sábado, 29 de outubro de 2016

O golpe do caixa dois eleitoral!

O que é o Caixa 2 nas campanhas eleitorais? Na concepção ampla de caixa 2, decorrente da proposta conhecida como "10 medidas contra a corrupção", elaborada pelos procuradores federais da força-tarefa da Lava-Jato, caixa 2 corresponde aos recursos ilícitos resultantes de duas fontes: (1) os que não foram sequer declarados e contabilizados, o que já acusa o ilícito de esconder a sua origem; (2) os que, embora tenham sido declarados, têm sua origem em recursos ilícitos, da corrupção, normalmente oriundos de obras superfaturadas, como ocorreu recentemente na Petrobras.

A proposta de emenda que está sendo elaborada pelos que fazem parte da "santa aliança" dos que temem a Lava-Jato é anistiar todos os crimes de Caixa 2 cometidos até à data da aprovação da lei. Quanto ao futuro, não se sabe ainda qual o teor da proposta que apresentarão, mas, devemos estar atentos, pois se acostumaram a financiar suas milionárias campanhas com recursos públicos desviados!

Pretendem apresentá-la no início de novembro. De surpresa, ou na "calada da noite", como gostam de fazer. Mais do que nunca devemos estar atentos, todos os que defendemos acabar com a impunidade dos crimes de colarinho branco como condição para construir um Brasil mais justo e democrático!

I. Concepção ampla de caixa 2:


II. Concepção restrita de caixa 2. Neste caso, o caixa-dois refere-se apenas às contribuições ilícitas não declaradas e não contabilizadas, separando-a das contribuições ilícitas e declaradas. O bloco "Contribuição Ilícita" inclui as declaradas e o caixa 2. Com esta lógica, ficaria como na figura abaixo:


Fundamentalmente, a sociedade brasileira precisa encontrar forças e energias renovadoras para forçar uma nova legislação que impeça o aporte de recursos ilícitos às campanhas eleitorais. Candidatos honestos, que não admitem recebê-los, não conseguem competir em igualdade de condições! Esta é a razão pela qual os corpos legislativos, desde as Câmaras Municipais até a Câmara Federal e o Senado, são habitados por tantos bandidos! Precisamos eleger cidadãos comprometidos com o bem comum!

quinta-feira, 27 de outubro de 2016

A crise institucional do Renan

Vejam só. Logo o Renan está sendo o responsável por provocar o risco de uma crise institucional! Ele não está sozinho, pois lidera, comanda, e dá voz, a uma conservadora e ampla "santa aliança" de parlamentares, que vão do PMDB ao PT, incluindo partidos centristas como o PP. Sim, "santa", porque não é santa, e o amálgama dessa aliança é o temor que têm à Lava-Jato! A delação premiada da Odebrecht, prestes a ser fechada, dará a dimensão do tamanho e da diversidade partidária dos seus aliados. 


Para Renan este papel é natural, pois é coerente com a sua biografia! O seu principal negócio tem sido vender o seu talento, e os seus serviços, a quem esteja no poder, seja ele quem for. E cobra caro por isso!

Os fatos, provas e evidências abundantes o tornaram uma espécie de bola da vez para pagar por seus crimes. "Renan Calheiros (PMDB-AL), responde atualmente a 12 inquéritos na Suprema Corte, nove deles relacionados às investigações sobre o esquema de corrupção da Petrobras, um relativo à Operação Zelotes, além de dois que apuram irregularidades no pagamento da pensão de uma filha que o senador teve em um relacionamento extraconjugal (*)".

A sociedade brasileira não pode ficar prisioneira de seus desígnios! Se necessário, é hora de voltar às ruas para desempatar esta crise institucional que ele está querendo provocar! Os brasileiros, não estão mais dispostos a aceitar a impunidade dos crimes de colarinho branco, e compreenderam que a própria democracia, para avançar, não pode mais conviver com ela!

Por isso, é preciso pensar, apostar, e lutar para que, no parlamento e nas ruas, em toda parte onde pulse um sentimento de civilidade, se afirme a vontade e a compreensão de que para avançar a democracia brasileira, neste momento histórico, é necessário dar um golpe de morte na impunidade. Não podemos perder esta oportunidade!

O primeiro passo é aprovar as "10 medidas contra a corrupção" propostas pelo ministério público sem as distorções que Renan e seus aliados tentam impor. Entretanto, sinceridade, não dá para acreditar que isso seja possível sem um acerto de contas da justiça com o Renan. Esta é uma necessidade histórica, simbólica e política para que essa crise realize o seu papel progressista na sociedade brasileira!

