quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

Rumo à estação democracia!

Com a condenação de Lula nesta quarta-feira, dia 24/01/18, venceu a democracia, e homenageou-se um dos seus princípios fundamentais, inscrito na Constituição, no seu Art. 5º, que estabelece que “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,...”.


Des. João Pedro Gebran Neto, relator; Leandro Paulsen, presidente da 8ª Turma do TRF-4, revisor; Des. Victor Luiz dos Santos Laus


Lula, simplesmente, foi condenado pelo voto unânime desses juízes, por crime de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Pode parecer um contra-senso que um tribunal de 2ª instância, o TRF-4, e três juízes quase desconhecidos, tenham condenado o ex-presidente Lula, que é querido e respeitado por milhões de brasileiros e admirado internacionalmente!

Os seus defensores alegam que foi um julgamento político para impedi-lo de candidatar-se mais uma vez a Presidente da República. Mas se essa tese tivesse prevalecido, estaríamos fechando os olhos à realidade, jogando na lata do lixo tudo o que foi desnudado sobre a corrupção sistêmica que arruina o nosso país. E significaria a vitória da “santa aliança” dos criminosos de colarinho branco que temem e combatem a Lava-Jato!

Neste caso, onde o réu foi Lula, o juiz-desembargador João Pedro Gebran Neto, relator do processo no TRF-4, foi convincente, preciso, exaustivo e claro, e invalidou as alegações centrais da defesa. Com igual clareza e profissionalismo se manifestaram os seus pares para dar esse voto unânime.

Portanto, hoje é dia de homenagear a justiça, que prevaleceu, pois nem um inocente foi condenado e nem um criminoso foi inocentado! (*)

Está surgindo um novo Brasil que cansou-se de ser apenas uma promessa de futuro. Um Brasil que não aceita mais que as elites, das quais Lula faz parte em verdadeiro deslumbramento, usem os recursos públicos em benefício próprio e de seus projetos de poder, egoístas, oligárquicos, corporativistas e socialmente irresponsáveis!

O Brasil está na UTI, vivendo e sofrendo na carne as consequências da manutenção desse regime histórico de impunidades em benefício dos poderosos. Esta é a razão fundamental de toda a nossa crise!

É lamentável que Lula tenha escolhido esse caminho em que reproduziu de forma ampliada, e com total desfaçatez, as piores práticas patrimonialistas das elites! Todos os brasileiros, incluídos os que já acreditaram nele ou os que ainda acreditam, sofrem e sentem a gravidade dessa condenação!

Esse momento, portanto, simbolizará um reinício, a retomada da esperança, uma oportunidade para o Brasil que, com mais conhecimento de si mesmo e do comportamento de suas elites, poderá construir um futuro melhor e mais brilhante, o que sempre foi desejado e necessário, e que todos sabemos ser possível, mas que de há muito tempo vem sendo adiado!

Teremos aprendido a lição de que não podemos mais aceitar, defender, ou ter, bandidos de estimação? E de que não podemos mais aceitar a impunidade dos criminosos de colarinho branco, que são, exatamente, os bandidos mais perigosos e que mais roubam e matam?

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(*) Como decidem juizes imparciais?
(http://www.decisoesinterativas.com.br/2017/05/como-decidem-juizes-imparciais.html)

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Pós-escrito:

No dia 28/04/2017 a CUT e outras centrais sindicais convocaram uma greve geral cujo objetivo político-estratégico, de dupla natureza, já era visível: fortalecer a candidatura presidencial de Lula em 2018 e impedir que ele fosse condenado por seus crimes. Registrei este momento no artigo "A greve geral do estertor do sindicalismo pelego".

O seu primeiro parágrafo antecipava o que se acabou de presenciar com a condenação de Lula no TRF-4 no dia 24/01/2018:

"A greve geral convocada para hoje (28/04/17) é um equívoco. O seu objetivo fundamental não é resistir às mudanças em andamento nas reformas trabalhista e previdenciária; este é apenas um objetivo de agitação, como “surfar” numa boa onda. É preciso que se diga, o seu objetivo estratégico é viabilizar a candidatura de Lula em 2018, impedindo que ele seja condenado e pague por seus crimes."

