ela foi tia, foi avó, foi tudo. Porque ela cuidou de todos e nunca reclamou da vida. A Marisa começou a trabalho com 11 anos de idade como empregada doméstica. Era babá. 11 anos de idade. Depois foi trabalhar na Dulcora. depois casou. Perdeu o marido, ficou viúva e conheceu esse ser humano bonito - que sou eu - e casou.

Eu brinco com a Marisa. Faz 43 anos que eu brinco com ela, todo ano, que ela acaba de ser eleita, todo o ano, que ela acaba de ser eleita a mulher mais bem casada do mundo.

Nós tivemos uma vida extraordinária. Uma vida de muita compreensão porque eu tenho em mente, que o casamento é o maior exercício de democracia que um ser humano pode fazer. É no casamento que você aprende a ceder. E tem que ceder todo o dia. E tem que brigar todo o dia para conquistar alguma coisa.

Você cede pra mulher. Você cede para o filho. Eles cedem para vc. E se você não tiver a paciência de exercer essa lógica de ceder um para o outro, o casamento não dura muito tempo. É por isso que gente casa e se separa muito rapidamente. É porque não tem o exercício da democracia.

Eu e a Marisa nunca brigamos. Eu já brigava muito no PT, muito no sindicato. Quando eu chegava em casa, às vezes ela queria brigar comigo, mas eu falava, Marisa, não adianta que eu não quero brigar. E não brigava, Rui. Eu aprendi, de uma mãe analfabeta, que dizia: nunca levante a voz pra sua mulher. Ela é a sua parceira e se não levantar a voz, nunca levante a mão para sua mulher. Eu não aprendi na universidade. Eu aprendi com uma mãe analfabeta ensinando um filho como se trata a parceira da gente.

Pois bem, a Marisa se foi. Eu, certamente, Dom Angélico, sofro menos do que as pessoas que não acreditam em deus. E do que as pessoas que não acreditam em outro mundo. Porque eu acredito em outra vida. E eu acho que ela vai encontrar. Ela deixou aqui muita gente que ela gosta. Muita gente. Sobretudo os filhos delas, os netos. Eu já estou bisavô. E ela, certamente, vai encontrar figuras extraordinárias lá em cima. Vai encontrar a mãe dela. Que é uma baixinha, chamada Regineta, que morava comigo um tempo. De uma doçura. Era muito parecida com a Marisa.

A dona Regineta levantava às 5h da manhã e ela começava a trabalhar. A Marisa, Rui, não há nada nesse mundo que faça a Marisa levantar depois das cinco. Ela pode dormir as duas da manhã que as cinco horas a Marisa está de pé fazendo alguma coisa. É a Regineta fiel. E eu penso que nós vivemos esse tempo todo vendo uma companheira humilde.

Quando eu fui eleito presidente, a Marisa era vítima de chacota. A direita ‘dizia será que ela vai conseguir limpar aquele vidro do palácio da alvorada? Será que ela vai ser ministra? Ela vai dar conta do recado? E eu dizia pra Marisa: Você não vai ser ministra, Marisa. Porque a obra mais importante que a mulher de um presidente pode fazer é dar segurança para o presidente da república não fazer as bobagens que os presidentes fazem nesse país.

Porque, no fundo no fundo, ela era mais do que uma ministra. Eu ficava pensando: eu coloco a Marisa para ser ministra de alguma coisa, aí a imprensa começa a bater nela. Bate nela num canto e bate no Lula, no outro. Bate nela num canto...não! Ela em casa, a gente sentava, conversava, discutia. E ela tinha muito mais importância que os ministros. A Marisa sempre dizia para mim. ‘Oh lula você não esqueça nunca de onde você veio e para onde você vai voltar’.

Uma vez, e eu vou contar isso, para terminar. Uma vez, a gente estava jantando no Palácio da Alvorada, a Marisa começou a rir, começou a rir e eu não sabia porque a Marisa estava rindo. Mas sabe quando uma pessoa ri e parece que vai morrer de rir? E ela disse, sabe porque eu estou rindo, Lula? É porque esses companheiros que trabalham na cozinha e esses garçons nunca imaginaram que esse palácio fosse ter uma presidenta, uma mulher de um presidente que pedisse para eles cozinhar pé de frango para ela comer.