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(*) "Eduardo Cunha e Renan Calheiros são alvo de 18 pedidos de investigação no STF". Fonte: Estadão, 03/05/16.

quinta-feira, 15 de setembro de 2016

A esperança desconstruída

Estranho o sentimento que invadiu os brasileiros com a denúncia contra Lula apresentada pela força-tarefa da Lava-Jato!

Por um lado, o reconhecimento de que eles estivessem dizendo, conduzidos pelos fatos e pela mais elementar lógica, o que todo mundo já sabe ser verdade há muito tempo!

Por outro lado, devido ao poder destrutivo que a denúncia tem para o projeto político do PT, se o processo contra Lula prosseguir, como parece que vai, um sentimento de perda coletiva devido ao papel simbólico que Lula teve, nacional e internacionalmente, ao representar esperanças novas para o povo mais simples!

O PT, e os que apoiam Lula, naturalmente, partirão para a mais forte reação que puderem; mas, julgo, perderam a capacidade de mobilizar os sentimentos mais nobres da cidadania em defesa de seu projeto!

Serão derrotados, na verdade, porque fracassaram enquanto projeto histórico!

Não só porque adotaram a "corrupção estratégica"(*), o que levará Lula à condenação pela justiça dos homens, mas porque "desconstruiram" a esperança, e a oportunidade excepcional que se ofereceu, de um projeto necessário de afirmação de uma esquerda democrática latino-americana, pelo qual Allende já dera a própria vida!

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(*) No artigo A "santa aliança" contra a Lava-Jato, publicado no Correio Braziliense em 12/01/2016, conceituo "corrupção estratégica” como aquela orientada por um projeto político, e por possuir um comando e planejamento centralizado para atingir os seus objetivos. Ela se diferencia da velha e conhecida "corrupção laissez faire", que não possui comando ou planejamento centralizado.

sexta-feira, 9 de setembro de 2016

Como a curiosidade pode proteger a mente de enganos (*)

Neither intelligence nor education can stop you from forming prejudiced opinions – but an inquisitive attitude may help you make wiser judgements.

By Tom Stafford
8 September 2016


Ask a left-wing Brit what they believe about the safety of nuclear power, and you can guess their answer. Ask a right-wing American about the risks posed by climate change, and you can also make a better guess than if you didn’t know their political affiliation. Issues like these feel like they should be informed by science, not our political tribes, but sadly, that’s not what happens.

Psychology has long shown that education and intelligence won’t stop your politics from shaping your broader worldview, even if those beliefs do not match the hard evidence. Instead, your ability to weigh up the facts may depend on a less well-recognised trait – curiosity.



The political lens

"It is a mistake to think that you can somehow ‘correct’ people’s views on an issue by giving them more facts"

There is now a mountain of evidence to show that politics doesn’t just help predict people’s views on some scientific issues; it also affects how they interpret new information. This is why it is a mistake to think that you can somehow ‘correct’ people’s views on an issue by giving them more facts, since study after study has shown that people have a tendency to selectively reject facts that don’t fit with their existing views.

This leads to the odd situation that people who are most extreme in their anti-science views – for example skeptics of the risks of climate change – are more scientifically informed than those who hold anti-science views but less strongly.


When it comes to questions like fracking, we tend to form our opinions and look for the evidence later (Credit: Getty Images)

"People who have the facility for deeper thought about an issue can use those cognitive powers to justify what they already believe"

But smarter people shouldn’t be susceptible to prejudice swaying their opinions, right? Wrong. Other research shows that people with the most education, highest mathematical abilities, and the strongest tendencies to be reflective about their beliefs are the most likely to resist information which should contradict their prejudices. This undermines the simplistic assumption that prejudices are the result of too much gut instinct and not enough deep thought. Rather, people who have the facility for deeper thought about an issue can use those cognitive powers to justify what they already believe and find reasons to dismiss apparently contrary evidence.

It’s a messy picture, and at first looks like a depressing one for those who care about science and reason. A glimmer of hope can be found in new research from a collaborative team of philosophers, film-makers and psychologists led by Dan Kahan of Yale University.