Foi uma greve programada para ser de um único dia, como o foi, pois os seus experientes organizadores já sabiam que ela não teria condições de prolongar-se com os objetivos para as quais fora convocada. Ela ficou tristemente marcada na lembrança de todos pelos pneus queimados nas estradas e nas ruas para impedir aos trabalhadores de chegar ao trabalho, e serem obrigados a aderir à greve. Fracassou em todos os seus objetivos: o de agitação (contra as reformas trabalhista e previdenciária) e o estratégico, de garantir a candidatura presidencial de Lua em 2018 e impedir a condenação por seus crimes.

Lula, agora, está condenado em 1ª e em 2ª instâncias. Dificilmente será candidato, e abre-se um novo contexto político em que a sociedade brasileira, provavelmente, convergirá para uma candidatura presidencial de centro-esquerda.

Nessa data (28/04/17), colocara-me, ainda, na defesa do governo Temer pelas medidas fiscais que tomara e porque admiti, como ainda o faço hoje, que as reformas trabalhista e previdenciária eram necessárias.

Posteriormente posicionei-me a favor da cassação da chapa Dilma-Temer pelo TSE (http://www.decisoesinterativas.com.br/2017/06/a-justica-quebrada.html) e a favor  de que a Câmara dos Deputados votasse favoravelmente, nas duas ocasiões em que o fez, pela admissibilidade para que Temer fosse processado. Essas posições estão devidamente registradas em diferentes artigos aqui neste blog.

Lamentavelmente, Temer transformou-se, por suas contradições e compromissos com a lógica de um sistema político-eleitoral-partidário apodrecido, em agente de descrença nas instituições, o que o impede de beneficiar-se até dos seus próprios acertos. E, paradoxalmente, no contexto das eleições de 2018, é, simultaneamente, garantia da estabilidade institucional e um dos fatores que alimenta, subjetivamente, as candidaturas populistas e autoritárias de tipo salvacionista, como são as de Lula e de Bolsonaro.

terça-feira, 23 de janeiro de 2018

Momento de coragem, para ser justo!

Existem momentos na vida pessoal, ou da sociedade, em que não temos mais o direito de aventuras; por isso, escolhemos a alternativa de menor risco, a que nos levará mais provavelmente a um porto seguro.


Um idoso, p.ex., sujeito a problemas sérios de saúde, se puder, faz um fundo e o aplica no investimento de menor risco; e não mexe nele, nem cede ao canto de sereia dos corretores que venham lhe oferecer rentabilidades maiores e de ganho rápido, mas com riscos que podem lhe levar a perder os recursos de que precisará de imediato para uma emergência!

O Brasil precisa sair da UTI! Não temos mais o direito de arriscar com aventuras!

Quero convidar, aos que ainda estão em dúvida quanto à correção do TRF-4 condenar Lula, se não estariam se deixando levar pelo canto lulista-petista, que tem como centro da sua estratégia atacar a independência e a integridade da justiça para salvar Lula!

Olha, vou dar a minha opinião sobre esta questão. A justiça de 1º e de 2º graus, exatamente a mais diretamente envolvida com a Lava-Jato, tem sido um orgulho para o Brasil, e é a fonte de toda a esperança para acabar com a impunidade dos criminosos de colarinho branco, que são os responsáveis pelos nossos maiores e mais graves problemas.

Se você se pergunta se a justiça pode cometer erros, a resposta é sim, isso tem acontecido! Mas é pouco provável neste caso! Razões: (1) esses processos a que Lula responde não são políticos, são jurídicos; eles apuram corrupção; (2) as provas, fatos e evidências dos crimes foram se acumulando em abundância; (3) esses processos atendem aos ritos mais exigentes, em respeito à Constituição e ao princípio do devido processo legal.

Não temos mais o direito de arriscar com aventuras irresponsáveis, nem de brincar com o futuro de nossos filhos e netos. É hora de coragem moral, a de Ulisses, para não ceder ao canto das sereias!

sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

Quando a alma é pequena...