Isso mostrava a diferença de quem estava dentro do Palácio da Alvorada. E ela dizia para mim. ‘Lula, a gente não pode fazer nada, nada mais importante do que a gente fez quando a gente não era presidente. Porque a gente não pode, por ser presidente, tentar utilizar porque pretexto para ter um padrão de vida superior àquele que a gente tinha quando você era simplesmente presidente do sindicato de São Bernardo do Campo.

Eu tenho orgulho, tenho orgulho, que a Marisa viajou comigo esse mundo inteiro. Acho que nunca uma primeira dama viajou 10% do que Marisa viajou, e a Marisa nunca me pediu $10 para comprar nada lá fora. Nada. A Marisa, desde 1975, a minha conta bancaria é no nome da Marisa. Porque eu nunca aceitei que a mulher ficasse mendigando R$ 10 para o marido para ir à feira. Ela ia e gastava o que precisasse.

Então, Marisa nunca me pediu um anel. Marisa nunca me pediu um vestido. Nunca pediu nada. A única coisa que ela queria era me ver cuidar dos filhos. Ela se foi... os filhos não precisam mais desse cuidado porque agora eles vêm aqui cuidar de mim. Eu estou véinho (sic). Eles tem que cuidar. Mas eu quero dizer que eu sou grato por vocês, pelo carinho que vocês tiveram comigo. Não é pouco tempo que eu estou aqui, gente. Eu estou aqui desde 24 de abril de 1969. Sou presidente. Fui presidente desde 24 de abril de 1975. A maioria nunca nasceu. Sabe? Eu tenho consciência que eu sou resultado de vocês. Eu tenho consciência. E tenho consciência que junto com vocês essa galeguinha que parecia frágil, mas quando ficava vermelha e falava grosso colocava medo em muita gente, Dona Maria.

Então, de coração, muito obrigado a cada mulher e a cada homem sabe que veio a esse ato aqui hoje. E eu vou. Eu vou continuar agradecendo a Marisa até o dia que eu não puder mais agradecer. O dia que eu morrer. E espero encontrar com ela, com esse mesmo vestido, que eu escolhi para colocar nela, vermelho, para mostrar que a gente não tinha medo de vermelho quando era vivo, não tem medo de vermelho quando morre.

Ela está com uma estrelinha do PT no seu vestido e eu tenho orgulho dessa mulher junto comigo e outros milhares, muitas vezes essa molecada dormia no chão, da praça da matriz, e a Marisa e outras companheiras vendendo bandeira, vendendo camiseta, para gente construir um partido que a direita quer destruir.

Na verdade, Marisa morreu triste, Rogério (sic). Porque a canalhice que fizeram com ela e a imbecilidade e a maldade que fizeram com ela, eu vou dedicar. Eu tenho 71 anos. Não sei se Deus me levará em curto prazo. Eu acho que vou viver muito porque eu quero, eu quero provar que os facínoras que levantaram leviandades com a Marisa tenham um dia a humildade de pedir desculpas a ela.

Eu digo todo dia. Se alguém tem medo nesse país. Se alguém praticou corrupção nesse país. Se alguém tem medo de ser preso, eu quero dizer o seguinte: esse que está enterrando a sua mulher hoje, não tem.

Porque eu tenho a consciência tranquila. Tenho certeza da consciência e do trabalho da minha mulher. E não sou eu que tenho que provar que eu sou inocente. Eles é que precisam provar que as mentiras que eles estão contando são verdadeiras. Portanto, querida companheira Marisa, descanse em paz porque o seu Lulinha paz e amor vai continuar brigando muito para defender a sua honra e a sua imagem.

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(*) http://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/comeca-o-velorio-do-corpo-de-dona-marisa-no-sindicato-dos-metalurgicos-em-sao-bernardo.ghtml