Kahan and his team were interested in politically biased information processing, but also in studying the audience for scientific documentaries and using this research to help film-makers. They developed two scales. The first measured a person’s scientific background, a fairly standard set of questions asking about knowledge of basic scientific facts and methods, as well as quantitative judgement and reasoning. The second scale was more innovative. The idea of this scale was to measure something related but independent – a person’s curiosity about scientific issues, not how much they already knew. This second scale was also innovative in how they measured scientific curiosity. As well as asking some questions, they also gave people choices about what material to read as part of a survey about reactions to news. If an individual chooses to read about science stories rather than sports or politics, their corresponding science curiosity score was marked up. 

Armed with their scales, the team then set out to see how they predicted people’s opinions on public issues which should be informed by science. With the scientific knowledge scale the results were depressingly predictable. The left-wing participants – liberal Democrats – tended to judge issues such as global warming or fracking as significant risks to human health, safety or prosperity. The right-wing participants – conservative Republicans – were less likely to judge the issues as significant risks. What’s more, the liberals with more scientific background were most concerned about the risks, while the conservatives with more scientific background were least concerned. That’s right – higher levels of scientific education results in a greater polarisation between the groups, not less. 


Views on climate change tend to be influenced by political ideologies, regardless of scientific education (Credit: Getty Images)

So much for scientific background, but scientific curiosity showed a different pattern. Differences between liberals and conservatives still remained – on average there was still a noticeable gap in their estimates of the risks – but their opinions were at least heading in the same direction. For fracking for example, more scientific curiosity was associated with more concern, for both liberals and conservatives.

The team confirmed this using an experiment which gave participants a choice of science stories, either in line with their existing beliefs, or surprising to them. Those participants who were high in scientific curiosity defied the predictions and selected stories which contradicted their existing beliefs – this held true whether they were liberal or conservative.

And, in case you are wondering, the results hold for issues in which political liberalism is associated with the anti-science beliefs, such as attitudes to GMO or vaccinations.

So, curiosity might just save us from using science to confirm our identity as members of a political tribe. It also shows that to promote a greater understanding of public issues, it is as important for educators to try and convey their excitement about science and the pleasures of finding out stuff, as it is to teach people some basic curriculum of facts.


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Tom Stafford’s ebook on when and how rational argument can change minds is out now. If you have an everyday psychological phenomenon you'd like to see written about in these columns please get in touch with @tomstafford on Twitter, or ideas@idiolect.org.uk.

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(*) Artigo indicado por Lea Costa, amiga "facebookiana": "How curiosity can protect the mind from bias". http://www.bbc.com/future/story/20160907-how-curiosity-can-protect-the-mind-from-bias?ocid=ww.social.link.facebook.

Publicado na BBC Futurehttp://www.bbc.com/future/story/20151016-welcome-to-a-home-for-the-insatiably-curiou.

terça-feira, 16 de agosto de 2016

Íntegra da mensagem da presidenta Dilma Rousseff em 16/08/2016 (*)

"AO SENADO FEDERAL E AO POVO BRASILEIRO

Dirijo-me à população brasileira e às senhoras senadoras e aos senhores senadores para manifestar mais uma vez meu compromisso com a democracia e com as medidas necessárias à superação do impasse político que tantos prejuízos já causou ao país.


Meu retorno à Presidência, por decisão do Senado Federal, significará a afirmação do Estado Democrático de Direito e poderá contribuir decisivamente para o surgimento de uma nova e promissora realidade política.

Minha responsabilidade é grande. Na jornada para me defender do impeachment me aproximei mais do povo, tive oportunidade de ouvir seu reconhecimento, de receber seu carinho. Ouvi também críticas duras ao meu governo, a erros que foram cometidos e a medidas e políticas que não foram adotadas. Acolho essas críticas com humildade e determinação para que possamos construir um novo caminho.

Precisamos fortalecer a democracia em nosso oaís e, para isto, será necessário que o Senado encerre o processo de impeachment em curso, reconhecendo, diante das provas irrefutáveis, que não houve crime de responsabilidade. Que eu sou inocente.

No presidencialismo previsto em nossa Constituição, não basta a desconfiança política para afastar um presidente. Há que se configurar crime de responsabilidade. E está claro que não houve tal crime.

Não é legítimo, como querem os meus acusadores, afastar o chefe de Estado e de governo pelo "conjunto da obra". Quem afasta o presidente pelo "conjunto da obra" é o povo e, só o povo, nas eleições.

Por isso, afirmamos que, se consumado o impeachment sem crime de responsabilidade, teríamos um golpe de Estado.