Ações sempre produzem consequências. Às vezes não são as desejadas, particularmente quando se acha que se pode tudo! Neste caso vale recordar Fernando Pessoa, pensando, que nada vale a pena, quando a alma é pequena (*)! Convido-os a ler o texto sensível de Elson Rezende de Mello.


Elson Rezende de Mello
18 de janeiro às 22:40 ·

Lula vive suas circunstâncias, que prendem a atenção de todo o país neste começo de ano eleitoral. É herói, mito que se desconstrói dia após dia, com bastante contribuição dele, do que fez de sua trajetória esperançosa e mesmo heroica. Mas é figura que vai se apequenando com o passar do tempo, e de suas próprias intervenções.

Tiveram, ele e seu partido, tudo para poder alavancar o país para outra rota, mas seu caminho ao poder foi de acomodação, de ir jogando pela borda todo o lastre de transformações possíveis que carregavam. E no poder se encantaram com o charme nada discreto da burguesia, se submeteram gostosamente às elites que tanto impugnavam, e foram inoculados pelo doce veneno da ambição e da corrupção. 

E traíram os trabalhadores, cooptaram os movimentos sociais, os sindicatos, e os domesticaram. E com Lula à cabeça não fizeram uma única transformação estrutural que apontasse verdadeiramente para um futuro de igualdade e justiça social.

Serviram às elites econômicas e sociais, com uma retórica que ajudava a conter a insatisfação social. Quando não deu mais, essa mesma bajulada e bem servida elite se desfez do lulopetismo com a maior facilidade, porque os rastros de seu banquete com ela estavam por toda parte, como já disse um prócer do petismo, se lambuzaram no mel.

E Lula está aí, às voltas com processos sobre sítios, triplex, recebimentos de vantagens diversas e as omissões que permitiram tanta esculhambação na República. Não consegue se safar com a tranquilidade dos que não têm nada a temer, e se consome em ódios e rancores.

Quer voltar à presidência do país. Além do foro privilegiado, a que mais pretenderia, com sua retórica repetitiva, rasa e sua falta de projeto para o país que tenha substância e signifique sair da crise, incubada já no seu governo e agudizada num governo de um vice presidente que foi feito justamente por ele e sua criatura?

______
(*) 

Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.

Fernando Pessoa

quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

Precisamos de salvadores?

Não se trata apenas de que nós, os brasileiros, mereçamos mais! Trata-se de não errarmos mais, para construir o futuro desejado, necessário e possível!

quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

Rumo ao juízo do TRF-4

No dia 24/01 próximo, quarta-feira, Lula será julgado no TRF-4. Ele já está condenado em 1ª instância, como consequência de um processo legal em que todas as prerrogativas estabelecidas na Constituição e no princípio jurídico do devido processo legal foram respeitadas.


Entretanto, Lula e o PT tentam transformar esse julgamento em processo político. Estão sendo feitas pressões inadmissíveis sobre os juízes que o julgarão, para intimida-los, e muitas outras estão já programadas para o dia do julgamento.

Mais do que nunca é necessário que a cidadania se mobilize para garantir a independência, tranquilidade e integridade física desses juízes, para que possam bem cumprir o seu dever.

Não queremos que um inocente seja condenado, mas não admitimos que um criminoso seja inocentado!

segunda-feira, 27 de novembro de 2017

Luciano Huck: No rumo

Íntegra da carta de desistência de
Luciano Huck (*) à candidatura
de Presidente da República

Folha de S.Paulo, Opinião, 27/11/2017 (**)


Como Ulisses em "A Odisseia", nos últimos meses estive amarrado ao mastro, tentando escapar da sedução das sereias, cantando a pulmões plenos e por todos os lados, inclusive dentro de mim.

A tripulação, com seus ouvidos devidamente tapados com cera, esforçando-se em não deixar que eu me deixasse levar pelos sons dos chamados quase irresistíveis. São meus amores incondicionais. Meus pais, minha mulher, meus filhos, meus familiares e os amigos próximos que me querem bem.

