segunda-feira, 11 de abril de 2016

O golpe do parlamentarismo de fato

Os amigos da onça (AO) são o grupo de ministros e membros da direção do PT que um dia entraram na sala da presidenta Dilma (D), entre novembro de 2015 e fevereiro de 2016, e tiveram um diálogo que passará para a história como "o golpe do parlamentarismo de fato".

Dilma apresenta o decreto de nomeação de Lula ministro da casa civil 

Esse diálogo pode ter transcorrido da seguinte forma (essa história um dia será contada com detalhes reais e precisos, com datas, locais, participantes, etc.): 

AO: - Presidenta, estamos aqui em uma difícil e constrangedora missão partidária. 
D: - Falem logo, parece que vocês não estão me trazendo boa notícia! 
AO: - Temos que ser francos. Estamos convencidos que a senhora não conseguirá dar conta da complexidade e da gravidade da crise nos seus diversos aspectos políticos, econômicos, sociais e jurídico-policiais (com a Lava-Jato na nossa cola). 
D: - (já dando um ataque). Vocês vieram aqui para pedir que eu renuncie? 
AO: - Não presidenta. Concluímos que isso não interessa ao PT. Achamos que devemos resistir, a todo custo, até 2018. Se a senhora cair, qualquer que seja a forma, isso prejudicará todas a expectativas eleitorais do partido, inclusive agora em 2016! 
D: - (aliviada). Então o que vocês estão propondo? 
AO: - Trazer o Lula para o palácio como ministro da casa civil. Isto a ajudará e ainda dará prerrogativa de foro privilegiado ao presidente, desculpe, ex-presidente, para que ele não seja preso pelo Moro. 
D: - (entre consternada e enfurecida, percebendo, naquele momento, que estava sendo deposta pelo seu próprio partido). Vocês estão querendo me transformar em rainha da Inglaterra? Não foi para isso que eu fui eleita! Isto é um golpe! 
AO: (constrangidos). Não pensamos assim, presidenta! Seria como um “parlamentarismo de fato"; já pensamos nos prós e contras, e concluímos não existir melhor saída para a senhora e para todos nós! A situação está muito difícil, e precisamos trazer para o poder executivo a autoridade, o respeito e a habilidade do Lula para sairmos da enrascada em que estamos. Achamos que o risco do seu impeachment ou da sua cassação no TSE ficaram muito altos e a situação ficou imprevisível! Lula será uma espécie de primeiro ministro, e isso neste momento nos parece a única alternativa de salvação! (Consternada, percebeu que perdera a confiança de seu partido e de seus ministros mais próximos, e que acabara de ser deposta; mas, de uma coisa já sabia claramente, que sem eles não teria força e credibilidade social para prosseguir. Estava em um momento de decisão. Suas alternativas estavam agora reduzidas à renúncia, a enfrentar o risco de ser deposta (*), ou a aceitar a humilhante proposta que lhe traziam! Pelo menos não estavam pedindo que renunciasse!). 
D: - (disse, então, contendo a emoção, com vontade de quebrar tudo). Obrigada, vocês estão dispensados. Esta reunião está terminada! 
* Naturalmente, teve a pior noite de sono desde que assumira a presidência. Mas, não demorou a convencer-se de que essa era a sua melhor alternativa! No dia seguinte, convocou-os à sua sala. 
D: - Está bem, eu topo, mas daqui para diante, o Palácio do Planalto será destinado apenas ao Chefe de Estado, e eu o transformarei no território dessa missão, e de defesa de minha imagem e dignidade. Lula irá "governar" em outro espaço, depois discutiremos sobre isso. Transformarei este palácio no palanque para defender-me perante a história, e inaugurarei uma série de encontros com apoiadores para denunciar o golpe que a direita está tentando dar neste país, o que, em consequência, levou vocês a me darem esse golpe. Não guardo mágoa (todos concordaram). 
* Essa pareceu uma decisão sábia, pois a Presidenta, nos dias que se seguiram parecia ter tirado um peso de suas costas. Parecia até mais feliz e intensificou seus exercícios e giros ciclísticos. 

Embora os fatos possam ser diferentes em seus detalhes, essas reuniões realmente existiram. O que importa, neste diálogo, construído com a lógica e a imaginação, é que essas reuniões ocorreram com essa essência e conteúdo. A história revelará as datas e locais, os diálogos reais e quem foram, além da presidenta, os seus reais interlocutores! 

Muitos defenderão essa solução como legítima e necessária. Outros, embora reconheçam que esses eventos inevitavelmente tenham ocorrido, acham esse fato de somenos importância, e inerente à natureza da realpolitik! 

Mas, creio, a maioria dos brasileiros considera isso um escárnio, um golpe contra a democracia, e uma imoralidade, demonstrando o grau de desrespeito ao Estado Democrático de Direito a que chegamos na política brasileira!

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(*) No dia 31/08/2016 Dilma Rousseff sofreu o impeachment em sessão do Senado convocada para esse fim. A sessão foi presidida pelo então presidente do STF, Ricardo Lewandowisk e a votação foi de 61 votos favoráveis ao impeachment contra 20. Foi um longo processo, tendo sido respeitadas todas as suas prerrogativas constitucionais e legais.

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