O colégio eleitoral de 110 milhões de eleitores seria substituído, sem a devida sustentação constitucional, por um colégio eleitoral de 81 senadores. Seria um inequívoco golpe seguido de eleição indireta.

Ao invés disso, entendo que a solução para as crises política e econômica que enfrentamos passa pelo voto popular em eleições diretas. A democracia é o único caminho para a construção de um Pacto pela Unidade Nacional, o Desenvolvimento e a Justiça Social. É o único caminho para sairmos da crise.
Por isso, a importância de assumirmos um claro compromisso com o Plebiscito e pela Reforma Política.

Todos sabemos que há um impasse gerado pelo esgotamento do sistema político, seja pelo número excessivo de partidos, seja pelas práticas políticas questionáveis, a exigir uma profunda transformação nas regras vigentes.

Estou convencida da necessidade e darei meu apoio irrestrito à convocação de um plebiscito, com o objetivo de consultar a população sobre a realização antecipada de eleições, bem como sobre a reforma política e eleitoral.

Devemos concentrar esforços para que seja realizada uma ampla e profunda reforma política, estabelecendo um novo quadro institucional que supere a fragmentação dos partidos, moralize o financiamento das campanhas eleitorais, fortaleça a fidelidade partidária e dê mais poder aos eleitores.

A restauração plena da democracia requer que a população decida qual é o melhor caminho para ampliar a governabilidade e aperfeiçoar o sistema político eleitoral brasileiro.

Devemos construir, para tanto, um amplo pacto nacional, baseado em eleições livres e diretas, que envolva todos os cidadãos e cidadãs brasileiros. Um pacto que fortaleça os valores do Estado Democrático de Direito, a soberania nacional, o desenvolvimento econômico e as conquistas sociais.

Esse Pacto pela Unidade Nacional, o Desenvolvimento e a Justiça Social permitirá a pacificação do país. O desarmamento dos espíritos e o arrefecimento das paixões devem sobrepor-se a todo e qualquer sentimento de desunião.

A transição para esse novo momento democrático exige que seja aberto um amplo diálogo entre todas as forças vivas da Nação Brasileira com a clara consciência de que o que nos une é o Brasil.

Diálogo com o Congresso Nacional, para que, conjunta e responsavelmente, busquemos as melhores soluções para os problemas enfrentados pelo país.

Diálogo com a sociedade e os movimentos sociais, para que as demandas de nossa população sejam plenamente respondidas por políticas consistentes e eficazes. As forças produtivas, empresários e trabalhadores, devem participar de forma ativa na construção de propostas para a retomada do crescimento e para a elevação da competitividade de nossa economia.

Reafirmo meu compromisso com o respeito integral à Constituição Cidadã de 1988, com destaque aos direitos e garantias individuais e coletivos que nela estão estabelecidos. Nosso lema persistirá sendo "nenhum direito a menos".

As políticas sociais que transformaram a vida de nossa população, assegurando oportunidades para todas as pessoas e valorizando a igualdade e a diversidade deverão ser mantidas e renovadas. A riqueza e a força de nossa cultura devem ser valorizadas como elemento fundador de nossa nacionalidade.

Gerar mais e melhores empregos, fortalecer a saúde pública, ampliar o acesso e elevar a qualidade da educação, assegurar o direito à moradia e expandir a mobilidade urbana são investimentos prioritários para o Brasil.

Todas as variáveis da economia e os instrumentos da política precisam ser canalizados para o país voltar a crescer e gerar empregos.

Isso é necessário porque, desde o início do meu segundo mandato, medidas, ações e reformas necessárias para o país enfrentar a grave crise econômica foram bloqueadas e as chamadas pautas-bomba foram impostas, sob a lógica irresponsável do "quanto pior, melhor".

Houve um esforço obsessivo para desgastar o governo, pouco importando os resultados danosos impostos à população. Podemos superar esse momento e, juntos, buscar o crescimento econômico e a estabilidade, o fortalecimento da soberania nacional e a defesa do pré-sal e de nossas riquezas naturais e minerárias.

É fundamental a continuidade da luta contra a corrupção. Este é um compromisso inegociável.

Não aceitaremos qualquer pacto em favor da impunidade daqueles que, comprovadamente, e após o exercício pleno do contraditório e da ampla defesa, tenham praticado ilícitos ou atos de improbidade.