Eles são unânimes: é fundamental o movimento de sair da proteção e do conforto das selfies no Instagram para somar forças na necessária renovação política brasileira. Mas daí a postular a candidatura a presidente da República há uma distância maior que os oceanos da jornada de Ulisses.

Há algum tempo me vejo diante desta pergunta: qual foi exatamente a trajetória, o fato e até mesmo o momento em que meu nome foi lançado entre os possíveis candidatos à Presidência do Brasil?

Eu mesmo demorei um pouco para encontrar a resposta. Mas depois de alguma reflexão, ela veio e me pareceu muito clara: minha exposição pública e, espero, meu jeito, minhas características, minha personalidade e a forma como vejo o mundo. As mesmas forças que me movem desde sempre me levaram a esse lugar.

Explicando em outras palavras, entre as centenas de defeitos que carrego, talvez eu tenha uma única virtude: carrego desde sempre, genuinamente, enorme paixão e curiosidade pelo outro.


Gosto muito de gente. Sempre gostei. De todo tipo, origem, tamanho, cor, posição na pirâmide. É só olhar para o que faço profissionalmente há mais de duas décadas. Não paro de procurar pelo diferente. E não falo de um olhar distante, acadêmico, teórico. Falo de andanças intermináveis por todos os quadrantes do Brasil e por vários do mundo atrás daquilo que não conheço. Ando há anos e anos por lugares ricos, paupérrimos, super ou subdesenvolvidos, em guerra, centros moderníssimos de saber, cantos absolutamente esquecidos pelo desenvolvimento. Sempre atrás da mesma coisa: gente boa.

E a sensação de "intimidade" que meus mais de 20 anos de televisão provocam nas pessoas possibilita conversas instantaneamente francas e verdadeiras.

Esse dia a dia me permitiu construir uma visão muito própria e ampla dos recortes, curvas e reentrâncias do país. Sinto na pele o pulso das ruas.

E foi essa permanente "bateção de perna", sempre " in loco", que me tirou definitivamente da zona de conforto e me fez ver: O Brasil está sofrendo demais —especialmente os mais pobres, mas não apenas eles— para ficarmos passivos e reféns deste sistema político velho e corrupto. O que está aí jamais será empático, perceberá e muito menos traduzirá as reais necessidades da gente. Da nossa gente.

Vendo meu nome apontado, é muito importante frisar sempre, sem ter levantado a mão ou me oferecido para concorrer ao cargo mais importante na governança do país, minha reação natural foi tentar entender melhor do que se tratava. Gosto de aprender, de saber o que não sei e penso que cultivo um bom hábito desde muito cedo: tentar descobrir e encontrar quem sabe.

De forma intuitiva e quase caseira, fui procurando referências em pessoas que se dedicam de forma mais intensa a entender o Brasil; o sofrimento, as dificuldades e, principalmente, as soluções.

Acho também que sou meio obsessivo por fazer as coisas direito. Por isso, saí buscando e principalmente ouvindo dezenas de pessoas que admiro, que considero inteligentes, sensíveis, maduras e capacitadas, para que elas compartilhassem comigo suas visões. Foram meses que produziram em mim uma pequena revolução, um aprendizado enorme.

Tantas ideias, tanta gente interessada, brilhante e altamente capacitada, disposta a colocar energia a favor de uma transformação definitiva: De um país à deriva em uma nação de verdade, que possa de uma vez por todas refletir a qualidade indiscutível do seu povo.

Aqui é importante pontuar uma constatação que logo apontou no meu radar e que há tempos ecoa nele de maneira incômoda. Minha geração está trabalhando e inovando com vigor em muitas frentes. Há milhares de notáveis empreendedores, profissionais liberais, atletas, executivos, artistas, intelectuais, pensadores e por aí vai. Mas pela política, ela tem feito pouco.

Tenho dito sempre algo que me parece muito evidente, quase óbvio, mas assim mesmo um alerta necessário: se não nos aproximarmos de fato da política, se seguirmos negando esse universo e refratários ao seu ambiente, ele definitivamente não se reinventará por um passe de mágica.

