sábado, 25 de novembro de 2017

Huck, um predador ambiental?

Huck tem sido apontado como possível candidato a presidente da república. Não se sabe ainda o que ele proporá, em termos programáticos, para enfrentar os mais candentes problemas brasileiros. Os que o incentivam, e que o conhecem melhor, talvez saibam. Mas essas propostas ainda não foram explicitadas para a nação.

As razões mais visíveis e analisadas para considerar a candidatura de Huck estão essencialmente relacionadas ao fato de que ele teria o potencial de ser bom de voto no primeiro turno. E é isto, a questão eleitoral, o que mais interessa aos candidatos a mandatos parlamentares em 2018. Para estes, e particularmente para um certo tipo de políticos, isso é mais importante do que as suas propostas para o Brasil. O resto é especulação.


Portanto, pela impossibilidade, no momento, de considerar as suas idéias para governar o país, a sua candidatura, politicamente de centro, está sendo apresentada como uma nova alternativa para salvar o país dos riscos populista e autoritário representados pelas candidaturas polares Lula e Bolsonaro. 

Apesar disso, o seu nome não pode mais deixar de ser considerado e discutido, até mesmo porque as pesquisas já destacam o seu nome. Apresento neste texto um testemunho pessoal sobre Huck, que não é favorável a ele. Mas faço-o com a intenção de abrir o debate sobre se essa candidatura passaria pelo filtro ético indispensável, e se, posta nestes termos, ao contrário do que se pensa, ela não seria mais do que uma ilusão salvacionista, e baseada no desespero de políticos que buscam apenas a sua sobrevivência eleitoral.

A questão: relato experiência pessoal da qual me ficou a impressão de que Huck não zela pelo cumprimento das normas ambientais quando na condução dos seus empreendimentos empresariais e pessoais.

Parto da premissa de que não podemos ser condescendentes com ilicitudes; em particular, se praticadas por um cidadão que se proponha a ser presidente da república. Não podemos ficar afastando presidentes depois que a sua máscara cai, pois o custo para o país é imenso, como está sendo o custo Dilma-Temer. Todos sabemos ser imprescindível acabar com a impunidade dos poderosos para que o Brasil possa superar a sua crise. E julgo que é exatamente antes das eleições que as explicações devem ser dadas. E isso devemos exigir de todos os candidatos.

Fernando de Noronha

A possível candidatura de Huck me trouxe à lembrança um primeiro momento em que sua ação pública me incomodou de fato. Foi em novembro de 2004.

Eu e minha mulher cultivamos o hábito de andar e caminhar, de estar ao ar livre e na natureza. Já estivemos em todos os estados de nosso país à excessão do Amapá, que visitaremos brevemente. Pois bem, estávamos em Fernando de Noronha, em viajem de sonhos, e caminhamos a pé, de praia em praia, sendo que algumas são consideradas as mais belas do mundo.

A legislação ambiental e as regras de manejo e circulação na ilha são rígidas e você para chegar lá tem que inscrever-se para que o número de visitantes não ultrapasse o limite. Você se hospeda em pequenas pousadas, a principal fonte de renda interna dos habitantes da ilha. Quando você chega lá, é praticamente alocado em uma dessas pousadas, sem que tenha muita opção de escolha.

Pois bem, estávamos em uma dada praia onde se podia observar as tartarugas do Projeto Tamar e nos deparemos com um hotel cinco estrelas, o único que existia na ilha, neste padrão, naquele ano. Logo o guia nos informou que o seu proprietário era o Huck. Nesta ocasião eu pouco mais sabia sobre ele de que era o marido da Angélica, e de que tinha um programa de auditório na TV que eu só vira ocasionalmente.

Mas eu e minha mulher, adeptos da causa ambiental, ficamos indignados. As razões: aquele empreendimento destoava de todas as regras que valiam, com rigidez, para todos os demais habitantes da ilha e que eram informadas em entusiásticas aulas temáticas, que são proferidas para todos os visitantes logo ao chegar (e existe uma incrivelmente bem programada série de documentários temáticos, com debates, conduzidas por jovens e preparados ambientalistas); logo nos perguntamos, pois foi inevitável, como fora possível transgredir o código de posturas da ilha, como fora aprovado o projeto do prédio de vários andares e do hotel, como obtivera a concessão do imenso terreno, como obtivera o alvará de construção, como obtivera o habite-se? Teriam sido respeitadas todas as normas ambientais? Como ele obtivera todos esses privilégios?

Essa foi a primeira vez que tive desconforto com a ação pública de Huck. Agora, esse desconforto continua, ao saber que, em mais um empreendimento de interesse pessoal, em Angra dos Reis, ele  estaria, novamente, desrespeitando as normas ambientais. 

Certamente os que o defendem se apressarão em trazer as explicações necessárias para esses fatos. Espero que sejam convincentes, não apenas convenientes, pois partirão de quem está disposto a torná-lo presidente da república.

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