Povo brasileiro, senadoras e senadores,

O Brasil vive um dos mais dramáticos momentos de sua história. Um momento que requer coragem e clareza de propósitos de todos nós. Um momento que não tolera omissões, enganos, ou falta de compromisso com o país.

Não devemos permitir que uma eventual ruptura da ordem democrática baseada no impeachment sem crime de responsabilidade fragilize nossa democracia, com o sacrifício dos direitos assegurados na Constituição de 1988. Unamos nossas forças e propósitos na defesa da democracia, o lado certo da História.

Tenho orgulho de ser a primeira mulher eleita presidenta do Brasil. Tenho orgulho de dizer que, nestes anos, exerci meu mandato de forma digna e honesta. Honrei os votos que recebi. Em nome desses votos e em nome de todo o povo do meu país, vou lutar com todos os instrumentos legais de que disponho para assegurar a democracia no Brasil.

A essa altura todos sabem que não cometi crime de responsabilidade, que não há razão legal para esse processo de impeachment, pois não há crime. Os atos que pratiquei foram atos legais, atos necessários, atos de governo. Atos idênticos foram executados pelos presidentes que me antecederam. Não era crime na época deles, e também não é crime agora.

Jamais se encontrará na minha vida registro de desonestidade, covardia ou traição. Ao contrário dos que deram início a este processo injusto e ilegal, não tenho contas secretas no exterior, nunca desviei um único centavo do patrimônio público para meu enriquecimento pessoal ou de terceiros e não recebi propina de ninguém.

Esse processo de impeachment é frágil, juridicamente inconsistente, um processo injusto, desencadeado contra uma pessoa honesta e inocente. O que peço às senadoras e aos senadores é que não se faça a injustiça de me condenar por um crime que não cometi. Não existe injustiça mais devastadora do que condenar um inocente.

A vida me ensinou o sentido mais profundo da esperança. Resisti ao cárcere e à tortura. Gostaria de não ter que resistir à fraude e à mais infame injustiça.
Minha esperança existe porque é também a esperança democrática do povo brasileiro, que me elegeu duas vezes presidenta. Quem deve decidir o futuro do país é o nosso povo.

A democracia há de vencer.

Dilma Rousseff"

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(*) Para registro histórico, a mensagem da presidenta Dilma Roussef está mantida na íntegra e sem comentários críticos.

domingo, 7 de agosto de 2016

Dilma, e quando as narrativas se esvaem no ar

Até hoje tenho ouvido de muita gente a repetição de um mantra: "Dilma é honesta". E dizem: "Ela não tem conta na Suíça, não enriqueceu". E vemos o PT, o FHC e até muitos que são a favor do impeachment, repetirem esse mantra sobre ela.


Entretanto, e não é para implicar com ninguém, se é para ficar prisioneiro de uma narrativa prefiro a indicada pela mais elementar lógica: Dilma sabia de tudo, pelos postos que ocupou no governo Lula; e foi escolhida por ele para sucedê-lo por duas razões básicas: (1) ela, depois da inviabilização do José Dirceu, era a pessoa em quem ele mais confiava; (2) julgou que, com ela, seria para ele mais fácil voltar em 2014.

Alguma coisa não deu certo, não é? A narrativa do golpe se dissolveu no ar; paradoxalmente, as Olimpíadas estão mostrando isso para todo o mundo. A Lava-Jato se afirma como um instrumento da democracia e do surgimento de um Brasil mais organizado, que não pode mais ser adiado, onde não haja espaço para a impunidade dos crimes de colarinho branco.

E Lula, e Dilma, estão cada vez mais próximos de serem julgados e condenados por corrupção(*), e de amargarem alguns anos na cadeia, como já aconteceu e acontece com o próprio José Dirceu!

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(*) Este post não tem a intenção de ferir ninguém. Mas, tem total coerência com minha postura perante a vida: não pretendo enganar-me, nem ser enganado; alimento, também, a esperança de que a minha opinião franca - respeitosa exatamente por isso - possa ser útil para quem honestamente ainda esteja enganando-se, ou sendo enganado.