Dito isso, sigo acreditando que o melhor caminho passa obrigatoriamente pelos movimentos cívicos, pela abertura de espaço na mídia para novas lideranças, por uma escuta dos anseios das pessoas, por reformas estruturais, muitas delas doloridas, por políticas públicas afetivas e efetivas, por políticas econômicas modernas e eficazes, pela educação levada a sério, pela saúde tratada com respeito, por tecnologia que alavanque as boas ideias e pela total transparência dos gastos públicos. Por menos politicagem e por mais e melhor representatividade. A lista é grande.

O momento de total frustração com a classe política e com as opções que se apresentam no panorama sucessório levou o meu nome a um lugar central na discussão sobre a cadeira mais importante na condução do país.

É claro que isso me trouxe a sensação boa de que uma parte razoável da população entende o que sou e faço como algo positivo. Evidente também que junto vieram uma pressão muito pesada e questionamentos de todos os tipos.

Já disse e escrevi antes, aqui neste mesmo espaço, mas tenho hoje uma convicção ainda mais vívida e forte de que serei muito mais útil e potente para ajudar meu país e o nosso povo a se mover para um lugar mais digno, ocupando outras posições no front nacional, não só fazendo aquilo que já faço mas ampliando meu raio de ação ainda mais.

Com a mesma certeza de que neste momento não vou pleitear espaço nesta eleição para a Presidência da República, quero registrar que vou continuar, modesta e firmemente, tentando contribuir de maneira ativa para melhorar o país. Vou bem além da voz amplificada enormemente pela televisão que amo fazer, do eco monumental das redes sociais que aprendi a tecer, do instituto que fundei há quase 15 anos e de todos os meios que o carinho das pessoas me proporcionou.

Vou também direcionar toda a energia de que disponho para outra coisa que acredito saber fazer: agregar.

Agregar as mentes sábias que fui encontrando em diferentes camadas da sociedade, dentro e fora do Brasil, pessoas extremamente capazes e dispostas de fato a conjugar o verbo servir no tempo e no sentido corretos. Vou trabalhar efetivamente para estruturar e me juntar a grupos que assumam a missão de ir fundo na elaboração de um pensamento e principalmente de um projeto de país para o Brasil.

E, para isso, não são necessários partidos, cargos, nem eleições.

Essa intenção já esta viva através dos movimentos cívicos dos quais me aproximei com bastante interesse e intensidade. E de outras iniciativas que estão por vir.

Quero registrar de novo que entre as percepções que confirmei nesses últimos meses está a convicção de que não há nada mais importante do que tomarmos consciência da importância da política e de que precisamos nos mover concretamente na direção da atuação incisiva, para que não sejamos mais vítimas passivas e manobráveis de gente desonesta, sem caráter, despreparada e incapaz de entender o conceito básico da interdependência ou de pensar no coletivo.

A hora é de trabalhar por soluções coletivas inteligentes e inovadoras para o país, e não de focar o próprio umbigo ou de alimentar polêmicas pueris e gritas sem sentido.

Quem se interessa pelo que sou e faço pode acreditar: vou atuar cada vez mais, sempre de acordo com minhas crenças, em especial com a fé enorme que tenho neste país.

Contem comigo. Mas não como candidato a presidente.

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(*) Luciano Huck é apresentador de TV e empresário

sábado, 25 de novembro de 2017

Huck, um predador ambiental?

Huck tem sido apontado como possível candidato a presidente da república. Não se sabe ainda o que ele proporá, em termos programáticos, para enfrentar os mais candentes problemas brasileiros. Os que o incentivam, e que o conhecem melhor, talvez saibam. Mas essas propostas ainda não foram explicitadas para a nação.

As razões mais visíveis e analisadas para considerar a candidatura de Huck estão essencialmente relacionadas ao fato de que ele teria o potencial de ser bom de voto no primeiro turno. E é isto, a questão eleitoral, o que mais interessa aos candidatos a mandatos parlamentares em 2018. Para estes, e particularmente para um certo tipo de políticos, isso é mais importante do que as suas propostas para o Brasil. O resto é especulação.