domingo, 19 de junho de 2016

A Reprivada

artigo Luiz Carlos Azedo (*)
As delações premiadas da Operação Lava-Jato não estão colocando em xeque a nossa democracia, estão desnudando as mazelas do nosso sistema partidário e do Estado Leviatã.
O neologismo que intitula a coluna é uma invenção de Rui Barbosa, na sua campanha eleitoral de 1919, contra Epitácio Pessoa, na qual foi derrotado. Ele havia se insurgido contra as heranças do passado escravocrata e colonial, que ameaçavam a sobrevivência do regime republicano devido à corrupção e ao patrimonialismo das elites, que ele chamava de “taras hereditárias” e de “vícios inveterados”.
Patrono do Senado, Rui Barbosa fora o grande artífice da Constituição de 1891, que acabou capturada pelas oligarquias. Já septuagenário, a segunda candidatura foi tão memorável como a da Campanha Civilista, de 1909, quando se batera contra o marechal Hermes da Fonseca, por acreditar que os militares deveriam ficar longe da política, com toda a razão.
Quase cem anos depois, seu discurso é atualíssimo: “República? Isso não! Nem de longe. Reprivada. O Brasil não é uma República: é uma Reprivada; privada em todos os sentidos. Não existe o vocábulo? Pois força a cunhar o neologismo. Na República, a administração é coisa do público. Na Reprivada, é coisa de privança, é domínio dos privados, é logradouro privativo dos que privam com os açambarcadores do patrimônio comum, e exercem privadamente a tutela da nação, reduzida à pupilagem. Entregue, assim, à absorvência do interesse privado, sobreposto em absoluto ao interesse público, a República se desnaturou à Reprivada.”
A Operação Lava-Jato desnuda uma situação que nos remete ao passado secular. Qual a causa mais profunda dessa resiliência? Talvez uma pista esteja no próprio pensamento de Rui Barbosa. Seu projeto nacional era uma espécie de liberalismo de Estado. Embora constitucionalista, esse pensamento político tem origem pombalina. Já havia impregnado a Constituição outorgada de 1824, de D. Pedro I, e não sofreu uma ruptura com a proclamação da República; pelo contrário, foi reforçado pela influência positivista da Escola Militar da Praia Vermelha.
Esse liberalismo de Estado predomina até hoje e subestima o papel da sociedade na preservação dos valores republicanos. O liberalismo radical de origem francesa e norte-americana nunca teve vez no Brasil. Era uma ameaça às elites escravocratas e conservadoras, na Inconfidência Mineira (1789), nas rebeliões do Rio de Janeiro de 1789, dos Alfaiates da Bahia (1798), nas revoltas liberais de 1817, 1824 e 1831, nas insurreições regenciais de 1842 e na Revolução Praieira (1848). Na proclamação da República, o povo ficou de fora e os políticos liberais, também; em sua maioria, eram da vertente pombalina, monarquistas e escravocratas.
Desde então, talvez a única oportunidade de existência de um governo liberal no país tenha sido perdida com a morte de Tancredo Neves. A ideia do Estado como tutor da sociedade e indutor do desenvolvimento pautou a Aliança Liberal, na Revolução de 1930, que desaguou no Estado Novo e na Era Vargas. A Constituição de 1988, por exemplo, deu mais ênfase ao papel do estado na garantia dos direitos sociais do que aos direitos civis e à liberdade dos costumes, que são a garantia real da participação popular, das conquistas sociais e do regime democrático.
Colapso do sistema
Voltemos à Reprivada. As delações premiadas da Operação Lava-Jato não estão colocando em xeque a nossa democracia, estão desnudando as mazelas do nosso sistema partidário e do “Estado Leviatã”, em meio à maior recessão desde 1929 e ao impeachment da presidente Dilma Rousseff. Confirmam o esgotamento do sistema de financiamento dos partidos, demonstram a captura do Estado e suas políticas públicas pelos grandes interesses privados e impõem a discussão de uma reforma partidária e eleitoral que possibilite a renovação dos costumes políticos, o surgimento de novos partidos e a emergência de novas lideranças. Essa agenda, porém, implica em rediscutir o papel do Estado brasileiro na vida da sociedade.

No debate sobre o impeachment, salta aos olhos o fato de que os defensores da presidente Dilma Rousseff, ao reiterarem a narrativa do suposto golpe de Estado, agregam a esse discurso a defesa de direitos sociais e interesses nacionais que foram volatizados pela crise econômica que eles próprios provocaram e pela crise ética. Tratam como política de Estado gastos que não cabem no Orçamento da União e que foram anabolizados pela corrupção, pelo fisiologismo e pelo patrimonialismo. A Lava-Jato nos revela que nada disso é republicano e democrático. Pelo contrário, é o caldo de cultura da Reprivada.
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(*) publicado na coluna Entrelinhas do Correio Braziliense em 19/06/2016.