Portanto, pela impossibilidade, no momento, de considerar as suas idéias para governar o país, a sua candidatura, politicamente de centro, está sendo apresentada como uma nova alternativa para salvar o país dos riscos populista e autoritário representados pelas candidaturas polares Lula e Bolsonaro. 

Apesar disso, o seu nome não pode mais deixar de ser considerado e discutido, até mesmo porque as pesquisas já destacam o seu nome. Apresento neste texto um testemunho pessoal sobre Huck, que não é favorável a ele. Mas faço-o com a intenção de abrir o debate sobre se essa candidatura passaria pelo filtro ético indispensável, e se, posta nestes termos, ao contrário do que se pensa, ela não seria mais do que uma ilusão salvacionista, e baseada no desespero de políticos que buscam apenas a sua sobrevivência eleitoral.

A questão: relato experiência pessoal da qual me ficou a impressão de que Huck não zela pelo cumprimento das normas ambientais quando na condução dos seus empreendimentos empresariais e pessoais.

Parto da premissa de que não podemos ser condescendentes com ilicitudes; em particular, se praticadas por um cidadão que se proponha a ser presidente da república. Não podemos ficar afastando presidentes depois que a sua máscara cai, pois o custo para o país é imenso, como está sendo o custo Dilma-Temer. Todos sabemos ser imprescindível acabar com a impunidade dos poderosos para que o Brasil possa superar a sua crise. E julgo que é exatamente antes das eleições que as explicações devem ser dadas. E isso devemos exigir de todos os candidatos.

Fernando de Noronha

A possível candidatura de Huck me trouxe à lembrança um primeiro momento em que sua ação pública me incomodou de fato. Foi em novembro de 2004.

Eu e minha mulher cultivamos o hábito de andar e caminhar, de estar ao ar livre e na natureza. Já estivemos em todos os estados de nosso país à excessão do Amapá, que visitaremos brevemente. Pois bem, estávamos em Fernando de Noronha, em viajem de sonhos, e caminhamos a pé, de praia em praia, sendo que algumas são consideradas as mais belas do mundo.

A legislação ambiental e as regras de manejo e circulação na ilha são rígidas e você para chegar lá tem que inscrever-se para que o número de visitantes não ultrapasse o limite. Você se hospeda em pequenas pousadas, a principal fonte de renda interna dos habitantes da ilha. Quando você chega lá, é praticamente alocado em uma dessas pousadas, sem que tenha muita opção de escolha.

Pois bem, estávamos em uma dada praia onde se podia observar as tartarugas do Projeto Tamar e nos deparemos com um hotel cinco estrelas, o único que existia na ilha, neste padrão, naquele ano. Logo o guia nos informou que o seu proprietário era o Huck. Nesta ocasião eu pouco mais sabia sobre ele de que era o marido da Angélica, e de que tinha um programa de auditório na TV que eu só vira ocasionalmente.

Mas eu e minha mulher, adeptos da causa ambiental, ficamos indignados. As razões: aquele empreendimento destoava de todas as regras que valiam, com rigidez, para todos os demais habitantes da ilha e que eram informadas em entusiásticas aulas temáticas, que são proferidas para todos os visitantes logo ao chegar (e existe uma incrivelmente bem programada série de documentários temáticos, com debates, conduzidas por jovens e preparados ambientalistas); logo nos perguntamos, pois foi inevitável, como fora possível transgredir o código de posturas da ilha, como fora aprovado o projeto do prédio de vários andares e do hotel, como obtivera a concessão do imenso terreno, como obtivera o alvará de construção, como obtivera o habite-se? Teriam sido respeitadas todas as normas ambientais? Como ele obtivera todos esses privilégios?

Essa foi a primeira vez que tive desconforto com a ação pública de Huck. Agora, esse desconforto continua, ao saber que, em mais um empreendimento de interesse pessoal, em Angra dos Reis, ele  estaria, novamente, desrespeitando as normas ambientais. 

Certamente os que o defendem se apressarão em trazer as explicações necessárias para esses fatos. Espero que sejam convincentes, não apenas convenientes, pois partirão de quem está disposto a torná-lo presidente da república.